Amsterdã seguindo sua luta contra o overturismo, a qual custo?

Amsterdã quer reduzir a 20 milhões o número de turistas

Tendo sido pioneira na luta contra o overturismo desde 2016, quando anunciou que nada mais devia ser feito para atrair visitantes, Amsterdã voltou a lembrar que a prioridade da cidade era de ser um espaço para os moradores viver e trabalhar. As decisões anteriores – regulação dos cruzeiros, restrição a compra de maconha, projetos de mudança do distrito vermelho, limitação das autorizações de abertura de novos hotéis – não impedindo a volta de turistas e os conflitos com os moradores, a prefeitura decidiu ser mais rigorosa. Foi assim definido um teto anual de 20 milhões de visitantes (abaixo das 20,665 milhões registradas em 2023, e muita abaixo das 25,2 milhões atingidos em 2019, antes da pandemia).

O abertura do Rosewood não deveria ser impactada pelas novas regras hoteleiras

Para atingir esse objetivo decidido com os proprios moradores, foram anunciadas novas medidas referente a hotelaria, e aos cruzeiros fluviais. A construção  de novos hotéis estará agora proibida, a não ser que seja em substituição ao fechamento de um hotel antigo, o numero de quartos não podendo ser aumentado. As autorizações serão submetidas a melhoria de qualidade, de modernidade e de sustentabilidade do estabelecimento, e a preferencia será dada à localizações na periferia. Para não prejudicar os projetos já adiantados – 26 estão em fase de aprovação ou de realização, incluindo um muito esperado Rosewood de 134 quartos -, eles poderão por enquanto ser finalizados.

A prefeitura vai reduzir de 50% o número de cruzeiros fluviais

Varias medidas tinham sido tomadas o ano passado para proibir o acesso dos cruzeiros marítimos ao terminal do centro da cidade. Mas frente ao sucesso dos cruzeiros fluviais, um turismo que seduz cada vez mais os consumidores e que cresceu de forma excepcional nos últimos 12 anos, passando de 1.327 barcos em 2011 para 2.125 no ano passado, mais de 540.000 cruzeiristas que obrigaram a prefeitura a tomar novas providencias. Amsterdã vai assim reduzir pela metade o número de barcos autorizados a atracar. Frente as reclamações dos profissionais do setor que denunciaram as perdas financeiras, essa redução será realizada de forma progressiva até chegar ao objetivo de 1.150 em 2028.

A vontade da prefeitura de reduzir o overturismo para melhorar a qualidade de vida dos moradores e dos proprios visitantes vai também levar a outras ações. Mudanças importantes devem ser anunciadas sobre o projeto de deslocalização do bairro da Luz Vermelha e as campanhas promocionais para afastar os turistas indesejáveis podem ser reiniciadas. Lançadas em 2023 no mercado inglês, essas campanhas não tiveram os resultados esperados. Focando jovens ingleses de 18 a 35 anos atraídos pelas bebidas, a droga e o sexo, com a clara mensagem Stay Away ,  as 3,3 milhões de leituras não tiveram o impacto esperado. A campanha deve então ser reiniciada e mesmo reforçada.

A imagem jovem e festeira de Amsterdã será atingida pela nova politica

Aparentemente popular, essa luta pioneira contre o overturismo deixa porem varias perguntas em aberto. A primeira é o seu impacto econômico. Baixar de 25 a 20 milhões de visitantes vai representar para Amsterdã um prejuízo de quase um bilhão de euros, bloquear novos hotéis e reduzir os cruzeiros vai levar a uma perda de milhares de empregos. A imagem jovem, festiva, democrática e livre desta “Veneza do Norte” sera também impactada alem dos viajantes indesejáveis focados na campanha.  A indispensável luta contre o overturismo deve ainda achar novas ideias para combinar sustentabilidade e desenvolvimento, no respeito e no acesso de todos aos grandes valores do turismo.

Jean Philippe Pérol

Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue” do autor na revista profissional on line Mercado e Eventos

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