Elaborados desde 1840 pelos monges cartuxos do mosteiro da Grande Chartreuse, os dois famosos licores – Chartreuse amarela e Chartreuse verde– eram na época herdeiros de uma longa tradição de poções milagrosas e bebidas medicinais. Hoje são bebidas finas, conhecidas e procuradas no mundo inteiro, e o mistério das plantas colhidas a mão usadas na sua destilação só serve para aumentar a sua procura. Durante um histórico leilão no último mês de março, 1500 garrafas de grande safras do precioso elixir foram assim vendidas por mais de 1,6 milhão de Euros a um grupo de conhecedores estadunidenses.
Mas enquanto a produção atual (1,5 milhão de litros em 2022) já não satisfaz mais a procura, o mosteiro acabou de tomar uma surpreendente decisão: não aumentar mais a produção, assumir um desenvolvimento controlado e uma oferta limitada para o futuro. Os monges deram varias razões para essa decisão, sendo a primeira a vontade de respeitar o equilíbrio de vida do mosteiro baseado, desde a sua fundação em 1084, na solidão e nas orações, devendo limitar o número de religiosos envolvidos na fabricação dos licores. O objetivo anunciado foi também de guardar uma empresa respeitando as relações humanas, favorecendo a economia local e preservando a biodiversidade.

Os monges ainda guardam o segredo lista das 130 plantas da receita
Desde 1605, quando o superior dos Cartuxos recebeu do Marechal d’Estrées, irmão da amante do rei Henrique IV, o manuscrito sobre o “Elixir vegetal de longa vida da Grande Chartreuse”, a receita foi cuidadosamente guardada, sem que a origem do documento, às vezes localizada em Constantinopla, seja plenamente esclarecida. Em 1764 foi levada para o famoso mosteiro dos Alpes franceses onde o monge Jérôme Maubec trabalhou a melhorar os processos. A partir de 1840, foi decidido que somente três monges teriam acesso a lista das 130 plantas e das proporções necessárias para a fabricação dos dois licores, que até hoje são produzidos seguindo a mesma receita.

Os “foudres”, barris gigantes onde são envelhecidas as Chartreuse
No mosteiro, os monges realizam a preparação da mistura, escolhendo e separando as plantas colhidas nas montanhas dos arredores. Essa mistura é depois levada para a distilaria de Aiguenoire, localizada a 12 quilômetros, onde é completado o processo com a infusão, a distilação e até a extração. Começa depois o envelhecimento, um processo muito exclusivo para um licor, primeiro em barris de carvalho gigantes (os “foudres”) e depois na próprias garrafas que devem guardadas em pé e não deitadas. O prazo de envelhecimento varia de 3 anos para a Chartreuse amarela a 15 anos para a raríssima Chartreuse verde VEP.

Mais forte e menos doce, a Chartreuse verde é a mais vendida
Se os monges têm o controle da produção, eles entregaram a promoção e a comercialização dos seus licores para a empresa “Chartreuse diffusion”, propriedade dos cartuxos, que virou a primeira fonte de renda dos 22 mosteiros da Ordem. Foi com ela que foram definidas as novas orientações: reforçar as vendas diretas, em estreita ligação com o turismo local, trabalhar a elaboração de novos produtos – safras especiais ou chás aromáticos-, e voltar a promover o Elixir original. Gerenciando o sucesso da marca, mas agora com uma produção limitada, a “Chartreuse diffusion” terá agora o desafio de acompanhar produtos cada vez mais exclusivos