Depois da crise, a resiliência e o novo impulso do turismo religioso

 

A Basílica de Santa Maria de Guadalupe recebe até 20 milhões de peregrinos

O turismo religioso não foi poupado pela crise. Até na Terra Santa: enquanto o ministro israelense do turismo esperava superar em 2020 o recorde de 4,6 milhões de turistas do ano anterior, pela primeira vez em 1600 anos,  nenhum peregrino foi rezar em Jerusalém. Os outros grandes destinos de peregrinação, Guadalupe no México, Lourdes na França, Fátima no Portugal ou Santiago na Espanha perderam a quase totalidade dos seus 3, 4, 6 ou 10 milhões de visitantes. A Inglaterra, que tinha preparado uma série de grandes eventos para comemorar os 850 anos da morte de Thomas Becket, o arcebispo assassinado em Canterbury, teve que cancelar toda a programação.

Os caminhos de Santiago, antiga caminhada agora nas novas tendências

Mas o mais antigo turismo do mundo aproveitou também a crise para mostrar a sua resiliência, e uma pesquisa feita durante a pandemia junto aos peregrinos dos Caminhos de Santiago de Compostela mostrou que as dificuldades e as restrições podiam não somente não desanimar alguns viajantes, mas ainda podiam trazer novos motivos para iniciar uma caminhada. Além da espiritualidade e da descoberta de um patrimônio cultural, as peregrinações atraíam agora também pela conexão com a natureza, o respeito ao meio ambiente, a autenticidade dos encontros, o bem estar emocional, e o poder transformador do espaço pessoal criado na lentidão da caminhada. 

No Reek de Croagh Patrick, a maior peregrinação da Irlanda

Os santuários também souberam encontrar soluções criativas para responder as perturbações geradas pela pandemia. Na Irlanda, a tradicional peregrinação do último domingo de Julho, o Reek de Croagh Patrick, foi agora estendida ao mês inteiro, limitando assim as aglomerações e os riscos sanitários. Em Santiago de Compostela, foi concedido um privilegio papal para esticar o Xacobeo (O Ano Santo, assim chamado quando o 25 de Julho, dia da abertura, cai um domingo), dando assim aos peregrinos mais tempo para gozar do privilegio de entrar na magnífica Catedral através da Porta Santa antes que ela esteja murada para os próximos onze anos.

A fé e a espiritualidade das procissões noturnas de Lourdes

O turismo religioso entrou também com força na era digital, criando eventos virtuais nas principais plataforma de mídias sociais. Nossa Senhora de Lourdes lançou Lourdes United, a sua primeira peregrinação digital. Enquanto o santuário só tinha até então uma página en francês na Facebook, abriu mais quatro em inglês, espanhol, italiano e português. De seis milhões de peregrinos físicos até 2018, conseguiu pular a 80 milhões de e-peregrinos durante a espetacular  peregrinação virtual do dia 16 de Julho de  2020.

Em Orcival (Auvergne), um exemplo de peregrinação de proximidade

Muitos santuários aproveitaram para lançar novas ideias, e relançar um turismo religioso combinado com as novas exigências dos viajantes, como procura por natureza, bem estar e espiritualidade. Três tendências se destacaram:

  • as micro-peregrinações: longos itinerários tradicionais oferecem alternativas mais acessíveis. Em vez de 40 quilômetros, a Cwmhir Heritage Trust Abbaye do Pais de Gales abriu um caminho novo de somente a metade da distância. E para seu milenário, a Catedral cathédrale Saint–Edmundsbury anunciou vários itinerários de um até 30 quilômetros como opção aos 120 quilômetros da marcha anglicana inaugurada em 1539.
  • as peregrinações locais são estimuladas pelo avanço do turismo de proximidade. Nos Estados Unidos, várias revistas católicas deram um novo impulso às visitas do patrimônio religioso norte americano. Na Austrália, o magazine  The Catholic Weekly promoveu uma seleção de sete peregrinações regionais.
  • a personalização dos itinerários chegou ao turismo religioso. O site do  British Pilgrimage Trust oferece um guia para ajudar a desenhar uma peregrinação pessoal, dando também ao viajante a opção de escolher o seu meio de transporte: a pé, de carro, de bicicleta ou a cavalo.

Este artigo foi adaptado de dois artigos originais de Siham Jamaa na revista profissional on-line Reseau de veille en tourisme, Chaire de tourisme Transat  

ELLE quer inventar uma nova hotelaria

O Maison ELLE em Paris @Elle Hospitality

Nascido na França em 1945, logo depois da segunda guerra, o magazine feminino ELLE sempre escolheu uma linha inovadora, moderna, seguindo ou até antecipando as ambições, os desejos e até os sonhos das mulheres. Foi um sucesso internacional, chegou a ter nos primeiros anos do século XXI 46 edições e 20 milhões de leitoras, incluindo uma edição brasileira muito conceituada. A crise global da imprensa escrita, reduziu algumas ambições internacionais – os magazines foram vendidos e a ELLE Brasil teve que virar trimestral-, mas o grupo Lagardère, dono da marca, decidiu aproveitar para investir na virada digital e na diversificação das atividades.

Dono da marca ELLE, o grupo Lagardère decidiu se diversificar

A marca ELLE já tinha um magazine de decoração, ELLE Decor, oferecia vários produtos e serviços nos setores de moda, beleza e acessorios, e experimentou com sucesso na Ásia a abertura de cafés, Spas e salões de cabeleireiros. Na semana passada, fez mais um passo com o anuncio em Paris de um projeto inovador, o ELLE Hospitality. Essa primeira aventura hoteleira  do grupo Lagardère, apoiada por vários grandes parceiros internacionais, vai ser declinada com dois típos de estabelecimentos: a bandeira Maison ELLE, pequenos hotéis 4 estrelas no coração de grandes centros urbanos, e a ELLE Hôtel, hotéis de alto padrão oferecendo evasão e descoberta.

O DNA da marca quer incluir a valorização da mulher e a cultura local

A abertura da primeira Maison ELLE está prevista para o mês de Setembro em Paris. Localizado perto do Arc de Triomphe o pioneiro da marca terá 25 quartos e uma suite. Com uma decoração valorizando moda e tecidos, uns moveis desenhados e fabricados na França, o hotel quer ser emblemático da arte de viver da mulher “parisienne”. Um salão de chá, um Beauty bar, um SPA, bem como uma “concept store” oferecendo produtos originais de associações de mulheres artesãs, devem ajudar a criar um ambiente feminino, tranquilo e aconchegante. A Maison ELLE quer também ser aberta a encontros e eventos celebrando a mulher e valorizando a arte e cultura local.

ELLE Hotel deve abrir em Jalisco seu primeiro establecimento

O primeiro ELLE Hotel, segunda marca da ELLE Hospitality, será inaugurado na primavera de 2023 em Jalisco no México. Combinando uma oferta de alto luxo e um forte consciência ecológica, este projeto será localizado num trecho intocado da costa do Pacífico do México. O espírito inovador da ELLE será refletido com uma hospitalidade de alto nível, e aproveitará o talento local de mulheres designers e artesãs para criar acomodações luxuosas inspiradas pelo ambiente natural e cultural da região. As conexões emocionais assim estabelecidas dentro da comunidade deverão ser para o ELLE Hotel um fator importante de diferenciação da marca.

Constance Benqué, CEO da Elle, confia na retomada do turismo

Para o sucesso desses projetos, a ELLE Hospitality escolheu três parceiros hoteleiros, todos especialistas de localizações únicas e de conceitos inovadores em design, arquitetura e experiências para os viajantes. Foram apresentados a ACTUR no Mexico, uma imobiliária que também fornece uma plataforma para hospitalidade de lifestyle, a STUDIO V na Europa, o associado do grupo Valotel com foco no design e desenvolvimento de espaços diferenciados, e a Whitney Robinson International no Oriente Médio, empresa colaborando com nomes prestigiosos em arquitetura, arte, design de interiores e moda. O grupo Lagardère lembrou enfim que as ambições da ELLE Hospitality incluirão também a China, os Estados Unidos e o Brasil.

Esse artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original da revista francesa profissional on-line Mister Travel

Agentes de viagens esperam recuperação mais lenta

 

Os agentes de viagens estão se mostrando mais pessimistas

A quinta rodada da pesquisa TERMÔMETRO DO TURISMO, uma parceria entre o MERCADO & EVENTOS e a CAP AMAZON, mostra que há uma incerteza muito grande por parte dos agentes de viagens em relação a recuperação do setor. Entre os respondentes, 32% acreditam que a retomada das viagens ocorrerá apenas no segundo semestre de 2021; 27% apostam no segundo trimestre e 26% acredita que isso ocorrerá apenas em 2022. Para 9% a retomada teve início em 2020 e os outros 6% disseram que a retomada ocorre neste primeiro trimestre. Os dados foram colhidos em fevereiro e os resultados englobam um universo de mais de 300 agências de todo o Brasil. Do total de empresas que responderam, 85% têm menos de dez funcionários; outros 9% têm de dez a 50 e os outros 6% contam com mais de 50 colaboradores. 76% são especializados em lazer, 12% corporativo e 12 em outros nichos específicos.

Gráfico 1

“Na última pesquisa, que foi feita entre novembro e dezembro, o mercado estava começando a esquentar e os agentes já estavam caminhando com clientes voltando a viajar. Desta vez, sentimos que a conjuntura é muito diferente, com esta nova onda da Covid-19 muitos países se fecharam e as restrições são enormes. Agora não é só não poder sair, também não tem muito onde ir. É um pessimismo que vai muito além do Turismo e atinge todos os setores”, destacou Jean-Phillipe Pérol, diretor da Cap Amazon. Para o diretor de Redação do M&E, Anderson Masetto, a situação é parecida com o início da pandemia, quando as principais notícias eram as de fechamento de fronteiras, hotéis e atrativos. “Estamos vendo notícias iguais no início da pandemia. Tudo isso começou com o surgimento das novas variantes, primeiro a do Reino Unido e depois a do Brasil. As fronteiras começara ser fechadas e temos hoje poucos países que aceitam receber pessoas que estiveram no Brasil. O fato é que as pessoas estão cansadas, mas enquanto a situação não estiver minimamente controladas, as viagens estarão cada vez mais restritas, infelizmente. Mas por outro lado, a campanha de vacinação já começou e vemos uma porta de saída”, afirmou.

Gráfico 4

O pessimismo se reflete também na previsão de faturamento. Embora o maior percentual (36%) acredite que será um pouco maior do que no ano passado, é necessário lembrar que a comparação é com 2020, quando as vendas despencaram. Outros 26% vêem um faturamento muito abaixo e 15% um pouco abaixo. Para 14% será igual e 6% um pouco acima. Faturamento menor também leva as agências a buscarem uma redução de custos. Gráfico 5O número de empresas operando em home office aumentou em relação a última pesquisa de 68% para 72%. 25% estão operando normalmente, enquanto 3% estão fechadas. “Mesmo antes da pandemia, esta era uma tendência observada em outros países e que a gente já esperava que fosse acontecer aqui. A pandemia acelerou esta tendência”, ressaltou Masetto. “Também acredito que a crise está acelerando fenômenos que já estavam a caminho. O crescimento dos chamados home agents é um fenômeno importante nos Estados Unidos e aqui é uma adaptação a evolução do mercado, não apenas por conta da pandemia”, complementou Pérol.

Gráfico 3

A pesquisa abordou ainda as tendências. Os agentes foram perguntados para quais destinos acreditam que a recuperação será mais rápida. O campeão, novamente, foi o Nordeste, com 65% das respostas, seguido do Sul com 16%, Sudeste com 14%, Centro Oeste com 3% e Norte com 2%.

Os destinos caribenhos – incluindo o México- seguem líderes das preferências

No caso do internacional, Caribe, incluindo o México, está na frente com 30%. Em seguida vem América do Sul, com 24%; Europa, com 23%; Europa, com 23%; e América do Norte em forte alta com 13%. Os demais destinos somaram 10%. O primeiro segmento a retomar, para as agências pesquisadas são o lazer com 44%, visita a familiares e amigos com 34%, corporativo com 15%, cruzeiros com 4%, e feiras e MICE, com 2%.

Novas tendências vão impactar a retomada

Na opinião das agências consultadas, a retomada é mais uma vez foi recuada, em média, para o segundo semestre deste ano, um pessimismo marcante em relação a pesquisa anterior. Por outro lado, ainda impactada pelo fechamento de fronteiras, a procura de destinos favorece o doméstico. “O pessimismo é também ligado ao fato que as os setores mais “agenciados” (corporativo, cruzeiros e internacional) não estão dando sinais significativos de saída da crise. Além disso, a retomada do doméstico é mais difícil de ser captada pelos agentes”, finalizou Pérol.

Veja aqui a apresentação completa dos resultados:

Karisma hotéis e resorts, luxo e inovação no Mar do Caribe

No El Dorado Maroma, encontram-se os Palafitos, os primeiros bangalôs sobre as águas do Caribe

Impressionado pelo interesse dos turistas brasileiros para os destinos caribenhos, o grupo hoteleiro euro-colombiano Karisma decidiu investir no Brasil, escolhendo a agência boutique Cap Amazon para desenvolver um ambicioso plano de promoção. Com forte atuação na Riviera Maia, Colômbia, Jamaica e República Dominicana,  a Karisma gerencia uma coleção de hotéis e resorts de destaque, todos premiados com 4 ou 5 estrelas, com serviços claramente segmentados para clientelas específicas. As vinte propriedades únicas são  classificadas em sete marcas, cada uma com características próprias: El Dorado Spa & Resorts; Azul Beach Resorts; Karisma Villas; Generations Resorts; Allure Hotels; Hidden Beach Resort e Nickelodeon Hotels & Resorts.

Luxo e privacidade na praia do Azul Negril – Jamaica

Empresa jovem – o seu primeiro hotel foi incorporado em 2000-, a Karisma faz questão de ser uma rede pioneira com práticas inovadoras, várias delas iniciadas na Riviera Maia. Foi assim com o Gourmet Inclusive que redefiniu todo o conceito “all inclusive” com toque de luxo e qualidade gastronômica, serviço “a la carte” a altura dos seus 5 estrelas, foi assim com as swim-up suítes (cujos terraços abrigam piscinas privativas), ou com a ousada iniciativa do primeiro resort naturista localizado na Riviera Maia – o Hidden Beach.  Através de parcerias estratégicas, o grupo inovou também trazendo a experiência Nickelodeon para a marca Azul Beach Resort, com a presença dos icônicos personagens do canal infantil e com decoração temática.

No Sul da Riviera Maia, a magia única de Tulum

Em 2017, Karisma deu um passo a frente, com a abertura do primeiro e único hotel com bangalôs sobre as águas no Caribe, o  Palafitos, localizado na belíssima praia de Maroma, entre Cancún e Playa del Carmen, a uma hora do sitio mágico de Tulum. Interligados com o resort El Dorado Maroma, as trinta suites esbanjam luxo e inovações: area de 75 metros com terraço privativo, piscina exclusiva de borda infinita, jacuzzi, pisos de cristal, chuveiros externo “águas do amor” e mordomo 24 horas. Um restaurante “Haute Cuisine” oferece café da manha, almoço e jantar a la carte, mas quem fica no mínimo cinco noites pode também aproveitar um jantar degustação privativo servido pelo próprio chefe na intimidade do seu bangalô.

Frente a Fortaleza de Cartagena, a piscina do Allure Canela

Karisma pretende expandir a sua rede e abrir novas propriedades no México, nas ilhas do Caribe, na Europa, e na América do Sul. Alem de acreditar no Brasil – que oferece para os destinos vizinhos do Caribe da América do Sul um potencial único de novos viajantes-, a empresa quer também participar da expansão do turismo domestico no Brasil. Vendo nas belezas naturais dos  7.400 quilômetros de praias do litoral brasileiro imensas perspectivas de desenvolvimento, a Karisma está aberta a novos investimentos. Não seria então uma surpresa de ver uma das suas marcas inaugurar um resort no Brasil num futuro próximo.

A difícil mas bem sucedida combinação da gastronomia com o all inclusive

Concorde da Air France. Soy loco por ti, America!

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Na chegada do voo inaugural Paris México, traslados de carruagem para Gilbert Pérol e os convidados da Air France

Para os engenheiros da empresa francesa Sud Aviation, os voos supersônicos teriam sido uma historia bem europeia, com a então chamada “Super Caravelle” percorrendo trechos de medio alcance a uma velocidade acima do som. De Gaulle; vamos construir o ConcordeNo dia 29 de Novembro 1962, o casamento com a construtora inglesa BAC levou a decisão que o novo avião tinha que chegar até a América, e os ingleses aceitaram a sugestão do De Gaulle, de mudar o nome para Concorde – com um controvertido “e” no fim para guardar um jeito afrancesado.

CP CONCORDE RIO

Os americanos foram mais difíceis de convencer que os ingleses, e quando chegaram em 1975 os primeiros aviões, tanto da British Airways que o da Air France,  não tinham autorização para pousar em Nova Iorque. E enquanto os ingleses seguiram para o Oriente, de Bahrein a Singapura, a Air France decidiu honrar a sua gloriosa historia latino-americana. concorde ccs 1981Depois de Paris-Dakar-Rio (por pouco um Paris Recife Rio) no dia 21 de Janeiro 1976, foi assim abertas a rotas Paris-Santa Maria-Caracas no dia 9 de Abril do mesmo ano, uma decisão mais política que económica: os estudos de mercado assinalavam que a ocupação não passaria de 36%, uma estimativa que foi (infelizmente) perfeita. Se o voo era muito deficitário e fechou no dia primeiro de Abril de 1982, foi nessa rota que o Concorde quebrou os recordes dos seus voos mais longos. Dois deles (um programado, o outro por acaso) conseguiram fazer a ligação direta, seja  7780 km em 4 horas e 19 minutos, sem parar nos Açores.AF PUBLICIDADE CCSDepois da abertura de Nova Iorque em maio de 1976, a América Latina foi mais uma vez o destino final de uma rota do Concorde, com um voo Paris-Washington-México. Foi inaugurado no dia 20 de Setembro 1978,  amadrinhado pela então primeira dama Dona Carmen Romano de López Portillo. braniff2México ficava a somente 7 horas de Paris em vez de 12 horas e 20 minutos nos voos subsônicos. Em Março de 1981 Washington foi substituído por Nova Iorque, tanto para Dallas que para México, mas a crise económica levou o ano seguinte ao fechamento das duas rotas. 

As Américas foram sem dúvidas os destinos preferidos dos Concorde da Air France, não somente com um quase monopólio dos voos regulares (seis num total de sete), mas com muitas outras cidades recebendo voos excepcionais, GISCARD NO AEROPORTO DE MANAUStanto charters comerciais que fretados para viagens governamentais. Foi assim que o Concorde pousou em São Paulo (Viracopos) em 1971 numa viagem do então ministro francês da fazenda, Giscard d’Estaing, que voltou em outubro 1979 no Brasil, chegando de novo no supersónico mas voltando de Manaus num voo regular. Em 1975 pousou em Montreal, numa homenagem a inauguração do novo aeroporto de Mirabel. E em 1976 uma viagem presidencial o levou a Pointe-a-Pitre, Saint Martin, Nova Orleans, e Houston. Concorde em Foz de IguaçuVindo para Rio-92, o Presidente da França Mitterrand realizou o maior roteiro feito pelo Concorde nas Américas: Brasília, Rio, São Paulo, Recife, Bogotá e finalmente Cartagena. Os voos fretados abriram também mais de vinte escalas no continente: de Las Vegas a Acapulco ou San Juan,  de Iguaçu a remota Ilha de Páscoa! E se o Concorde da Air France parou de pousar nas Américas em novembro de 2003, a legenda que a Air France escolheu de escrever com ele no Novo Mundo  vai continuar ainda por muito tempo!

Jean-Philippe Pérol

Giscard d'Estaing chegando de Concorde em Viracopos

Giscard d’Estaing chegando de Concorde em Viracopos

Mirabel

Da Copa para os Jogos, lucros e lições para o turismo brasileiro !

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Segundo o jornal l’Equipe, a Copa 2014 mereceu o título de Copa mais bonita da história, homenagem merecida de uma mídia que chegou a ser muito negativa mas soube reconhecer o sucesso do Brasil. Mag_1_20140712_1669_Page001No embalo do indiscutível impacto positivo sobre a economia das grandes cidades sede, os responsáveis do turismo chegam a anunciar números impressionantes para economia do setor para qual o evento teria gerado um milhão de turistas internacionais ou três bilhões de dólares de receitas . Talvez ainda seja cedo para tirar todas as conclusões sobre o impacto global da Copa, mas algumas tendências e lições confiáveis  podem ser tiradas dos primeiros resultados, para o turismo internacional tanto receptivo que  exportativo.

 Um milhão de turistas internacionais chegaram no Brasil em junho e julho, seja 35% a mais que o ano passado. Mas a Copa só durou um mês, com 530.000 chegadas, das quais  70% eram ligadas ao evento. Um total de 360.000 turistas “Copa” confirmados pelos 840.000 ingressos  colocados a disposição pela FIFA  numa média de 2,4 jogos por torcedor. fotoPode parecer decepcionante para alguns, mas a experiência das Copas e dos Jogos anteriores, assim que o forte impacto negativo sobre os turistas afugentados pelos grandes eventos, seus preços e suas multidões (uma queda estimada em mais de 30%), mostram que os números são satisfatórios. Serão mais satisfatórios ainda a médio prazo pelos investimentos em infraestruturas e pela extraordinária visibilidade positiva que o Brasil ganhou com o sucesso da organização ” encantadora” e “maravilhosa” do segundo maior evento do Planeta. Se os crescimentos observados em outros mercados se verificaram, pode-se esperar, assim que anunciou a Embratur, passar dos 10 milhões de visitantes antes do fim da década. Os números da Copa mostraram também que os países vizinhos, não somente Argentina mas também Chile, Colômbia, Peru e México, que representaram mas de 50% dos clientes “Copa”, ainda tem um potencial excepcional, especialmente se a oferta de produtos se diversificar melhor tanto no segmento de luxo que nos segmentos populares.

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O bom desempenho do turismo receptivo, e os 500 milhões de novas receitas internacionais  anunciadas, não se encontraram infelizmente no turismo emissivo. O fortíssimo impacto da Copa sobre as viagens dos brasileiros não foi com certeza bastante antecipada. Nem no turismo doméstico que só ficou estável, as viagens de torcedores e os preços tardiamente reajustados afugentando os turistas tradicionais, com queda de 20 à 40% das vendas das operadoras. Nem no turismo internacional no qual as altas de preços das passagens, a prioridade dada pelas companhias aéreas a visitantes estrangeiros, a vontade de viver a Copa com amigos e familiares, levaram a uma queda de mais de 10%  das viagens. téléchargementEssa decepção, prolongada nos meses de julho e agosto, se deve também a retração da economia brasileira e as incertezas eleitorais. Mas ficou claro que produtos e promoções diferenciadas deverão ser imaginadas para que os próximos grandes eventos sejam no futuro um sucesso para todos os atores do turismo no Brasil, pela satisfação de todos os viajantes, brasileiros ou estrangeiros, turistas ou torcedores.

Jean-Philippe Pérol

Concorde: há quarenta anos, Paris Rio de supersônico!

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Enquanto vivemos  no Brasil a febre da chegada próxima do Airbus 380, não da para não se lembrar que há quarenta anos atrás começava no Brasil uma outra aventura de avião pioneiro da tecnologia francesa: o Concorde. Posou no Rio de Janeiro pela primeira vez em maio de 1974, ainda com as cores da Aerospatiale, a construtora naquela época vanguardista que aproveitará a experiência adquirida para investir justamente no projeto Airbusphoto pro JPP0003Os primeiros voos eram experimentais e levavam so 32 passageiros ja que a metade da cabina era ocupada por computadores e instrumentos de controle. Acho que foram cinco ou seis voos, com políticos, homens de negócios, autoridades e jornalistas brigando para ser parte dos “happy few” que foram os primeiros viajantes a ligar o Rio e Paris em menos de seis horas.

Nessa época jovem estagiário na Jet Tours, tive a oportunidade de integrar a equipe que recebia os convidados franceses, organizando estadias e  passeios. photo pro JPP0001Como recusava qualquer pagamento para ser parte de tamanho aventura, o diretor da Aerospatiale me agradou com um convite para um desses voos. Foi assim que no dia 31 de Maio eu sai as sete da manha do Rio de Janeiro no Concorde, para chegar em Paris as sete da noite, jantar na casa do meu pai (era o aniversario dele) e voltar logo depois num avião da Varig que saia as onze da noite. photo pro JPP0004As sete da manha, vinte e quatro horas cravadas depois de ter saído, estava de volta no Galeão, explicando a um agente da policia federal que não tinha nenhum erro nos carimbos no meu passaporte, que era possível ir e voltar de Paris no mesmo dia pela asas do Concorde, e que o futuro da aviação era mesmo o supersônico.

Sobre o futuro, eu estava errado. Claro que no vinte meses depois, dia 21 de janeiro de 1976, começaram os voos regular da Air France entre Rio e Paris, duas vezes por semana, em cinco horas e cinquenta com parada em Dacar. Mas se voar a Mach 2,01 (ver foto do lado) era uma experiência fabulosa, se o serviço a bordo era do mas alto padrão, o sucesso comercial era quase impossível pelo menos por duas razões: um preço altíssimo (20% acima da Primeira Classe), e um conforto muito duvidoso especialmente no voo Rio Paris. De noite era difícil dormir nas cadeiras estreitas, e a descida obrigatória em Dacar era complicada… Com 60% de ocupação no Paris Rio mas somente 40 no Rio Paris, sem poder chegar até São Paulo, o voo acabou parando em 1983. Concorde continuará voando ainda vinte anos para Nova Iorque, mas nunca superará a trauma do  terrível acidente de 2000 e acabará sua carreira no dia 31 de Maio de 2003.

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Da aventura do Concorde no Brasil sobrou a demonstração do pioneirismo da Air France, a afirmação do compromisso brasileiro com os projetos de futuro, e , para todos aqueles que tiveram a oportunidade de voar a bordo desse lindo pássaro, a satisfação de ter vivido uma experiência tecnológica que nem os próprios filhos nem provavelmente as gerações futuras poderão viver. O tempo do Concorde passou, mas foi talvez  uma etapa imperdível para chegar ao futuro necessário, o do Airbus380…

Jean-Philippe Pérol

PS: Na América latina, o Concorde voou também para Caracas e México. Nesse última cidade, o voo inaugural contou com traslados de carruagens … saudade!