Sem seu fundador, um novo futuro para a magia do Cirque du Soleil?

Zumanity foi visto por 7 milhões de espectadores em Nova Iorque e Las Vegas

 Mesmo com um apoio emergencial do governo do Quebec de USD 200 milhões, e um acordo dos principais acionistas americanos, chineses e quebequenses, o Cirque du Soleil beirou esse mês sua falência ou sua ida para leilão. Sem receitas desde o início da crise do Covid que levou a cancelar todos os seus espetáculos no mundo inteiro, a empresa fundada pelo emblemático Guy Laliberté, que revolucionou e até recriou o circo contemporâneo, já acumulou esse ano quase um bilhão de USD de dívidas, e despediu 3500 colaboradores. Sem nenhuma previsão de reinício das suas atividades, até o famosíssimo Zumanity de Las Vegas, já aplaudido há 17 anos por mais de 7 milhões de espectadores, foi definitivamente encerrado.

O famoso sapato de palhaço frente a sede

Desde o início da crise, vários cenários de recuperação do Cirque du Soleil já foram ensaiados, um deles liderado pelo proprio Laliberté que se mostrava disposto a voltar na empresa que ele fundou há mais de 36 anos mas que tinha deixado definitivamente em janeiro desse ano quando tinha vendido as suas últimas ações. Apoiado pelo governo do Quebec, esse acordo ia ser um garantia da permanência da sede do Cirque du Soleil em Montreal bem como da recontratação dos milhares de funcionários demitidos, manteria os quebequenses no comando e permitiria que o Guy Laliberté ajudasse a encontrar novidades criativas para os espetáculos do mundo pós-crise. Com a chegada no capital de um novo ator, o fundo Catalyst de Toronto, foi escolhido um novo caminho.

O Quebec apoio a tentativa de Guy Laliberté de recompra do Cirque

Anunciando a saída da recuperação judicial, os novos donos anunciaram o início de uma nova história . Quatro fundos de investimentos – Catalyst Capital de Toronto junto com os americanos  Sound Point Capital, CBAM Partners e Benefit Street Partners – estão agora controlando o conselho de administração onde somente dois quebequenses vão lembrar o passado do Cirque du Soleil. Os novos acionistas falaram que sua presença no Quebec está garantida pelo menos por cinco anos, mas  recusaram qualquer ajuda financeira do governo e o CEO  Daniel Lamarre, quis também deixar claro que Guy Laliberté, mesmo sendo um amigo pessoal, não teria mais nenhum papel na estratégia ou nas operações da empresa.

Com um dos co-presidentes do conselho e um conselheiro, a MGM deve ter um papel importante no futuro do Cirque du Soleil. Parceiro de longa data nos seus hotéis de Las Vegas, onde espetáculos como O ou Ka  geravam a metade dos lucros da empresa de Montreal, o peso pesado americano do divertimento mundial deve assim ser um dos primeiros beneficiados tanto pela prioridade na reabertura das atividades, que pelo  acesso a novos espetáculos – um ou dois segundo Daniel Lamarre- que foram anunciados para 2021. Enquanto a inauguração do já programado Sous un même ciel, que era previsto em abril em Montreal, deve ser em breve confirmado para julho.

Nos projetos do Guy Laliberté -aqui Nukutepipi-, turismo, culture e exclusividade

Se o Cirque du Soleil parece ter garantido seu futuro próximo, várias perguntas ainda deve ser respondidas. O público espera saber se os novos espetáculos vão conseguir responder com criatividade ao desgate do tempo e as profundas mudanças aparecidas durante a crise. Os quebequenses querem ter a certeza que a sede de Montreal será mantida e que  os artistas continuarão a contribuir ao excepcional ambiente de criação cultural que a cidade oferece. Os fãs da epopéia mágica escrita pelo Guy Laliberté vão torcer pelo sucesso mas também seguir os novos lances da sua empresa Lune rouge na cultura, no “entertainment” ou no turismo, as três paixões que convergiram há 36 anos para inventar o Cirque du Soleil. E esse terá que enfrentar a difícil tarefa de superar a saída do seu fundador.

Jean-Philippe Pérol

AmaLuna foi um dos sucessos do Cirque du Soleil no Brasil

 

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