A America Latina aderindo ao slow turismo?

As ruas coloridas de Pijao

Agora com 287 associados, a rede internacional Cittaslow continua crescendo, mas com cautela. Frente ao risco sempre presente do overturismo, a preocupação é de respeitar a promessa de lentidão e de tranquilidade, e de seguir a risca  os 70 critérios da sua carta-compromisso referente ao meio ambiente, as tradições locais, ao desenvolvimento regional, a mobilidade urbana, a hospitalidade e ao bem estar tanto dos moradores quanto dos visitantes. Nascida na Itália, popular há anos na Polônia, na Alemanha e em toda Europa, Cittaslow se espalhou em novos destinos, na Turquia, em Chipre, e na Ásia em Taiwan e na Coreia do Sul.

O intercâmbio com os moradores é um dos charmes da cidade

O turismo tranquilo tem, porém, mais dificuldades para conquistar a América Latina.  Poucos viajantes, mesmo amigos da Colombia, conhecem Pijao, um pequeno vilarejo na área cafeteira, 300 quilômetros ao oeste de Bogotá, que foi porém em 2014 o primeiro destino do continente a aderir ao “slow turismo”. Pijao tem que ser percorrido com calma para aproveitar as casas coloridas, visitar suas lojas de antiguidades, caminhar nas trilhas das suas fazendas de café, descobrir  sua floresta de palmeiras de cera gigantes, ou aproveitar as oportunidades de “bird watching”. E acima de tudo falar com os moradores, ter o tempo de escutar histórias.

Na vizinha Salento, um modelo de turismo mais intenso

Esse turismo tranquilo foi a escolha de Pijao quando aderiu a Cittaslow, um caminho diferente de outros vilarejos da região como Salento ou Filandia cujas cores viraram os xodós dos turistas instagramers cada vez mais numerosos nas rotas do café da Colombia. A escolha da autenticidade, da sustentabilidade e dos fluxos controlados reune a maioria dos comerciantes, dos hoteleiros e dos guias de turismo numa associação que monitora o respeito da carta-compromisso. Voluntários ajudam a preservar as tradições locais, a incentivar os circuitos comerciais curtos, a limitar a poluição sonora, e … a convencer os opositores que a liberação de um turismo menos seletivo não traria a longo prazo nenhum benefício para a cidade.

Em Socorro, os incriveis por do sol da Pedra Bela Vista

A cidade paulista de Socorro é segundo socio latino americano da Cittaslow, e o primeiro no Brasil.Para a  Secretária de Turismo da cidade, Tereza Monica Sartori Marcheto, ” a vocação de um turismo sem pressa surgiu devido a característica do município, a importância da natureza, o interesso pela cultura, a vontade de trabalhar a sustentabilidade e a necessidade de valorizar o bem estar da população”. Com experiencias anteriores de certificação – a cidade foi classificada como Safe Travel pela WTTC-, Tereza destaca que, para seguir os compromissos da carta, é necessário continuar a mobilização, mapear os principais pontos da certificação e sensibilizar a comunidade para multiplicar as adesões. Um guia Descubra Socorro vai assim ser divulgado não somente para os profissionais do turismo e os comerciantes, mas também nas escolas e nas comunidades.

Tereza Marcheto acredita que o slow turismo é um diferencial que vale a pena

Ao contrario do que parece, o slow turismo necessita então um importante trabalho de preparação para ser apropriado por todos seus atores. Muito elogiado pelas mídias nacionais e internacionais, ele traga para Socorro e para todos os destinos que fazem com essa escolha importantes diferenciais competitivos. É, porem, uma tarefa árdua, já que, pelo menos na primeira fase, os resultados  demoram para ser percebidos, e que, a medio e longo prazo, o sucesso junto aos profissionais e a população dependerá das receitas turísticas e dos novos empregos que serão gerados pelo esforço de todos. Um desafio para o slow turismo na América Latina, mas também em todos os destinos que se juntaram a essa nova tendência.

Jean Philippe Pérol

 

Segurança dos destinos prefigura novas tendências?

Os Emirados Arabes Unidos são considerados o destino mais seguro

Preocupação crescente dos viajantes, a segurança é hoje um fator importante na hora de escolher um destino turístico. Lançado em 2009, o indice de criminalidade publicado no site da Numbeo é por isso mencionado ou utilizado por muitos jornais e revistas internacionais incluindo a BBC, Time, Forbes, The Economist, The New York Times, The China Daily, The Washington Post, USA Today e muitos mais. Baseado nos indices de criminalidade (incluindo drogas, corrupção e discriminação), mas também no sentimento de insegurança dos visitantes, o indice 2022 trouxe algumas surpresas e muitas confirmações que podem explicar ou influenciar algumas tendências.

O mapa mundi da segurança traga algumas surpresas

Com 435 cidades avaliadas, a pesquisa confirma, como era de esperar, que a América Latina e a África são as regiões mais inseguras, ocupando os últimos lugares da lista. De forma mais surpreendente, a América do Norte tem indices ruins ou pelo menos extremamente diferenciados. E se a Europa e a Oceania são globalmente mais seguras, com certas diferencias regionais,  a surpresa vem da boa colocação da Ásia e mais ainda do Oriente Médio com vários destinos turísticos  onde os viajantes encontram a segurança que responde as suas expectativas.

Os indices por pais destacam a Europa e o Oriente Médio

O ranking dos países, acumulando acima cidades seguras em azul e inseguras em vermelho, vem confirmando este quadro. Nos destinos mais tranquilos, e como era de se esperar, destacam-se os Emirados Arabes Unidos, a Suiça, os Países Baixos e a  Noruega, mas também alguns países que não tinham essa  fama, como a Turquia ou a Romênia. A China , a Alemanha, a Nova Zelândia confirmam as suas imagens de tranquilidade. As surpresas vêm dos grandes destinos turísticos. No Sul da Europa, a Espanha fica em sexto lugar enquanto a Itália e mais ainda a França constam com o Brasil e a África do Sul nos países mais problemáticos. Umas más colocações divididas com dois outros gigantes do turismo internacional, o Mexico e os Estados Unidos.

Quebec se firma no top do ranking por cidades

Dominado pelas cidades suíças e emiratis, o ranking por cidades mostra porem uma grande diversidade, mesmo em países globalmente mal colocados. Quebec no Canadá é assim no pódio da lista, Irvine na California ou Merida no Mexico são extremamente bem avaliadas.  Na França, Brest (na Britânia) está nas vinte primeiras, Estrasburgo e Bordeaux ficam com indice de segurança acima da media. No Reino Unido, enquanto Londres fica atras de Medellin, Edimburgo está muito bem colocada. Na Itália, Trieste esta bem avaliada em quinquagésima quinta posição, e Florença surpreende. No Brasil, Florianópolis e Curitiba destoam das outras capitais brasileiras que dividem as piores posições da lista.

Florianópolis é a cidade brasileiro melhor colocada no ranking

A pesquisa e a classificação da Numbeo devem ser analisadas com um certo cuidado, mas a preocupação com a segurança é uma das mais fortes tendências da retomada pós Covid. Já é um dos motivos do sucesso de vários destinos, seja Dubai, a Suiça, a Croácia, a Noruega, a China (e Taipé) ou a Nova Zelândia.  Nos grandes países turísticos, a segurança deve voltar a ser uma prioridade na França, nos Estados Unidos ou na Itália, onde podem ajudar ao crescimento de novos pontos de atração, mais tranquilos e longe do overturismo. As exigências de experiências seguras estão assim abrindo mais oportunidades no Pais Basco, em Taipé, no Quebec, na Alsácia, na California, em Bordeaux, nos países bálticos, ou em Florianópolis.
AS 20 MAIS E AS 20 MENOS DO RANKING DE SEGURANÇA

Qual país será líder do turismo internacional em 2022?

A Grécia deve ser um dos grandes sucessos da temporada de 2022

Enquanto nem acabou a temporada de verão do hemisfério Norte, a briga pela liderança do turismo mundial já recomeçou e os principais destinos do turismo internacional já publicaram suas previas e suas análises dos resultados 2022. Os responsáveis políticos são unânimes a destacar a resiliência do setor, com resultados já próximos dos recordes de 2019, e apontam para algumas das tendências já  destacadas pelos profissionais. As lições da crise bem como as ações a priorizar divergem porém de um pais para o outro, bem como as projeções para o segundo semestre. Uma competição que deixa quase completamente abertas as apostas para as lideranças, tanto em numero de turistas que em receitas.

A Torre Eiffel voltou com uma atratividade renovada

A ministra francesa, Olivia Grégoire, anunciou na semana passada que o país devia receber esse ano de 65 a 70 milhões de visitantes. Seriam 20% a menos que os 89 milhões anunciados em 2019, mas, segundo ela, o suficiente para deixar a França na liderança mundial en numero de entradas turísticas. Dos visitantes internacionais, que representaram um terço do faturamento do setor, os mais numerosos  foram os europeus que já tinham voltado o ano passado. Mas o crescimento mais espetacular vem das Americas. O “revenge travel” e a fraqueza do euro deram um impulso espetacular a chegada de estado-unidenses (e de brasileiros) que compensaram em parte a ausência de chineses, japoneses e russos.

Cannes e a Riviera foram destaques da temporada de verão

Sem estatísticas convincentes, é ainda cedo para definir quais regiões francesas, além de Paris e da Riviera,  foram as mais beneficiadas pela retomada. Algumas tendências fortes foram porém destacadas pela ministra: as viagens de trem, o turismo de proximidade, o turismo rural, ou o turismo itinerante. O sucesso do turismo de luxo, especialmente em Paris, levou a uma alta dos preços de mais de 35% nos hotéis e terá um impacto positivo nas receitas turísticas que deveriam atingir os níveis de 2019. Para confirmar as projeções otimistas da ministra, a França deverá porem superar os problemas do setor: falta de mão de obra, inflação ameaçando principalmente o turismo dos seniors, e lentidão da incerta retomada das viagens de negócios.

A Espanha deve receber mais de 65 milhões de turistas

A Espanha publicou também seus resultados dos sete primeiros meses do ano, com números detalhados e projeções mais cautelosas dos profissionais. 39,3 milhões de turistas estrangeiros já chegaram no país até o final de Julho, 300% a mais que em 2021, mas ainda 17% abaixo dos números atingidos em 2019.  As estatísticas da Frontur  mostram que o primeiro mercado volta a ser o Reino Unido com 8,4 milhões de viajantes, seguido da Alemanha com 5,5 milhões e da França com 5,3 milhões. As regiões mais beneficiadas foram a Catalunha com 8 milhões de visitantes, as Ilhas Baleares com 7,5 milhões e as Ilhas Canárias com 6,8 milhões. As receitas turísticas são estimadas a final de Julho em 47 Bilhões de Euros, uns 10% abaixo dos recordes de 2019.

O turismo estado-unidense quer privilegiar a qualidade

Com os Estados Unidos insistindo mais em resultados qualitativos – somente 55,4 milhões de turistas internacionais mas umas receitas devendo chegar a  USD 200 bilhões, os três grandes líderes do turismo mundial já anunciaram suas estimativas de resultados para 2022, e os dois pódios (número de turistas e volume de receitas) estão se definindo. Para as receitas de turismo internacionais, os estado-unidenses devem seguir na absoluta liderança, seguindo da Espanha, mas a França deveria se aproximar do segundo lugar devido a seus excelentes resultados no turismo de luxo.

Na era do turismo sustentável, um novo ranking dos destinos lideres?

Para os números de turistas internacionais, o terceiro lugar ficará com os Estados Unidos (em parte por escolha própria), mas a briga pelo primeiro lugar será certamente muita apertada entre os franceses e os espanhóis. Lamentando o foco dado aos resultados quantitativos pelos políticos e pela mídia,  muitos consumidores, moradores e profissionais desses dois países pensam porém que a verdadeira liderança do turismo internacional deveria ser definida somente por critérios econômicos, sociais e ambientais. O novo pódio poderá assim ficar aberto a muitos novos competidores.

Jean Philippe Pérol

 

A retomada, num mundo do turismo mais caro e mais exclusivo

A Nova Zelândia deixou claro que não quer atrair mochileiros

Característica importante da retomada no Brasil, a explosão dos preços das viagens, tanto nacionais que internacionais,  parece mesmo ser uma tendência global. Na Europa, nos Estados Unidos e até na Nova Zelândia, autoridades e profissionais estão anunciando que os custos que dispararam com a pandemia e a guerra vão inviabilizar muitas práticas de turismo “low cost”. Foi assim por exemplo que o presidente da Ryan Air, Michael O’Leary anunciou essa semana que os tempos de vendas de passagens promocionais a 10 euros ou menos, outrora bandeira-mor da empresa e da sua rival Easy Jet, já tinham acabado.

Reabrindo seu pais depois de dois anos de isolamento sanitário, o ministro neo-zelandês do turismo foi ainda mais longe (ou pelo menos mais claro). Numa entrevista com o  The Guardian , Stuart Nash declarou ter “nojo de viajantes sem dinheiro” e que não queria mais “atrair turistas que gastam USD 10 por dia, comendo macarrão pré-cozido“. Afirmou que não devia ter vergonha de uma nova estratégia de marketing, focada em atrair turistas “de alta qualidade”, seja gastando muito dinheiro e contribuindo assim a melhorar a economia do pais. 

Nova Zelandia quer rentabilizar as suas belezas

As declarações do ministro já abriram uma polémica. Profissionais do setores já lembraram que os turistas mais humildes têm um papel importante. Seus gastos globais podem ser mais importantes porque as estadias muito mais longas compensam o baixo nível de gasto diário. Alem disso muitas atividades tem preços fixos e não dependem do poder aquisitivo de cada um. É o caso dos museus, dos parques, dos transportes públicos ou dos teleféricos. Com menos recursos, os viajantes de classe media têm em geral um impacto menor sobre o meio ambiente, especialmente nas pegadas de carbone.

Rentabilidade, democracia, liberdade e meio ambiente no debate do turismo exclusivo

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Jean Philippe Pérol
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Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue” do autor na revista profissional on line Mercado e Eventos

Em Glascow, o turismo ganhando um novo impulso

Reunindo mais de 20.000 participantes vindo de 197 paises, a COP26 foi não somente momento chave no consenso internacional sobre a luta contre as mudanças climáticas, mas também um encontro marcante para o turismo global. Frente as perspectivas de dois bilhões de turistas em 2030 – a democratização das viagens e a chegada dos emergentes aumentando o risco de overturismo-, muitas vezes acusados de ser uns dos grandes responsáveis da poluição  e das emissões de CO2, 300 atores do setor foram reunidos em Glasgow pela Organização Mundial do Turismo para discutir de medidas concretas e de planos de ações imediatas.

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A “declaração de Glascow” lembra em primeiro lugar que os signatários acreditam que os combustíveis fósseis, a agricultura não sustentável e os modos de consumo descontrolados contribuam para as mudanças climáticas, para a poluição e para a diminuição da diversidade biológica. Reequilibrar a relação com a natureza é fundamental não somente para a saude dos ecosistemas e para o bem estar  pessoal, social e econômico de todos, mas também para a retomada sustentável e o proprio futuro do setor. A declaração lembra também que as ações escolhidas deverão contribuir a reduzir de 50% as emissões de CO2 até 2030 e de 100% até 2050,  e se encaixar nos objetivos do Acordo de Paris.

O turismo marcou presencia na COP26

Os profissionais recusam que o setor seja culpabilizado, e eles acreditam que o turismo pode ser na vanguarda de um futuro de baixo carbone. O setor – suas empresas e seus empregos- poderá assim crescer preservando suas atividades, suas infraestruturas, os ecosistemas onde são localizadas, bem como o bem estar doa moradores e das populações impactadas. A força dos compromissos assumidos pela OMT e seus 300 membros ficou clara, tanto pela transparência do processo iniciado -já prevendo a publicação de relatórios anuais- , que pelas medidas anunciadas agrupadas em cinco eixos de trabalho e iniciadas nos próximos doze meses .

A descarbonização foi um dos pontos principais discutidos em Glasgow

Medir : Medir e publicar todas as emissões ligadas a viagens e turismo, com metodologias seguindo as diretivas da Conferência para medição, relatórios e controles, sendo todos transparentes e acessíveis.

Decarbonizar : Definir e atingir objetivos conforme aos conhecimentos atualizados para acelerar a transição no turismo, incluindo o transporte, as infraestruturas, as hospedagens, as atividades, os restaurantes, e a gestão dos dejetos. A compensação pode ter um papel subsidiária mas somente como complemento de  realizações comprovadas.

Regenerar : Proteger os ecosistemas, favorecer as capacidades de absorção de carbone da natureza. Preservar a biodiversidade, a segurança alimentar e  o abastecimento de agua.  Nas regiões onde o impacto climatico é mais forte, informar os visitantes e ajudar os moradores a se adaptar as mudanças.

Colaborar : Comunicar os dados sobre os riscos e as precauções para todos os envolvidos, trabalhar para que os planos de emergencia sejam o mais completos e eficientes. Reforçar a capacidade de ação com as autoridades, as associações, as empresas, os moradores e os visitantes.

Financiar : Conseguir os recursos e as capacidades operacionais suficientes para atingir os objetivos, especialmente na capacitação, na pesquisa, e das ações anunciadas nos planos apresentados.

A declaração de Glagow marca um passo importante da retomada do turismo

Lógica e necessária pelo impacto existencial que a sustentabilidade terá sobre seu futuro, a “declaração de Glascow”, ja foi assinada pela OMT, o PNUD e os participantes constando nesta lista (ainda com poucos brasileiros a não ser o grupo ACCOR).  A declaração ainda deve ser completada, especialmente no que trata dos impactos dessas medidas sobre os custos para os milhões de turistas provenientes das classes medias dos países desenvolvidos bem como das classes emergentes dos países en desenvolvimento. Como lembrava o Gilbert Trigano, fundador do Club Mediterranée, o turismo é um formidável fator de felicidade e de momentos de igualdade social. O turismo sustentável deverá crescer com tranquilidade e segurança, guardando essas características.

Jean-Philippe Pérol

 

Na hora do underturismo, Serge Trigano aplaudindo o turismo de massa

Serge Trigano, fundador do grupo Mama Shelter

Filho do lendário Gilbert Trigano, e fundador do grupo Mama Shelter, o Serge Trigano publicou no Journal du Dimanche da França uma tribuna muito ousada sobre o tão criticado turismo de massa. “A pandemia, além de dramas e sofrimentos, mexeu com a vida e o trabalho de todos. Vamos sair das cidades grandes, privilegiar o teletrabalho, tentar deixar um mundo melhor para nossos filhos. Essas e outras tendências são compromissos que só podemos aplaudir. Mas ao mesmo tempo chegaram umas ideias negativas sobre o turismo de massa. Ele acabaria com as paisagens, destruiria o meio ambiente, prejudicaria as populações locais e ameaçaria os empregos turísticos”.

O Serge Trigano lembrou que nos anos 1960, as elites gozavam dos turistas americanos que visitavam a Europa correndo, chegando em Londres na segunda-feira, passando por Paris na quarta, em Roma na sexta e voltando no sábado para os Estados Unidos. Mas a nova geração já aprendeu a aproveitar suas viagens e a explorar as belezas dos destinos escolhidos. Por que razão deveria ser dada aos únicos clientes dos palaces Gritti, Danieli ou Cipriani a exclusividade das belezas de Veneza e da magia da Sereníssima, discriminando os grupos populares? Não se deve esquecer que esses visitantes, pertencendo as classes emergentes do mundo inteiro, têm também todo direito de fazer selfies com as pombas da Praça São Marcos.

É claro, segundo o Sergio, que as consequências negativas dos excessos do “overturismo” devem ser combatidas, e já foram alcançados resultados neste sentido. A Airbus está trabalhando no não poluente avião do futuro. As companhias de cruzeiros – seguindo o exemplo da Compagnie du Ponant – estão reduzindo de forma drástica o seu impacto no meio ambiente. Os grandes destinos turísticos estão se organizando – de Veneza a Paris e Amsterdã, passando por Barcelona ou Phuket – para limitar os exageros de alguns momentos de folia.

Viva o turismo, então, que oferece a oportunidade de visitar o outro sem dominá-lo, sem procurar invadi-lo ou submete-lo. O turismo é o contrário da guerra, e já por isso merece ser protegido. Viva o turismo então, incluindo o mais elitista – porque não?-, mas viva também o turismo popular, aquele que é chamado de forma depreciativa o turismo de massa.  Viva também esses milhões de turistas e de veranistas felizes que desfilam pacificamente em nossas cidades, de celulares na mão para tirar fotos.

Esse artigo foi traduzido de uma coluna original de Serge Trigano no jornal francês  on-line Le Journal du Dimanche

Veneza, parabens para os seus 1600 anos!

A tradição, ou a lenda, ensina que Veneza foi fundada no dia 25 de março de 421. Três cônsules, mandados pelo prefeito de Pádua, teriam iniciado neste dia a construção da igreja de San Giacometo do Rialto, ainda hoje considerada uma das mais antigas da cidade mesmo se datando provavelmente do século XI. Os historiadores são mais divididos, alguns escolhendo 452, quando a lagoa foi o refúgio dos sobreviventes da destruição da cidade vizinha de Aquileia pelas hordas de Átila, outros preferindo 697 quando o patrício Paulicius foi eleito e reconhecido pelo então soberano bizantino como primeiro “doge” (duque en lingua veneta).

San Giacometo do Rialto, lendário lugar de fundação da cidade

As comemorações dos 1600 anos começaram dia 25 de março na basílica San Marco, com uma missa celebrada pelo Patriarca Francesco Moraglia – retransmitida on-line para respeitar as rígidas normas sanitárias da Itália. As 4 da tarde, os sinos de todas as 84 igrejas da cidade tocaram juntos, e a rede nacional de televisão italiana apresentou um documentário em homenagem a Veneza com músicas, fotos e vídeos ilustrando a peculiar história da Serenissima. A prefeitura anunciou também muitas iniciativas culturais previstas para 2021 e 2022, misturando o virtual com o máximo de presencial se a pandemia deixar.

Os navios de cruzeiros devem agora ancorar fora da cidade histórica

Para seu aniversário, o primeiro presente que Veneza recebeu foi porem a proibição feita aos grandes navios de cruzeiro de entrar no Grande Canal. Anunciada de forma solene pelos ministros da cultura, do turismo, do meio ambiente e das infraestruturas, a decisão  tinha sida tomada em 2012 para “proteger um patrimônio pertencendo não somente a Italia mas a toda humanidade”, mas ainda não vigorava devido aos atrasos na construção de um porto alternativo.  A pressão dos moradores, as exigências da UNESCO, e a emoção provocada por dois incidentes graves em 2019 levaram o governo italiano a encontrar uma solução provisória no porto industrial e a efetivar a proibição.

235 projetos vão comemorar os 1600 anos

Além dos grandes eventos tradicionais como a famosa Biennale ou o Venice Boat Show, com numerosas ideias e propostas vindo não somente dos moradores mas do mundo inteiro, o  Comitê da comemorações dos 1600 anos  já selecionou 235 projetos para serem apoiados pela prefeitura. Nessa cidade que já sofreu do overturismo, mas cuja economia depende completamente dos visitantes, é certo que todos terão que seguir as novas tendências do turismo pós Covid. Um turismo construído com os moradores, mais ligado com os fluxos domésticos, espalhado em todos os cantos da cidade, privilegiando os pernoites e as estadias mais longas. Um turismo mais qualitativo a altura das esplendores que essa cidade mágica oferece a seus visitantes há 1600 anos!

Jean-Philippe Pérol

A retomada pode se projetar sem os excessos do overturismo?

Uma retomada começando pelo turismo domestico, apenas em 2021 e fugindo do overturismo?

 
Pesquisa foi feira em parceria pelo M&E e pela Cap Amazon

Mais uma rodada da pesquisa TERMÔMETRO DO TURISMO, realizada em parceria pelo Mercado & Eventos e pela Cap Amazon, foi divulgada nesta quarta-feira (30). Os resultados mostram que s agentes de viagens estão mais pessimistas em relação a retomada do que nos levantamentos anteriores. Para 45% dos profissionais que responderam o questionário, a volta das viagens e das vendas ocorrerá no primeiro semestre de 2021, 19% apostam no segundo semestre do ano que vem, enquanto outros 19% apontam o mês de dezembro. Foram ouvidos cerca de 300 profissionais de todo o Brasil, com ênfase em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Brasília, Porto Alegre, Manaus e Belém. Das agências pesquisadas, 74% são especializadas em lazer, 9% em corporativo e 17% especializada em nichos específicos. A grande maioria (90%) tem menos de dez funcionários, 8% de dez a 50% e 2% mais de 50. As respostas foram colhidas entre os dias 10 a 30 de setembro. “Lá no começo da pandemia, todos achavam que era uma crise forte, mas que iria passar em um tempo menos. Agora, os agentes de viagens estão percebendo que as perspectivas são muito imprevisíveis”, disse Jean Phillipe Pérol, diretor da Cap Amazon. “Os agentes estão bastante pessimistas se compararmos com a primeira pesquisa, realizada em maio”, completou o executivo, lembrando que na época a maioria apontou que a retomada teria início no mês de setembro.

Anderson Masetto, editor chefe do Mercado & Eventos, acredita que os resultados atuais apontam mais para uma realidade mais clara do que um aumento do pessimismo. “Em maio, tínhamos o exemplo de países que já tinham saído da crise. Na China, onde tudo começou, por exemplo, ela demorou um tempo menor. Agora, as vendas já estão acontecendo e, por isso, o agente de viagens consegue ter uma perspectiva melhor sobre o que deve acontecer nos próximos meses”, explicou. Outra hipótese levantada por Pérol é o fato da retomada já ter começado e estar sendo encaminhada pelos destinos domésticos, uma vez que – antes da pandemia – muitas destas vendas acabavam não passando pelas mãos dos agentes de viagens. “A diferença de percepção da retomada em maio e agora pode vir deste fato”, disse. A oferta de produtos é outro fator que também pode justificar este pessimismo maior do agente de viagens. Segundo Pérol, os voos, por exemplo estão acontecendo, mas em um volume muito menor do que em 2019.

Nas pesquisas anteriores, os agentes de viagens apontaram as viagens pelo Brasil como o principal carro-chefe da retomada. Por isso, nesta terceira rodada foi incluída uma pergunta sobre quais regiões do País teriam uma volta mais rápida do fluxo de turistas. Como esperado o Nordeste ficou na liderança, com 37%, seguido do Sudeste, com 30%, Sul com 22% e Norte com 8%. O Centro Oeste ficou com 2%. “O doméstico é, de longe, o que está mais adiantado em termos de retomada. Aparentemente, o Nordeste é aquele que está aproveitando isso melhor”, destacou Pérol. “Nenhuma surpresa em ver o Nordeste na frente, mas é importante destacar o Sudeste em segundo lugar com 30%. A região é o maior pólo emissor do País e isso reflete a tendência de viagens a lugares próximos neste início de retomada, como o paulista viajando pelo próprio estado, por exemplo”, complementou Masetto. Para Pérol, existem dois fatores que podem ser explicados neste resultado. O primeiro é a viagem para a visita de familiares e amigos, colocada como uma das primeiras modalidades a retornar. O outro, que é um fenômeno mundial, são as viagens de carro para destinos a até 250 quilômetros de distância. “Isso aumentou muito e substitui, em muitos casos, a viagem de avião. Acredito que há muito mais paulistas que viajam para as praias próximas e interior hoje e o mesmo ocorre em outros estados. As pessoas estão indo conhecer pontos turísticos mais próximos”, contou. “Acredito que esta tendência irá continuar no pós-pandemia”, completou.

No caso das viagens internacionais, Portugal “roubou” a primeira colocação da América do Sul nesta terceira rodada. 21% dos agentes de viagens acredita que este será o destino a se recuperar mais rápido. Os destinos sulamericanos vêm em seguida com 19%, seguidos de América do Norte (18%) e Caribe (18%). 14% escolheram outro destino da Europa e 4% outros. Embora isso seja também reflexo da desaceleração da pandemia na Europa, o editor chefe do M&E acredita que estes resultados têm relação também com a oferta de voos. “Embora o desenrolar da pandemia pese, temos visto que as pessoas tem tido confiança nos protocolos e vão viajar. E, em paralelo a isso, os voos estão voltando, com companhias da Europa voltando a operar no Brasil e muitas que não voltaram ainda, já marcaram data. Portanto, é também uma questão de mobilidade. Antes não era possível chegar porque não tinha voos. Agora os voos estão aumentado gradativamente”, afirmou. Para Pérol outro ponto que contribui é que boa parte dos países da América do Sul permanece com as fronteiras fechadas. “Com a falta de previsão de abrir, a América do Sul caiu muito. Outro fator é que a Europa se tornou mais atraente do que os Estados Unidos por vários motivos, um deles é que a imagem do País caiu muito e a pandemia não está controlada, além do fato das fronteiras estarem fechadas”, explicou. “Outro fator é que há um número muito grande de brasileiros com passaporte europeu. Então, eles podem viajar com mais facilidade na Europa”, adicionou.

O primeiro segmento a viajar, para os agentes que participaram da pesquisa, é o lazer, com 41%, seguido da visita a família e amigos, com 35% e do corporativo com 16%. Os cruzeiros são apontados por 5%, feiras e MICE por 2% e 1% outros. O destaque é a queda do corporativo que registrou 30% em maio, 23% em julho e agora caiu ainda mais. “No início da crise os especialistas já diziam isso, mas na nossa pesquisa os agentes de viagens se mostraram mais otimistas. Agora, sentimos uma preocupação muito grande, porque pode ser um fenômeno que vai durar, uma vez que muitas empresas perceberam que podem substituir parte das viagens por reuniões virtuais”, reiterou Pérol. “Este foi o segmento mais atingido e deve passar por algumas mudanças mesmo no pós-pandemia”, completou.

Em relação a motivação e os temas das viagens, não há uma mudança significativa em relação as pesquisas anteriores. Entre as temáticas mais procuradas, os agentes de viagens apontam o Bem Estar (27%) como o preferido. Em seguida vem o Ecoturismo empatado com Negócios, ambos com 13%. Depois Cultura com 12% e Gastronomia com 9% são os mais citados. “O bem estar veio para ficar. Será uma condição básica para qualquer viagem. Esta é uma tendência muito forte que envolve spas e tudo que é ligado a saúde”, destacou Pérol.

Entre as novas tendências, 35% dos agentes de viagens acreditam que os destinos menos procurados terão a preferência no período pós-covid. Ao mesmo tempo, 34% cita a preocupação com a saúde e 20% a segurança. “Há uma evolução em relação ao overturismo. Isso já era tendência, mas hoje se tornou essencial. Acredito que esta é uma grande oportunidade para receptivos, pois isso vai aumentar o interesse para cidades menores e menos frequentados”, ressaltou Pérol.

O noticiário mostra o início de uma segunda onda da pandemia em diversos países da Europa. Os responsáveis pela pesquisa foram, então, questionados se isso pode se refletir nesta retomada e nos resultados do próximo TERMÔMETRO DO TURISMO. Para Masetto, a resposta é não. Para ele, há uma confiança muito grande nos protocolos e estão voltando às atividades que faziam antes, inclusive viajar. “Já foi muito noticiado o quanto é seguro estar dentro de um avião e também sobre a capacidade de proteção das máscaras. A não ser que as fronteiras sejam fechadas, as pessoas não irão mais adiar os seus planos”, ressalta. Pérol também é enfático. Para ele, “a retomada é irreversível”. Para ele, é claro que as pessoas irão escolher os destinos em função da situação sanitária dos países. “Estamos vendo na Europa que há uma resistência muito grande em fechar restaurantes e comércio para enfrentar esta segunda onda”, lembrou.

Veja como foi a apresentação dos resultados:

 

 

Depois da crise, o agente de viagens , o preço e o sonho

No inicio da Jet Tours em 1973, Roger Pinson avisava: Vendemos sonhos!

 Se ainda é cedo para medir todas as consequências do Covid 19 sobre o turismo global, é certo que a crise sanitária virou um extraordinário catalizador. Overturismo, turismo de massa, turismo transformador, sustentabilidade, pegada carbone e intercambio com os moradores já eram  mudanças já exigidas pelos viajantes, mas a urgência foi acelerada durante o confinamento. Para responder a esses novos clientes, e frente as transformações que seus parceiros aéreos, marítimos ou hoteleiros estão sofrendo, operadoras e agencias de viagens vão ter que reimaginar um novo modelo que responde as novas aspirações dos clientes, mas que defina também claramente o valor agregado – e o futuro- de cada um dos atores.

A longa historia da Thomas Cook, encerrada antes da crise

Antes mesmo da crise, muitos deles já estavam perdendo dinheiro, e todos se lembram da espetacular falência do grupo Thomas Cook, pioneira do turismo há 158 anos. No mundo inteira a situação piorou com o Covid19. Na Europa, o líder TUI, acostumado a gerar quase um bilhão de euros de lucro anual, só foi salvo com um surpreendente empréstimo de 2 bilhões do governo alemão. Na França, estima se que mais de 20% das agencias podem não sobreviver se não tiver ajuda. A situação no Brasil caminha na mesma direção, inclusive para operadoras de primeira linha como foi tristemente demonstrado essa semana pelo pedido de recuperação judicial da conceituadíssima Queensberry.

OTA versus hotels, uma briga que deixa os agentes do lado?

Toda a cadeia do modelo tradicional parece ameaçada. Os destinos se queixam do baixo nível medio dos gastos, grande parte deles ficando nos países de origem dos turistas. Da França até os Estados Unidos e mesmo na Alemanha, as companhias aéreas têm as maiores dificuldades para sobreviver sem ajuda dos governos, e as novas normas sanitárias e ecológicas podem a medio prazo piorar a situação. Os hoteleiros não estão em situações muito melhores, tendo alem disso suas receitas drasticamente reduzidas pelas exigências e as margens as vezes insustentáveis dos únicos atores que parecem aproveitar economicamente do turismo: os GAFA e as grandes OTA mundiais. Frente a corrida aos preços baixos e as compras impulsivas, agencias e operadoras devem se reinventar.

Novos valores de ecologia e ética  devem ser incluidas nas ofertas de serviços

As soluções são difíceis de encontrar, mas duas ideias já parecem se destacar. A primeira é de priorizar o “melhor turismo” em vez do “mais turismo”. Os destinos devem parar com a lógica dos números globais, privilegiando as receitas, os territórios ou as temporadas. As companhias aéreas e os hotéis devem enfrentar custos maiores e capacidades reduzidas que só podem ser equilibradas com preços mais justos e reformulações do yield. Os agentes de viagens devem ajudar nessa transformação, recusando as lógicas do tudo-pelo-mais-barato carregadas pelas OTA. Popularizando os novos valores, cultura, ecologia, ética e responsabilidade social, podem assim também demonstrar a importância das suas intermediações.

Tahiti sempre liderou os destinos de sonho  @marcgerard

A segunda é de trazer de volta as operadoras e as agencias para a essência mesma da sua profissão: vender sonho. Com viagens internacionais menos frequentes e frente a globalização tecnológica,  devem lembrar que viajar é muito mais que uma passagem de avião e umas noites de hotel, tão bem escolhidas que sejam. Viajar é realizar um sonho, viajar é descobrir novos lugares e realizar novos encontros, viajar é viver experiências únicas, viajar é voltar com imagens e lembranças transformadoras. Mas do que nunca, quando a crise passar, a magia – e a razão- do apaixonante  trabalho dos agentes de viagens voltarão a ser de ajudar a realizar esse sonho.

Jean Philippe Pérol

O Club Med nunca esqueceu de lembrar que viajar era sonhar

Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue do autor na revista profissional on line Mercado e Eventos

Longe das multidões, as tendências pós crise abram oportunidades para destinos mais exclusivos

 

Há 675 anos, o castelo de la Treyne domina o vale do rio Dordogne

Nas novas tendências que se destacam nas viagens pós Covid 19, uma das mais fortes parece ser a fobia do “overturismo”, a procura de destinos turísticos fugindo as grandes multidões, a preferência anunciada por hospedagens, restaurantes, ou eventos de menores tamanhos, mas com sérias garantias de saúde ou segurança. A primeira vista parece ser um paradoxo, os grandes destinos tradicionais, Estados Unidos, Italia ou França serem ,talvez, os grandes favorecidos por essa revolução. A França por exemplo têm alguns lugares sofrendo de overturismo, mas 80% do seu território recebem somente 20% dos turistas enquanto essas mesmas regiões escondem lugares excepcionais pelas suas riquezas naturais, culturais ou humanas.

Stéphanie Gombert em La Treyne com Jean-Philippe Pérol e Caroline Putnoki

Assim o vale do rio Dordogne, terra de castelos que se estendea da Auvergne até  Bordeaux, onde o turista pode se emocionar com as pinturas pré-históricas da gruta de Lascaux, sentir a espiritualidade de Rocamadour ou das capelas dos caminhos de Santiago, descobrir os vinhedos de Cahors e o Malbec original, ou confirmar se o “foie gras” e as trufas do Perigord são as melhores da França. Os hotéis da região são sempre pequenas unidades, aproveitando antigas fazendas ou castelos onde a imponência da arquitetura foi combinada com o conforto moderno. No mais prestigioso estabelecimento do vale, o Château de la Treyne, a proprietária Stéphanie Gombert aceitou de explicar como a crise está transformando o turismo na região.

O parque, um dos cenários do almoço pique nique chique

Jean-Philippe Pérol: Você vai reabrir em julho o Château de la Treyne. Como vai ser essa reabertura pós covid 19 e quais vão ser as mudanças no atendimento e nos serviços?

Stéphanie Gombert: O nosso atendimento será ainda mais caloroso e tivemos que ser criativos. As normas sanitárias obrigam todos os funcionários a usar luvas e mascaras, e a ter menos proximidade. Assim quando um hospede será acompanhado até o seu quarto, teremos que ficar do lado de fora. No restaurante, as regras obrigam a muitas mudanças. Reduzimos de 50% o número de mesas para respeitar uma distança minima de um metro e meia, cancelamos os cardápios e colocamos tudo em QR code para evitar contatos desnecessários. Para o almoço, inventamos de propor um pique nique chique, com dez mesas espalhadas nos 120 hectares da propriedade, uma no terraço, uma em baixo do tricentenário cedro-do-Libano do parque, uma na pequena praia de frente para o rio Dordogne. O almoço será colocado na mesa de uma vez para reduzir os contatos. Para os cafés da manhã, Yvonne, nossa responsável, nunca gostou de bufês e sempre servimos nas mesas.Agora que virou obrigatório, vimos que fomos pioneiros.

O restaurante redesenhado para respeitar as novas normas sanitárias

JPP: A volta a normalidade deve ser demorada, e vai começar com os clientes de proximidades. Quando espera rever as clientelas distantes, incluindo os brasileiros, e que ações podem acelerar essa volta?

SG: Temos sorte porque o mercado francês representa 50% dos nossos visitantes, e vamos logo contar com eles. Os brasileiros são uns dos nossos melhores clientes vindo de longe, que gostam da nossa natureza, das belezas da nossa arquitetura, das nossas paisagens e mais ainda da cozinha francesa. Queremos que eles voltem o mais rapidamente possível, mas sabemos que isso vai depender da retomada e das condições dos voos transatlânticos. Os voos devem ficar mais caros, com mais normas sanitárias, e as contrapartidas das ajudas governamentais devem ser mais investimentos na sustentabilidade – e mais aumentos dos preços das passagens.  É provável que não vamos ter brasileiros esse ano, mas contamos com eles para 2021, se o transporte aéreo ajudar.

Todos diferentes, os quartos homenageam a história do castelo

JPP: Em uma pesquisa recente, os agentes de viagens brasileiros definiram com uma forte tendência o recuso do overturismo e a procura de destinos seguros mas longe das multidões. Você acha que o Château de la Treyne está pronto para aproveitar essa oportunidade?

SG: Nosso castelo pertence desde 1992 a uma maravilhosa associação, Relais & Châteaux, que tem 580 membros no mundo inteiro. A grande maioria desses hotéis e restaurantes estão localizados no campo, cercados pela natureza e com capacidade média de 30 quartos. Com uma localização exclusiva, La Treyne tem 17 suites, bem longe do turismo de massa. Nossos clientes estão procurando beleza, sinceridade, “savoir-vivre”, autenticidade até na originem dos produtos que oferecemos. Há anos começamos a trabalhar com pequenos produtores da região que abastecem o hotel em frutas e verduras, seguindo o ritmo das estações.

Em Rocamadour, as emoções da Fé

JPP: A mesma pesquisa mostra que as viagens serão ainda mais valorizados depois da crise, e que os viajantes vão querer mais experiências “transformacionais”. Quais são as dicas de atividades marcantes que você pode aconselhar a seus visitantes brasileiros?

SG: O Château de La Treyne fica em cima de um barranco caindo no rio Dordogne, uma biosfera excepcional tombada pela UNESCO, onde muitas atividades esportivas e náuticas podem ser praticadas. A natureza oferece outras emoções excepcionais nas grutas como Padirac, ou nas reproduções de arte rupestre de Lascaux 4.  A região esbanja uma cultura e uma arquitetura peculiar em cidades pequenas como Sarlat ou Les Eyzies. A espiritualidade se encontra em inúmeros trechos dos caminhos de Santiago que podem ser percorridos nos arredores, e mais ainda no extraordinário santuário de Rocamadour que foi na Idade Media o mais importante da França e que hoje ainda mexe com a fé do viajante.

Jean-Philippe Pérol

Stéphanie Gombert e seu marido Philippe são proprietários do Château de la Treyne. Alemã radicada na França, encontrou seu futuro marido quando preparava um master de história e literatura na Universidade de Paris Sorbonne. Depois de uma experiência de quinze anos no setor de eventos, é desde 2003 diretora do Hotel e Restaurante  Château de la Treyne (www.chateaudelatreyne.com) e duas residências exclusivas  (www.chateaudubastit.fr & www.chartreusedecales.com.).  

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