Pesquisa internacional mostra um otimismo razoável sobre a retomada do turismo

A esperada pesquisa do “World Travel Monitor” sobre as viagens internacionais em 2020 confirmou os números já conhecidos, e deu algumas prudentes esperanças. O turismo foi mesmo um dos setores econômicos mais atingidos no mundo, com uma queda média das viagens internacionais de 70%, com diferenças significativas segundo os continentes. A queda foi mais importante na Ásia com quase 80% , depois na América Latina com 70%, na América do Norte com 69%, a Europa tendo a menor queda com 66%. A geografia explica talvez essas diferenças, as viagens de carro – mais importantes no turismo internacional na Europa- caindo somente de 58% enquanto as viagens de avião sofrem muito mais com um recuo de 74%.

A procura de viagens mudou com a crise

As viagens de lazer foram as mais atingidas, com uma queda de 71%, mais que as viagens de negócios que caíram de 67% (mas serão provavelmente mais penalizadas no médio e longo prazo), e mais as viagens de amigos e familiares que recuaram de  62%. Dentro das viagens de lazer, a queda foi bem menor para a procura de natureza(-53%). Como era de se esperar, o transporte aéreo sofreu o maior recuo mundial – 74%-, enquanto o transporte terrestre caiu de somente 58%. As diferenças foram também importantes nas hospedagens, com a hotelaria mostrando ocupações com queda recorde de 73%, muito superior a seus concorrentes, seja aparthotéis, AirBnb ou particulares . A pesquisa mostrou enfim que o viajante 2020 gastou 14% a menos, mas a queda foi principalmente a consequência do declíno das viagens intercontinentais.

Na Ásia, o turismo urbano deve ser a tendência 2021

Os resultados da pesquisa da IPK mostram um certo otimismo em relação a 2021. O grande obstáculo para a retomada sendo o Covid e não a crise econômica, e com 90% dos entrevistados aceitando de ser vacinados, os 62% que estão com vontade de viajar este ano dependem agora somente da disponibilidade da vacina. As intenções de viagem post Covid são mais fortes para as visitas a parentes e amigos, e para as férias na praia. Na Ásia, há uma tendência importante para o turismo urbano. Nos outros mercados, na Europa e nas Américas, como foi levantado em pesquisas no Brasil, nota-se também um crescimento da procura de ecoturismo e de bem estar.

Personalização, conteúdo e exclusividade são as tendências do turismo de luxo

Além desse otimismo razoável, e de novas exigências de sustentabilidade ou de turismo de luxo,  a  pesquisa destacou os destinos mais procurados para 2021. Nos cinco continentes, os turistas têm uma preferência marcada para os países próximos, mas essa tendência é muito mais forte na Europa. Os líderes do turismo europeu, a Espanha, da Itália, da França e da Alemanha devem assim ser os primeiros a aproveitar uma retomada cujo ritmo só será definido pela disponibilidade das vacinas: iniciada em 2021, seria completa em 2022 ou no mais tardar em 2023. Um otimismo (muito) razoável.

Esse artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original de Serge Fabre na revista francesa profissional on-line Mister Travel

Lá vem o Click and Boat, o AirBnb dos barcos de lazer?

A barcaça no Rio Sena, primeira sede da Click and Boat

A procura de aluguéis de barcos levou a importantes mudanças no setor, sendo a principal o surgimento da empresa francesa Click and Boat como líder mundial. Fundada  em 2013 pelos empresários Jeremy Bismuth e Edouard Gorioux, a então startup parisiense dispõe hoje de uma frota de 45.000 unidades – barcos, veleiros ou iates-, tem ofertas em 550 portos de 26 países, inclusive no Brasil, e atende agora um milhão de clientes por ano. Se as reservas pararam durante o confinamento, elas estão agora com um crescimento de 60% em relação ao ano passado, e o faturamento deve passar de 50 milhões de Euros em 2019 a 80 milhões este ano.

As compras de concorrentes diversificou a oferta de barcos

No início era uma simples plataforma colaborativa francesa onde os donos podiam oferecer os seus barcos (em geral muito pouco utilizados, na França em torno de 10 dias por ano),e a Click and Boat oferecia a seus parceiros rentabilidade, confiança e segurança.  O sucesso se espalhou pela Europa com a compra de vários concorrentes: Sailsharing em 2016,  Captain’Flit em 2018 , Océans Evasion em 2019 e a alemã Scansail em janeiro desse ano. Foi porém durante a pandemia que foi realizada a maior aquisição, a compra da espanhola Nautal, sediada em Barcelona, com 40 colaboradores, um faturamento de 13 milhões de Euros e uma rede de parceiros internacionais.
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45.000 proprietários já assinaram com a Click and Play

Oferecendo uma experiencia turística misturando privacidade, praias, natureza, ecologia, bem estar, família ou amigos, a Click and Boat antecipa um forte crescimento em 2021, 150 colaboradores, uma oferta chegando a 50.000 barcos e um faturamento passando dos 100 milhões de Euros. A chegada de um novo sócio, o navegador francês François Gabart, a diversificação das bases na Espanha, na Italia, na Grécia, na Croácia ou no Brasil, e o sucesso dos barcos ou iates com tripulação, deixam pensar que as ambições de virar uma verdadeira AirBnb dos barcos de lazer estão ao alcance da outrora pequena startup!
Esse artigo foi traduzido e adaptado de um artigo da redação da revista profissional on-line Mister Travel

Na Holanda, o melhor turismo passa pelos Países Baixos

Os canais de Utrecht, uma alternativa ganhadora

Se a Holanda é chamada desta forma nas mídias internacionais, e as vezes na própria comunicação, o seu nome oficial sempre foi Países Baixos. Desde 1579 – quando se revoltaram contra o então domínio espanhol-, as Províncias Unidas eram sete. Passaram hoje a ser doze, mas a Holanda continua sendo somente uma delas, mesmo se a mais importante pela potência da sua economia e a predominância das suas três cidades, Amsterdã, Roterdã e Haia. Até agora tolerante com essa dualidade de nomes, o governo decidiu que a partir do primeiro de janeiro de 2020, os documentos oficiais dos ministérios, das universidades, das embaixadas e das empresas públicas  terão obrigação de utilizar exclusivamente o nome Países Baixos. Um novo logotipo, combinando as iniciais NL com a tulipa cor de laranja  já simboliza a mudança.

O antigo e o novo logotípo do turismo dos Paises Baixos

A medida vai ter muitas consequências, algumas das quais ainda não resolvidas, especialmente na área esportiva que vai ter como prioridade definir o nome da equipe nacional de futebol que vai estrear na Copa Euro 2020 no próximo mês de junho. Mas a clara intenção do governo com essa mudança de nome é de valorizar o interior, especialmente quando se trata de turismo. No setor, a primeira mudança será de mudar (ou não?) o nome do site oficial do turismo “holland.com”. Preocupado com  o overturismo em Amsterdã – a cidade de um milhão de habitantes recebe hoje 17 milhões de turistas- e com as projeções de crescimento do turismo internacional no país que passaria de 19 a 29 milhões nos próximos dez anos, os Países Baixos, que já pararam de promover seu turismo no Exterior, querem mudar completamente a sua estratégia no setor.

Amsterdão não aceita mais o overturismo

A cidade de Amsterdã já tinha tomado varias medidas contra o overturismo, começando com uma regulamentação drástica (mas pouco eficiente) das atividades de AirBnb, reforçou as restrições. Foi assim decidida a redução dos transportes coletivos para os turistas como os barcos táxis, os segways ou as carruagens. As excursões de barco – os “bateaux-mouches”- não poderão mais parar no centro da cidade, os barcos hotéis não serão mais autorizados, e os navios de cruzeiro já foram avisados que não serão mais bem vindos. Ao mesmo tempo, antecipando a notoriedade crescente do destino, o Netherlands Board for Tourism & Conventions (NBTC) anunciou uma nova politica de segmentação dos mercados para espalhar os fluxos turísticos e ainda melhorar os impactos sobre a economia nacional.

Maastricht seduziu os exigentes redatores da Lonely P;anet

O NBTC deveria assim fechar seus escritórios da Itália, da Espanha e do Japão, ampliar suas ações na China e reforçar suas campanhas na Alemanha, nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Bélgica e na França. A prioridade será de atrair viajantes experientes,  já conhecendo a Holanda, querendo descobrir os Países Baixos além de Amsterdão, em cidades históricas como Maastricht, Groningen ou Arnhem, e valorizando os produtos artesanais de todas as regiões do pais, sejam tulipas, queijos, tamancos, porcelanas ou obras artísticas contemporâneas. Com US$ 10 milhões de verbas do governo, essa nova e corajosa política de “melhor turismo”, combinando apoio à economia local, luta contra o overturismo e “upgrade” do destino, deve ajudar os Países Baixos a melhorar ainda mais seu ranking dentro do turismo mundial.

Jean-Philippe Pérol

Quatro votos para o sucesso do turismo em 2019

O Rio de Janeiro antecipando um grande 2019?

No início de um Ano Novo de grandes esperanças e de grandes mutações para o Brasil, todos os viajantes e os profissionais têm seus votos para que 2019 seja favorável ao turismo, tanto domestico que internacional. Se muitos desses votos são comum a todos os setores econômicos,  as viagens são com certeza uma área mais sensível que tem suas próprias exigências. Alem do crescimento econômico e social ou da desburocratização, a estabilidade do cambio e um otimismo sobre o futuro do pais são fatores decisivos para o desenvolvimento das viagens. Olhando nas dificuldades encontradas em 2018 e nos últimos anos, quatro séries de fatores serão também importantes – sendo então quatro votos- para fazer de 2019 um grande safra do turismo brasileiro e internacional.

O “Filho do Krakatoa” provocou um arrasador tsunami na Indonésia

O primeiro é que vulcões, tsunami, tempestades, incêndios e terremotos não se repitam com a mesma brutalidade. Consequência ou não de um aquecimento global e das ações humanas, os desastres naturais, que afetaram o leste americano, o Japão, o Portugal, a Austrália, a Indonésia e a Califórnia, tiveram um impacto brutal para as populações e para suas atividades turísticas. Um 2019 vendo a natureza poupar os grandes destinos internacionais e brasileiros seria o primeiro voto para o ano novo.

Os turistas voltaram no Egito em 2018

A violência foi outro inimigo que o turismo encontrou esse ano. Se as guerras recuaram – inclusive no Oriente médio que aproveitou essa melhoria-, conflitos, atentados, greves ou protestos perturbaram os viajantes nos Estados Unidos, na Birmânia, na Catalunha, e mais ainda na França com o demorado conflito dos “coletes amarelos” que vai impactar a liderança do primeiro destino mundial. No México, na América central e infelizmente no Brasil, foram os níveis insuportáveis de delinquência que prejudicaram o turismo. E se um voto tem que ser priorizado para 2019, é a volta da segurança no Rio de Janeiro, no Nordeste e no Norte do Brasil, uma nova realidade que terá então que comunicar em todos os mercados potenciais -talvez tentando repetir o admirável “o único risco é de querer ficar” que nosso brilhantes colegas colombianos inventaram há mais de dez anos.

Com o Fairmont do Rio, Accor entra para valer no turismo de luxo no Brasil

2018 foi marcada no turismo mundial pela aceleração das concentrações e do gigantismo em todos os setores, da hotelaria ao tour-operating, do transporte aéreo regular até as OTA e das agencias de viagens tradicionais até as novas companhias low-cost. O turismo sai do seu conservadorismo fechado para aceitar novos horizontes e novos investidores (muitos, mesmo se não todos, sendo chineses). O nosso voto para esse movimento, irresistível mesmo no Brasil com os investimentos da CVC, da Accor e as expectativas em torno da Azul ou da Norwegian, é que ele se prolonga em 2019 num quadro de concorrência leal, sem destruir empregos, consolidando os direitos do consumidor, e beneficiando tanto os profissionais que os viajantes.

O Leão de França foi mais um que regularizou em 2018 as receitas AirBnb

O turismo mundial mostrou também sua resiliência pela progressiva aceitação do setor colaborativo. A globalização da AirBnb e da Uber se consolidou, mostrando sua capacidade de gerar empregos ou rendas para moradores, e tentando resolver, com os grandes municípios, os problemas de coabitação com moradores e de concorrência com outros setores. Devemos esperar para 2019 que as autoridades consigam impor regras justas e iguais que satisfazem tanto os novos atores que os profissionais tradicionais, um equilibro necessário para sair de vez de um corporativismo ilusório para entrar nessa nova economia aonde a satisfação final do consumidor é o primeiro critério de seleção.

Feliz 2019 para todos!

Jean-Philippe Pérol

Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue”  do autor na revista profissional on line Mercados e Eventos

A “Instagramidade”, primeiro critério de escolha de destinos dos Milennials!

Milennial turista frente a Torre Eiffel, quarto atração Instagram 2017

Hospedado há algumas semanas num novo resort do litoral brasileiro, onde nem o celular nem o wi-fi funcionavam, perguntei para o diretor como ele ia enfrentar quando os adolescentes descobrissem que aquela semana de férias não poderia ser compartilhada online com amigos ou colegas. De fato, o turismo dos milennials é agora, não somente ligado a sua expressão nas mídias sociais, mas também dependendo delas até na escolha do destino. Uma recente pesquisa da empresa especializada  Schofields junto a 1000 viajantes britânicos mostrou que 40% dos entrevistados com idade menor a 33 anos colocam a “Instagramidade” como primeiro critério de escolha do seu destino de férias, na frente dos custos no local (24%), do desenvolvimento pessoal (22,6%), da gastronomia (9,4%) e das visitas (9,4%).

A Instagramidade atinge também o turismo de luxo

Phil Schofield, dono da empresa, confessou ter ficado chocado com o resultado, vendo que a escolha de um destino de férias dependia do número de clicks na conta do Instagram. Mas isso só confirmou pesquisas anteriores, mostrando que os milennials tomam cada vez mais decisões baseadas no impacto que elas podem ter nas suas mídias sociais, revelando assim que a vida virtual afeta diretamente a vida real. Lembrando que essas tendências podiam ser observadas além dos milennials, Schofield conclui que, enquanto se fala do marketing digital como primeiro influenciador dos comportamentos dos consumidores do século XXI, esse tipo de resultado ajuda a conscientizar os profissionais (e os viajantes) do mundo novo, onde cada vida pode ser completamente exposta online.

Nova Iorque, primeiro destino Instagram 2017

A Instagramidade atinge também o próprio marketing dos destinos. Muitos likes no Instagram são uma boa indicação de beleza e de atratividade, com muita credibilidade – pelo menos para os milennials. Reforçam a confiança dada a um artigo de uma revista respeitada ou ao post de um fotógrafo famoso, e são considerados mais sinceros que os guias de viagem ou os folhetos fornecidos pela agência de viagem. E quando a central de informação turística do local fala das incríveis belezas da sua região, só levante dúvidas. Centenas de posts e milhares de clicks terão credibilidade somada a uma geração conhecida por confiar mais nos seus pares do que em marcas ou até em “dicas” de personalidades ou de artistas.

Wanaka, na Nova Zelândia, um case de sucesso no Instagram

Alguns destinos já estão investindo na Instagramidade, alguns deles extremamente isolados e até então somente capazes de atrair aventureiros procurando o post perfeito. Um dos casos mais famosos se refere a pequena cidade de Lake Wanaka, a 400 quilômetros de Christchurch, na Ilha do Sul da Nova Zelândia. Em 2015 começou a atrair influenciadores utilizando Insta-meets para atrair instagrameiros do mundo inteiro, e sem anúncios pagos afim de mostrar credibilidade e autenticidade. Wanaka conseguiu assim a visita do famoso fotógrafo americano Chris Burkard, com 1.5 milhão de followers, que aceitou se hospedar no programa. Hoje a outrora desconhecida cidade tem quase 400.000 fotos no #tanaka e outros hashtags, e o turismo cresceu esse ano de 14%  com essa única promoção.

Disneyland, atração líder do Instagram 2017

Airbnb  é uma das marcas que melhor trabalhou no Instagram. Começou com lindas fotos de cidades, de praias ou de montanhas, compartilhou fotos e stories dos seus hóspedes, sempre cuidando da transparência e da sinceridade para reforçar as interações com seus clientes. Além dos números de posts ou de clicks no Instagram, sempre se lembrou que os conteúdos atraentes podem chamar a atenção dos milennials, mas que a chave do sucesso é a autenticidade. São consumidores que também olham os produtos e os serviços  com muito cuidado, e só criam relações de confiança quando têm a absoluta certeza da sinceridade da oferta.

Top 10 das cidades mais Instagramizadas em 2017

  1. Nova Iorque, EEUU
  2. Moscou, Russia
  3. Londres, Reino Unido
  4. São Paulo, Brasil
  5. Paris, França
  6. Los Angeles, EEUU
  7. St Petersburg, Russia
  8. Jakarta, Indonesia
  9. Istanbul, Turquia
  10. Barcelona, Espanha

Fonte: Instagram

Diversificação da hospedagem virou chave do sucesso do turismo francês!

Paris plage, uma nova imagem da cidade luz!      @Loic Lagarde

Enquanto a França reencontra os turistas internacionais – 6% de crescimento das chegadas no primeiro semestre, com um destaque especial para o Brasil que teve um aumento de 22,7%, e um novo recorde de 89 milhões de turistas anunciados pelo ministro das relações exteriores-, uma das suas principais ambições é de oferecer hospedagens em sintonia com as novas exigências dos viajantes. Junto com os investimentos para melhorar a qualidade e a quantidade, os esforços bem sucedidos para diversificar as hospedagens são uma das principais razões da volta dos turistas tanto em Paris que nos principais destinos franceses.

O Restaurante do Mama Shelter de Paris

A criatividade dos novos alojamentos turísticos pode ser comprovada em muitos projetos, dos hotéis boutique até os “Mama Shelter” ou os “glamping”, mas duas categorias estão se destacando nesses esforços bem sucedidos combinando iniciativa dos profissionais e responsabilidade das autoridades para ampliar uma oferta respondendo a procura de viajantes  cada vez mais diversificados. O sucesso da “Distinction Palace” contribuiu muito para consolidar a liderança de Paris e da França na hotelaria de altíssimo padrão. Criada em 2014, essa categoria muito especial, premiando estabelecimentos já titulares de 5 estrelas assim selecionados por uma comissão de personalidades independentes, ja reune 23 hotéis – 10 em Paris, 12 nos outros destinos da Franca metropolitana e um em Saint Barthelemy.

As Sources de caudalie, um dos Palaces premiados em 2016

Exclusividade francesa, os “Palaces” foram não somente um reconhecimento do “savoir faire” desses profissionais do luxo, mas também um forte incentivo a renovação ou até a abertura de novos estabelecimentos. Em 2016, sete hotéis ganharam a distinção, vários deles muito acostumados  com brasileiros como o Eden Roc na Riviera, o Cheval d’Argent en Saint Barthelemy ou as Sources de Caudalie perto de Bordeaux. Para 2017 e 2018 mais candidatos estão se preparando, especialmente os lendários Hotel Lutetia e Hotel de Crillon. Construído em 1758, essa prestigiosa mansão, que foi transformado em hotel de luxo em 1909 e participou da aventura da Route du Bonheur e dos Relais & Châteaux, reabriu agora depois de dois anos de renovação.

O Hotel de Crillon agora renovado

As obras combinaram o total respeito da faixada e das partes tombadas do Hotel, as necessárias inovações para atender as exigências dos viajantes do século 21, e criatividade de grandes designers para os restaurantes (Minossian), os quartos (Vergniol) e as suites assinadas pelo Karl Lagerfeld que dedicou uma delas a sua gata Choupette …. O novo Crillon tem assim menos quartos (124 em vez de 147), mas com 33 suites e 10 suites “Signature” de altíssimo padrão. O restaurante gastronômico não fica mais no salão dos Embaixadores mas numa sala menor chamada L’Ecrin com o jovem chef Christopher Hache e uma adega de 43.000 garrafas. Nas novidades mais esperadas constam um bar espetacular,  uma piscina e um spa (num segundo subsolo cavado especialmente), bem como um “cigar loundge” para os amadores de charutos. Detalhes que ajudarão a reforçar a imagem de Paris no segmento de turismo de luxo.

Bordeaux, cidade pioneira na regulamentação dos alugueis C2C

Mas o provável novo recorde de turistas internacionais que a França deve atingir esse ano se deve também ao espetacular sucesso  de hospedagens alternativos que mostram a forte diversificação da oferta francesa. Assim a hospedagem não comercial (parentes e amigos), que chega a 34% dos pernoites, com um forte crescimento nos últimos anos  junto aos viajantes vindo da Asia ou das Américas ((o não comercial representa hoje 22,5% dos 8,2 milhões de pernoites de turistas brasileiros na França).  Assim os alugueis “de pessoa a pessoa” da AirBnb e dos seus concorrentes. Representando hoje 26,7% dos pernoites comerciais, essa forma de hospedagem atrai especialmente os  turistas provenientes dos Estados Unidos, da Australia e do Brasil (seriam mais de 1,5 milhões de pernoites de brasileiros). Agora mais regulamentada para respeitar tanto os concorrentes que os moradores, ela deve continuar a crescer, contribuindo a ampliar e diversificar a oferta de hospedagem na França. Uma diversificação que atrai novos viajantes e  consolida a  liderança francesa no turismo mundial.

Jean-Philippe Pérol

Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue” do autor na revista profissional on line Mercados e Eventos

O glamping, glamour e camping, chegou com toda força

O turismo sustentável, a experiência local e os novos caminhos da autenticidade

A padaria com o melhor bolo de avelã, segredo de morador de Auzances

A busca da autenticidade é tão antiga que as próprias viagens, sendo uma preocupação constante dos turistas, bem como dos profissionais que sempre alegaram procurar a verdade e a originalidade dos destinos, a identidade das suas tradições, a especificidade das suas culturas. Mas durante muitos anos,  a procura dessa autenticidade foi muito mais uma afirmação sem conteúdo, ou uma jogada de marketing, que uma verdadeira oferta feita aos viajantes. Em alguns casos, incapazes de encontrar uma definição do turismo autentico nos grandes destinos  integrando a mundialização, as operadoras reduziam as ofertas de autenticidade a viagens caríssimas em regiões exóticas de difícil acesso.

Pierre Eloy e Sophie Moreau no seminario da Globe Veilleur

Reforçada pela recusa da globalização e pela procura de destinos diferenciados, o turismo autêntico encontrou um novo reforço na sustentabilidade, no respeito da cultura local e na interação com os moradores. A autenticidade se define agora pela densidade dos encontros, pela sinceridade dos intercâmbios, ou pela emoção das lembranças.  A importância dos atores locais na oferta de produtos autênticos foi assim demonstrado no ultimo debate da  Globe Veilleur em Montreal. Os palestrantes, Pierre Eloy, dos Agitadores de destinos numéricos , e Sophie Moreau, do turismo de Ancenis, na região dos Castelos do Loire, lembraram que os profissionais do turismo  são  vendedores de sonhos, e devem ser criativos para construir, com os moradores,  experiências juntando destinos, encontros e boas surpresas.

Viver uma experiência com os locais, as ofertas da AirBnb

Airbnb é um exemplo de ofertas autênticas bem sucedidas. O seu site valoriza a cultura de cada destino, com propostas de intercâmbio com “especialistas da vida local” cujos nomes, fotos e historias fazem parte dos descritivos das atividades. As experiências temáticas são cada vez mais criativas, no culinário, nas degustações, nos passeios, no esporte, na arte ou no shopping. Com um sucesso ligado a sua estreita relação com os moradores, a empresa demonstrou que os viajantes confiam mais nas dicas daqueles que vivem o dia a dia de uma cidade. Os profissionais  devem se lembrar que são também moradores e que devem então se apresentar como tais, personalizando as suas próprias historias e suas ofertas.

O Collector verão 2017 da OnlyLyon

Para comunicar a autenticidade, a criatividade encontra-se também nas formas de comunicação. Cada vez mais abandonado pelos destinos e pelas operadoras, os guias impressos viraram um destaque para aqueles que souberam explorar-lo para materializar suas ofertas. Assim a cidade de Lyon publica duas vezes por ano o guia “Collector” que apresenta restaurantes ou lojas selecionadas para os turistas e os moradores, valorizando as novidades, as promoções e as dicas  “Only Lyon” .  Assim também a  operadora da SNCF (os trens franceses), voyages-sncf.com,  está editando uma nova coleção de guias  « Emmenez-moi à » (Me leve para…) . Com visuais originais, eles listam endereços culturais ou gastronômicos, contam experiências e apresentam mapas.

O guia “Nos coins préférés” da Secretaria de Turismo de Ancenis

Na busca da autenticidade, os próprios funcionários de atendimento têm um papel importante, virando “concierge’ do destino, ajudando na experiência vivida pelo viajante. O turismo do Queensland procura ideias nas contas das redes sociais dos visitantes – oferecendo por exemplo uma camiseta autografada do seu time de rugby  a uma torcedora vindo para assistir a um jogo e que tinha publicado muitos posts valorizando o destino. Em Ancenis, na região dos Castelos do Loire, os funcionários do escritório de turismo foram solicitados para propor um mapa dos seus lugares prediletos. Chamado de « Nos coins préférés » , o documento  parece cochichar no ouvido dos visitantes alguns segredos que os moradores aceitaram de dividir, pequenas propostas de vida local que viram grandes experiências de autenticidade.

Esse artigo foi inspirado de um artigo original de Aude Lenoir  na revista profissional on-line Reseau de veille en tourisme, Chaire de tourisme Transat 

 

A VizEat, a economia participativo fazendo sucesso na gastronomia!

Virtuoso fechou um acordo com o “AirBnb da comida”

Mostrando a crescente aproximação dos profissionais do turismo com a economia colaborativa, Virtuoso assinou um acordo de referenciamento com o aplicativo VizEat. Start up fundada há três anos pelos franceses Jean-Michel Petit e Camille Rumani, a VizEat vai assim poder oferecer  suas experiências culinárias através das 400 agencias da  prestigiosa marca, sendo 30 agencias no Brasil. Sempre preocupada com a qualidade dos serviços propostos pelos seus 1700 fornecedores, Virtuoso destacou que o conceito inovador da VizEat respondia perfeitamente a duas grandes tendências do turismo do século XXI: o turismo culinário e o turismo sustentável, na sua dimensão de encontros com os moradores.

Jantar VizEat em Paris

Com somente três anos de vida, a VizEat tem hoje  22.ooo anfitriões em mais de 110 países, incluindo 5000 na França, e foi citada  pelo Tim Cook da Apple como sendo o terceiro aplicativo mais popular de 2016. O projeto nasceu do encontro de Jean-Michel Petit – que voltava do Peru onde ficou apaixonado pela hospitalidade e a cozinha dos índios do Lago Titicaca- e de Camille Rumani – amadora da cultura e da gastronomia chinesa. Em busca de autenticidade, tiveram uma ideia simples mas muito original: criar uma plataforma onde viajantes procurando uma experiência culinária local e moradores amando dividir sua paixão pela cozinha poderiam encontrar-se em volta de uma refeição.

Tour culinário na Aquitânia

Chamada de “AirBnb da comida”, a VizEat tem agora websites em inglês, francês, italiano, espanhol, alemão e chinês. Em 2015, depois de comprar o seu concorrente Cookening virou líder europeu e começou a oferecer experiências em outros países, abrindo escritórios na Espanha, na Itália, na Alemanha e na Inglaterra. Alem do acordo com Virtuoso, Jean-Michel e Camille querem multiplicar parcerias com profissionais do turismo,  hoteleiros, operadoras, receptivos, organizadores de eventos ou agencias MICE. Aproveitando um aumento de capital, querem investir em cursos de cozinha, eventos gastronómicos ou tours culinários.

Jantar do David, da VizEat de Londres

O crescimento do “local dining” preocupa os restaurantes tradicionais que temem o impacto que a economia colaborativa pode ter sobre a sua atividade, mostrando o exemplo das consequências do sucesso da AirBnb sobre a hotelaria tradicional. Os sindicatos do setor estão reclamando da concorrência desleal dos anfitriões da VizEat que, segundo eles,  não pagam as devidas taxas, não respeitam as regras de higiene ou de segurança. Argumentam que o site pega uma comissão de 20% sobre o preço da refeição, mas não tem controle de qualidade. Em vários países, e especialmente na França, eles pedem as autoridades para pelo menos impor a todos os atores o mesmo respeito da legislação e da proteção do consumidor,  com os mesmos controles.

Os fãs de “fooding”  estão porem entusiastas tanto pela simplicidade do site  que pela transparência da relação com os anfitriões que comunicam com antecedência informações sobre o cardápio bem como fotos do ambiente. Para os donos da VizEat, dois fatores explicam o sucesso do “local dining”. O primeiro é de ser um evento importante de uma viagem, uma experiência que pode ser escolhida e preparada com antecedência. O segundo é que um jantar na casa de um morador é não somente uma aventura culinária mas um intercâmbio humano. Os viajantes sempre lembram que entraram numa casa como estrangeiros e saíram como velhos amigos.

 

Turismo em 2016: choques, mudanças e poucas saudades. Mas tendências e esperanças para 2017.

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Nice, a cidade de Garibaldi, lutando com garra para recuperar os seus turistas

Mesmo se a OMT está anunciando um crescimento de 4% do turismo internacional em 2016, o ano terá sido de dificuldades em muitos mercados, tanto receptivos como emissivos. Na França, pela primeira vez,  os atentados de Paris e Nice levaram a uma queda de 7% da clientela estrangeira, vindo tanto da Europa como do Japão, dos Estados Unidos e mais ainda dos mercados emergentes  que foram nos últimos anos o motor do crescimento do turismo francês. No Brasil, o segundo ano consecutivo de recessão levou o turismo emissivo a uma queda de quase 15% (e até mais para os dois grandes destinos tradicionais, Estados Unidos e França).

O esqui, um dos sucessos do turismo francês em 2016

O esqui, um dos sucessos do turismo francês em 2016

Se 2016 não deixará saudades, ele viu numerosas mudanças importantes no turismo internacional que impactarão, nos próximos anos,  não somente as decisões dos viajantes mas também o trabalho dos profissionais. Sem poder ainda fazer uma relação completa, três tendências estão se destacando. Os dramas de Paris, Bruxelas, Nice, Orlando e Berlim, os eventos na Turquia, na Tunísia ou no Egito fizeram da segurança um critério absoluto de escolha dos destinos. E enquanto no passado horrores similares tinha sido superadas em 3 a 4 meses, os viajantes esperam agora mais tempo para voltar, exigindo informação transparente, medidas concretas e resultados comprovados das autoridades ou dos profissionais dos destinos atingidos.

Guo Gang Chang, da Fosun, a nova cara do Club Med

Guo Gang Chang, da Fosun, a nova cara do Club Med

2016 confirmou a China como um dos maiores atores do turismo internacional. A OMT já tinha anunciado há quase vinte anos que a China se tornaria antes de 2020 um dos primeiros mercados emissores, ela já é o primeiro. Serão esse ano 128 milhões de turistas (mesmo se a metade viajam para Hong Kong, Macau e Taiwan) e US$420 milhões de despesas no exterior. A verdadeira surpresa foi a explosão dos investimentos chineses, com um impacto excepcional na França e no Brasil. Em pouco mais de um ano, vimos o Club Med, a Accor, a Wagons Lits e a Azul passar a ser controladas por gigantes da China que vão sem dúvidas influir nas estratégias desses grupos chaves do turismo nos dois países.

AirBnb parceira do Rio de Janeiro olímpico

AirBnb parceira do Rio de Janeiro olímpico

Foi esse ano também que as grandes empresas da economia colaborativa viraram atores incontornáveis da industria turística. Assim a AirBnb que conseguiu mostrar durante os Jogos Olímpicos do Rio que representava quase 25% da oferta de hospedagem da cidade maravilhosa. Sendo agora líder em muitos destinos, incluindo em Paris, AirBnb deve aceitar uma concorrência leal com os profissionais – pagando impostos e respeitando os códigos de consumidores-. Deve resolver a difícil coabitação entre seus clientes e os moradores das vizinhanças. Mas os seus sucessos de 2016 junto aos viajantes, os acordos passados com redes hoteleiras e o lançamento da operadora Trips, mostram que a AirBnb e os grupos da economia colaborativa são hoje atores profissionais do setor que vão contribuir a mudar o turismo mundial.

O impacto da eleição de Trump sobre o turismo preocupa os profissionais americanos

O impacto da eleição de Trump  preocupa os profissionais americanos

Outros eventos importantes que marcaram 2016 vão influenciar as viagens internacionais em 2017,:grandes mudanças políticas – Brexit, eleição de Trump ou Paz na Colombia- , evoluções do cambio – força do dolar, queda do Euro ou firmeza do Real, sem que seja ainda possível de medir os seus impactos. Mas é certo que desde o mês de setembro as tendências das viagens internacionais deram uma forte melhoria, projetando 15% de crescimento entre o Brasil e a França. Podemos assim desejar uma “Bonne Année” a todos os viajantes e a todos os profissionais do setor contando que 2017 vai ser mesmo um Feliz Ano Novo!

Jean-Philippe Pérol

Azul, agora não somente verde amarelo mas também vermelho

Azul, agora não somente verde amarela mas também vermelha

Castelos, hotéis e AirBnb, uma nova experiência que só Alain Ducasse podia oferecer!

Quarto no Pombal do Château de Courban

Quarto no Pombal do Château de Courban na Borgonha

O grupo californiano AirBnb vai mais uma vez surpreender tanto os seus seguidores como seus detratores, assinando um acordo de parceria com  Châteaux & Hôtels Collection, um grupo francês reunindo 500 restaurantes ou estabelecimentos hoteleiros, presidido pelo famosíssimo  e muito influente chef Alain Ducasse. Ambas inovadoras e pioneiras, as duas empresas vão trabalhar juntas para oferecer aos viajantes não somente quartos únicos em todos os endereços Châteaux & Hotels Collection da França, bem como experiências exclusivas em Paris.

O restaurante parisiense Citrus Etoile

O restaurante parisiense Citrus Etoile

AirBnb vai comercializar no seu site de reservas os hotéis da rede – cada estabelecimentos podendo oferecer seja alguns seja todos seus quartos. E Alain Ducasse criou quatro roteiros especialmente para AirBnb, como acompanhar o chef Gilles Epié numa feira livre e depois na cozinha do seu restaurante Citrus l’Étoile, descobrir a “Manufacture de Chocolat” Alain Ducasse ou visitar os bastidores da sua escolha de cozinha e participar de uma degustação. com a diretora Alexandra Legrand. Mas alem de ser a primeira vez que um acordo comercial liga a AirBnb e um dos grandes atores do setor turístico da França, essa parceria representa para cada um dos dois grupos uma virada estratégica importante.

Paris, primeiro destino mundial da AirBnb

Paris, primeiro destino mundial da AirBnb

Para AirBnb, essa parceria é uma sequencia lógica do crescimento da Trips, a sua plataforma de planejamento de viagem. Já contando com posadas, “bed and breakfast” e pensões, o próximo passo tinha que ser  ampliar a oferta de hotéis. Com  Châteaux & Hôtels Collection, os clientes vão ter acesso a novas experiências de qualidade. Na hora onde seu modelo econômico sofre de mudanças nas legislações nos grandes destinos turísticos mundiais, AirBnb pode fazer desse acordo um passo importante para competir com as grandes OTA, Booking et Hotels.com. O prestigio de Alain Ducasse pode também ser decisivo para mostrar ao setor hoteleiro, até então extremamente hostil, que sinergias são possíveis entre a economia participativa e as hospedagens tradicionais.

Novas perspectivas se abram também para Châteaux & Hôtels Collection. Os  viajantes qui visitam o site ou frequentam as hospedagens da AirBnb (só na França seriam 10 milhões) vão descobrir os seus endereços. Pelo menos numa primeira fase, os 400 hoteleiros da rede oferecerão em prioridade os quartos mais originais e inéditos como um pombal ou a torre de um castelo do Renascimento, mas a escolha será de cada estabelecimento. Concordando com AirBnb sobre a necessidade de comunicar com os viajantes duma forma diferente, consciente das revoluções trazidas pelas grandes plataformas de reservas, a rede presidida pelo Ducasse vai, com essa inesperada parceria, conseguir um novo posicionamento, tanto em relação aos seus outros parceiros na distribuição que junto aos novos viajantes do século XXI.

Jean-Philippe Pérol

O Castelo de Besseuil, Château Hotel na Borgonha

O Castelo de Besseuil, Château Hotel na Borgonha