
A Delta anunciou a decisão estratégica de entrar na LATAM
Mesmo se os líderes de todos os atores brasileiros desta grande jogada afirmam que a situação continua sendo de “business as usual”, o surpreendente anúncio pela Delta Air Lines da aquisição de 20% da Latam vai ter um impacto profundo e duradouro sobre a aviação internacional e até doméstica no Brasil. Aproveitando a boa saúde financeira para consolidar sua rede, a companhia estaunidense anunciou que colocava na mesa US$ 1,9 bilhão para adquirir 20% da LATAM, a maior empresa aérea da América do Sul, membro de One World e aliado de longa data da American Airlines. No mesmo comunicado, a Delta anunciou que ia se desfazer da participação de 9,4% na Gol, deixando inesperadamente a sua parceira Air France sozinha com a jovem líder das viagens domésticas no Brasil.

A Latam vai chegar tambem nos planos da AF KLM?
Mesmo se o anúncio surpreendeu o trade aeronáutico, o mercado já esperava notícias do Chile, já que a Corte Suprema daquele país tinha cassado em maio um projeto de acordo entre Latam, American Airlines, British Airways e Iberia que infringiu, segunda a decisão, as leis antitruste. Era uma oportunidade para Delta que escolheu, anos atrás, de reforçar a aliança Sky Team com participações financeiras. A companhia adquiriu assim 10% do Grupo Air France KLM (a Air France tem 49% e KLM 31%), 36% da Aeromexico, 10% da Alitalia, e 3,55% da China Eastern. No novo conselho de administração da Latam, os dois representantes da Delta vão curiosamente sentar juntos com um representante da Qatar Airways, dona desde 2016 de 10% das ações e membro da agora concorrente Oneworld.

Delta “moving the people who move the world”
No anúncio ao mercado, a Delta insistiu na parceria estratégica que essa participação na Latam significava, incluindo com um investimento suplementar de US$ 350 milhões que deixa muito provável a entrada da Latam na Sky Team. A aliança deve sair reforçada mesmo se sob a liderança, agora indiscutível, da empresa estadosunidense. A Delta é agora a primeira companhia mundial em volume de vendas, transporta cerca de 200 milhões de passageiros/ano para perto de 300 destinos em 50 países, tem uma frota de quase 1000 aviões (sendo um terço de Airbus) e emprega 80 mil funcionários. A entrada na Latam deve reforçar essa liderança não somente na América do sul (com um reposicionamento no impreterível gateway de Miami) mas também no mundo inteiro.

LATAM, lider tambem no Ecuador e nos demais paises latinos
O gigante criado em 2012 com a absorção da TAM pela LAN Chile transporta 71 milhões de passageiros/ano para 25 países com suas frotas de 350 aviões (sendo dois terços de Airbus). Com as outras suas subsidiarias LATAM Airlines, na Colômbia, no Perú, na Argentina, no Equador e no Paraguai, virou a maior empresa aérea da America do Sul. No Brasil, devemos porem lamentar que a herança do Comandante Rolim não foi talvez muito bem respeitada. Assim não foram transferidas para nova empresa nem a ousadia de management – que levantou a TAM dos Táxi Aéro Marilia até os Transportes Aéros Mercosul-, nem a prioridade ao cliente – que levava o proprio Rolim a entregar suas cartas aos passageiros em Congonhas-, nem a qualidade do serviço – com o tapete vermelho e sem filas de espera nos check-in.

As famosas presencias do Rolim no pé das escadas dos seus aviões
Sem poder ainda medir todos as consequências no Brasil dessa grande jogada da Delta, podemos talvez somente destacar a elegantíssima reação da Gol Linhas Aéreas Inteligentes que, mesmo sendo extremamente prejudicada com essa reviravolta (e ver seus títulos na bolsa despencarem o dia do anúncio), declarou: “a Delta foi uma ótima parceira da Gol e desejamos-lhes sucesso. Valorizamos nossa parceria com a Delta e estamos felizes em ver essa contínua confiança no mercado de aviação da América Latina”.
Esse artigo foi adaptado de um artigo original de Serge Fabre na revista on-line La Quotidienne