A polémica isenção de vistos é mesmo o x do problema?

Na guerra dos vistos, ninguém deve sair ganhando

Já discutida quando concedida unilateralmente pelo governo Bolsonaro, a isenção de visto a turistas dos Estados Unidos, do Canadá, da Austrália e do Japão abriu uma nova polémica agora que o governo Lula anunciou sua revocação a partir de 1º de outubro. Segundo o Itamaraty, a intenção era de ampliar a medida na base da reciprocidade, mas devido a recusa das autoridades americanas, canadenses, japonesas e australianas de oferecer o mesmo benefício a cidadãos brasileiros, o Brasil não teve outra escolha que de voltar a exigir o visto.

A ambição de 12 milhões de entradas não sobreviveu a crise

Além desse principio diplomático de respeito e igualdade, o governo levantou um outro ponto, a dificuldade de mostrar que a medida tinha trazida um qualquer aumento de turistas oriundo desses países. Em março 2019, quando foi anunciada, o então ministro do turismo projetava um aumento de 35% das entradas de turistas em 2020, e a intenção era de chegar a 12 milhões de turistas por ano em 2022. Com a chegada da pandemia, a queda de 88% em dois anos das chegadas internacionais, e mesmo com os 3,65 milhões da boa surpresa de 2022,  foi impossível de verificar se as ambições do ministro eram realistas.

Na hora de apoiar a retomada, a medida chocou as entidades do trade

Tomada num momento onde o turismo começa a sair de uma crise que abalou, e as vezes matou, muitas empresas do setor, a decisão do Itamaraty, está revoltando todos os profissionais, juntando todas as lideranças de classe, transportadores, hoteleiros,  organizadores de eventos, comerciantes, o lazer e o corporativo, o setor privado e muitos órgãos públicos – inclusive a própria Embratur, num tentativa de reverter essa medida, e de retomar  os objetivos de crescimento do turismo receptivo brasileiro que tanto sofreu nos últimos dois anos.

Respeito mútuo e reciprocidade foram os pontos levantados pelo Itamaraty

Se o argumento da reciprocidade é politico, o turismo deve também analizar as observações feitas pelo governo sobre o impacto dos vistos sobre as entradas provenientes de quatro países que representam um pouco menos de 10% dos estrangeiros visitando o Brasil. E deve ajudar a définir se os vistos são realmente hoje o primeiro obstáculo ao desenvolvimento do turismo internacional no Brasil.
Sobre o impacto dos vistos, a pandemia impediu um comparativo. As experiencias anteriores  mostraram que o impacto existe, mas que ele não chega a atingir os valores ufanistas anunciadas quando foram cancelados as exigências em 2019. Para países distantes, foram observadas quedas de 3 à 5 % para França nos anos 90. Quedas muito maiores – como acontece agora entre o Brasil e os Estados Unidos- são muito mais decorrentes das dificuldades ou dos prazos de obtenção do que do proprio visto. Assim um visto eletrônico ou um visto obtido na chegada seriam talvez ideias a trabalhar para respeitar tanto as exigências de reciprocidade da politica que as reivindicações de liberdade dos turistas.

A Embratur tem um momento muito favorável pela frente

Os esforços para conseguir cancelar ou pelo menos aliviar a exigência de reciprocidade devem porém não esconder que os grandes obstáculos ao crescimento do turismo internacional no Brasil não são os vistos exigidos, ou não, dos japoneses, dos canadenses, dos australianos e dos estados-unidenses. A segurança, a qualificação da mao de obra e o respeito pelo meio ambiente são, com certeza, fatores muito mais imprescindíveis para quais devem ser mantida a mobilização da classe. Aproveitando o momento de melhoria da imagem internacional do Brasil, é também importante de apoiar os esforços da Embratur para voltar a comunicar sobre uma realidade do turismo nacional ainda muito pouco e as vezes muito mal conhecida nos grandes mercados emissores.
Jean-Philippe Pérol

Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue” do autor na revista profissional on line Mercado e Eventos

O turismo global sem braços para a retomada

No Canadá, a mão de obra virou o primeiro problema do trade turístico

Há muitos anos, no mundo pre-pandemia, se falava que uma carreira no turismo tinha três características: trabalhar muito, ganhar pouco mas se divertir muito. Se essa piada levantava muitos risos na época de ouro do setor, a pandemia mudou totalmente a percepção. Os baixos salários, os horários incomodos, a pressão, a falta de reconhecimento e a forte sazonalidade levaram muitos empregados despedidos ou não durante a crise, a abandonar o setor. Na França os hotéis e restaurantes perderam 10% dos seus funcionários desde 2020, e uma pesquisa feita em 2021 em cinco grandes destinos turísticos (EE-UU, Reino-Unido, França, Espanha e Alemanha) conclui que  38 % deles queriam mudar de setor num prazo de um ano. 

A França é um dos destinos onde mais falta mão de obra no turismo

Faltando candidatos, as associações profissionais e as empresas reagem para revalorizar as carreiras do setor. Na França empresários e sindicatos assinaram um acordo de revalorização salarial de 16 %, mas muitos estabelecimentos já estão indo além desse piso.  Na Alemanha, o novo acordo sindical da hotelaria e da restauração prevê aumentos de salários de até 36 % e na Suiça, onde os acordos são feitas em cada empresa, os aumentos estão girando em torno de 30%. Os salários mais altos não porem suficientes para responder as expectativas dos candidatos, que esperam também propostas referentes ao reconhecimento profissional, as perspectivas de carreira ou aos horários de trabalho.

Accor incentiva a responsabilidade na organizacão do trabalho

Sempre pioneira quando se trata de relações humanas, Accor lançou na Australia e na Nova Zelândia um programa ” Work Your Way ” para poder preencher 1 200 vagas. Para ser mais atraentes, as ofertas prevê a possibilidade de começar a trabalhar imediatamente depois da entrevista, de ter vantagens personalidades em termos de prêmios, de viagens, de folgas ou de férias. Os funcionários deverão  poder seguir na mesma atividade em outros países da região do Pacífico, ter mais oportunidades de carreira no grupo. Será dada uma maior polivalência valorizando assim a flexibilidade para todas as funções, da limpeza até a diretoria.

Mudar os horários do jantar está virando uma necessidade

A atratividade do turismo foi sempre prejudicada pelos horários muito puxados.  Para dar mais liberdade a seus funcionários, restaurantes franceses estão acabando com os horários cortados, contratando equipes diferentes para o almoço e o jantar. Outros estão começando a servir o jantar mais cedo, acabando também mais cedo para reduzir o trabalho noturno.  Alguns hotéis estão terceirizando parcialmente ou totalmente a alimentação. Na Alemanha a semana de 36 horas em somente 4 dias está sendo experimentada em Hamburg pela cadeia de hotéis “25 Hours” que deve depois estender a medida  a todos os hotéis do grupo, inclusive na Suiça.

Para atrair os candidatos, é necessário imaginação

Muitos empresários estão investindo para melhorar a qualidade de vida dos funcionários. Na Suiça, em Gstaad ou Saint-Moritz, hoteleiros construíram residências para seu pessoal, com alojamentos de qualidade. Na Austria, em Kitzbühel, o hotel Stanglwirt foi mais longe ainda, investindo para seus empregados em dois prédios de madeira com boa localização, eficiência energética, equipamentos de alto padrão e acesso gratuito aos refeitórios do hotel. Uma creche fica também a disposição das famílias, e a empresa oferece três dias suplementares de ferias para quem quiser trabalhar em obras caritativas. A valorização dos compromissos sociais, éticos e ambientais é para os candidatos, e especialmente os mais jovens, um fator importante de escolha da empresa onde querem trabalhar.

No Japão, a recepção pelos robôs já é uma realidade

Para reverter a falta de candidatos, a criatividade das empresas parece então não ter limites. No Canadá uma cadeia de restaurantes está propondo um iPhone para seus novos funcionários, e , talvez inspiradas pela “luvas”do futebol, empresas estado-unidenses estão oferecendo bonus de USD1000 para assinar o primeiro contrato. A penúria de mão de obra para acompanhar a retomada pode porem ter outras consequências, a robotização de vários serviços. Alem das opções de reservas ou de compras já rotineiras, serviços como a  recepção de clientes (Hotello), a comunicação ( Automat ou HeyDay) , o atendimento nos quartos ou o concierge (NuGuest) podem dispensar presenças físicas. Para a qualidade do serviço e o futuro da profissão, deve se esperar que a chegada de novos talentos no turismo impedirá essa robotização de ir (demais) para frente.

 

Este artigo foi adaptado de um artigo original de l’Observatoire valaisan du tourisme  na revista profissional on-line Reseau de veille en tourisme, Chaire de tourisme Transat  

Os moradores, atores chaves do novo turismo

O Skift Global Forum 2022 abrirá esse mês em Nova Iorque

Reunindo líderes de grandes empresas do ramo e profissionais do marketing o Skift publicou, antes do seu concorrido  Global Forum de Nova Iorque, uma pesquisa sobre as grandes tendencias que estão marcando as viagens e o turismo esse ano. Uma das mais fortes é sem dúvidas a mobilização cidadã. O Skift antecipa que os habitantes vão parar de ser meros espectadores do turismo para atuar na construção  de destinos atraentes para todos. O sucesso dos projetos será agora definido pelos benefícios econômicos e sociais trazidos para os moradores.

A qualidade vida dos moradores virou prioridade do turismo em Havai

Experiências bem sucedidas em Havaí, no Panamá, em Vancouver, no Quebec ou na Islândia mostraram assim que associar os moradores a planificação dos novos projetos, levando em consideração suas preocupações econômicas, ambientais e sociais, faz naturalmente deles os atores e os embaixadores das suas regiões. Mas o impacto desse processo vai as vezes muito além do turismo, tocando na identidade cultural das cidades ou das comunidades, reativando tradições artísticas ou culinárias que ajudam a valorizar a autenticidade do destino com o envolvimento de todos. 

No Quebec, um projeto identitário nas Ilhas da Madeleine

No Quebec, as Ilhas da Madeleine, procurando melhorar a experiência gastronômica dos turistas, lançaram um projeto  chamado Bouilli d’histoires salées para valorizar a identidade culinário do destino. Uma consulta foi lançada nas Ilhas, e mais de 100 pessoas foram solicitadas para transmitir conhecimentos sobre os produtos, as receitas, os pratos. Depois de muitas consultas e de seleções com a ajuda de especialistas, o resultado foi um “Abecedário culinário identitário”,  livro de cozinha publicado numa plataforma onde constam também as tradições gastronômicas, as empresas produzindo os produtos, as receitas típicas e os restaurantes onde podem ser encontrados esses pratos. 

A valorização do património das ilhas e a mobilização dos moradores não foi restrita a gastronomia e ao culinário. Para apoiar a promoção do destino, os responsáveis pelo projeto foram buscar na cultura e na musica popular varios elementos da campanha. Conceberam um vídeo muito diferenciado “Mets d’la bagosse dans l’juke-box! ” – isso, en gíria das ilhas, pode ser traduzido por  “Coloca pinga na vitrola!” . Escrito por ilhéus, apresentando empresários e personalidades locais, o clip foi filmado por uma equipe da região. E a música original foi também escrita e interpretada por artistas das ilhas da Madeleine. 

O clip turístico de Porto Rico mobilizou as comunidades

Associar os moradores logo no inicio do processo criativo de um projeto turístico focado na cultura local foi também parte da última campanha de promoção de Porto Rico. Vários conceitos foram testados em grupos de porto-riquenhos, – incluindo associações de moradores, empresários e influenciadores-, tanto na ilha que nos Estados Unidos, e foi com eles que foram aprovadas as escolhas finais, inclusive a marca. A produção do video foi feito em colaboração com três empresas locais, a parte visual e os acessórios foram  realizados por duas mulheres designers da região, e a maior partes dos atores são também genuínos porto-riquenhos.

O lema da campanha, “Live Boricua”, tem uma total identificação com a ilha, já que vem do nome “Boricua” dado as pessoas que nasceram ou que têm origens em Porto Rico.  O objetivo é atrair os visitantes mostrando as experiências que eles vão conseguir compartilhar com os moradores. Os videos, os anúncios e os posts focam muito mais em historias de pessoas que em paisagens ou atrações turísticas tradicionais. Foi assim essencial para Discover Puerto Rico que a campanha seja inspirada e assumida pelos habitantes, as personalidades locais, bem como os numerosos artistas da importante diaspora, todos convencidos que sua arte de viver é o maior atrativo turístico da Ilha. E que o novo indicador de desenvolvimento turístico deverá ser simplesmente a qualidade de vida no local.

Este artigo foi adaptado de um artigo original de Elisabeth Sirois na revista profissional on-line Reseau de veille en tourisme, Chaire de tourisme Transat  

A renovação urbana, grande vencedora da pandemia?

No coração de Manhattan, a 42nd é agora deserta

Apresentado um relatório sobre o crise do Covid nos centros urbanos, o secretário geral da ONU, Antonio Guterres, lembrou que as grandes cidades são as mais atingidas, concentrando até 90% dos casos. Os confinamentos pararam com o coração das suas atividades. Com os trabalhadores, os visitantes, os estudantes e até os moradores cada vez mais raros nas ruas, comércios e restaurantes estão sofrendo com as indispensáveis precauções sanitárias, ou são obrigados a fechar pelo menos provisoriamente. Em muitos países,  ajudas governamentais ainda estão evitando fechamentos definitivos, mas a retomada será muito difícil.

A crise acelerou a popularidade das ciclovias

Muitas prefeituras tentaram com sucesso de adaptar a utilização do seu espaço público as necessidades da luta contre a epidemia, investindo em transporte mais seguros com a aceleração de projetos antigos ou o lançamento de novas iniciativas : ampliação das áreas pedestres e das ciclovias, construção de pontos de abastecimentos de veículos elétricos, aberturas de terraços nas calçadas e nas praças públicas. Em uma conjuntura normal, essas idéias encontram fortes resistências mas com a crise foram facilitados pela urgência de ajudar o acesso seguro aos comércios locais, elos chaves da vitalidade das ruas dos centros urbanos.

O centro histórico de Québec enfrenta a queda do turismo

Além do comércio e dos restaurantes, as prefeituras devem também agir para ajudar o setor hoteleiro dos centros urbanos que estão em situação crítica. Além de muitos hotéis fechados, as taxas de ocupação de 2020 estão raramente ultrapassando 40% nos dias de pique, e caindo a menos de 20% em destinos acostumados a receber turistas internacionais – 18% por exemplo em Montreal. 2021 começou pior ainda, e mesmo Paris, primeira cidade turística mundial, estava em janeiro com uma taxa oscilando entre 34% para os hotéis mais populares, até 7% para os 5 estrelas que são as maiores fontes de visitantes para as lojas e os restaurantes das ruas comerciais.

Montreal é a cidade mais verde do Canada

No Canadá, os profissionais pensam que a crise vai acelerar algumas tendências do urbanismo que já preexistiam: construções mais sustentáveis, desenvolvimento da agricultura urbana, ampliação dos parques e das áreas arborizadas, apoio a todos os tipos de transportes a propulsão elétrica. Um grupo de 50 especialistas e personalidades assinaram uma Declaração 2020 para a resiliência das cidades canadenses. Eles estão pedindo uma economia verde, limpa e com poucas emissões de carbone, listando 20 medidas para assegurar uma urbanização responsável, acelerar a “decarbonização” e aderir de vez ao crescimento sustentável.

Paris projetando um futuro dinâmico, acolhedor e verde

A agonia dos centros urbanos não começou com a pandemia. Os shopping centers das periferias bem como o e-comércio já estão esvaziando as ruas há anos. A crise do Covid acelerou o movimento mas provocou também uma maior conscientização e muitas vezes uma forte mobilização dos profissionais. No Canadá, foi publicado o relatório Devolvendo a rua principal que apresenta ações para dinamizar o coração das grandes cidades.  No Québec, uma outra iniciativa junta apresentações de projetos de cidades com centros renovados, dinâmicos, motores da  economia turística, onde cultura e gastronomia são autênticos e vibrantes, onde os moradores são felizes, orgulhosos de viver e de receber os turistas.

O Québec investindo em “rues conviviales” para renovar os centros urbanos

Este artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original de Claudine Barry na revista profissional on-line Reseau de veille en tourisme, Chaire de tourisme Transat  

Sem seu fundador, um novo futuro para a magia do Cirque du Soleil?

Zumanity foi visto por 7 milhões de espectadores em Nova Iorque e Las Vegas

 Mesmo com um apoio emergencial do governo do Quebec de USD 200 milhões, e um acordo dos principais acionistas americanos, chineses e quebequenses, o Cirque du Soleil beirou esse mês sua falência ou sua ida para leilão. Sem receitas desde o início da crise do Covid que levou a cancelar todos os seus espetáculos no mundo inteiro, a empresa fundada pelo emblemático Guy Laliberté, que revolucionou e até recriou o circo contemporâneo, já acumulou esse ano quase um bilhão de USD de dívidas, e despediu 3500 colaboradores. Sem nenhuma previsão de reinício das suas atividades, até o famosíssimo Zumanity de Las Vegas, já aplaudido há 17 anos por mais de 7 milhões de espectadores, foi definitivamente encerrado.

O famoso sapato de palhaço frente a sede

Desde o início da crise, vários cenários de recuperação do Cirque du Soleil já foram ensaiados, um deles liderado pelo proprio Laliberté que se mostrava disposto a voltar na empresa que ele fundou há mais de 36 anos mas que tinha deixado definitivamente em janeiro desse ano quando tinha vendido as suas últimas ações. Apoiado pelo governo do Quebec, esse acordo ia ser um garantia da permanência da sede do Cirque du Soleil em Montreal bem como da recontratação dos milhares de funcionários demitidos, manteria os quebequenses no comando e permitiria que o Guy Laliberté ajudasse a encontrar novidades criativas para os espetáculos do mundo pós-crise. Com a chegada no capital de um novo ator, o fundo Catalyst de Toronto, foi escolhido um novo caminho.

O Quebec apoio a tentativa de Guy Laliberté de recompra do Cirque

Anunciando a saída da recuperação judicial, os novos donos anunciaram o início de uma nova história . Quatro fundos de investimentos – Catalyst Capital de Toronto junto com os americanos  Sound Point Capital, CBAM Partners e Benefit Street Partners – estão agora controlando o conselho de administração onde somente dois quebequenses vão lembrar o passado do Cirque du Soleil. Os novos acionistas falaram que sua presença no Quebec está garantida pelo menos por cinco anos, mas  recusaram qualquer ajuda financeira do governo e o CEO  Daniel Lamarre, quis também deixar claro que Guy Laliberté, mesmo sendo um amigo pessoal, não teria mais nenhum papel na estratégia ou nas operações da empresa.

Com um dos co-presidentes do conselho e um conselheiro, a MGM deve ter um papel importante no futuro do Cirque du Soleil. Parceiro de longa data nos seus hotéis de Las Vegas, onde espetáculos como O ou Ka  geravam a metade dos lucros da empresa de Montreal, o peso pesado americano do divertimento mundial deve assim ser um dos primeiros beneficiados tanto pela prioridade na reabertura das atividades, que pelo  acesso a novos espetáculos – um ou dois segundo Daniel Lamarre- que foram anunciados para 2021. Enquanto a inauguração do já programado Sous un même ciel, que era previsto em abril em Montreal, deve ser em breve confirmado para julho.

Nos projetos do Guy Laliberté -aqui Nukutepipi-, turismo, culture e exclusividade

Se o Cirque du Soleil parece ter garantido seu futuro próximo, várias perguntas ainda deve ser respondidas. O público espera saber se os novos espetáculos vão conseguir responder com criatividade ao desgate do tempo e as profundas mudanças aparecidas durante a crise. Os quebequenses querem ter a certeza que a sede de Montreal será mantida e que  os artistas continuarão a contribuir ao excepcional ambiente de criação cultural que a cidade oferece. Os fãs da epopéia mágica escrita pelo Guy Laliberté vão torcer pelo sucesso mas também seguir os novos lances da sua empresa Lune rouge na cultura, no “entertainment” ou no turismo, as três paixões que convergiram há 36 anos para inventar o Cirque du Soleil. E esse terá que enfrentar a difícil tarefa de superar a saída do seu fundador.

Jean-Philippe Pérol

AmaLuna foi um dos sucessos do Cirque du Soleil no Brasil

 

Novidades e tendências do turismo de aventura

Cada vez mais popular junto aos viajantes de todas as idades e de qualquer orçamento, o turismo de aventura está de vento em poupa. Segundo a revista on line Reseau de Veille, cinco tendências se destacaram em 2018 para explicar esse entusiasmo. A primeira foi  o crescimento da natureza e do meio ambiente na frente das temáticas mais procuradas. As atividades verdes são consideradas fontes de bem estar físico e mental,  momentos ideais para favorecer as emoções positivas da luz e do verde. A natureza coloca também seus fãs na primeira linha das ações contra as mudanças climáticas, as operadoras sendo cuidadosas nos detalhes mostrando o seu empenho. A popularidade do turismo de aventura cresceu também com a Instagram onde oferece algumas das fotos ou dos selfies mais espetaculares.

Domes Charlevoix, novos hospedagens misturando design e ecologia

Na dinâmica do glamping, novos hospedagens juntando qualidade, design e ecologia, estão se multiplicando. Escolhendo lugares privilegiados, arquitetos e designers dão o maior cuidado a valorização do local,  a otimização da luz, a utilização de materiais recicláveis e de energias alternativas. Algumas ofertas procuram ser simples, como  o hotel CABN, na Austrália, com trailers de madeiras privilegiando o conforto e a menor pegada ecológica, ou as casas da Getaway que oferecem essa simplicidade perto das grandes cidades dos Estados Unidos. No Quebec, a Dômes Charlevoix, está propondo quartos de luxo com design inspirado dos iglus esquimós. A criatividade do setor é impressionante, incluindo casas flutuantes nos EE-UU, malocas ribeirinhas na China e até cabanas cobertas de espelhos na mata canadense.

As operadoras de turismo estão também  investindo em ofertas originais para viajantes que procuram experiências diferençadas ou até únicas. Durante o verão da Alaska, o resort Tordrillo Mountain Lodge oferece pacotes de helibiking, de helihiking ou de helifishing. Na região de Vancouver, a Glacier Raft Company  consegue um acesso exclusivo ao Rio Kicking Horse, chegando de helicóptero e descendo depois num raft. A pesca esportiva de caiaque está renovando a imagem dessa atividade e atraia novas clientelas, inclusive no Amazonas com a pousada Juma Lodge. O snowyoga – ioga na neve- ganha muitos adeptos e tem seus lugares prediletos em Boulder, no Colorado, na Finlândia, onde alterna com o ioga de areia, ou em  Montreal com as ofertas da POP Spirit nos parques da cidade.

Instalações icônicas ajudam a renovar o turismo de aventura

O turismo de aventura está também se renovando com instalações icónicas, estruturas inesperadas que melhoram a experiência dos visitantes e incrementam as emoções. É por exemplo o caso da ponte suspensa Charles Kuonen, exclusiva para pedestres, com 500 metros de comprimentos que apimentam a trilha de Zermatt a Grächen, na Suíça. Em Manaus, a torre de aço do MUSA, com seus 42 metros de altura, 242 degraus e 81 mde base, rivaliza em majestade com as grandes árvores da floresta e já virou uma das incontornáveis atrações do Estado do Amazonas. Na Dinamarca, o Camp Adventure Park está querer ir mais alto com uma torre de 45 metros de altura e um design espetacular para observar a cobertura da mata nórdica de Zealand.

Até agora atividade privilegiada de jovens adultos esportistas, o turismo de aventura procura agora atrair alem dos estereótipos. Travel Oregon abriu um site apresentando opções de esqui, mountain bike, caiaque ou até alpinismo para deficientes físicos. Parks Victoria, na Austrália, está fazendo testes com as Canopy — Eco Sleeper Pods, unidades de hospedagem com design contemporâneo acessíveis para deficientes. Reivindicando o acesso de todos, gordos ou magros, fortes ou fracos, jovens ou velhos, homens ou mulheres, a atividades esportivas, os  Unlikely Hiker já contam 58 000 seguidores na Instagram, com o apoio de grandes marcas como REI et Columbia. O turismo de aventura ainda tem muitos adeptos pela frente!

Esse artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original de Claudine Barry na revista profissional on-line Reseau de veille en tourisme, Chaire de tourisme Transat 

Trump vai mesmo impactar o turismo internacional?

O Trump Presidente poderia prejudicar o Trump hoteleiro

O Trump Presidente poderia prejudicar o Trump hoteleiro

Talvez por ter acontecido no fechamento do WTM de Londres, encontro-mor do turismo mundial, o resultado das eleições americanas foi também nos últimos dias o grande assunto das conversas dos profissionais. Uma pesquisa feita nos corredores do Salão tinha revelada que só 7% do trade internacional apoiava o excêntrico bilionário, e que os outros o julgava misógino , racista, sem experiência política, vulgar, e intelectualmente vazio.  Agora que Trump foi eleito, e sabendo que nenhum responsável do turismo esperava esse resultado, a grande pergunta é de saber até onde essa vitoria poderá impactar os fluxos turísticos internacionais!

O WTM de Londres, grande encontro do turismo mundial

O WTM de Londres, grande encontro do turismo mundial

Se Trump cumpre as suas promessas de campanha, deve reforçar os controles sobre a entrada dos franceses e dos alemães, exigir passaporte biométrico para qualquer isenção de visto, construir um muro para impedir as entradas de mexicanos, controlar de forma estrita os brasileiros, desconfiar dos chineses, e proibir as entradas de qualquer muçulmano.  Num total de 78 milhões de turistas entrando nos Estados Unidos, mais da metade seriam assim submetidos a algum tipo de constrangimento. E  cinco dos de maiores mercados emissores para os Estados Unidos são na lista negra do magnata. Segundo o relatório anual da WTM, o resultado das eleições americanas pode assim ter grandes consequências sobre o turismo mundial.

Os danos das declarações do candidato – e as prováveis decisões do Presidente – podem ser catastróficas para a imagem dos Estados Unidos nos grandes mercados emissores, os novos valores não correspondendo mais com os ideais que os visitantes estão procurando. Temida pelos responsáveis de Visit USA ou de Brand USA, esse risco já está virando realidade. Uma pesquisa da Travelzoo mostrou que 20%  dos britânicos estão descartando viajar agora para os Estados Unidos, e a maioria pensa que o turismo americano vai ser prejudicado. Paradoxo surpreendente, o empresário Trump será mais prejudicado ainda pela queda da imagem dos Estados Unidos, a metade dos clientes das agencias de viagens inglesas declaram não querer mais se hospedar nos hotéis do magnata.

O turismo canadense aproveitando o novo cenário?

O turismo canadense aproveitando o novo cenário?

Enquanto o turismo mundial continuará a crescer nos próximos anos, as possíveis dificuldades dos Estados Unidos poderão ser aproveitadas por alguns dos seus concorrentes. É o caso do Canada que constatou nos últimos dias, das Províncias Marítimas até Montréal e  Vancouver, um boom das reservas vindo não somente da Inglaterra e da Europa, mas também dos próprios Estados Unidos. No Brasil, se o cambio ajudar e o Dolar se fortalecendo frente ao Euro, a Europa poderia ser a grande favorecida. É so relembrar o impacto do saudoso Bush sobre as viagens internacionais. Durante as suas presidências, o numero de brasileiros indo para os Estados Unidos perdeu a liderança, passando de 740.000 entradas a 770.000, enquanto as viagens para Europa tinham cresceram de 600.000  a mais de 1.000.000. O ranking  se inverteu de novo em 2015, 2,2 milhões contra 1,8 milhões, pelo carisma do Obama. Em 2018, o Canadá, a França, o Portugal ou a Itália terão talvez de agradecer o Donald.

Jean-Philippe Pérol

Em Paris, a opção de juntar a Torre Eiffel e a estátua da Liberdade!

Em Paris, a opção de juntar a Torre Eiffel e a estátua da Liberdade!

Esse artigo foi inspirado de dois artigos em francês , um  de Michäel Boumal na revista profissional online Pagtur, e um outro no l’Echo Touristique  

Bordeaux liderando o Top 10 Lonely Planet das cidades a visitar em 2017

A Cité do vin, umas das novidades que ajudou Bordeaux a sair vencedora

A Cité do vin, umas das novidades que ajudou Bordeaux a sair vencedora

Foram divulgadas hoje as sempre esperadas listas dos “Best of” da Lonely Planet, os lugares mais atrativos e mais “tendência” do mundo, nas categorias cidades, regiões e países, umas seleções  sempre muito procuradas, vindo também acompanhadas de centenas ideias, de sugestões ou de endereços que justificam as escolhas e ajudam o viajante a preparar suas viagens para o ano que vem. O júri, composto por cinco jornalistas e editores da Revista, seleciona os vencedores em função da riqueza da sua oferta turísticas, do respeito do patrimônio natural e/ou histórico, mas também das novidades  e das iniciativas oferecidas aos viajantes.

O Best of Travel 2017, destacando Canada, e Bordeaux

O Best of Travel 2017, destacando Canada, Peru e Bordeaux

Pela primeira vez, uma cidade francesa está liderando o ranking das dez cidades a visitar em 2017. Bordeaux ficou na frente da cidade do Cabo (África do Sul), de Los Angeles (Estados Unidos), de Mérida (México), de Ohrid (Macedônia), de Pistoia (Itália) , de Seul ( Coreia), de Lisboa (Portugal),  de Moscou (Rússia) e de Portland (Estados Unidos). A Lonely Planet encontrou muitas boas razões para justificar essa escolha: “A partir de junho, a nova linha de trem com alta velocidade, TGV, vai por Bordeaux a somente duas horas de Paris. A Cité du Vin, recém inaugurada, vai completar com chave de ouro a renovação das beiras do Rio Garonne . Os restaurantes da cidade não param de reinventar o rico acervo gastronômico da região. E na margem direita, muito tempo esquecida, novas construções e ousadias urbanísticas estão desenhando o futuro da cidade.”

A Praça da Bolsa de Valores e seu famoso espelho d'agua

A Praça da Bolsa de Valores e seu famoso espelho d’agua

Para Lonely Planet, Bordeaux era mesmo uma Bela Adormecida que acordou para virar um grande destino turístico do momento. E agora com uma magnifica oferta hoteleira, tanto na cidade  (o Grand Hotel Intercontinental , a Grande Maison ou o Yndo Hotel),  que nos arredores (as Sources de Caudalie ou a Hostellerie de Plaisance), a cidade está pronta para receber em 2017 todos os apaixonados de lugares excepcionais – e de vinhos únicos!  Para ajudar os viajantes a preparar os seus itinerários, o Guia propõe também aos viajantes umas quinze temáticas a escolher entre aventura, família, bicicleta, turismo sustentável ou orçamentos modestos.

O restaurante La Grand Vigne, duas estrelas nos arredores de Boreaux

O restaurante La Grand’Vigne, duas estrelas nos arredores de Bordeaux

Alem de Bordeaux na categoria “cidade”, os outros dois vencedores foram o Canadá na categoria pais (na frente da Colômbia e da Finlândia), e  Choquequirao no Peru na categoria região (na frente dos Açores, ficando as Tuamotu na Polinesia francesa em sétimo lugar). O Nepal foi escolhido como “Best value for Money”.

 

Quebec: a “Nouvelle France”, um novo destino brasileiro?

QUEBEC GLOBAL L1020112A estrada que vai de Quebec a Montreal pela margem esquerda do Rio Saint Laurent não é uma simples autopista. É o Chemin du Roy, o Caminho do Rei, onde os primeiros colonos vindo da França esperavam saudar um dia um soberano vindo para visitar a Nouvelle France.Le_chemin_du_Roy O Rei nunca veio, teve que abandonar a colônia aos ingleses em 1763, e a estrada esperou até 1967 para ver pela primeira vez um Presidente francês …. Mas mesmo derrotados na guerra contra os anglo-americanos, os “Quebecois” venceram, mantendo há 250 anos uma cultura e uma identidade francesa que até hoje impressiona os visitantes.

Drapeau_quebecPara os brasileiros, que colocam os Estados Unidos (mais de dois milhões de entradas) e a França (quase 700.000) como os seus dois destinos de viagem preferidos, o Quebec é um destino que oferece o melhor desses dois mundos: a historia, a cultura, a gastronomia e o ambiente de liberdade que se encontra na França, mas tem também  a organização, o sério, a segurança e o relacionamento descontraído da América do Norte. Assim o fluxo de turistas brasileiros quase dobrou em cinco anos, representando hoje 25.000 entradas, mais de um quarto das entradas de brasileiros no Canada. Viajando sozinhos (as) ou em casal, eles ficam uns 10 dias na província, visitando museus ou lugares históricos, aproveitando as belezas naturais, os eventos culturais ou, claro, fazendo shopping. Gostam do Quebec de branco no inverno, de verde no verão ou de vermelho no outono.

Mesmo ainda sem ligações aéreas diretas, e com exigência de visto,  o Quebec, América francesa ou França americana,  tem tudo para seduzir de vez os turistas brasileiros.QUEBEC DSCN8006 A cidade de Quebec é a mais antiga cidade da América do Norte, com suas ruas do século XVII e suas fortificações dominando o Saint Laurent. Da beira Rio até a catedral, o bairro do Petit Champlain é repleto de lojinhas, de restaurantes e de bares onde o atendimento parece ainda mais caloroso com o sotaque tão especial desses franceses sempre alegres e atenciosos. Um destaque especial para as especialidades locais, desde o artesanato do couro (por exemplo a loja m0851) até os doces de ‘mapple’ (a Maison Smith). No meio desse “Vieux Quebec”, um excepcional Relais & Chateaux, a Auberge Saint Antoine, é um imperdível hotel-boutique, seja para se hospedar, para jantar ou para um simples drinque na frente da lareira.

port_montreal_aggrandiSi Quebec é a capital que se lembra (o lema da província é “je me souviens”), Montreal é a cidade que se mexe, se agite, vive com intensidade num clima de liberdade (será que foi por isso que o De Gaulle lançou aqui o famoso ‘Vive le Quebec libre’?). Segunda maior cidade de língua francesa depois de Paris, tem também seu bairro antigo, o Vieux Montreal com seus antigos sobrados e seus recantos sofisticados (vale experimentar o Café Birks do chefe Jerome Ferrer). CARO KOUIGN DSCN7944Mas o visitante brasileiro vai se interessar mais ainda pelo bairro do Plateau onde concentra-se lojas, restaurantes, bares e além de tudo espírito boêmio. Os croissants do Kouign Aman não tem iguais , os bagels da Saint Viateur affirmar ser os melhores do mundo…. Os restaurantes reivindicam com razoes a gastronomia francesa (O Meac é um valor seguro, animado, gostoso e com bom cardápio de vinhos), mas a comida judaica do Schwarz é também um grande clássico da cidade. ruestdenisO Plateau é também O lugar do shopping descontraído, nas ruas Saint Denis ou Laurier. Indo para o centro, perto do hotel Sofitel, encontra-se lojas mais sofisticadas, vários shopping e … o Newton ou a Brasserie Alexandre para almoçar .Se tiver sorte de estar em Montreal numa época de Festival (do Cinema, do Teatro, do Riso…), o viajante brasileiro vai adorar a animação de rua, os shows muitas vezes de graça, os mercadinhos e aquela simpatia comunicativa desses franceses diferentes.

JPP AUTOMNE DSCN1827Frente a clientes esperando novas ofertas de produtos e destinos, ou  não querendo escolher entre França e Estados Unidos, o Quebec – América do Norte de alma francesa – pode ser sem duvida uma excelente opção para agentes de viagens e operadoras. Ai, quem sabe, uma nova companhia aérea reabrirá a rota SAO RIO YUL da saudosa Varig…

Jean-Philippe Pérol