O Orient-Express, fênix das viagens de luxo

Depois de 140 anos, a saudade do rei dos trens e do trem dos reis ainda fica 

O Orient-Express teria festejado o ano que vem seus 140 anos. Prestigioso trem lançado em 1883 pela  Compagnie internationale des wagons-lits , ele ligava em 4 dias Paris a Istambul com um conforto e um luxo inédito. Mas depois de virar um verdadeiro mito – consagrado em 1934 no grande clássico da Agatha Christie-, o mais famoso trem do mundo sofreu das consequências da segunda guerra, teve suas operações complicadas pela cortina de ferro, e entrou em decadência a partir de 1962. Perdeu seu glamour, acabou com suas ligações diretas para Istambul, fechou suas agências – a Wagons lits só conseguiu resgatar Budapeste e Sofia-, e finalmente encerrou suas atividades em 1977.

O Orient-Express, o renascimento com o Venise Simplon Orient Express

Mas, mesmo sumido, o Orient-Express levantava muitas paixões, muitos projetos e mostrou ser um verdadeiro fênix. Em 1976, a operadora suíça  Interflug lançava o “Nostalgie Istambul Orient Express” que sobreviveu, com muitas dificuldades, até o inicio dos anos 2000.  O americano James Sherwood foi mais bem-sucedido. Renovando 18 antigos vagões da Wagons lits, aproveitando o seu prestigioso hotel Cipriani em Veneza, reabriu em 1982 um “Venise Simplon Orient-Express”, ligando Londres e Paris a Serenissima capital. Explorado hoje pela Belmond (do grupo LVMH), este fiel herdeiro estica varias vezes por ano seu itinerário até Vienna, Budapeste e mesmo Istambul.

Accor quer relançar não somente o trem mas também os hotéis

Proprietario da marca “Orient Express” junto com a SNCF, o francês Accor anunciou que quer ver renascer a lenda do mais prestigioso trem do mundo. Com 17 vagões dos anos vinte reencontrados na Polônia, redesenhados pelo famoso arquiteto Maxime d’Angeac, o grupo prevê a reabertura da linha em 2024.  Vagões-leito, vagões-restaurante e salões serão renovados no estilo “Art deco” original, incluindo painéis do Lalique, mas com toques contemporâneos. Para garantir essa autenticidade nos mínimos detalhes, Accor quer que esse novo Orient Express seja  uma obra de artesãos, apoiados por grandes marcas de luxo, uma vitrina do “savoir faire” e da excelência franceses.

Na França, ideias inovadoras para reviver os grandes trens da Belle Époque

 

Na longa história do turismo, o trem sempre teve um lugar especial, símbolo de democratização com a primeira viagem organizada em 1841 pelo inglês Thomas Cook,  ou sonho de luxo e de aventura no Orient Express inaugurado em 1883 pela Compagnie Internationale des Wagons lits do belgo Georges Nagelmackers, e que perdura até hoje através do Venise Simplon Orient Express da Belmond. Depois do sucesso dos projetos franceses ou espanhóis  do Puy du Fou ou de Toledo realizados pelo seu pai, o  francês Nicolas de Villiers lançou agora o Grand Tour, um espetáculo inovador em torno de um cruzeiro ferroviário cheio de surpresas.

Aproveitando a abertura da rede ferroviária para as empresas privadas, o Puy du Fou imaginou uma volta da França de 4000 quilômetros em 6 dias e 5 noites, saindo de Paris e parando em cidades emblemáticas da história e da cultura francesas. Os espectadores vão viver experiências inéditas em Epernay com as adegas da Dom Perignon,  em Reims com a catedral dos Reis, em Beaune com os seus Hospices, em Avignon com o Palácio dos Papas, em Aix com o ateliê do Paul Cezanne. Perto de Bordeaux navegarão na lagoa de Arcachon antes de descobrir o quadro exótico dos vinhedos de Cos d’Estournel. No ultimo dia, um momento romântico em Chenonceaux, o castelo das três damas,  e uma visita do Puy du Fou encerrarão com chave de ouro esse passeio excepcional.

O visual do trem não nega a filiação com a Belle Epoque

Para aproveitar este espetáculo único, o Puy du Fou imagino o mais insólito dos teatros, um autentico trem “Belle Epoque” concebido como uma obra de arte, com  conforto e a beleza. Num total de oito carros, o comboio será composto de dois carros-leitos de 15 cabines,  dois carros-restaurantes e um carro-bar onde os viajantes serão atendidos por 15 tripulantes vestidos com uniformes da época. Com cada detalhe lembrando a grande época do trem, os organizadores prometem que os “Grands Tours” serão experiências espetaculares e poéticas, imersões no espaço e no tempo, num percurso iniciático na geografia e na historia da França.

Reversiveis, as camas viram sala de estar durante o dia

A vida a bordo terá a mesma importância que os lugares visitados, com uma permanente imersão na História. Além da presencia do chef, do bar tender e da equipe de animação, são previstas visitas de artistas, comediantes, músicos, someliês ou palestrantes. Nicolas de Villiers faz questão de lembrar que o Grand Tour não chegou para concorrer com os trens noturnos de luxo – os carros ficarão parados durante as noites para dar mais conforto aos passageiros. Será um espetáculo exclusivo de alto conteúdo cultural para  um máximo de 30 pessoas em cada viagem, com somente 23 saídas no primeiro ano e até 40 nos anos seguintes. Mesmo se a data exata da primeira viagem ainda não foi divulgada (seria na primavera ou no verão 2023), já é possível de fazer uma pré-reserva no site  www.legrandtour.com.

Viagens de negócios e video-conferências, qual futuro depois da retomada?

Montpellier, cidade sede da Chaire Pegase de pesquisa turística

Representando 25% dos viajantes e gastando mundialmente USD 1.400 bilhões por ano, os homens e as mulheres de negócios contribuíam por 55 à 75% das receitas das companhias aéreas. Com a crise do Covid, e a redução dos riscos e gastos das empresas, essas viagens despencaram de mais de 70%, numa clara ameaça a economia do setor. Enquanto a retomada parece por enquanto limitada ao lazer, e a video-conferencia instalada para ficar, a Chaire Pégase, centro de pesquisas da universidade de turismo de Montpellier na França, publicou um estudo mostrando as tendências e as consequências dessa competição entre o video e o presencial .

Video-conferências entraram para ficar

Antes da crise, 35% das empresas já tinham começado a utilizar as video-conferências, para reduzir seus custos financeiros, humanos e ambientais. Mas a tendência se acelerou. Nos últimos 15 meses, a maioria das viagens de negócios foram canceladas, seja por necessidade de redução de custos (31%), por precaução sanitária (71%), impossibilidade de viajar (55%), ou vontade de contribuir ao meio ambiente (22%). Em 53% dos casos, essas viagens foram substituídas por video-conferências, os participantes elogiando essa evolução por ser menos cansativa (65%), e permitindo um melhor equilíbrio entre trabalho e vida pessoal (66%). Mas a substituição tem seus inconvenientes, 82% dos interessados são saturados com as video-conferências, a falta de comunicação com os colegas (73%), a perda de oportunidades para atingir suas metas (64%), e as dificuldades de ganho de novos clientes (60%).

As grandes feiras são um dos setores mais ameaçados

A pesquisa da Chaire Pegase mostra porém uma grande diversidade de opiniões e de comportamentos em função dos tipos de viagens, do setor econômico e do tamanho da empresa. Para os entrevistados, as viagens ligados a intervenções técnicas (59%), a prospeção comercial e as vendas (59%), bem como ao relacionamento com os clientes  (50%) serão os mas rápidos a recomeçar. Devem seguir depois as reuniões internas nas filiais pertencendo a um mesmo grupo. Os eventos profissionais, feiras, salões, conferências (27%), e os incentivos (30%) voltarão somente num segundo tempo, bem como os eventos ligados a formação (21%) que podem ser realizados em formatos híbridos.

Reuniões internos são as mais propicias a video-conferencias

A retomada das viagens de negócios depende também dos setores de atividades das empresas. Segundo a McKinsey, as construtoras, as imobiliárias, as farmacêuticas devem ser as primeiras a liberar as viagens enquanto os setores energético e têxtil devem demorar mais, bem como os serviços e a pesquisa científica que terão mais facilidade para seguir nas video-conferencias. O tamanho das empresas sera um outro fator diferenciador. Com mais recursos, as grandes empresas vão poder reiniciar suas viagens de negócios logo depois da crise, enquanto as pequenas estruturas terão que reconstruir os seus caixas antes de pensar em investir mais que o mínimo indispensável

40% das viagens de negócios substituídas por video-conferencias?

As video-conferencias mudaram  mesmo a economia do setor. No curto prazo, 70% dos entrevistados pensam viajar menos até o final da crise, e 42% acham que essa situação vai perdurar. A pesquisa da Chaire Pégase prevê no logo prazo uma queda 40% das viagens de negócios enquanto o turismo de lazer vai recuperar a partir de 2024 as previsões de crescimento anterior a crise. Uma boa noticia para as companhias low cost, mas uma forte preocupação para as companhias aéreas tradicionais como Air France ou Lufthansa que construíram seus modelos econômicos em cima desses viajantes. No mundo pós Covid, terão não somente de repensar os serviços oferecidos aos homens de negócio  com  uma melhor segmentação, mas também dar uma atenção muito maior aos turistas de lazer que o sucesso das video-conferencias não deveria atingir.

Jean-Philippe Pérol

Do Reino Unido até o Brasil, o choque da queda de um ícone do turismo

A primeira viagem organizada pelo Thomas Cook

O anúncio da falência da Thomas Cook, a mais antiga operadora de turismo do mundo, foi um choque brutal não somente para os seus clientes – 600 mil dos quais vão ter que encontrar um meio de voltar das suas ferias-, para seus 22 mil funcionários, e para todos os profissionais. Para todos, é difícil entender como uma empresa nascida em 1841, ícone do setor e muito tempo pioneira, passou em poucos dias de uma situação de dificuldade financeira a uma verdadeira falência. Esquecendo famosos exemplos do setor – desde a Pan Am até a VARIG-, muitos pensaram até a última hora que o governo inglês iria injetar os 200 milhões de libras que ainda faltavam para fechar um plano de salvação da firma de Petersborough. Mas o governo simplesmente lembrou que o contribuinte não podia financiar “patos aleijados”.

A força da Fosun não foi suficiente para salvar o grupo

Com um prejuízo de 1,5 bilhão de libras em 2018, 15% do seu faturamento, a má situação financeira do grupo fundado em 1841 era conhecido de todos. Além da concôrrencia do outro gigante europeu, a TUI, das migrações dos clientes mais jovens para as vendas diretas on-line, do desafeto do mercado para os pacotes fechados, e do sucesso das companhias low cost, a Thomas Cook teve de enfrentar na Inglaterra as incertezas do Brexit e a queda da libra. Para se livrar do peso da sua dívida, o grupo ainda tentou durante o verão de renegociar com seus principais acionistas, o chinês Fosun, bancos ingleses e fundos americanos, um plano de reestruturação de 900 milhões de libras. Mas esta esperança sumiu na sexta-feira passada quando os “hedge funds” exigiram 200 milhões suplementares que inviabilizaram o projeto.

A agencia da Wagons lits//Cook no Brasil, Rio de Janeiro Abril 1936

Pela sua peculiar história, a Thomas Cook teve também uma presença no Brasil. Tendo sido comprada em 1928 pela Compagnie Internationale des Wagons lits et du tourisme, ela participou até os anos oitenta da sua epopeia. Fusionando as duas redes de agências, as duas empresas tinham divido o mundo entre a Wagons lits que operava na Europa e na América Latina, e a Thomas Cook que operava no Reino Unido, na América no Norte e nas antigas colônias inglesas. Assim as primeiras agências da Wagons lits abertas em 1934 no Rio de Janeiro e em 1936 em São Paulo se chamavam Wagons lits//Cook. Mudaram de nome somente em 1976 quando o acordo entre as duas empresas caducou, mas uma forte ligação foi ainda mantida durante mais de dez anos. As agências brasileiras – oito em 1980, treze em 1985- passaram a se chamar Wagons lits turismo, associadas a Thomas Cook.

As 430 agencias da Thomas Cook na França preocupadas com o futuro

Durante a década de 1980, as duas se separam completamente, assumindo escolhas estratégicas totalmente opostas. Após de passar sob o controle da SODEXO e depois da Accor, a Wagons lits fusionou com a americana Carlson, e abandonou suas agências e suas operadoras para se concentrar nos serviços corporate e virou a segunda maior empresa mundial neste setor. A Thomas Cook fez a escolha inversa, se aproximou da alemã Neckerman assim como da francesa Havas, e apostou nas agências e no turismo de lazer, favorecendo a verticalização com a compra de hotéis e o desenvolvimento da sua própria companhia aérea. Trinta anos depois, a situação das duas mostrou que a Accor e os então dirigentes da Wagons lits tinham feito a escolha certa.

As companhias aereas do grupo ainda esperam sobreviver

As consequências da falência serão pesadas para todo o setor, e em numerosos países onde a Thomas Cook era muito forte como a Alemanha, a Bélgica, a Índia, a França. Os hoteleiros dos destinos mais vendidos pelas suas agências – Espanha, Turquia, Tunisia – se preparam também para graves prejuízos diretos e indiretos, falta de pagamentos e dificuldades para encontrar como substituir as clientelas. Os administradores judiciais, Alix Partners e KPMG, deveriam agora tentar vender as atividades e as filiais separadamente, com prioridade para as companhias aéreas – especialmente a Condor- que ameaçam parar a qualquer momento. Longe de se alegrar, os grandes concorrentes estão também preocupados pela desconfiança dos investidores que a queda desse leader pode trazer para o turismo. Um fim triste depois de 178 anos de atividade.

Jean-Philippe Pérol

Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue”  do autor na revista profissional on line Mercados e Eventos 

Bitcoin e blockchain, mais um Big Bang no trade turístico?

O Bermuda Belmont, pioneiro do bitcoin na hotelaria

O Newstead Belmont Hills, um dos mas conceituados resorts de Bermuda, anunciou em julho juntar-se aos primeiros hotéis do mundo a aceitar pagamentos em bitcoin. Se muitas empresas de turismo se interessaram com essa moeda e mais ainda pela sua revolucionária blockchain, quase todas estão ainda cautelosas frente a volatilidade das taxas de cambio, a insegurança dos atores desse mercado ainda imaturo, e a dificuldade de definir se a nova criptomoeda é uma revolução tecnológica ou um bolha financeira pronto de explodir a qualquer momento. A decisão do Belmont seguiu porem a convicção dos especialistas que acreditam não somente que o volume de negócios tratados com a nova moeda deve crescer muita rapidamente , mas ainda que ele tem o potencial de mudar os parâmetros do turismo, especialmente em tudo que se refere a intermediação e distribuição.

Winding tree, um project B2B baseado no blockchain

A curto prazo, a revolução trazida pelo bitcoin não é ligada em primeiro lugar ao seu impacto financeiro mas deve quase tudo ao blockchain, a tecnologia utilizada com seu acesso aberto, inviolável e transparente a todos os dados do seu histórico. Já mostrou suas primeiras aplicações práticas no turismo com melhoramentos dos programas de fidelidade, redução de custos de varias transações financeiras, ajuda no monitoramento das bagagens pelas companhias aéreas, controle dos fornecedores e até facilitação das filas de imigração, e a médio prazo essa tecnologia pode impactar todos os atores do transporte e do turismo. Makzim Ismaylov, fundador da Winding Tree, plataforma de viagens já usando o blockchain, pensa que o modo de trabalhar do setor vai ser radicalmente transformado, e outros especialistas chegam a anunciar mais um Big Bang no turismo.

O Bitcoin pode iniciar mais uma revolução na industria do turismo

As primeiras vítimas da revolução do bitcoin poderão ser os grandes distribuidores, especialmente na venda de hospedagens. Com preços transparentes acessíveis a todos, cortando os numerosos intermediários, acabando com os custos financeiros dos bancos ou dos cartões de credito, podendo gerenciar diretamente os programas de milhas, as plataformas de viagens combinando bitcoins e blockchain terão vantagens decisivas sobre os seus concorrentes, seja OTA, GDS ou brookers, se eles não se adaptam a essa nova tecnologia. Com a total transparência do valor agregado por cada ator, as agências de viagens deverão definitivamente abandonar a cultura de comissões para generalizar a cobrança dos seus serviços – uma pratica iniciada pela Wagons lits há mais de 30 anos, imposta há mais de 10 anos pelas companhias aéreas mas que ainda resiste nos cruzeiros e na hotelaria.

Lufthansa investe tanto no bitcoin e nas aplicações do blockchain

Tanto o bitcoin quanto o blockchain estão se espalhando na industria. Se a Expedia suspendeu o bitcoin das suas opções de pagamento depois de 4 anos de experiência, um crescente numero de sites de vendas on-line estão aceitando a moeda. É o caso de CheapAir.com, de Letsflycheaper.com e, em certos casos, de Virgin. Singapore Airlines está realizando testes em colaboração com KPMG e Microsoft, visando a transformar os seus créditos de milhas em criptomoeda. Lufhansa esta colocando os seus inventários diretamente a disposição de novos parceiros, e trabalha com a SAP sobre um “aviation blockchain challenge” em três direções: ideias para aprimorar a experiência dos seus viajantes, soluções especificas para incrementar a eficácia das operações, processos para melhorar a manutenção dos aviões e o controle dos fornecedores.

No Japão, mais de 260.000 lojas aceitam o bitcoin

Vários países estão também acreditando no bitcoin para estimular o seu turismo. Já é o caso do Japão, da Coreia, da Tailândia, de Malta, de Taiwan, do México, bem como do Havaí, e da Caribbean Tourism Organization. Eles acreditam nas imensas novas oportunidades geradas pelo bitcoin, e na forte atração que a cultura das criptomoedas gera hoje junto aos milênials. Aderir a essas tendencias ajudara a aproveitar esse novo Big Bang, e a atrair para o turismo parte  desse mercado blockchain que deve superar USD 2 trilhões até 2030.

Wine Paths trazendo experiências inovadoras para o mundo do enoturismo

 

Frente as Sources de Caudalies, as obras de arte dos vinhedos de Smith Haut Lafitte

Destacada nas pesquisas pelo seu vinho (o vinho francês mais popular no mundo e no Brasil, na frente do Champagne e do Bourgogne), Bordeaux sempre quis ser inovadora e multi cultural quando se tratou de enoturismo. Foi là que nasceu há quase 40 anos International Wine Tours, a primeira operadora especializada, então filial da Wagons lits, que oferecia roteiros em grandes regiões vinícolas dos cinco continentes. Agora na era das novas formas de distribuição e das plataformas receptivas,  esse pioneirismo se confirmou com a criação da Wine Paths, uma rede de profissionais do enoturismo oferecendo experiências personalizadas em 11 países do mundo.

Passeios a cavala nos vinhedos de Diamandes

As inovações da Wine Paths começam pelo cuidado em escolher os vinhedos e as adegas, uma tarefa que contou com a expertise do premiadíssimo enólogo Michel Rolland. Tendo participado a criação de vinhos em mais de 250 vinícolas de 21 países, ele fez questão de colocar seus favoritos na seleção da Wine Paths. Os serviços escolhidos são também marcados pela experiência do fundador da empresa, Stephane Tillement. Com 30 anos no turismo de luxo, dono desde 2002 da Mauriac voyages – uma das mais conceituadas agências de Bordeaux, Stephane criou relações de confiança com exigentes e criativos parceiros dos mundos do turismo, do vinho, dos destilados e da gastronomia.

Piquenique nos vinhedos da Barossa Valley (Australia)

Combinando desde a sua origem em 2017 os dois “savoir faire” do vinho e do turismo, a Wine Paths oferece experiências nos mais procurados destinos de enoturismo. São 150 vinícolas nas regiões produtoras da Argentina, da Austrália, do Chile, da Califórnia, da Nova Zelândia, da África do Sul, da Itália, do Portugal, da Espanha e da França, escolhidas não somente pelos seus vinhos, mas também pela qualidade dos serviços oferecidos nos arredores pelos parceiros locais. Foram assim selecionados hotéis, restaurantes estrelados, ou adegas capazes de propor emoções ou surpresas, desde um rali nos vinhedos do Franschhoek até uma aula de empanadas na Argentina ou um circuito de mountain bike nas estradas da Alsácia.

O restaurante Conversa em Valbuena, no Ribera del Duero

Com ambição de ser a mais internacional e a mais sofisticada das plataformas de enoturismo, a Wine Paths quer oferecer serviços extremamente personalizados. Cada proposta, seja um voo de balão em Cognac, um passeio a cavalo na Sicília, um itinerário de bicicleta na Rioja, ou um safári aéreo na Austrália, deve se adaptar a cada cliente específico. Essa exigência de qualidade atraiu os 284 parceiros, inclusive alguns que nunca tinham sido presentes numa plataforma de enoturismo, por exemplo os Champagne de Bollinger ou os vinhos do Château Mouton Rothschild. Novos parceiros deveriam ser anunciados esse ano, reforçando as ambições dos fundadores de fazer de Wine Paths um verdadeiro “Guia Michelin” do enoturismo.

Descobrir os vinhedos com luxo e criatividade

Para responder aos pedidos de viajantes procurando as melhores experiências de vinhos, de destilados ou de harmonizações gastronômicas, Wine Paths continua a sua procura de novas  parcerias internacionais. A Escócia -e suas rotas de uísque- é um dos projetos mais adiantados. Com quase um milhão de enoturistas e centenas de vinícolas abertas a visitas, o Brasil deve em breve integrar esses novos rumos, acessando as viagens luxuosas e criativas desenhadas pelos especialistas do grupo, e talvez amanhã colocar suas próprias rotas de vinho a disposição dos enoturistas do mundo inteiro nessa plataforma inovadora.

Jean Philippe Pérol

Na África do Sul, vinhedos pode combinar com aventura

Turismo em 2016: choques, mudanças e poucas saudades. Mas tendências e esperanças para 2017.

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Nice, a cidade de Garibaldi, lutando com garra para recuperar os seus turistas

Mesmo se a OMT está anunciando um crescimento de 4% do turismo internacional em 2016, o ano terá sido de dificuldades em muitos mercados, tanto receptivos como emissivos. Na França, pela primeira vez,  os atentados de Paris e Nice levaram a uma queda de 7% da clientela estrangeira, vindo tanto da Europa como do Japão, dos Estados Unidos e mais ainda dos mercados emergentes  que foram nos últimos anos o motor do crescimento do turismo francês. No Brasil, o segundo ano consecutivo de recessão levou o turismo emissivo a uma queda de quase 15% (e até mais para os dois grandes destinos tradicionais, Estados Unidos e França).

O esqui, um dos sucessos do turismo francês em 2016

O esqui, um dos sucessos do turismo francês em 2016

Se 2016 não deixará saudades, ele viu numerosas mudanças importantes no turismo internacional que impactarão, nos próximos anos,  não somente as decisões dos viajantes mas também o trabalho dos profissionais. Sem poder ainda fazer uma relação completa, três tendências estão se destacando. Os dramas de Paris, Bruxelas, Nice, Orlando e Berlim, os eventos na Turquia, na Tunísia ou no Egito fizeram da segurança um critério absoluto de escolha dos destinos. E enquanto no passado horrores similares tinha sido superadas em 3 a 4 meses, os viajantes esperam agora mais tempo para voltar, exigindo informação transparente, medidas concretas e resultados comprovados das autoridades ou dos profissionais dos destinos atingidos.

Guo Gang Chang, da Fosun, a nova cara do Club Med

Guo Gang Chang, da Fosun, a nova cara do Club Med

2016 confirmou a China como um dos maiores atores do turismo internacional. A OMT já tinha anunciado há quase vinte anos que a China se tornaria antes de 2020 um dos primeiros mercados emissores, ela já é o primeiro. Serão esse ano 128 milhões de turistas (mesmo se a metade viajam para Hong Kong, Macau e Taiwan) e US$420 milhões de despesas no exterior. A verdadeira surpresa foi a explosão dos investimentos chineses, com um impacto excepcional na França e no Brasil. Em pouco mais de um ano, vimos o Club Med, a Accor, a Wagons Lits e a Azul passar a ser controladas por gigantes da China que vão sem dúvidas influir nas estratégias desses grupos chaves do turismo nos dois países.

AirBnb parceira do Rio de Janeiro olímpico

AirBnb parceira do Rio de Janeiro olímpico

Foi esse ano também que as grandes empresas da economia colaborativa viraram atores incontornáveis da industria turística. Assim a AirBnb que conseguiu mostrar durante os Jogos Olímpicos do Rio que representava quase 25% da oferta de hospedagem da cidade maravilhosa. Sendo agora líder em muitos destinos, incluindo em Paris, AirBnb deve aceitar uma concorrência leal com os profissionais – pagando impostos e respeitando os códigos de consumidores-. Deve resolver a difícil coabitação entre seus clientes e os moradores das vizinhanças. Mas os seus sucessos de 2016 junto aos viajantes, os acordos passados com redes hoteleiras e o lançamento da operadora Trips, mostram que a AirBnb e os grupos da economia colaborativa são hoje atores profissionais do setor que vão contribuir a mudar o turismo mundial.

O impacto da eleição de Trump sobre o turismo preocupa os profissionais americanos

O impacto da eleição de Trump  preocupa os profissionais americanos

Outros eventos importantes que marcaram 2016 vão influenciar as viagens internacionais em 2017,:grandes mudanças políticas – Brexit, eleição de Trump ou Paz na Colombia- , evoluções do cambio – força do dolar, queda do Euro ou firmeza do Real, sem que seja ainda possível de medir os seus impactos. Mas é certo que desde o mês de setembro as tendências das viagens internacionais deram uma forte melhoria, projetando 15% de crescimento entre o Brasil e a França. Podemos assim desejar uma “Bonne Année” a todos os viajantes e a todos os profissionais do setor contando que 2017 vai ser mesmo um Feliz Ano Novo!

Jean-Philippe Pérol

Azul, agora não somente verde amarelo mas também vermelho

Azul, agora não somente verde amarela mas também vermelha

Carlson: para os herdeiros da Wagons lits, uma nova era chinesa?

Estande da Carlson Rezidor no ITB de Berlim

Estande da Carlson Rezidor no ITB de Berlim

Já sócio da Azul e de varias empresas de aviação ou de hotelaria na Espanha, na Suíça e na própria China, o grupo chinês HNA acabou de comprar uma participação majoritária na Carlson Redizor. Dona de muitas marcas importantes como Radisson Blu, Radisson, Radisson RED, Park Plaza, Park Inn by Radisson, Quorvus, Country Inns & ou Suitecwt_logo1s, essa empresa da Carlson, que começou em 1960 comprando o Hotel Radisson de Minneapolis, administra hoje mais de 1400 hotéis no mundo. Mais conhecidas no Brasil por ter herdadas a fabulosa historia da “Compagnie internationale des wagons lits et du tourisme”, as agencias de viagens da Carlson Wagonlit Travel não foram incluídas na transação mas os analistas já projetam novos possíveis lances.

O Grande Hotel de Pequim então da Wagons lits

O Grand Hotel de Pequim então da Wagons lits

Vendo essa notícia ligando a China, a hotelaria e a Wagons lits – onde trabalhei oito anos no Brasil e na França -, me lembrei da minha primeira reunião em Paris com o diretor financeiro da empresa, quando tinha sido impressionado por um quadro na parede do seu escritório. Ele mostrava uma carta no papel timbrado do Grande Hotel de Pequim, mandada em 1951, pouco tempo antes da estatização pelo regime comunista. 521de778a4e8b5f2fbe0f04976ad16ebEsse palace, onde o escritor francês André Malraux escreveu seu maior livro ” A condição humana”, era parte da cadeia hoteleira da Wagons-lits “Les grands hôtels des Wagons-lits”,  fundada em 1894. Hoteis de luxo tinham sido abertos nos maiores destinos internacionais: o Pera Palace de Istambul, o Terminus de Bordeaux, o Grand Hôtel de Marselha, o Excelsior de Bruxelas ou o Travel Palace de Paris, num prédio dos Campos Eliseus 107 onde fica hoje uma agencia do banco HSBC.

O Pullman Paris Tour Eiffel

O Pullman Paris Tour Eiffel

Depois de ter perdido os seus prestigiosos palaces, e de ver os seus hotéis espalhados entre as marcas Etap, PLM, Altea e Arcade,  Wagons lits tentou em 1986 voltar como grande ator da hotelaria mundial, lançando a marca Pullman como bandeira dos seus cinco estrelas e também como nome do novo grupo. Antoine VeilMesmo como toda força da companhia, e o prestigio do seu então Presidente Antoine Veil, já era tarde. Comprando a Compagnie internationale des wagons-lits et du tourisme (CIWLT) em 1991, Accor fusionou dois anos depois a Pullman recém nascida com a Sofitel. A marca voltará a ser utilizada a partir de 2007 -inclusive no Brasil- para os hotéis middle-scale do grupo francês.

Sofitel Wanda em Pequim

Sofitel Wanda em Pequim

Separada da Carlson desde 2006, mas também herdeira da Wagons lits, a Accor já voltou na hotelaria de luxo em Pequim, não com o Grand Hotel mas com um espetacular Sofitel Wanda. Para Carlson Rezidor a entrada da HNA  marcará talvez novas ambições para o grupo. A HNA, que quase comprou a operadora FRAM em 2015, poderia também fazer outras propostas incluindo outros reencontros. E mesmo agora espalhados, os mitos da Compagnie Internationale des Wagons lits et du tourisme continuarão a alimentar os sonhos dos viajantes.

Jean-Philippe Pérol

Assinatura do acordo entre a chinesa HNA e a americana Carlson

Assinatura do acordo entre a chinesa HNA e a americana Carlson

 

 

 

 

Van Gogh, eterno hóspede de Auvers-sur-Oise

Les bords de l’Oise, de Vincent Van Gogh

Mesmo se Van Gogh passou somente os últimos 70 dias da sua vida nessa pequena cidade dos arredores de Paris, Auvers-sur-Oise ficou profundamente marcada  pela sua estada, ganhando uma projeção internacional que continua até hoje através das paisagens e dos personagens que ele imortalizou nos quase oitenta quadros que ele pintou na região. E se Auvers-sur-Oise atrai também pelo seu castelo, com seus jardins floridos e seus íris, com seus casamentos e seu festival ” Normandia  impressionista “, o turismo aproveita em primeiro lugar a omnipresença do artista gênio.

Castelo de Auvers sur Oise e seus famosos Íris

Castelo de Auvers-sur-Oise e seus famosos Íris

Van Gogh estará presente nas novidades previstas esse ano, como o lançamento da construção de um novo barco de passeio, replica do barco onde trabalhava o pintor  Charles-François Daubigny (1817-1878), um artista que Van Gogh admirava tanto que o homenageou com seu quadro “Le jardin de Daubigny”.    O Jardim de Daubigny, do Vincent Van GoghE para descobrir as beiras do Rio Oise que ele tanto gostava, Auvers-sur-Oise se juntou com dois outros municípios da região para propor um “cruzeiro pique-nique”  onde os turistas poderão aproveitar as paisagens favoritas do pintor enquanto estarão almoçando. Na casa do Doutor Gachet, o famoso benfeitor e amigo,  uma bem sucedida renovação e a uma exposição de obras inéditas fazem o visitante mergulhar no ambiente da época , dando a impressão que o Vincent pode aparecer a qualquer hora.

A Auberge Ravoux em Auvers sur Oise

A Auberge Ravoux em Auvers sur Oise

É porem na Auberge Ravoux, onde Van Gogh se hospedou de maio até julho de 1890, que a emoção de uma visita em Auvers sur Oise é a mais forte. A pequena albergue guardou a decoração e o ambiente dos bares de artistas no final do século XIX. O quarto de 7 metros quadrados, que o pintor alugava e onde ele estocava as suas telas embaixo da cama, guardou toda a sua simplicidade. E no restaurante, ainda é possível sentar e almoçar na mesma mesa onde ele fazia as suas refeições. Dominique-Charles JanssensConservar a alma do lugar é a luta do proprietário do local, Dominique-Charles Janssens, um cidadão belga que encontrou a então chamada “Maison de Van Gogh” por acaso (o caro dele bateu na frente em 1985). E se apaixonou então, ao ponto de comprar-la, restaurar e reabrir, reaproveitando o seu antigo nome de “Auberge Ravoux”. Sem apoio, mas com muita paixão, conseguiu convencer uns bancos, alguns patrocinadores e algumas operadores de turismo (inclusive a Wagons lits quando encontrei com ele pela primeira vez). Hoje ele recebe no local dezenas de milhares de visitantes vindo do mundo inteiro, mas o sonho do Janssens é de poder um dia pendurar na parede do pequeno quarto numero 5 um quadro do Vincent. A 30 milhões de dólares, pode parece impossível, mas sua garra e sua paixão já fizeram alguns milagres em Auvers-sur-Oise …

Jean-Philippe Pérol

Mesa na frente da Auberge Ravoux

Mesa na frente da Auberge Ravoux

 

Viagens de negocios com Uber ou AirBnb?

 

airbnbbusiness_01Os 43 vereadores de São Paulo que acataram as exigências da corporação dos taxistas podem ser em breve solicitados de novo para barrar outros avanços da economia colaborativa, essa vez nas viagens corporativos.PROIBIU UBER, PERDEU Com 10% dos seus clientes utilizando as suas ofertas de hospedagem durante as suas viagens de negócios, a AirBnb esta desenvolvendo uma opção de cadastro para as empresas ser assim faturadas diretamente das viagens dos seus funcionários, uma opção que a Uber já estava oferecendo. As duas assinaram também um convênio com a agencia online  de viagens corporativas  Concur (ainda não estabelecida no Brasil), ganhando um acesso a 25.000 contas e 25 milhões de funcionários. Segundo uma pesquisa « Faster, smarter, better? » da Carlson Wagonlit Travel, é clara o crescimento da economia colaborativo nas viagens de negócios, especialmente pela adesão dos administradores de contas. AIRBNB BUSINESS TRAVELEles são 41% a achar esses fornecedores importantes para os transportes terrestres, e 31% para a hospedagem. Numa outra pesquisa da Wagons lits, verifica-se que a força dessa tendência junto aos millenials (jovens nascidos entre 1980 e 2000).  Mais de um terço deles utilizam Uber durante as suas viagens de negócios (15 % para os outros viajantes), e 20 % escolham Airbnb ( 10 % para os outros viajantes). Dados da Certify, uma plataforma de administração de viagens de negócios, confirmam essas tendências: Uber teria a preferência de 55% dos viajantes contra 43% para os taxistas tradicionais, as reservas de AirBnb para viagens de negócios vão mais que dobrar em 2015, e a media das estadias é de 3,8 noites contra 2,1 para a hotelaria.

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As grandes empresas  da industria turística estão trabalhando cada vez mais com esses novos atores. American Express integrou a Uber no seu programa de fidelização.Airbnb 2016 A Uber é também parceira de varias cadeias hoteleiras, incluindo  W  ou  Hyatt. Companhias aéreas como United estão incluindo a AirBnb nas suas aplicações, e a KLM iniciou uma verdadeira parceria com ofertas de hospedagem em todos os seus destinos.  Sempre pioneira, a cidade de  São Francisco imaginou novas parcerias com a Airbnb para integrar na sua oferta turística bairros e comércios periféricos. E São Francisco Travel  oferece AirBnb como opção de hospedagem para os organizadores de seminários ou de congressos, uma solução que a cidade do Rio de Janeiro também escolheu com sucesso para os Jogos Olímpicos de  2016.

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Se as ofertas da economia colaborativa agradem os viajantes de negócios pelo custo, a experiência diferente, a convivialidade e a tecnologia, alguns freios ainda existem. Segunda a mesma pesquisa da Wagons lits, 28% (e 42% dos administradores) estão achando os riscos em termo de segurança (falta de seguros, fraudes, roubos ou outros) maiores que nas ofertas tradicionais. choix_presse_hd-006Os progressos nas legislações locais, as garantias oferecidas, e a procura de transparência nos comentários online ajudarão sem duvidas a tranquilizar os consumidores e as empresas. Claro porem que a economia colaborativa não pode satisfazer todos os viajantes de negócios. Muitos vão continuar a privilegiar os serviços, a estabilidade, a segurança e os programas de fidelização, tanto dos hotéis que dos grandes especialistas de viagens corporativos. Assim como a Accor, a hotelaria já parece pronta para o desafio, mas ambos os setores devem prestar a máxima atenção a essas novas ofertas e preparar alternativas valorizando a força dos seus valores.

Esse artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original de Claudine Barry  no “Réseau de veille en tourisme, Chaire de tourisme Transat”.