12 anos depois da decisão da FIFA atribuindo o Mundial 2022, e a menos de dois meses do jogo de abertura, personalidades da cultura, do esporte e da politica estão apoiando um movimento de boicote da Copa do Mundo no Qatar. Lançada na India, o ideia pegou força na Europa e na América do Norte, atraindo algumas importantes lideranças regionais e municipais, especialmente na Alemanha (Berlim), na Bélgica (Bruxelles) e na França (Lille, Lyon, Marselha, Bordeaux e Paris). Se é difícil antecipar até onde essa onda pode subir, é certo que ela já preocupa organizadores, patrocinadores, jogadores, autoridades e operadoras!
Logo que foi anunciada, a escolha do Qatar foi muito polémica. Mesmo sabendo que depois do Brasil em 2014 e da Russia em 2018, era logicamente a vez de um pais da Ásia, mesmo reconhecendo a popularidade do futebol no mundo árabe, mesmo com a qualidade do projeto, a decisão foi imediatamente criticada por vários motivos: um pais muito pequeno para um evento tão grande, a ausência de tradição esportiva, um clima muito quente para atletas de alto nível, uma segurança complicada nessa região perturbada, e as rigorosas normas alimentares (proibição do alcool) ou comportamentais (restrições temidas para mulheres).
O movimento para o boicote se apoia porem em primeiro lugar nas condições desumanas que teriam sido impostas aos imigrantes que construíram os estádios. A partir de fontes paquistaneses e indianas, o jornal The Guardian anunciou em fevereiro 2021 que um mínimo de 6.751 operários estrangeiros tinham morridos em consequências de maus tratamentos ou acidentes. Mesmo se o Qatar e depois a FIFA apresentaram números bem diferentes – 37 mortes nos últimos 11 anos, sendo 34 de doenças e 3 de acidentes-, e se a legislação trabalhista local melhorou no período, essa terrível denuncia foi, e ainda é, o primeiro incentivo para o boicote.
Jean-Philippe Pérol
Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue” do autor na revista profissional on line Mercado e Eventos