Em Estrasburgo, um surpreendente ” Château Vodou”

A antiga caixa d’agua que virou museu de vodu

Se os visitantes sempre souberam ver a religiosidade da Alsácia na impressionante catedral Nossa Senhora de Estrasburgo, uma surpreendente homenagem as religiões africanas se esconde a 500 metros da “Petite France”, perto da estação de trens. Dentro de uma antiga caixa d’agua, foi aí que um Alsaciano apaixonado, Marc Arbogast, então diretor das cervejarias Fisher e Adelshoffen, abriu em 2014 um “Musée Vodou” abrigando a maior coleção do gênero na Europa com mais de 1200 peças trazidas de viagens no Gana, no Togo, no Benim ou na Nigéria. Um mergulho num mundo mágico que se espalhou da Costa da Mina para o litoral brasileiro.

Interior do Museu do “Château Vodou”

Administrado pela Associação dos Amigos do Museu Vodu, o “Château Vodou”  quer dar aos visitantes uma nova visão dessa religião nascida do encontro dos cultos iorubá, fon e éwé, e cuja filosofia sofisticada foi muito tempo escondida pelas caricaturas encontradas na literatura e no cinema ocidental. Deixando do lado a expansão do “vodu” em Haiti, em Cuba, na Louisiana e no Brasil, o museu é focado nos cultos praticados na Africa Ocidental desde o século XVII, na auge do reinado fon do Daomé (atual Benim), incluindo também as suas peculiares influências dos monoteísmos vindo da Europa ou da Africa do Norte.

O Château Vodou apresenta exclusivamente peças, máscaras, roupas ou estátuas ligadas as praticas religiosas e as cerimônias marcando todas as fases da vida -nascimento, casamento, funerais- bem como culto dos ancestrais, adivinhação, medicina, e até bruxaria com as famosas bonequinhas coloridas furadas com agulhas.  Os curadores do museu tiveram um cuidado especial para mostrar a atualidade do “vodu” através de muitas peças da segunda metade do século XX, algumas delas – por exemplo os “asen”, pedras para túmulos com cruzes cristãs ou crescentes islámicos- mostrando novas tendências de sincretismo.

Os animais são muito presentes na mitologia “vodu”

O “vodu” tem raizes no dia a dia dos seus seguidores, as vezes com toques de humor. Para calar os seus adversários, um artista montou um bico de pato fechado com cadeado chamado de “Ferme-ta-gueule” (Cala a boca). Uma estátua chamada “bla-bocio” representa uma casal enfeitado com pérolas e búzios, sendo um remedio milagroso para resolver todos os seus problemas conjuguais. E, para espantar o mau olhar e proteger a coleção, Marc Arbogast encomendou para um pai de santo do Benim um Kelessi, único ídolo “vivo” do Museu, que recebe agua e peças de moeda dos visitantes. Mesmo em Estrasburgo, nunca se sabe….

O Kelessi, protetor do Museu

O Kelessi, único ídolo vivo e protetor do Museu

Alem da exposição permanente, o Museu apresenta exposições temporarias, atualmente “Magia religiosa e poderes dos bruxos”.

 

 

Em Manaus, um novo ciclo do turismo?

O Caxirí, um grande endereço da gastronomia amazonense

Pode parecer um paradoxo, mas somente alguns meses depois do chocante fechamento do mítico Hotel Tropical, Manaus parece aproveitar um grande momento de renovação turística. A cidade, descrita na sua infância pelo génio criativo de Jules Verne, e  marcada no seu auge pela extravagancia de Eduardo Ribeiro, sempre acumulou projetos ou realizações  que favorecerem o urbanismo, a vida cultural, as tradições culinárias e o turismo. Mas, desde do fim do ciclo da zona franca comercial, na época de ouro durante a qual o barco Jumbo da Selvatur levava 300 visitantes por dia para Janauari, a Air France pousava duas vezes por semana, e oito voos por dia chegavam de Sao Paulo, parece que nunca teve tantas novidades hoteleiras e gastronômicas, e tantas ambições  para o turismo do Amazonas .

A Casa Perpetua, a aconchegante herança da borracha

As novidades hoteleiras estão pipocando, mas duas delas mostram claramente as novas tendencias que Manaus está seguindo nas reabilitações exemplares do Largo São Sebastião e das cercanias do Teatro Amazonas. A saudade assumida da grandeza do inicio do seculo passado se vê na Casa Perpetua aonde a empresaria Claudia Mendonça conseguiu transformar uma mansão construída em 1897 pelo desembargador Vidal Pessoa num aconchegante hotel boutique. Com o apoio dos atuais proprietários,  herdeiros do segundo dono, o libanês de cultura francesa François Harb, a casa conseguiu acomodar oito quartos, dois salões, um restaurante e um charmoso patio com uma mini piscina. Dos tradicionais assoalhos bicolores até os impressionantes pé direitos, a arquitetura interna e a decoração são piscar de olhos a época gloriosa (e confusa) da cidade.

O domo do restaurante do Juma Opera olhando as telas do Teatro

Esperado há quase 15 anos, a abertura do Hotel Juma Opera demorou mas não decepcionou os fãs do bem conceituado lodge pertencendo ao mesmo grupo. Escolhendo um casarão do centro histórico, espetacularmente localizado frente a “Opera”, os arquitetos decidiram de manter o espírito da época da borracha, mas de combinar lo com uma decoração apurada, moderna, e com muita inspiração amazônica nas fotos, nos objetos e no ambiente. Um grande lance foi a construção do restaurante no patio, com  uma enorme cúpula de aço e vidro que responde a cúpula coberta de telhas coloridas da Alsácia  do Teatro Amazonas. Assinando um cardápio de pratos regionais,  a chefe Sofia Bendelak mostrou as suas ambições de se juntar ao grupo dos melhores restaurantes gastronômicos amazônicos que já conta com dois grandes talentos manauaras no Banzeiro e no Caxirí.

No mercado municipal, a escola de Gustave Eiffel

A espetacular reabilitação do centro de Manaus se vê também descendo para a beira rio e chegando no Mercado Adolfo Lisboa, cuja beleza a moda de Eiffel combina hoje com um ambiente seguro e limpo. E o visitante tem agora varias opções para beber um suco de taperebá olhando os numerosos “motores de linha” prontos a zarpar para as cidades do interior. A riqueza cultural da cidade encontra aqui a beleza  do Rio Negro, os trunfos do Amazonas para virar um destino turístico “top of mind” no Brasil e no exterior. Há muito tempo sonho de desenvolvimento sustentável da região, o turismo precisa confirmar esse novo impulso resolvendo o seu maior problema, a conectividade. Pronto a oferecer o que for necessário aos possíveis candidatos, a Presidente da Amazonastur, Rosilene Medeiros, conta com um apoio total do governo estadual para aumentar suas ligações aéreas internacionais com os Estados Unidos, o Caribe, e – pourquoi pas?- l’Europe.

Jean Philippe Pérol

 

A espetacular piscina do Juma Opera

No Museu do Exército, a herança parisiense da guerra de 1870 e da “Commune”

 

“Année terrible”, assim que a chamava o Victor Hugo, 1870 foi na França o ano da primeira grande e humilhante derrota frente a Alemanha,  seguida  do inicio da atroz guerra cicil que arrasou Paris na primavera 1871. Pouco conhecidos dos próprios parisienses, e menos ainda dos visitantes, a Guerra de 70 e a “Commune de Paris” são as temáticas de uma exposição no Museu do Exército, nos Invalides. Até o dia 31 de julho essa exposição vai apresentar fotografias e peças referentes a esses conflitos, dando os quadros históricos e os pontos de vista dos dois países: para a Alemanha o longo processo de unificação de 1813 até a proclamação final de 1871 na Galeria dos Espelhos em Versalhes, para a França o ciclo das revoluções  patrióticas e sociais, da tomada da Bastilha em 1789 até o triunfo da Republica em 1879.

No bairro de La Défense, a estátua comemorativa da batalha

A exposição lembra os numerosos lugares de Paris e da sua região cuja historia é ligada com os dramas de 1870. As vezes chamado hoje de Manhattan parisiense, o bairro de la Défense deve seu nome a defesa heróica dos seus habitantes contra as tropas alemães, e a uma estátua comemorativa que foi erguida em 1880. Retirada em 1965 durante a construção do novo bairro de negócios, ele faz hoje parte do conjunto da Fonte de Agam, na Esplanada da Defense. Do outro lado de Paris, a resistência aos invasores é também lembrada na Praça Denfert Rochereau com a replica do Leão de Belfort, estátua gigante do Auguste Bartholdi (o escultor da estátua da Liberdade), que comemora o invicto defensor da cidade da Alsácia.

O Palacio dos Tuileries, destruido durante a Commune

A guerra civil, a semana sangrenta e os massacres dos revolucionários são também lembrados em vários cantos da capital. Andando nos jardins dos “Tuileries”, os visitantes podem imaginar o Palácio que ligava as duas asas do Louvre, que foi incendiado pelos parisienses e que o vitorioso “governo de Versalhes” propositalmente não quis reconstruir para que sejam lembradas as violências dos combates. Outros incêndios serão lembrados passando pela Prefeitura ou o Palácio de Justiça, outros massacres no Pantheon. E andando pelo cemitério do Pere Lachaise, onde muitos brasileiros visitam o túmulo do Allan Kardec, o visitante pode parar no famoso “Mur des fédérés” onde foram executados os últimos 147 revoltosos.

O Sacré Coeur de Montmartre, memória discutida mas popular de 1870/1871

A exposição não podia esquecer o Sacré Coeur de Montmartre, cuja construção foi decidida em 1871 como uma promessa do comerciante Alexandre Legentil, que queria que a França pedisse perdão dos pecados dos republicanos responsáveis, segundo ele, da derrota e da guerra civil. Com o apoio da igreja e da maioria ultra conservadora de Congresso, foi decidida a construção de uma basílica no mesmo lugar onde tinha começada a revolução parisiense, na época uma praça repleta de barracas de feirantes, e de bares populares. O Sacré Coeur de Montmartre foi logo um sucesso popular. Dez milhões de fieis fizeram doações para sua construção, e hoje a basílica é o segundo monumento religioso mais visitado da França com 11 milhões de entradas.

A barricada da Place Vendôme, foto do acervo doado pelo Dom Pedro II

Outros lugares de Paris ainda lembram essa época, inclusive a Place Vendôme então cercada de barricadas e onde a famosa coluna foi derrubada pelos revolucionários. Mas mesmo polêmico, gerando brigas entre liberais e patriotas ou entre socialistas e conservadores, mesmo se esse ano a Prefeita de Paris ainda recebeu um pedido de demolição da basílica, o Sacré Coeur ficou como a mais visível e a mais famosa memória dessas duas grandes feridas francesas que foram a Guerra de 1870 e a Commune de Paris. E, para o consenso, é possível caminhar pela Rua do 4-Septembre, que lembra a proclamação da República, essa herança de todos.

Jean-Philippe Pérol

A paz e a harmonia dos Jardins dos Tuileries

Nos novos trens franceses, a resposta ao viajante vai ser sempre: “Oui”!

Os famosos TGV estão virando inOui

Sonho do final dos anos 60, quando o então Presidente francês Georges Pompidou decidiu que a França tinha que recuperar o recorde mundial de velocidade nos trilhos então nas mãos do trem bala Japonês, o TGV virou realidade a partir de 1972. Juntando a vontade e os recursos do governo com a experiência da SNCF e a tecnologia da Alsthom, Pompidou lançou o projeto e viu o primeiro Trem de Alta Velocidade chegar a 160 km/h numa viagem de Belfort a Mulhouse, na Alsácia. Nove anos e dois presidentes depois, no dia 22 de Setembro de 1981, François Mitterand inaugurou a 260 km/h, em duas horas e quarenta minutos,  a primeira linha de TGV entre Paris e Lyon. O sucesso foi imediato, bem como a multiplicação das cidades interligadas – hoje quase 200 – e dos números de passageiros – hoje mais de 100 milhões por ano.

Mitterand inaugurando o primeiro TGV entre Paris e Lyon

Mas as ferrovias franceses não querem parar nisso, e anunciaram agora que querem atrair até o ano 2020 15 milhões de novos passageiros. Para atingir esse objetivo ambicioso, o Presidente da empresa, Guillaume Pepy, sempre fascinado pelo exemplo das companhias aéreas, apostou no lançamento do TGV low cost. Chamado Ouigo, esse novo serviço deve representar daqui a 2020 25% do trafego de alta velocidade, atraindo tanto novos viajantes, passageiros de “low costs” ou jovens hoje acostumados com transportes alternativos. Com um forte investimento promocional, os TGV Ouigo vão ser instalados rapidamente em todos os eixos principais da rede ferroviária francesa. Para responder as exigências desses novos clientes, um site dedicado, ouigo.com, foi aberta para informação, promoções e reservas.

A nova marca Ouigo, o TGV low-cost

Os viajantes vão também anotar as melhorias nos serviços dos TGV tradicionais para os quais estão previstos investimentos excepcionais. A SNCF vai renovar o material atual,  comprar novos trens “Oceane”, instalar novas poltronas com tomadas USB, redesenhar os vagões bar, melhorar os cais das estações, generalizar o wi-fi e investir na formação do pessoal. Com uma nova marca, InOui, Guillaume Pepy quer dar um pulo na qualidade do atendimento, mostrando mais atenção  e mais carinho para os passageiros. Com os melhoramentos tecnológicos, os viajantes vão também poder beneficiar de viagens mais rápidos. Assim, a partir do próximo 2 de Julho, Bordeaux será somente a 2 horas 05 de Paris em vez de 2 horas 40 hoje.

Mesmo se os novos TGV não querem ser considerados uns transportes de luxo, e se não está previsto nenhum aumento de preços, eles querer oferecer o melhor serviço, já prevendo que a concorrência européia chegará na França a partir de 2021. O “Oui” (Sim) que aparece nas duas novas marcas, Ouigo e InOui, é talvez simbólico dessa nova cultura. O próprio site da empresa, hoje voyages-sncf, vai assim ser redesenhado e se chamará « OUI.sncf ». E, na espera do trem bala prometido há anos entre São Paulo e Rio de Janeiro, os brasileiros serão sem duvidas ainda mas entusiastas a dizer “Sim” a Ouigo ou InOui para viver essa experiência de viagem tão francesa.

Jean-Philippe Pérol

Um dia, um “Oui” também para um São Paulo Rio de trem bala?

 

Clientes e hotéis são mesmo prontos a ser eco-responsáveis?

Ferme du Petit Segrie

A Ferme do Petit Segrie, hotel Ecoleader na Provence

Reciclagem, economia de energia, procura de produtos locais,ou apoio a agricultura biológica  são hoje atitudes cada vez mais populares, e os viajantes também afirmam preferir os hotéis eco-responsáveis. Varias pesquisas publicadas recentemente pela Accor, pela Universidade da Florida e pela Booking.com mostraram porem que esse critério não é o mais decisivo nas escolhas, a falta de informação e os custos  impedindo os desejos aparentes dos consumidores de coincidir com as verdadeiras decisões dos clientes.

Planet 21, o programa de desenvolvimento sustentável da Accor

Planet 21, o programa de desenvolvimento sustentável da Accor

A pesquisa da Accor mostra que dois terços dos clientes pensam que a preservação do meio ambiente é necessário para preservar as gerações futuras, e muitas praticas eco-responsaveis são recomendadas, sendo as mulheres e os menos de 30 anos os mais favoráveis  : 80% praticam o lixo seletivo, 81% compram eletrodomésticos eco-energéticos, 75% prefiram os produtos fabricados localmente, 33% comem alimentos biológicos. A maioria deles são também prontos a continuar com essa eco-atitude quando estão hospedados no hotéis: 64% declaram aceitar de receber a fatura somente por email, 61% de jogar o lixo de forma seletiva, 32% de reduzir o serviço de limpeza nos quartos, 31% de receber porções menores nos restaurantes, e 30% de deixar o troco em moeda local para uma associação.

Hotel Roas dos Ventos, premiados com o selo sustentabilidade da Trip Advisor

Hotel Rosa dos Ventos, Ecolider Platinum da Trip Advisor

Mas no mesmo tempo, somente 13% dos viajantes consideram que o compromisso do hotel com a sustentabilidade é um critério de escolha na hora da reserva, 57% não aceitariam um hotel mais eco-responsável mas numa outra localização e 59% não querem abrir mão do conforto para ajudar o meio ambiente. Essa mesma conclusão apareceu também numa pesquisa da Universidade da Florida: a eco-atitude só é aceita se  não prejudica o conforto, seja a climatização, os banheiros ou os serviços. E dois terços dos entrevistados afirmam que eles aceitaria de pagar um pouco mais caro para guardar o mesmo nível de conforto num hotel comprometido com um programa concreto de sustentabilidade.

Ariana Lodge in Turkey, Sustentabilidade na Booking.com

Ariana Lodge in Turkey, Sustentabilidade na Booking.com

Uma terceira pesquisa da Booking.com destaca que 68% dos viajantes seriam prontos a escolher um hotel eco-responsável se a informação fosse claramente fornecida antes da reserva (dois terços declaram não ter sido informados, 39% ignoravam a existência desse tipo de oferta), e se tivesse uma forma de comprovar a realidade das medidas anunciadas pelos hotéis (13% duvidam das promessas feitas). Os motivos de desconfiança são que esses hotéis seriam mais caros (22%) , ou que o serviço seria menos atencioso (10%).

Hotel La Rochette, na Alsacia, um hotel eco-responsável

Hotel La Rochette, um hotel eco-responsável na Alsacia

As três pesquisas mostram claramente que os viajantes estão convencidos da necessidade de respeitar um turismo sustentável. Um numero crescente de estabelecimentos estão reduzindo as suas pegadas ecológicas, preocupados em ser eco-responsáveis, mas esses esforços não são sempre conhecidos dos consumidores. A ausência de normas ou de selos de qualidade internacionais dificulta ainda a divulgação e a credibilidade dos esforços importantes que cada vez mais hotéis estão fazendo, mas é certo que as eco-atitudes serão um critério cada vez mais importante nas escolhas dos viajantes.

Esse artigo foi traduzido e adaptado de um artigo de Claudine Barry na revista on-line Reseau de veille en tourisme, Chaire de tourisme Transat

Bleisure: viagem de negócios ou viagem de lazer? Os dois!

O Grand Palais, desde Napoleon III, recebendo feiras e exposições de Paris

O Grand Palais recebendo feiras e exposições desde Napoléon III

Enquanto as maiores agencias de viagem consideravam ainda há pouco que as barreiras entre viagens de negócios e viagens de lazer eram insuperáveis, uma recente pesquisa da Egencia (do Grupo Expedia) mostrou o forte crescimento das viagens combinadas, o “Bleisure” dos profissionais norte-americanos. bleisureO Bleisure é praticado hoje por 24% dos viajantes de negócios  franceses, 20% dos alemães e dos estadunidenses, 10% dos ingleses, e 25% dos brasileiros. Ele interessa os responsáveis das agências corporate que perceberem o potencial dessa nova tendência, e os hoteleiros  já anotaram a prorrogação de estadias para motivos particulares, bem como os pedidos crescente dos homens de negócios para atividades de lazer. Segundo uma pesquisa da BridgeStreet Global Hospitality 60% deles já fizeram uma viagem de tipo “Bleisure”, 54% com familiares, e 46% esticam a maioria das suas viagens de negócios para descobrir o local e suas ofertas culturais. As principais atividades procuradas são as visitas turísticas  (77%), os restaurantes (66%), os eventos culturais ou artísticas (66%), preferencialmente na mesma cidade.

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O Pullman Paris Tour Eiffel

Para atrair esses viajantes, os hotéis multiplicam as ofertas. O Orchard Hotel de Singapura criou um pacote “Bleisure experience” valorizando piscina e jacuzzi, incentivando a visitar a cidade e oferecendo um vale para um salão de beleza. Em São Francisco, o Hotel G promove o “Bleisure at the G” incluindo acesso aos transportes públicos e descontos em varias atrações turísticas.Meeting Room in Pullman concept Com o slogan “Work Hard Play Hard”, a marca Pullman, do grupo Accor, reinventou a sua proposta misturando os ambientes de trabalho e de lazer. Os lobbies dos hotéis, as suas salas de reuniões “Business playground”, os seus restaurantes ou bares foram redesenhados para satisfazer trabalho e divertimento. Com a oferta “Connectivity by Pullman“, conexões de alta velocidade são oferecidas nos quartos e em todas as áreas, com equipamentos desenvolvidos em parceria com a Microsoft e a Samsung. Querendo também atrair os clientes “Bleisure”, os hotéis canadenses Day Inn criaram uma tarifa “Ferias de negócios” 15% abaixo das melhores ofertas anteriores.

Bleisure by Millenium

A “Bleisure experience” da Millenium

Se o Bleisure era até agora promovido de forma discreta junto aos viajantes de negócios, ele é hoje integrado na comunicação e nas campanhas de muitos hotéis. O Ten Manchester Street de Londres aconselha a todos seus clientes de adicionar diárias pessoais às suas estadias profissionais. E o Bob Jacobs, vice presidente dos hotéis Sheraton e Westin para América do Norte, explicou que essas ofertas  são agora sempre incluídas nas propostas para grupos de incentivos, especialmente quando os participantes são jovens executivos da geração Y. Bleisure by AirBnb As agências de marketing especializadas aconselham de oferecer essas tarifas não somente na hora da reserva, mas também durante a estadia dos clientes, especialmente para os finais de semana. A oferta de condições especiais para famílias ou acompanhantes podem, ou até devem, ser integradas nos tarifários dos hotéis, mesmo quando caracterizados como hotéis “business”. Com os viajantes de negócios assumindo a procura de lazer, e os viajantes de lazer querendo continuar a seguir os seus negócios, as fronteiras entre os dois tipos de viajantes, até agora bem distintos, estão ficando flexíveis. Companhias aéreas, hotéis, operadores e agentes de viagem vão ter que se adaptar ao Bleisure. Os novos consumidores não aceitam ser categorizados e não querem limites para os serviços oferecidos. A pioneira Airbnb já avisou: o Bleisure em breve vai virar a regra!

Esse artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original de Aude Lenoir no site profissional canadense Réseau de veille en tourisme –  Chaire de tourisme Transat

France Meeting Hub, encontros de turismo de negocios na Alsacia

France Meeting Hub da Atout France, encontros de turismo de negócios na Alsácia

Natal: velhas tradições e novo marketing vindo do Norte

A famosa árvore de Natal de Estrasburgo

A famosa árvore de Natal de Estrasburgo

Se o verdadeiro São Nicolau nasceu no século III no sul da Turquia atual, o mito do Papai Noel foi popularizado misturando tradições católicas, lendas nórdicas e promoções americanas. Do bispo de Myra vem a distribuição de presentes para as crianças. coca-cola_the_pause_that_refreshes_1931-610x697Da Europa do Norte chegaram a barba branca, o boné e as roupas de peles vermelhas  inspiradas dum pequeno (e generoso)  duende viking chamado Julenisse. Atravessando o Atlântico, Nicolau se transformou em Santa Claus (do holandês Sinterklaas), um velho duende barbudo distribuindo presentes na noite de Natal numa carruagem puxada por oito renas. Adotado como personagem central de varias campanhas publicitarias americanas, ele virou uma personalidade mundial a partir de 1931 quando a Coca Cola o contratou como garoto propaganda. Mas mesmo globalizado, o folclore natalino continua pegando sua força nas tradições do Norte da Europa, e dois países escandinavos, a Islândia  e a Finlândia, mostraram agora a sua criatividade para juntar espírito Natalino e marketing turístico.

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A Islândia aproveitou esse ano uma lenda tradicional contando que, nas treze noites anteriores a Natal, um “Yule lad” (duende islandês) desce das montanhas para deixar presentes para crianças, ou fazer surpresas e trapaceadas.The-Thirteen-Yule-Lads-of-Iceland Assim como os Orixás, cada um desses treze duendes têm uma personalidade bem peculiar, suas atividades preferidas e seus gostos gastronômicos . Durante todo o mês de Dezembro,  os profissionais do turismo islandês estão promovendo um quiz on line dando a cada internauta a possibilidade de saber com qual desses duendes ele pode ser identificado. Algumas das perguntas ajudam também a valorizar as especialidades culinárias, o artesanato ou as belezas naturais do pais.

A cidade do Papai Noel

Rovaniemi, a cidade do Papai Noel

O folclore natalino sempre inspirou a promoção turística da Finlândia, inclusive na reivindicação da cidade de Rovaniemi, na Lapónia finlandesa,  como cidade natal e escritório do Papai Noel, bem como sede de um parque de lazer parque conhecido como “Santa Park”. emoji-christmaspartyEsse ano a Finlândia inovou sendo o primeiro pais do mundo a criar uma série de emoticons ilustrando com humor e sensibilidade as particularidades do pais. No site  THISISFINLAND estão sendo publicados durante todo o período  do Advento 30 emoticons, um a cada dia. Os símbolos escolhidos até agora vão do urso hibernando até o fã de heavy metal (musica muito popular na Finlândia), passando pelo pacificador (homenagem a um ex-presidente que ganhou o Nobel da Paz) e o casal festejando Natal.

Patrocinando muitos eventos- sendo os mais populares os Mercados de Natal que se espalharam desde a Alsácia a partir do século XIV, o Papai Noel, carregando não somente presentes mas também um espírito natalino de Paz e de Alegria, é cada vez mais um grande incentivador de viagens turísticos para adultas e crianças. E seja ele um santo da Turquia ou um velho duende trapaceiro da mitologia nórdica, da para acreditar na sua magia!

Esse artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original de Claudine Barry no Reseau Veille Tourisme da Chaire de Tourisme Transat

 

A França é também da cerveja!

 

Festa em Lille

Num pais que é conhecido mundialmente como sendo o pais do vinho, é surpreendente saber que a cerveja tem também um lugar de destaque.Capture-d’écran-2015-09-23-à-12.20.16 A França é assim não somente o quinto produtor mundial de cerveja, mas um pais aonde a cerveja é, em varias regiões, a bebida mais tradicional e a mais procurada pelos consumidores. É o caso na Alsácia, na Lorena, na Normandia ou na Bretanha, e mais ainda no norte, perto da fronteira com a Bélgica, nos arredores de Dunkerque, de Arras ou de Lille onde a cerveja é uma verdadeira cultura regional.

La place des Heros Arras

Desde a época do Império Romano, quando a proibição dos vinhedos nessa região favoreceu o plantio dos cereais, a fabricação da cerveja virou uma grande atividade econômica do norte da França. E, durante toda a Idade Media, os monges aproveitaram as suas isenções de taxas para desenvolver novas técnicas de produção que criaram no século XV a cerveja que conhecemos – e bebemos – hoje. Monges cervejeirosNessa região fronteiriça com a Bélgica, as cervejarias tinham, e ainda têm, três fatores importantes para ser bem sucedidas: terras e condições climáticas perfeitas para produção de cevada e de lúpulo, agua rica em minerais, e uma população acostumada a essa bebida chamada até de “pão liquido” pelos flamingos. Acolhedores e festivos, os  “ch’tis” (assim são chamados os habitantes da região) colocam a cerveja em todos os eventos, festas publicas ou particulares, protestos, ou desfiles de Carnaval homenageando o mítico Cambrinus, primeiro Rei da cerveja.

Circuit_BrasserieduCateau©L'Echappée Bière_4

Para ajudar o viajante a descobrir essa cultura da cerveja, e a escolher entre as quase cem cervejas diferentes produzidas no norte, inspirada pelo turismo enológico das grandes regiões vitícolas da França, uma pequena empresa de Lille, a  “L’Échappée Bière”, desenvolveu um turismo cervejeiro.  TURISMO CERVEJAEla oferece visitas de cervejarias, cursos e degustações, fabricação de cerveja, espetáculos com temáticas de cerveja, almoços ou jantares harmonizando comidas e cervejas ou simples visitas de bares de cervejas. Segundo os conhecedores, os dois melhores de Lille seriam La Capsule, o preferido dos “beermen”, que oferece cervejas não tradicionais vindo do mundo inteiro num ambiente underground, ou o Palais de la Bière, mais divertido e com uma seleção de pratos regionais, a Carbonnade ou o Welch.

La Capsule

O turismo cervejeiro da L’Échappée Bière” aproveita uma tendência geral de valorização da cerveja, outrora bebida plebeia que está pouco a pouco virando um produto nobre, utilizado até pelos maiores chefes franceses e internacionais. Desde que a Chefe Ghislaine Arabian ganhou duas estrelas no Michelin com o seu famoso ” Turbo à la bière de garde”, muitos restaurantes estão explorando as riquezas gustativas da cerveja, assim como o La Laiterie, que ganhou uma estrela oferecendo um cardápio gastronômico combinando uma cerveja com cada prato.Au Trappiste Os bares de cerveja são agora espalhados na França inteira, em Lyon (Les Fleurs du Malt), em Montpellier (Les couleurs de la Bière), em Estrasburgo (Les Berthom) ou em Albi (La Place des Bières). Em Paris, alem do tradicional “Le Trappiste”, com seu cardápio onde não faltam os mexilhões com batatas fritas, abriram novos e incontornáveis lugares como o La Fine Mousse, Les Trois 8, Le Super Coin ou L’Express de Lyon. Enquanto se fala as vezes da obrigação de escolher entre as culturas do vinho ou da cerveja, a França mostra a seus visitantes que é possível pertencer a esses dois mundos!

Jean-Philippe Pérol

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Outono na Franca: cores e sabores da Corsega!

Outono na Alsacia

Chegando do Brasil onde as matas são sempre verdes, as cores do outono francês dão entre Setembro e Novembro um toque de magia a todas as viagens. Outono na CombrailleSeja na Alsácia, na Auvergne, ou até nas florestas dos arredores de Paris (no Bois de Boulogne ou no Bois de Vincennes), os tons de amarelo, laranja e vermelho deixam as arvores com a aparência de cortinas de chamas ou de corredores de fogo. O outono é também no Sul da Franca a época dos dias ensolarados sem o calor exagerado do verão, com luzes alaranjadas e com cheiros peculiares. E na  Córsega, esse “Ilha de Beleza” recentemente destacada pelo Trip Advisor como uma das “dez mais” da Europa, o outono é o inicio duma nova temporada turística.

Outono na Corsega
A partir de setembro, os famosos castanheiros da “Castagniccia” começam a mudar de cores, e logo em seguido os camponeses iniciam a colheita da famosa castanha que, até o inicio do século XX, era a base da alimentação corsa. chataigneSaborosa e sem gluten, a farinha de castanha é hoje a base de muitos pratos da renovada gastronomia regional, inclusive numa polenta. No sul da Ilha, em Bocognano, « a fiera di a castagna » é a grande feira agroalimentar e artesanal. As tangerinas da CorsegaDo 4 ao 6 de Dezembro, a Castanha vai ser a rainha da festa, mas os outros produtos do outono serão também presentes: figos, tangerinas, cogumelos, mel do mato, brocciu, salsichões, presuntos e “copas”, azeite e os vinhos de uvas nativas: nielluccio, sciaccarello ou barbarossa para os tintos,  vermentino, biancu gentile ou codivarta para os brancos.

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Temperaturas amenas e turistas escassos fazem do outono a melhor temporada de viagem para a Córsega. Com a agua do mar ainda quente, mas com as praias vazias, é possível nadar ou mergulhar com tranquilidade, para aproveitar depois o aperitivo e o jantar num restaurante, como o Casablanca na praia de Arone, considerada a melhor da Ilha. Ajaccio, a catedralÉ também uma ótima época para visitar a capital, Ajaccio. A imperdível casa onde nasceu o Napoleão, o excepcional Museu Fresch cujo acervo foi doado pelo seu tio, e  a Catedral onde ele foi batizado  já com dois anos de idade, podem ser visitadas sem filas. E depois é sempre possível achar uma mesa na badaladíssima terrassa do “Le Lamparo” para tomar um drinque olhando para o mar.     

As matas do GR20

Mas na Córsega o outono é antes de tudo o paraíso das trilhas. São pequenas caminhadas a percorrer nas “Calanche”de Piana ou nas Ilhas Sanguinárias. arbousierMas a mais famosa é a GR20 que atravessa de ponto a ponto a “Ilha da Beleza”, um desafio a enfrentar de Norte ao Sul em 3 a 14 dias, dependendo do nível do visitante. O mais recomendado é de escolher algum trecho em função do tempo disponível, parando os vilarejos e aproveitando para descobrir os sabores e as atividades do outono. Sempre muito bem recebido – e surpreendido pela proximidade da língua corsa com o português- , automnecorseo viajante brasileiro poderá aproveitar de encontros com pequenos produtores de produtos tradicionais – mel , perfumes, queijos …, com criadores dos tradicionais porcos pretos, com pastores de cabras, ou com numerosos artistas e cantores que continuam a animar a cultura dessa Ilha francesa tão peculiar até no seu outono.

A Torre de Parata e as Ilhas Sanguinárias

Esse artigo foi traduzido e adaptado dum comunicado da Agencia de turismo da Córsega publicado pela revista on-line Pagtour

Presepios na França: tradições seculares e brigas contemporaneas.

Les-santons-de-Provence

Referência católica  ao nascimento de Jesus numa gruta de Belém, talvez inventados no final da Idade Media no reinado de Napoli, os presepios tiveram a partir do seculo XVIII um sucesso espetacular na Provence. Na epoca do Natal, cada familia devia – e ainda deve-  montar o seu, utilizando pequenos figurinos de barro chamadas “santons”. No presépio de cada lar, alguns personagens vão sempre aparecer, seja o São José, a Nossa Senhora e o pequeno Jesus, os Reis Magos, ou o boi e o jumento cujas imprescindíveis presencias foram lembradas pelo próprio Papa Benedito XVI no seu livro “A infância de Jesus”.

CRECHE

Mas na Provence aparecem também milhares de figuras. São as profissões típicas da região – os pastores com suas ovelhas, o padeiro, o moleiro, ou os pescadores. Os “santonniers”(fabricantes de santons) estão também inovando com floristas, bombeiros, pedreiros, cozinheiros ou políticos, e teriam hoje mais de 18.000 modelos diferentes.Santons_à_peindre De 2 a 30 cm, simples ou sofisticados, todos eles devem ser fabricados de forma artesanal. Concebido e esculpido a mão pelo artesão, o primeiro “santon” serve para fabricar o primeiro molde. Esse molde será depois enchido com barro vermelho da Provence, lixado e secado. Depois de passar no forno a 900 graus, será pintado a mão com muita paciência e dedicação.

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Em Aix en Provence, em Marselha ou em Avignon, em toda França, os presépios são uma tradição muito forte que os moradores, católicos ou não, são sempre orgulhosos de mostrar para os visitantes. SANTONS D AUVERGNEOs “santons” têm suas feiras, suas exposições e suas lojas onde são comprados por turistas ou colecionadores. E nas semanas que antecedem o Natal, os presépios e as tradições natalinas invadem não somente as casas, mas as vitrinas, as praças, as ruas e os espaços públicos.

4369111_creche-vendee_545x460_autocropNesse quadro que deveria ser de paz, um juiz da cidade de Nantes detonou uma guerra religioso exigindo, em nome da laicidade, que seja retirada um presépio colocada na sede do governo da Vendée. Com o governo apoiando o juiz, a oposição defendendo que se trata mais de  artes, de cultura e de tradições que de religião, a briga virou politica. Um famoso humorista escreveu para o tribunal pedindo se ia também acabar com o feriado de Natal, a ceia e as tradicionais bûches!

Mas os visitantes não precisam se preocupar. 71% dos Franceses continuam apoiando a presencia dos presépios nos espaços públicos. 0-ANIM-Cre-ches-du-Monde-a--Landogne-2Os “santons” da Provence, bem como os mercados de Natal da Alsácia ou de Avignon, ou a inesperada exposicão de presepios do vilarejo de Landogne na Auvergne  mostram a força do patrimonio cultural, incluindo religioso das regiões da França. A guerra dos presepios não deve vigorar, e essas tradições vão continuar a encantar tanto os moradores como os turistas vindo do mundo inteiro para viver a alegria dum Natal ou dum Reveillon a francesa.

Joyeux Noel na França!

Jean-Philippe Pérol.

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