Megalópoles ou lugares exclusivos, surpresas para quem quer viajar falando francês

Paris, agora segunda cidade mundial onde se fala francês

Falado por  mais de 320 milhões de pessoas, o francês é o quinto idioma mais falado no mundo, o segundo na Europa e o quarto mais utilizado na Internet. Uma longa História, uma cultura outrora universal, um extenso passado colonial  e uma pequena emigração explicam que 93 milhões de jovens estudam em francês e que 50 milhões escolham de aprender a “língua de Molière” no colégio ou na universidade. 59 países são membros plenos da Organização internacional da Francofonia, dos quais 29 utilizam o francês como idioma oficial. E algumas projeções antecipam que o dinamismo demográfico africano deve levar a mais de um bilhão de francófonos antes do final do século.

Nas margens do Rio Congo, a maior cidade francófona do mundo

O crescimento do francês na África explica também o novo mapa das grandes aglomerações urbanas aonde se fala e se vive em francês. Se Paris era até alguns anos atrás a maior cidade francófona do mundo, a cidade luz perdeu a posição há cinco ano para Kinshasa. Com mais de 13 milhões de moradores, capital da República democrática do Congo onde 51% dos 90 milhões de habitantes falam francês diariamente, a cidade fundada em 1881 pelos colonizadores belgas consta agora em primeiro lugar deste ranking segundo as estatísticas da  Organização internacional da Francofonia.

Em Casablanca, a força da cultura marroquina combina com a francofonia

Kinshasa não é por sinal a única cidade da África que consta nesse ranking das dez maiores cidades francófonas  do mundo. Além de Casablanca e de Alger, na África do Norte, constam também nesta lista cinco capitais de países da África ao Sul do Saara:  Abidjan, Yaoundé, Bamako, Uagadugu e Dakar. A Africa já é o primeiro continente onde se fala francês com 47% do total, frente a Europa (incluindo então a própria França) com 46%. Ainda segundo a Organização internacional da francofonia, a América do Norte -principalmente o Quebec e a Luisiana- representa 4 %, a América latina e o Caribe – com Haiti, o Caribe francês e a vizinha Guiana- 2 %, e a Ásia Oceania – incluindo as Ilhas de Tahiti- 1 %.

Montreal, capital do francês do Novo Mundo

Assim as dez maiores megalópoles francófonas  são hoje as seguintes:

  • 1. Kinshassa (República democrática do Congo)
  • 2. Paris (França)
  • 3. Abidjan (Costa de Marfim)
  • 4. Yaoundé (Camarões)
  • 5. Casablanca (Marrocos)
  • 6. Bamako (Mali)
  • 7. Uagadugu (Burquina Fasso)
  • 8. Alger (Algéria)
  • 9. Dakar (Senegal)
  • 10. Montreal (Quebec, Canadá)

Terceira megalópole francófona, Abidjan surpreende pelo dinamismo

Para os 220.000 brasileiros que falam francês, e todos aqueles que amam a França, são assim mais destinos de viagens onde o intercâmbio com os moradores e o mergulho na cultura local viram ocasiões de experiências mais ricas e interessantes, com mais opções que se pode imaginar. Aos destinos tradicionais como Paris, Genebra, Bruxelas ou Montreal já se juntaram Nova Orleans, Casablanca, o Caribe francês ou as Ilhas Seychelles. A Tunísia ou o Benim atraiam agora seus primeiros brasileiros, e devemos ver amanhã muitas cidades africanas apostar em fluxos de turistas interessados em descobrir os novos rumos da francofonia do século XXI.

Jean-Philippe Pérol

Em Tunis, a catedral ainda conta a história do protetorado

A renovação urbana, grande vencedora da pandemia?

No coração de Manhattan, a 42nd é agora deserta

Apresentado um relatório sobre o crise do Covid nos centros urbanos, o secretário geral da ONU, Antonio Guterres, lembrou que as grandes cidades são as mais atingidas, concentrando até 90% dos casos. Os confinamentos pararam com o coração das suas atividades. Com os trabalhadores, os visitantes, os estudantes e até os moradores cada vez mais raros nas ruas, comércios e restaurantes estão sofrendo com as indispensáveis precauções sanitárias, ou são obrigados a fechar pelo menos provisoriamente. Em muitos países,  ajudas governamentais ainda estão evitando fechamentos definitivos, mas a retomada será muito difícil.

A crise acelerou a popularidade das ciclovias

Muitas prefeituras tentaram com sucesso de adaptar a utilização do seu espaço público as necessidades da luta contre a epidemia, investindo em transporte mais seguros com a aceleração de projetos antigos ou o lançamento de novas iniciativas : ampliação das áreas pedestres e das ciclovias, construção de pontos de abastecimentos de veículos elétricos, aberturas de terraços nas calçadas e nas praças públicas. Em uma conjuntura normal, essas idéias encontram fortes resistências mas com a crise foram facilitados pela urgência de ajudar o acesso seguro aos comércios locais, elos chaves da vitalidade das ruas dos centros urbanos.

O centro histórico de Québec enfrenta a queda do turismo

Além do comércio e dos restaurantes, as prefeituras devem também agir para ajudar o setor hoteleiro dos centros urbanos que estão em situação crítica. Além de muitos hotéis fechados, as taxas de ocupação de 2020 estão raramente ultrapassando 40% nos dias de pique, e caindo a menos de 20% em destinos acostumados a receber turistas internacionais – 18% por exemplo em Montreal. 2021 começou pior ainda, e mesmo Paris, primeira cidade turística mundial, estava em janeiro com uma taxa oscilando entre 34% para os hotéis mais populares, até 7% para os 5 estrelas que são as maiores fontes de visitantes para as lojas e os restaurantes das ruas comerciais.

Montreal é a cidade mais verde do Canada

No Canadá, os profissionais pensam que a crise vai acelerar algumas tendências do urbanismo que já preexistiam: construções mais sustentáveis, desenvolvimento da agricultura urbana, ampliação dos parques e das áreas arborizadas, apoio a todos os tipos de transportes a propulsão elétrica. Um grupo de 50 especialistas e personalidades assinaram uma Declaração 2020 para a resiliência das cidades canadenses. Eles estão pedindo uma economia verde, limpa e com poucas emissões de carbone, listando 20 medidas para assegurar uma urbanização responsável, acelerar a “decarbonização” e aderir de vez ao crescimento sustentável.

Paris projetando um futuro dinâmico, acolhedor e verde

A agonia dos centros urbanos não começou com a pandemia. Os shopping centers das periferias bem como o e-comércio já estão esvaziando as ruas há anos. A crise do Covid acelerou o movimento mas provocou também uma maior conscientização e muitas vezes uma forte mobilização dos profissionais. No Canadá, foi publicado o relatório Devolvendo a rua principal que apresenta ações para dinamizar o coração das grandes cidades.  No Québec, uma outra iniciativa junta apresentações de projetos de cidades com centros renovados, dinâmicos, motores da  economia turística, onde cultura e gastronomia são autênticos e vibrantes, onde os moradores são felizes, orgulhosos de viver e de receber os turistas.

O Québec investindo em “rues conviviales” para renovar os centros urbanos

Este artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original de Claudine Barry na revista profissional on-line Reseau de veille en tourisme, Chaire de tourisme Transat  

Sem seu fundador, um novo futuro para a magia do Cirque du Soleil?

Zumanity foi visto por 7 milhões de espectadores em Nova Iorque e Las Vegas

 Mesmo com um apoio emergencial do governo do Quebec de USD 200 milhões, e um acordo dos principais acionistas americanos, chineses e quebequenses, o Cirque du Soleil beirou esse mês sua falência ou sua ida para leilão. Sem receitas desde o início da crise do Covid que levou a cancelar todos os seus espetáculos no mundo inteiro, a empresa fundada pelo emblemático Guy Laliberté, que revolucionou e até recriou o circo contemporâneo, já acumulou esse ano quase um bilhão de USD de dívidas, e despediu 3500 colaboradores. Sem nenhuma previsão de reinício das suas atividades, até o famosíssimo Zumanity de Las Vegas, já aplaudido há 17 anos por mais de 7 milhões de espectadores, foi definitivamente encerrado.

O famoso sapato de palhaço frente a sede

Desde o início da crise, vários cenários de recuperação do Cirque du Soleil já foram ensaiados, um deles liderado pelo proprio Laliberté que se mostrava disposto a voltar na empresa que ele fundou há mais de 36 anos mas que tinha deixado definitivamente em janeiro desse ano quando tinha vendido as suas últimas ações. Apoiado pelo governo do Quebec, esse acordo ia ser um garantia da permanência da sede do Cirque du Soleil em Montreal bem como da recontratação dos milhares de funcionários demitidos, manteria os quebequenses no comando e permitiria que o Guy Laliberté ajudasse a encontrar novidades criativas para os espetáculos do mundo pós-crise. Com a chegada no capital de um novo ator, o fundo Catalyst de Toronto, foi escolhido um novo caminho.

O Quebec apoio a tentativa de Guy Laliberté de recompra do Cirque

Anunciando a saída da recuperação judicial, os novos donos anunciaram o início de uma nova história . Quatro fundos de investimentos – Catalyst Capital de Toronto junto com os americanos  Sound Point Capital, CBAM Partners e Benefit Street Partners – estão agora controlando o conselho de administração onde somente dois quebequenses vão lembrar o passado do Cirque du Soleil. Os novos acionistas falaram que sua presença no Quebec está garantida pelo menos por cinco anos, mas  recusaram qualquer ajuda financeira do governo e o CEO  Daniel Lamarre, quis também deixar claro que Guy Laliberté, mesmo sendo um amigo pessoal, não teria mais nenhum papel na estratégia ou nas operações da empresa.

Com um dos co-presidentes do conselho e um conselheiro, a MGM deve ter um papel importante no futuro do Cirque du Soleil. Parceiro de longa data nos seus hotéis de Las Vegas, onde espetáculos como O ou Ka  geravam a metade dos lucros da empresa de Montreal, o peso pesado americano do divertimento mundial deve assim ser um dos primeiros beneficiados tanto pela prioridade na reabertura das atividades, que pelo  acesso a novos espetáculos – um ou dois segundo Daniel Lamarre- que foram anunciados para 2021. Enquanto a inauguração do já programado Sous un même ciel, que era previsto em abril em Montreal, deve ser em breve confirmado para julho.

Nos projetos do Guy Laliberté -aqui Nukutepipi-, turismo, culture e exclusividade

Se o Cirque du Soleil parece ter garantido seu futuro próximo, várias perguntas ainda deve ser respondidas. O público espera saber se os novos espetáculos vão conseguir responder com criatividade ao desgate do tempo e as profundas mudanças aparecidas durante a crise. Os quebequenses querem ter a certeza que a sede de Montreal será mantida e que  os artistas continuarão a contribuir ao excepcional ambiente de criação cultural que a cidade oferece. Os fãs da epopéia mágica escrita pelo Guy Laliberté vão torcer pelo sucesso mas também seguir os novos lances da sua empresa Lune rouge na cultura, no “entertainment” ou no turismo, as três paixões que convergiram há 36 anos para inventar o Cirque du Soleil. E esse terá que enfrentar a difícil tarefa de superar a saída do seu fundador.

Jean-Philippe Pérol

AmaLuna foi um dos sucessos do Cirque du Soleil no Brasil

 

Os pedestres, novos reis dos destinos turísticos?

A Rue Cremieux, rua de pedestres em Paris

Quando fundou, em parceria com a Air France uma agencia de receptivo onde queria mostrar sua reconhecida criatividade, Gilbert Trigano fez questão de colocar os passeios guiados a pé como alguns dos produtos bandeira da nova empresa. Era o ano de 1976, e mais uma vez, ele foi pioneiro a se lançar numa aventura que a Tourisme France International continuou durante quase trinta anos. Mesmo na época dos ônibus de turismo ou dos carros de aluguel, o  inventor do Club Med já tinha percebido que os passeios a pé eram para o visitante a melhor forma de explorar um destino, de assimilar o seu ambiente, de sentir os seus cheiros, de vibrar aos sons da sua música, de mergulhar na sua cultura e de se comunicar com os seus moradores. Quarenta anos depois, reforçada pelas exigências ambientais e a procura de exercícios físicos, a ideia seduziu muitos grandes destinos que estou desenvolvendo a sua “caminhabilidade”.

A rua Saint Paul no centro histórico de Montreal

Cada vez mais preocupadas pela sua sustentabilidade, muitas cidades estão relembrando que andar a pé é o jeito mais simples de se locomover, tanto para os moradores que para os turistas. Elas desenvolvem a sua “caminhabilidade” – termo traduzido do inglês walkability, a capacidade para um destino de facilitar  a locomoção dos pedestres. Para o trabalho, os estudos ou os lazer, andar a pé necessita segurança, distancias curtas, serviços e meio ambiente agradáveis.  O site Walk Score classifica as cidades americanas, canadenses a australianas em função dessa “walkability” (tendo também outros ranking sobre a qualidade do transito urbano e as facilidades para os ciclistas). Cada cidade recebe uma nota em função das infraestruturas ajudando os pedestres a caminhar, bem como da proximidade dos serviços e das lojas, sejam padarias, supermercados, farmácias, bancos, restaurantes, shopping e parques.

Mais de 500 cidades já assinaram a carta Walk21

Sendo 100 a nota máxima, as cidades com índice superior a 90 são consideradas os paraísos dos pedestres, aquelas com índices de 70 a 89 muito boas para caminhar. Com menos de 50, uma cidade privilegia o papel dos carros e dos transportes coletivos. Nessa classificação, Montreal conseguiu em julho desse ano chegar a 70 pontos, fruto de um longo trabalho que começou em 2006, com a Declaração dos direitos do Pedestre  (Charte du piéton). Depois de dez anos, a prefeitura lançou um  Programa de implantação de ruas para pedestres ou para usos mistos para ajudar os distritos da cidade nos seus projetos  de infraestruturas viárias, de arquitetura urbana, de arborização, de parques ou até de animações artísticas ou musicais. 45 ruas já foram assim entregas para pedestres, representando quase sete quilômetros de caminhadas (e de alegrias) para os moradores e os visitantes.

Nova Iorque amplia as áreas reservadas aos pedestres

Nos Estados Unidos, o ranking de Walkscore coloca Nova Iorque em primeiro lugar com 89,2 pontos, na frente de San Francisco (86) e de Boston (80,9). A Big Apple começou a sua transformação urbana em 2007 com a ampliação da área pedestre de Times Square. Durante o verão 2009, Broadway foi fechada para o transito, e foram construídas áreas exclusivas temporárias ou permanentes. Foi também em 2009 que foi aberto o primeiro trecho da Highline, esse viaduto abandonado pelos trens que virou uma das mais concorrida caminhada dos nova-iorquinos e dos visitantes. Outras áreas de pedestres foram instaladas na cidade, por exemplo na 23, nos arredores do edifício Flatiron, onde a Prefeitura instalou verdadeiras praças para pedestres com mesas, cadeiras e guarda-sóis. 

Os Champs Elysées só para pedestres

Em Paris, a prefeita anunciou em 2017 o projeto “Paris piétons”, uma série de medidas incluindo a assinatura da Carta Internacional Walk21. Vários projetos foram lançados: travessias do anel rodoviário, trilhas verdes aproveitando as grandes avenidas, uma grande área exclusiva para pedestres no bairro do Marais. Algumas áreas serão fechadas ao transito durante os finais de semana, outras durante alguns feriados excepcionais, incluindo os próprios Champs Elysées, ampliando experiências anteriores. Painéis com mapas especificos e sugestões de roteiros para caminhadas turísticas ajudarão visitantes e moradores a descobrir a cidade luz de forma diferente, aquela mesma que o Trigano tinha imaginado há mais de 40 anos.
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Esse artigo foi adaptado de um artigo original de Chantal Neault na revista profissional on-line Reseau de veille en tourisme, Chaire de tourisme Transat 

Turismo de aventura no coração das grandes cidades

Stand Up Paddle nos canais de Amsterdão

Se o turismo de aventura era exclusivo do campo, da serra ou da praia, ele está agora invadido os centros das grandes cidades, dando aos moradores e aos visitantes a possibilidade de descobrir esses ambientes urbanos de forma diferente. Essas experiências insólitas podem começar logo na hospedagem com as opções de camping urbano, assim por exemplo em Paris no Camping des Grands Voisins ou no Camping de Paris.  Com as grandes cidades interessadas em oferecer novas sensações, algumas atividades já são oferecidas há anos, como é o caso do jogging – hotéis e ofícios de turismo oferecendo itinerários e as vezes guias, por exemplo em Québec e em Montréal, ou da bicicleta – também com tours ou sugestões de circuitos, os hotéis Westin tendo sido pioneiros.

Pescador em Stockholm

Mas recentes são os esforços dessas grandes cidades para devolver aos turistas e aos habitantes as beiras de rio, construindo parques e favorecendo atividades náuticas. Hoje, é possível andar de caiaque em Nova Iorque, saindo do Brooklyn Bridge Park, ou em Minneapolis com um aluguel de caiaque a disposição no Rio Mississipi. O sucesso do Stand Up Paddle se verifica nos rios urbanos ou nos canais de Amsterdão, de Veneza, de San Antonio ou de Montréal. Os pescadores são bem-vindos  no centro de Stockholm, ou nos portos de Montreal, de Quebec ou de Marselha. Em Chicago, é possível mergulhar no lago Michigan onde há vários navios que naufragaram durante o século XIX, isso abre muitas opções de mergulho na frente da cidade.

Subir na ponte do porto de Sydney é uma grande aventura urbana

A escalada também virou um esporte urbano. Em Stockholm, é possível viver uma experiência nos telhados da cidade histórica num tour acompanhado de um guia experimentado . Em Sydney, os visitantes podem fazer uma excursão na famosa ponte Sydney Harbour, com um panorama excepcional sobre o porto e a Ópera. Em Quebec, a operadora local Décalade, oferece descidas de paredes de prédios urbanos, e em Marselha Urban Elements  virou uma festa anual das atividades de aventuras urbanas – com destaques para escalada artificial e slackline. E depois do sucesso  da Slotzilla Freemont Street experience de Las Vegas, tirolesas permanentes ou temporárias estão sendo exploradas em Montreal, Panamá, Kiev ou Londres.

O sucesso do Parkour chega no turismo

Na procura de sensações originais, o sucesso do Parkour abriu  novas opções de turismo de aventura para moradores e visitantes de cidades grandes ou pequenas. É possível seguir aulas desse novo esporte em Paris, Montreal, Nova Iorque ou São Paulo. Na França várias cidades menores oferecem circuitos com guias especializados, “traceurs”ou “traceuses”. Perto de Montpellier, em Clermont-L’Hérault, um Parkour Artistik ajuda a descobrir o patrimônio cultural seguindo uma coreografia combinando com a arquitetura do local. Perto de Lille, Roubaix seguiu o mesmo caminho com um circuito Parkour59. O sucesso do turismo de aventura urbano é tão rápido que novas ofertas estão pipocando no mundo inteiro, podendo hoje fazer até surfe em Montreal ou aproveitar a tradição de “Downhill” do Zoobomb  em Portland.

Esse artigo foi  traduzido e adaptado de um artigo original de Claudine Barry na revista profissional on-line Reseau de veille en tourisme, Chaire de tourisme Transat 

Caiaque em Nova Iorque

Homens ou mulheres, os turistas também viajam “solos”!

Viajar “solo”, bem acompanhado, ou os dois?

Enquanto as pessoas que moram sozinhas representam uma faixa crescente da população – hoje 30% na Europa e na América do Norte, e para 2030 existe uma projeção de quase 50% – , os turistas que viajam sozinhos interessam cada vez mais aos hoteleiros, às operadoras e às companhias aéreas. O mercado dos “solos” oferece grandes perspectivas. Estimado pela OMT em 25% dos viajantes, já representa 33% a 35% na França, no Canadá ou na Inglaterra, 20% deles viajam a negócios e 80% para lazer. Esses “solos” são igualmente divididos em homens e mulheres, são mais ricos e educados, estão em uma faixa etária de 50 a 55 anos, mas entre os “solos” existe também uma forte proporção de estudantes. A metade deles mora sozinhos, os outros têm um lar onde vivem outras pessoas que não querem ou não podem dividir as mesmas experiências de viagem.

Hotéis, cruzeiros e operadoras tentam seduzir “solos”

Uma recente pesquisa da revista francesa “Espaces” mostrou que os “solos” têm comportamentos de viagem promissores para os profissionais. Viajam sozinhos mas também em grupos organizados, utilizam mais os transportes coletivos (trem, avião, ônibus), aceitam viajar em baixa estação e curtem ofertas de última hora. Nos hotéis, nos circuitos ou nos cruzeiros, eles são sempre interessados pelas excursões, as atividades e as animações opcionais. Operadoras e receptivos especializados já anotaram que muitos pacotes são comprados por “solos” que querem viajar com pessoas que dividem as mesmas atividades ou as mesmas paixões. Assim a  TourRadar, uma agência especializada em circuitos temáticos tem 41% de individuais nos seus clientes.

O Jo&Joe de Hossegor, open house do grupo Accor

A pesquisa deixou claro que o maior freio para o crescimento das vendas de “solos” é a questão da hospedagem, quase sempre programado em quarto duplo. Mas hotéis e operadoras estão encontrando alternativas. De olho na clientela jovem, ainda atraída pelos albergues da juventude, grupos como Generator  ou, mais recentemente,  JO&JOE do grupo Accor, desenvolveram conceitos de co-hospedagem que resolvem o problema dos viajantes individuais. Pensando em clientes mais exigentes, muitas operadoras encontraram soluções radicais: oferecer quartos single pelo preço do meio duplo. A Canadá Vacances Transat, a Vacances Signature, a Vacances Air Canada ou a Voyages à rabais reservam hotéis nessas condições, um serviço agora tão popular que, para valorizá-lo, foi criado o prêmio “Solo Traveler”.

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A coleção Solo da operadora canadense Transat

Para responder aos “solos” que querem companheiro(a)s de viagem, as operadoras estão trazendo novas ideias. A canadense  Voyages Traditours, as francesas Paravecmoi ou Les Covoyageurs ajudam a encontrar quem poderá dividir o seu quarto. O site Copines de voyage vai até mais longe, sendo agora uma verdadeira comunidade com 270.000 membros, principalmente mulheres. Na França, Barouding.com ou Partirseul.com selecionam pacotes com temáticas especificas, juntando “solos” com perfis similares para montar pequenos grupos com fortes afinidades. No Brasil, operadoras especializadas, tais como a Terra Azul ou a Singletrips, organizam pacotes para solteiros que não se sentem à vontade com grupos tradicionais, compostos quase que exclusivamente por casais.

A Colômbia editou um guia do viajante “solo”

Vários destinos de turismo começaram também a se interessar pelos “solos”. A Colômbia, o Camboja ou a Provence apresentam ofertas específicas, e a Costa Rica foca com sucesso nas mulheres que viajam sozinhas. A Turismo Montreal, sempre pioneira em personalizar os serviços para clientelas diferentes, abriu uma parte de seu site com ofertas especiais para “solos”, focando em cultura, música e eventos. A atenção da mídia para os destinos “solo friendly” deveria multiplicar nos próximos anos estes tipos de oferta. Vários ranking dos destinos “solos 2018” já estão aparecendo, com destaques para Islândia, Eslovênia, Bordeaux, Butão, Taipé, Hamburgo, Canadá e Chile.

Esse artigo foi  inspirado de um artigo original de Chantal Neault na revista profissional on-line Reseau de veille en tourisme, Chaire de tourisme Transat 

Com Tourlina, as mulheres têm até um aplicativo para viajar em “solo”

Os destinos turísticos devem agora ficar inteligentes!

Em Nantes, o pioneirismo em destino turístico inteligente

Em Nantes, o pioneirismo em destino turístico inteligente

Depois do sucesso dos edifícios inteligentes, capazes de interligar e racionalizar segurança, consumo de energia, recolhimento de dados e conforto dos moradores, as mesmas inovações estão chegando ao nível das cidades e até dos territórios , ajudando os atores do turismo a melhorar a experiência dos seus visitantes misturando criatividade humana e inovações numéricas. As cidades inteligentes – smart cities em inglês – estão se espalhando no mundo, e a Forbes considerou Barcelona, Nova Iorque, Londres, Nice e Singapura as mais avançadas. Na França já são  vinte, incluindo grandes metrópoles como Paris, Marselha, Toulouse, Lyon, Montpellier ou Bordeaux, mas também cidades menores como Rennes, Chartres, Mulhouse ou Angers. Os critérios para entrar nessa lista seleta não exclusivamente numéricos (transparências dos dados, facilidade de acesso ao wi-fi …), mas também tocam a ecologia, a gestão da energia (smart grid), os transportes públicos ou a gestão participativa, para o beneficio dos moradores e dos visitantes.

Encontros das francofonias do turismo 2016

Encontros das francofonias do e-turismo 2016

Alem da cidade inteligente, a temática dos encontros das Francofonias do e-turismo em Quebec foi esse ano de definir as expectativas do turista nos destinos turísticos inteligentes, territórios onde o humano e o numérico devem se misturar para oferecer ao visitante um espaço mais  fácil de entender e mais confortável para viver. Com o objetivo de desenvolver a atractividade do local e de mobilizar os seus moradores, a organização de um território inteligente é uma combinação de fatores tecnológicos, humanos e institucionais. As autoridades municipais ou estaduais devem abrir todos os seus dados (big data), criar parcerias publico-privado, envolver a população, informar os visitantes e, mais ainda, investir nas infra-estruturas indispensáveis dos territórios turísticos  inteligentes: wi-fi acessível para todos, outdoors numéricos de informação, códigos QR, transportes urbanos eficientes e sustentáveis incluindo tomadas para recarga de carros elétricos, controle permanente da qualidade do meio-ambiente …

Bluecab, os carros elétricos da cidade de Bordeaux

Bluecab, os carros elétricos da cidade de Bordeaux

No destino turístico inteligente, a analise do “big data” ajuda a melhorar a experiência do visitante entendendo os seus trajetos, os seus comportamentos e sua percepção. Pode ser o controle das filas de espera durante um festival, o envio de informações sobre os transportes, as mudanças na programação de eventos em função da meteorologia ou da poluição, a colocação de telas informativas na recepção dos hotéis ou a oferta de lugares nos estacionamentos. Pode também ser a existência de plataformas ou de aplicativos onde o visitante deixa seus comentários e suas impressões sobre a sua estadia.  Com o apoio das autoridades, as inovações em aplicativos são decisivas para melhorar a experiência do visitante nos destinos inteligentes. Depois do sucesso dos modelos mundiais de transporte e alojamento (Airbnb ou Uber), as novidades são agora esperadas ou para serviços em regiões delimitadas (por exemplo trajetos em carros particulares em Paris) ou para segmentos específicos (Stay22 para eventos , Share Shed  para os amadores de camping …).

Montreal, investindo na inovação numérica inteligente

Montreal, investindo 100 milhões de CAD na inovação numérica inteligente

Se os investimentos e os ferramentas tecnológicos são importantes para os territórios querendo desenvolver o turismo inteligente, as exigências éticas e humanas devem ser sempre priorizadas inclusive nos aspectos legais como a proteção dos dados, a privacidade dos usuários ou a transparência das decisões.  Para os especialistas reunidos nas Francofonias do e-turismo em Quebec, o destino turismo inteligente deve nascer da colaboração entre as coletividades, os especialistas das novas tecnologias e os profissionais do turismo, reunidos para construir um território mais acessível, mais ergonômico, mais humano e mais acolhedor, pelo maior beneficio dos turistas, dos moradores e de todos os atores econômicos.

Esse artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original de Aude Lenoir na revista on-line Reseau Veille Tourisme de la chaire de tourisme Transat

Rennes, no top 10 das cidades inteligentes da França

Rennes, no top 10 das cidades inteligentes da França

Street Art: São Paulo, claro, mas também Paris ou Lille!

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Recebendo há pouco tempo um amigo francês e perguntando o que ele queria ver em São Paulo, fiquei surpreso pela sua resposta: Street Art, porque nessa arte os paulistanos são uns dos líderes mundiais. Na verdade, ver os murais e os prédios pintados de São Paulo era mesmo o principal motivo da sua viagem. Valeu então recordar que se a capital paulista virou mestre nessa arte, outras cidades no mundo se destacam, inclusive na França não somente Paris mas também Lille.

A arte de rua virou hoje parte essencial das paisagens urbanas, e até integrou os pacotes turísticos dos profissionais do setor. As vezes politizadas, as vezes reivindicativas, as obras podem ser legais ou ilegais, quase sempre temporárias e integradas a construções urbanas. Não precisando da bilheteria de um museu, elas são oferecidas a toda população (e a todos os turistas).

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As prefeituras reagiram de formas diferentes a essa nova expressão artística e a suas perspectivas para o turismo. Filadélfia por exemplo decidiu há 30 anos valorizar tanto as criações (são 3000 obras na cidade) como os próprios artistas nos tours da cidade. Em Montreal a galeria Fresh Paint expõe obras de artistas nacionais e internacionais, e o Festival ‘Under Pressure’ tenta levar a arte de rua para a população.

Paris virou uma cidade pioneira no acesso do Street Art para os visitantes.3 ok O projeto Tour Paris 13, maior exposição de arte urbano do mundo, atraiu dezenas de milhares de turistas em outubro do ano passado durante o mês que antecipou a destruição programada do prédio onde as obras tinha sido pintadas. Um aplicativo específico, ‘My Paris Street Art‘, indica a localização das novas obras, dando as explicações necessárias e ajuda o visitante a enriquecer a base com suas próprias descobertas. A arte de rua ajuda também a levar o turista fora dos lugares tradicionais. Num subúrbio de Paris, ‘Vitry sur Seine’ virou assim um destino vedeta da cultura urbana, esbanjando modernidade, poesia e abertura nas fachadas até então cinzas e tristes.

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Desde 2004, quando foi premiado como Capital europeia da Cultura, a cidade de Lille está oferecendo espaços de criação para a arte de rua. E a partir de 2013 começaram a integrar essas obras nos roteiros turísticos. Acompanhado ou não de um guia profissional, um passeio de bicicleta ajuda a descobrir as maiores realizações de vários artistas de rua, franceses, japoneses ou australianos. No ano passado a cidade recebeu também a primeira Bienal internacional de Arte Mural que deu um impulso ainda maior a produção artística local.

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O turismo e a arte de rua podem então ter uma relação intensa e proveitosa, com novos produtos e novas motivações de viagens, emocionante interações com a população, e um forte impacto de renovação das imagens de destinos tradicionais. É porem importante que esse trabalho seja feito com transparência e sinceridade, respeitando o ambiente especifico dessa arte, sua marginalidade e seu caráter único que não podem ser banalizado num produto turístico comum.

Jean-Philippe Pérol

Esse artigo usou como uma das suas fontes um trabalho de Camille Derelle publicado no Réseau de veille en Tourisme da Chaire de tourisme transat de l ESG UQAM. Para ler o artigo original sobre esse assunto, um analise feito em parceria entre Tourisme Montreal e Réseau de Veille en  Tourisme, fazer seguir o link: http://veilletourisme.ca/2014/02/03/lart-de-la-rue-dynamise-les-destinations-touristiques/

Quebec: a “Nouvelle France”, um novo destino brasileiro?

QUEBEC GLOBAL L1020112A estrada que vai de Quebec a Montreal pela margem esquerda do Rio Saint Laurent não é uma simples autopista. É o Chemin du Roy, o Caminho do Rei, onde os primeiros colonos vindo da França esperavam saudar um dia um soberano vindo para visitar a Nouvelle France.Le_chemin_du_Roy O Rei nunca veio, teve que abandonar a colônia aos ingleses em 1763, e a estrada esperou até 1967 para ver pela primeira vez um Presidente francês …. Mas mesmo derrotados na guerra contra os anglo-americanos, os “Quebecois” venceram, mantendo há 250 anos uma cultura e uma identidade francesa que até hoje impressiona os visitantes.

Drapeau_quebecPara os brasileiros, que colocam os Estados Unidos (mais de dois milhões de entradas) e a França (quase 700.000) como os seus dois destinos de viagem preferidos, o Quebec é um destino que oferece o melhor desses dois mundos: a historia, a cultura, a gastronomia e o ambiente de liberdade que se encontra na França, mas tem também  a organização, o sério, a segurança e o relacionamento descontraído da América do Norte. Assim o fluxo de turistas brasileiros quase dobrou em cinco anos, representando hoje 25.000 entradas, mais de um quarto das entradas de brasileiros no Canada. Viajando sozinhos (as) ou em casal, eles ficam uns 10 dias na província, visitando museus ou lugares históricos, aproveitando as belezas naturais, os eventos culturais ou, claro, fazendo shopping. Gostam do Quebec de branco no inverno, de verde no verão ou de vermelho no outono.

Mesmo ainda sem ligações aéreas diretas, e com exigência de visto,  o Quebec, América francesa ou França americana,  tem tudo para seduzir de vez os turistas brasileiros.QUEBEC DSCN8006 A cidade de Quebec é a mais antiga cidade da América do Norte, com suas ruas do século XVII e suas fortificações dominando o Saint Laurent. Da beira Rio até a catedral, o bairro do Petit Champlain é repleto de lojinhas, de restaurantes e de bares onde o atendimento parece ainda mais caloroso com o sotaque tão especial desses franceses sempre alegres e atenciosos. Um destaque especial para as especialidades locais, desde o artesanato do couro (por exemplo a loja m0851) até os doces de ‘mapple’ (a Maison Smith). No meio desse “Vieux Quebec”, um excepcional Relais & Chateaux, a Auberge Saint Antoine, é um imperdível hotel-boutique, seja para se hospedar, para jantar ou para um simples drinque na frente da lareira.

port_montreal_aggrandiSi Quebec é a capital que se lembra (o lema da província é “je me souviens”), Montreal é a cidade que se mexe, se agite, vive com intensidade num clima de liberdade (será que foi por isso que o De Gaulle lançou aqui o famoso ‘Vive le Quebec libre’?). Segunda maior cidade de língua francesa depois de Paris, tem também seu bairro antigo, o Vieux Montreal com seus antigos sobrados e seus recantos sofisticados (vale experimentar o Café Birks do chefe Jerome Ferrer). CARO KOUIGN DSCN7944Mas o visitante brasileiro vai se interessar mais ainda pelo bairro do Plateau onde concentra-se lojas, restaurantes, bares e além de tudo espírito boêmio. Os croissants do Kouign Aman não tem iguais , os bagels da Saint Viateur affirmar ser os melhores do mundo…. Os restaurantes reivindicam com razoes a gastronomia francesa (O Meac é um valor seguro, animado, gostoso e com bom cardápio de vinhos), mas a comida judaica do Schwarz é também um grande clássico da cidade. ruestdenisO Plateau é também O lugar do shopping descontraído, nas ruas Saint Denis ou Laurier. Indo para o centro, perto do hotel Sofitel, encontra-se lojas mais sofisticadas, vários shopping e … o Newton ou a Brasserie Alexandre para almoçar .Se tiver sorte de estar em Montreal numa época de Festival (do Cinema, do Teatro, do Riso…), o viajante brasileiro vai adorar a animação de rua, os shows muitas vezes de graça, os mercadinhos e aquela simpatia comunicativa desses franceses diferentes.

JPP AUTOMNE DSCN1827Frente a clientes esperando novas ofertas de produtos e destinos, ou  não querendo escolher entre França e Estados Unidos, o Quebec – América do Norte de alma francesa – pode ser sem duvida uma excelente opção para agentes de viagens e operadoras. Ai, quem sabe, uma nova companhia aérea reabrirá a rota SAO RIO YUL da saudosa Varig…

Jean-Philippe Pérol