I love NY, We love NYC, mudar é sempre um desafio!

O novo logo de Nova Iorque tem a difícil tarefa de substituir um ícone do marketing turístico

46 anos atrás, em 1977, a imagem de Nova Iorque era tão desastrosa quanto sua situação financeira. Numa situação de quase falência, a cidade era violenta, suja, insegura, e afugentava tanto os investidores quanto os turistas. No dia 13 de Julho, o caos virou geral quando uma queda de raios provocou um blecaute geral de 35 horas, com dramáticas consequências econômicas e humanas. Para reverter esse desastre, o governador do Estado pede a Wells Rich Greene – uma agência de publicidade pioneira famosa pela criatividade e o humor da sua presidente, Mary Wells Lawrence – para imaginar uma campanha para relançar o turismo para  a « Big Apple ».

A inspiração do Milton, desenhada no táxi que o levava para agência

Talvez inspirado de uma campanha do estado de Virginia “Virginia is for lovers”, o lema escolhido foi  « I Love New York ». Entregue ao famoso designer nova-iorquino de origem húngara, Milton Glaser (1929-2020), foi concentrado em três letras e um coração, uma genial inspiração que teria surgido no táxi que o levava para a agência. O tão simples e tão forte logo começou imediatamente a virar uma sucesso mundial: uma das criações gráficas mais copiadas da história em camisetas, sacolas, mugs, chaveiros, garrafas ou bonecos. Foi adotada por varias cidades no mundo e o desenho original faz hoje parte do acervo do Museum of Modern Art.

Depois do Covid, a crise financeira voltou a assustar Nova Iorque

Reinventar um monumento do marketing mundial era um impressionante desafio, mas depois dos 45.000 mortes da pandemia, de inúmeras falências de lojas e de restaurantes, bem como de muitos movimentos de moradores entre os 5 bairros da cidades e seus subúrbios, as autoridades acharam que era indispensável mudar para dar um novo impulso a imagem de Nova Iorque. O novo lema, « We Love NYC », quis abraçar duas fortes tendências do turismo internacional: a importância da comunidade e dos seus moradores – com o C de City-, e a necessidade do coletivo tanto local como global – com o We-, juntando todos aqueles que amam, segundo o prefeito Eric Adams, a maior cidade do mundo.

O novo design foi inspirado do metrô de Nova Iorque

O trabalho do designer Graham Clifford, sucessor do Milton Glaser, gerou um forte polêmica entre os moradores da cidade. O novo logo foi chamado de emoji desenhado por uma criança de 9 anos, o  The New Yorker   fez uma crítica violenta ao desenho que julgava “old fashioned”, outros acharam que se mudar devia ser para « Rats love NYC ».  Mas Graham defendeu o seu conceito. Explicou que procurou justamente modernidade respeitando o logo icônico, e que a nova police era inspirada da sinalização do metrô de Nova Iorque – coração da cidade onde todos, banqueiros ou operários, sentam lado a lado e criam esse espírito coletivo, o “we” tao característico da cidade.

Yes, We love NYC, and the times, they are a-changin.

Nova Iorque é mesmo um encontro de amor e de energia

 

A polémica isenção de vistos é mesmo o x do problema?

Na guerra dos vistos, ninguém deve sair ganhando

Já discutida quando concedida unilateralmente pelo governo Bolsonaro, a isenção de visto a turistas dos Estados Unidos, do Canadá, da Austrália e do Japão abriu uma nova polémica agora que o governo Lula anunciou sua revocação a partir de 1º de outubro. Segundo o Itamaraty, a intenção era de ampliar a medida na base da reciprocidade, mas devido a recusa das autoridades americanas, canadenses, japonesas e australianas de oferecer o mesmo benefício a cidadãos brasileiros, o Brasil não teve outra escolha que de voltar a exigir o visto.

A ambição de 12 milhões de entradas não sobreviveu a crise

Além desse principio diplomático de respeito e igualdade, o governo levantou um outro ponto, a dificuldade de mostrar que a medida tinha trazida um qualquer aumento de turistas oriundo desses países. Em março 2019, quando foi anunciada, o então ministro do turismo projetava um aumento de 35% das entradas de turistas em 2020, e a intenção era de chegar a 12 milhões de turistas por ano em 2022. Com a chegada da pandemia, a queda de 88% em dois anos das chegadas internacionais, e mesmo com os 3,65 milhões da boa surpresa de 2022,  foi impossível de verificar se as ambições do ministro eram realistas.

Na hora de apoiar a retomada, a medida chocou as entidades do trade

Tomada num momento onde o turismo começa a sair de uma crise que abalou, e as vezes matou, muitas empresas do setor, a decisão do Itamaraty, está revoltando todos os profissionais, juntando todas as lideranças de classe, transportadores, hoteleiros,  organizadores de eventos, comerciantes, o lazer e o corporativo, o setor privado e muitos órgãos públicos – inclusive a própria Embratur, num tentativa de reverter essa medida, e de retomar  os objetivos de crescimento do turismo receptivo brasileiro que tanto sofreu nos últimos dois anos.

Respeito mútuo e reciprocidade foram os pontos levantados pelo Itamaraty

Se o argumento da reciprocidade é politico, o turismo deve também analizar as observações feitas pelo governo sobre o impacto dos vistos sobre as entradas provenientes de quatro países que representam um pouco menos de 10% dos estrangeiros visitando o Brasil. E deve ajudar a définir se os vistos são realmente hoje o primeiro obstáculo ao desenvolvimento do turismo internacional no Brasil.
Sobre o impacto dos vistos, a pandemia impediu um comparativo. As experiencias anteriores  mostraram que o impacto existe, mas que ele não chega a atingir os valores ufanistas anunciadas quando foram cancelados as exigências em 2019. Para países distantes, foram observadas quedas de 3 à 5 % para França nos anos 90. Quedas muito maiores – como acontece agora entre o Brasil e os Estados Unidos- são muito mais decorrentes das dificuldades ou dos prazos de obtenção do que do proprio visto. Assim um visto eletrônico ou um visto obtido na chegada seriam talvez ideias a trabalhar para respeitar tanto as exigências de reciprocidade da politica que as reivindicações de liberdade dos turistas.

A Embratur tem um momento muito favorável pela frente

Os esforços para conseguir cancelar ou pelo menos aliviar a exigência de reciprocidade devem porém não esconder que os grandes obstáculos ao crescimento do turismo internacional no Brasil não são os vistos exigidos, ou não, dos japoneses, dos canadenses, dos australianos e dos estados-unidenses. A segurança, a qualificação da mao de obra e o respeito pelo meio ambiente são, com certeza, fatores muito mais imprescindíveis para quais devem ser mantida a mobilização da classe. Aproveitando o momento de melhoria da imagem internacional do Brasil, é também importante de apoiar os esforços da Embratur para voltar a comunicar sobre uma realidade do turismo nacional ainda muito pouco e as vezes muito mal conhecida nos grandes mercados emissores.
Jean-Philippe Pérol

Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue” do autor na revista profissional on line Mercado e Eventos

Para a OCDE, a retomada do turismo ainda precisa ser acompanhada

A OCDE sugere ideias para uma retomada sustentável

Na euforia da retomada e dos bons resultados de muitos setores do turismo mundial – receitas em alta, revenge travel, boom do luxo ou fortalecimento do turismo domestico-, vários dados mostram também que o fraco desempenho da economia internacional, o choque energético, a guerra na Europa, a volta da inflação e a queda do poder aquisitivo das classes medias podem resfriar o entusiasmo dos profissionais. Segundo o relatório 2022 Organização pela Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, a volta dos números de turistas internacionais aos niveis de 2018/2019 não deve agora ser projetada antes de 2025, e talvez somente em 2026.

Segundo o NTTO, os fluxo Brasil Estados Unidos só voltarão em 2027 aos níveis de 2018

Os últimos dados da Organização Mundial do Turismo sobre 2022 mostram um volume de 900 milhões de turistas internacionais, 37% a baixo dos nivéis observados em 2019, mas com variacões regionais extremamente forte, de menos 77% na Asia a menos 17% no Oriente Medio, passando por menos 35% nas Américas e menos 21% na Europa. Assim que foi observado no Brasil – onde os fluxos para Europa já chegaram perto dos nivéis pre-pandemia enquanto o número de turistas para Estados Unidos so deverão voltar aos valores de 2018 em 2027-, o relatório lembra que a situação é assim extremamente diferenciada dependendo de cada pais e de cada mercado.

A Slovénia já se recuperou da crise

Num setor que foi extremamente fragilizado pela crise – a participação do turismo ao PIB nos paises da Organização caiu em media de 1,9%-, a OCDE destaca o sucesso de vários destinos que já superaram o ano passado os números anteriores a 2019. Os destaques são na Europa o Dinamarca, a Slovénia, a Grécia, o Luxemburgo, e a Espanha. No Portugal e na Turquia,  os resultados se aproximam dos obtidos antes da crise em numeros de entradas, mas as receitas turísticas já ultrapassaram os valores anteriores. No Oriente Medio, o Egito já recuperou os volumes anteriores e antecipa um forte crescimento das reservas para esse ano.

O Chile lançou um ambicioso programa de apoio ao setot

Para a OCDE, os sucessos de alguns paises não devem esconder que a crise do setor continua em outras regiões, especialmente na Europa Oriental, na Ásia, e que todas devem resolver problemas estruturais – alta dos precos da energia, falta de mao de obra, investimentos em normas ambientais-. Sem pessimismo -e sem ufanismo-, a retomada ainda deve ser sustentada, e varias medidas são sugeridas para as autoridades responsáveis.

  • Reforçar a colaboração entre os setores publico e privado para apoiar o crescimento construindo o futuro. Nos Estados Unidos por exemplo, a estrategia national para o turismo e as viagens  (National Travel and Tourism Strategy 2022) vai mobilizar toda a administração federal mas será executada sob o controle do Conselho da Politica do Turismo (Tourism Policy Conseil) em parceria com o setor privado.
  • Construir um setor solido e estável , mais preparado aos futuros (e inevitáveis) choques. Para reduzir as fragilidades do setor, é importante reforçar a capacidade  das administrações e das empresas de reagir muito rapidamente para poder enfrentar mudanças conjunturais ou novas crises politicas, financeiras, climáticas ou sanitárias. Foi assim lançado no Chile  um programa “PAR Chile Apoya Turismo 2022” para pequenas e medias empresas. Esse projet integra capacitações profissionais, planificação operacional, assessoria técnica, bem como financiamentos capital de giro e de novos investimentos.
  • Tomar medidas de curto e longo prazo para transformar o setor numa atividade verde. A Noruega criou um ferramenta chamado “CO2RISM” para calcular a quantidade de emissões de CO2 ligadas ao transporte dos turistas domésticos e internacionais no pais. Essa calculadora é um exemplo das medidas tomadas dentro da estratégia nacional de turismo que foi adotada pelo governo norueguês para ajudar os profissionais e os destinos a planificar e desenvolver até 2030 um turismo sustentável respeitoso do meio ambiente, da natureza e dos moradores.

Qual país será líder do turismo internacional em 2022?

A Grécia deve ser um dos grandes sucessos da temporada de 2022

Enquanto nem acabou a temporada de verão do hemisfério Norte, a briga pela liderança do turismo mundial já recomeçou e os principais destinos do turismo internacional já publicaram suas previas e suas análises dos resultados 2022. Os responsáveis políticos são unânimes a destacar a resiliência do setor, com resultados já próximos dos recordes de 2019, e apontam para algumas das tendências já  destacadas pelos profissionais. As lições da crise bem como as ações a priorizar divergem porém de um pais para o outro, bem como as projeções para o segundo semestre. Uma competição que deixa quase completamente abertas as apostas para as lideranças, tanto em numero de turistas que em receitas.

A Torre Eiffel voltou com uma atratividade renovada

A ministra francesa, Olivia Grégoire, anunciou na semana passada que o país devia receber esse ano de 65 a 70 milhões de visitantes. Seriam 20% a menos que os 89 milhões anunciados em 2019, mas, segundo ela, o suficiente para deixar a França na liderança mundial en numero de entradas turísticas. Dos visitantes internacionais, que representaram um terço do faturamento do setor, os mais numerosos  foram os europeus que já tinham voltado o ano passado. Mas o crescimento mais espetacular vem das Americas. O “revenge travel” e a fraqueza do euro deram um impulso espetacular a chegada de estado-unidenses (e de brasileiros) que compensaram em parte a ausência de chineses, japoneses e russos.

Cannes e a Riviera foram destaques da temporada de verão

Sem estatísticas convincentes, é ainda cedo para definir quais regiões francesas, além de Paris e da Riviera,  foram as mais beneficiadas pela retomada. Algumas tendências fortes foram porém destacadas pela ministra: as viagens de trem, o turismo de proximidade, o turismo rural, ou o turismo itinerante. O sucesso do turismo de luxo, especialmente em Paris, levou a uma alta dos preços de mais de 35% nos hotéis e terá um impacto positivo nas receitas turísticas que deveriam atingir os níveis de 2019. Para confirmar as projeções otimistas da ministra, a França deverá porem superar os problemas do setor: falta de mão de obra, inflação ameaçando principalmente o turismo dos seniors, e lentidão da incerta retomada das viagens de negócios.

A Espanha deve receber mais de 65 milhões de turistas

A Espanha publicou também seus resultados dos sete primeiros meses do ano, com números detalhados e projeções mais cautelosas dos profissionais. 39,3 milhões de turistas estrangeiros já chegaram no país até o final de Julho, 300% a mais que em 2021, mas ainda 17% abaixo dos números atingidos em 2019.  As estatísticas da Frontur  mostram que o primeiro mercado volta a ser o Reino Unido com 8,4 milhões de viajantes, seguido da Alemanha com 5,5 milhões e da França com 5,3 milhões. As regiões mais beneficiadas foram a Catalunha com 8 milhões de visitantes, as Ilhas Baleares com 7,5 milhões e as Ilhas Canárias com 6,8 milhões. As receitas turísticas são estimadas a final de Julho em 47 Bilhões de Euros, uns 10% abaixo dos recordes de 2019.

O turismo estado-unidense quer privilegiar a qualidade

Com os Estados Unidos insistindo mais em resultados qualitativos – somente 55,4 milhões de turistas internacionais mas umas receitas devendo chegar a  USD 200 bilhões, os três grandes líderes do turismo mundial já anunciaram suas estimativas de resultados para 2022, e os dois pódios (número de turistas e volume de receitas) estão se definindo. Para as receitas de turismo internacionais, os estado-unidenses devem seguir na absoluta liderança, seguindo da Espanha, mas a França deveria se aproximar do segundo lugar devido a seus excelentes resultados no turismo de luxo.

Na era do turismo sustentável, um novo ranking dos destinos lideres?

Para os números de turistas internacionais, o terceiro lugar ficará com os Estados Unidos (em parte por escolha própria), mas a briga pelo primeiro lugar será certamente muita apertada entre os franceses e os espanhóis. Lamentando o foco dado aos resultados quantitativos pelos políticos e pela mídia,  muitos consumidores, moradores e profissionais desses dois países pensam porém que a verdadeira liderança do turismo internacional deveria ser definida somente por critérios econômicos, sociais e ambientais. O novo pódio poderá assim ficar aberto a muitos novos competidores.

Jean Philippe Pérol

 

Os EE-UU apresentam uma estratégia inovadora para o turismo pos crise

Gina Raimondo, Secretaria de Comercio, apresentou sua estratégia inovadora

A secretária de Comércio dos Estados Unidos, Gina M. Raimondo, anunciou a semana passada uma nova estratégia nacional para indústria das viagens e do turismo. Aproveitando as lições da crise, e as novas exigências dos turistas, dos profissionais e dos moradores, ela reafirmou os esforços do governo federal para apoiar o setor, e anunciou suas novas metas. No prazo de 5 anos, o objetivo  é de atrair 90 milhões de visitantes internacionais por ano, de chegar a receitas internacionais de US$ 279 bilhões anualmente, e de conseguir que essas receitas apoiam a criação de empregos em todos o território  estadounidense.

Atropelados pela crise, os grandes destinos aderiram as novas ideias

Esse nova estratégia é uma virada em relação a politica mais quantitativa definida em 2012 pelo administração Obama, que tinha o objetivo de 100 milhões de visitantes mas previa gerar somente US$ 250 bilhões de receitas por ano. A Secretária enfatizou também que a retomada oferecia uma oportunidade única de construir uma industria turística mais inclusiva, mais justa, mais responsável e mais resiliente, com resultados concretos atrelados a quatro metas: promover o destino, facilitar as viagens, desenvolver novos lugares ou comunidades, e focar um turismo mais sustentável.

Brand USA CEO Chris Thompson speaking at the IPW conference in Orlando.

Thompson, CEO de Brand USA, convenceu os profissionais durante o IPW

Sem ser uma novidade (nos anos 90, Malta se destacou anunciando que queria 20% de turistas a menos e 20% de receitas a mais. Nos anos 2000, a França já tinha definido a ambição do “mieux tourisme” para substituir o “plus tourisme“), a virada para uma politica mais qualitativa foi elogiada pelos profissionais. Falando no US Travel Association’s IPW, o CEO de Brand USA lembrou que somente 79 milhões de turistas visitaram o pais em 2019 e que, mesmo sem a crise que cortou 75% dos fluxos, os  100 milhões de turistas não teriam sido atingidos. E concluiu: ” Nosso objetivo agora não é de acolher o mundo inteiro, é de maximizar o turismo como uma exportação, sendo as receitas o primeiro indicador a ser seguido.”

O Museu do Primeiros Americanos em Okhlahoma City

A nova estratégia confirme o papel central de Brand USA na promoção internacional, em estreita ligação com os profissionais e com o apoio de outros órgãos do governo como Homeland Security ou o State Department. Essas sinergias são desenvolvidas a todos os níveis, inclusive dos vistos, um gargalho importante em alguns consulados. Mas a prioridade dada ao turismo pelo governo federal foi alem de medidas pontuais, o turismo foi também beneficiado com um fundo especial  viabilizando todo o projeto e votado de forma bipartidária. Com o Restoring Brand USA Act, foram então um recorde de US$ 250 milhões que o Presidente Biden colocou a disposição da retomada do setor.

Biden assinando o pacote incluindo o Brand USA Recovery Act

Num turismo pos Covid que está ainda se definindo, frente aos países europeus que parecem hesitar a escolher seu caminho e a assumir os investimentos indispensáveis, frente a novos concorrentes da Asia ou do Oriente Medio que conseguem definir novas estratégias e achar os financiamentos, os Estados Unidos impressionaram  tanto pela virada estratégica que pelos meios mobilizados para atingir metas claras com datas definidas, em sinergia total com os profissionais do setor . Ao final de contas, os viajantes terão assim múltiplas oportunidades de viver novas experiências nesse grande destino turístico.

Jean Philippe Pérol

 

 

Celular no avião, uma polémica que já era?

Receber ou fazer ligação durante o voo é quase sempre proibido

Mesmo com o Wi-fi a bordo se generalizando, o cenário de dezenas de celulares tocando  num avião lotado de gente falando alto ainda não aconteceu. Mas poderia muito bem acontecer daqui há um ou dois anos já que os avanços tecnológicos permitam a qualquer celular de receber ligações se o avião tiver os equipamentos necessários, e algumas companhias já autorizam as ligações em rotas especificas. Mas, na imensa maioria dos voos internacionais, as conversas telefónicas são proibidas por quatro tipos de razões distintas: os riscos técnicos, a oposição dos tripulantes, as dúvidas dos passageiros, e a legislação restritiva.

A longa história das ligações telefônicas a bordo

O possível impacto das ligações telefónicas sobre a segurança dos voos tem uma longa historia. Nos anos 90 era autorizadas desde um telefono fixo instalado perto dos galleys, nos anos 2000 foi um aparelho encaixado na sua frente onde era possível falar depois de passar um cartão de credito. Com a sofisticação crescente dos celulares, os temores de interferências com os equipamentos do cockpit levaram nos anos seguintes os especialistas a uma proibição total.  Hoje as pesquisas nunca comprovaram esses riscos, os fabricantes garantem o risco zero para os novos aparelhos, e a segurança eletrônica  não deveria mais ser um motivo de impedir as ligações.

A oposição dos tripulantes é extremamente firme. Eles acham que a liberação das chamadas telefônicas poderia levar ao caos nas cabinas, que brigas as vezes incontroláveis vão acontecer entre passageiros falando alto no telefone e outros querendo tranquilidade. Já gerenciando poltronas reclináveis, excessos de bebidas, luzes noturnas e choros de bebês, as aeromoças e os comissários não querem ser obrigados a interferir em novos conflitos de comportamento.  Alguns sindicatos profissionais levantaram também problemas de segurança pela falta de atenção dada as instruções dos tripulantes pelos passageiros grudados aos seus telefones.

Altos executivos são os mais favoraveis ao uso do celular no avião

Os viajantes e os profissionais do turismo estão divididos sobre essa liberação. Varias pesquisas mostraram que a maioria dos passageiros estão se opondo a um “liberou geral”. Eles temem que os toques das chamadas e as conversas a voz alta levam a uma cacofonia geral, e que discussões sobre níveis de som geram atritos e até brigas. Essas pesquisas mostraram também que menos de 5% dos viajantes acham interessantes poder utilizar os seus celulares durante os voos. Mas esses encontram-se principalmente entre os homens de negócios e os passageiros da classe executiva que as companhias aéreas vão, com certeza, escutar com muita atenção.

A proibição de uso dos celulares ainda é a regra geral

Mesmo se não é internacionalmente proibido de receber ou fazer ligações a bordo, essa proibição existe de fato ou de direito em muitos países. É o caso dos Estados Unidos onde existam não somente restrições da Federal Communications Agency sobre o uso das duas bandas mais utilizadas pelos celulares, mas também uma regra da  Federal Aviation Administration proibindo as conversas por celular nos voos comerciais. No Brasil a ANAC exige que os celulares estejam em modo avião durante o voo. Sem proibir as conversas via aplicativo, pede com bom senso que os tripulantes vigiam “formas incômodas ou inseguras de uso dos celulares como utilização dos alto-falantes ao invés de fones de ouvido, e as comunicações em voz alta”.

O celular nos trens já virou hábito de todos sem gerar conflito!

Os especialistas prevêem que as agencias reguladoras liberarão o uso de celulares nos aviões, deixando as companhias aéreas decidir tanto as possibilidades como as condições de uso. Para evitar os caos sonoros e os conflitos, uma das soluções será talvez de copiar o modelo escolhido por varias companhias de trem que abriram espaços específicos para os passageiros querendo fazer ligações em voz alta. E a longo prazo, é bom lembrar que os millennials e as novas gerações quase não falam mais  diretamente no celular mas deixam mensagens. O bom senso e os novos hábitos de consumo terão evitado uma guerra.

Democratas ou Republicanos, destinos são também Política?

A imagem do Presidente impacta a imagem do pais e do destino

As últimas eleições americanas, e a acirrada disputa que acabou com a vitória de Joe Biden, foram seguidas com muita atenção – e as vezes com muita paixão – pelos profissionais do turismo do mundo inteiro. Agentes de viagem ou hoteleiros sabem que as futuros decisões dos responsáveis políticos impactam de forma decisiva as escolhas dos viajantes. Com rumos diferentes dados pelos governos ao crescimento econômico,  aos índices da bolsa, ao valor de câmbio, as infraestruturas, bem como a imagem do país e de seu “comandante-em-chefe”, os fluxos de turistas podem aumentar, diminuir ou simplesmente mudar de destinos.

O dinamismo de Wall Street impacta diretamente as viagens dos americanos

Se olhar por exemplo os fluxos de turistas norte americanos para Europa nos últimos trinta anos, pode observar que dois desses fatores explicam as flutuações do número de viajantes. O valor do câmbio do USD frente as moedas européias e depois para o EUR, combinado com o nível do índice da bolsa de  Nova Iorque, definem assim claramente as evoluções anuais, baixando até menos de 10 milhões quando for desfavoráveis como em 2003 ou 2008, e subindo até um teto de 18 milhões quando a força do USD se junta com o otimismo de Wall Street, o que foi o caso em 2000, 2007 ou 2018.

Obama se empolgou pela promoção do turismo nos EEUU

Além das suas decisões e dos seus sucessos, os dirigentes democratas ou republicanos influenciam as viagens com sua própria imagem. Olhando a dura concorrência da Europa e dos Estados Unidos para o  primeiro lugar dos seus destinos junto aos viajantes brasileiras, é assim interessante de ver como os brasileiros votaram com as suas viagens. Atrás da Europa no início dos anos 90, os Estados Unidos passaram na frente durante a cia do Clinton. A liderança se inverteu na presidência do Bush, até que a chegada do Obama voltou a por os Estados Unidos no primeiro lugar, posição que eles perderam depois da eleição do Trump. Os jogos estão agora abertos para 2021….

As escolhas politicas americanas impactam os destinos europeus

Uma pesquisa realizada alguns anos atrás pela Atout France nos Estados Unidos mostrou que a própria escolha dos destinos depende também dos perfis políticos dos viajantes. 78% dos entrevistados declaravam que suas convicções partidárias influenciavam as suas viagens. Dos quatro grandes destinos europeus dos estadunidenses, a Inglaterra era “vermelha” (preferida por 87% dos republicanos e somente 18% dos democratas) assim como, em menor escala, a Alemanha (24% dos republicanos e 18% dos democratas), enquanto a França e a Itália eram azuis de forma arrasadora (respectivamente 8% republicana e 73% democrata para a primeira, 14% republicana e 57% democrata para a segunda). Será que viagem é mesmo também politica?

Jean-Philippe Pérol

Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue” do autor na revista profissional on line Mercado e Eventos

Nas praias da Normandia, uma nova batalha do Dia D

O filme “O dia mais longo” foi decisivo para popularizar o Dia D

Politica vai mesmo impactar o turismo no Brasil?

A imprensa internacional não poupou o vencedor da eleição presidencial

Lendo as grandes mídias internacionais, do New York Times a El Pais ou do Haaretz ao Le Monde, uma onda de reprovação contra o resultado das últimas eleições presidenciais no Brasil estaria chacoalhando a imagem do nosso Brasil, ameaçando também as nossas exportações e mais ainda o nosso turismo. No Brasil, a UOL deu espaço a essas noticias, focando na França e num possível  boicote de potenciais turistas franceses decepcionados, frustrados ou amedrontados pelas temáticas de campanha do Jair Bolsonaro. Várias ligações ou post nas redes sociais de amigos ou parentes preocupados com minha situação pessoal – como viver agora num país onde o exercito já estava nas ruas (!) e onde as liberdades mais fundamentais eram desrespeitadas (!) – me mostraram que as informações, reais ou fake, tinham de ser consideradas: a chegada de turistas estrangeiros poderão mesmo ser prejudicada?

Segurança é um critério chave para escolher ou não um destino de viagem

Se o fato de ser estrangeiro obriga a não opinar sobre os assuntos políticos brasileiros e a respeitar as escolhas democráticas, várias observações podem ser feitas a respeito do impacto para o turismo. A primeira é de lembrar que as decisões dos turistas ao escolherem as suas viagens internacionais dependem também de fatores objetivos, sendo para o Brasil especialmente a segurança e  os custos do aéreo. Ainda é cedo para saber se o próximo governo conseguirá melhorar essa situação, mas parece que está extremamente preocupado em conseguir resultados, tanto em reduzir a criminalidade que pesa nas vendas do Rio de Janeiro e das capitais nordestinas, tanto nos preços dos vôos internacionais e domésticos que prejudicam o pais inteiro e mais ainda destinos turísticos mais remotos na Amazônia, no Centroeste ou no Sul.

Nos EEUU de Trump, o turismo já mostrou ser maior que a política

Refletir sobre politica e turismo é também olhar o impacto mútuo que já marcou outros destinos. É lembrar o sucesso do turismo internacional em países cujo cunhos democráticos já foram (com ou sem razão) discutidos, seja destinos lideres como a China, a Tailândia, a Turquia ou a Malásia, seja destinos tradicionais como Cuba, Marrocos, Egito ou Israel, seja destinos novos como Vietnã, Maldivas ou Irã. Mais interessantes é comparar as perspectivas brasileiras com as consequências sobre o turismo de votos populares na Inglaterra ou nos EE-UU. Na primeira, a decisão do Brexit em 2016 foi anunciada pela mídia européia como um desastre para o turismo local.  Os números não concordaram, mostrando 4,3% de crescimento em 2017 e 4,4% em 2018. Nos Estados Unidos, teve um impacto negativo da eleição do Trump – somente 0,7% de crescimento em 2017-, mas se devia também a outros fatores como as restrições de vistos impostos a vários países, e as previsões para 2018 já superam 6%.

A alegria brasileira nas campanhas da Embratur

Mesmo limitadas nas suas consequências efetivas, as  declarações de boicote das viagens para o Brasil não devem ser desprezadas, mas até levadas em consideração nas futuras campanhas de promoção internacionais que o setor espera do novo governo. Para sair do patamar limitado de 7 milhões de turistas – e chegar aos 10 ou até 15 milhões que suas riquezas naturais, culturais e humanas merecem, o Brasil deverá  não somente convencer que as preocupações de insegurança e de carestia já pertencem ao passado, mas também mostrar que ele continua sendo o pais da alegria e da liberdade de viver, o pais onde cada visitante, qual que sejam suas origines ou suas opções pessoais, é mesmo recebido com um carinho único!

Jean-Philippe Pérol

Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue”  do autor na revista profissional on line Mercados e Eventos

Turismo e genealogia, uma viagem para descobrir sua própria história

O casamento do Jacques Maurice, irmão da minha tataravó, com a Guianesa Elisa Guisolphe em 1895

Descobrir as suas raízes, sejam familiares, religiosas ou culturais, foi na História uma das primeiras motivações de viagem bem como uma fonte de prosperidade para muitos destinos, de Efeso a Jerusalém, de Atenas a Meca ou de Roma a Tehotiuacán. Desde a Antiguidade, essas cidades sabiam que o prestigio cultural, a potencia religiosa ou a pressão demográfica eram fatores que atraíam os visitantes.  Nos últimos anos, com a forte tendência para dar as viagens um forte conteúdo enriquecedor ou até transformador, o turismo genealógico está atraindo viajantes a reencontrar as terras e as culturas dos seus ancestrais. Ele está crescendo, especialmente -mas não somente- nos países com uma longa historia de imigração, como na Oceania ou nas Américas, tanto para as populações de origem europeias como para aquelas cujos antepassados atravessaram os oceanos nos navios negreiros.

Casa do primeiro imigrante da família Tremblay em Randonnai (Normandia)

Um dos países onde esse turismo genealógico é o mais popular é o Canadá – Quebec. Os 7 milhões de descendentes dos 70.000 imigrantes que povoaram a “Nouvelle France” a partir de 1617 continuam a ter laços com seus vilarejos de origem. Incentivados pela Atout France que chegou até a montar um motor de pesquisa dando o local de origem de cada sobrenome do Quebec, milhares de viajantes vão assim procurar as suas raízes seguindo itinerários repletos de emoções. Na Normandia, no Poitou ou no Vale de Loire, prefeitos e profissionais de turismo de dezenas de pequenas cidades se mobilizam para receber esses primos da América, caminhar com eles nas ruas até encontrar a casa do primeiro imigrante, ou compartilhar com novos amigos e parentes distantes os pratos regionais, o vinho, e as tradições locais.

Uma família visitando a casa dos seus antepassados na Catalunha

Nos Estados Unidos muitas comunidades estão também se focando nessa procura de raízes. O turismo alemão foi talvez pioneiro, aproveitando as origens germânicas de  50 milhões de americanos para incentivar as buscas dos seus antepassados. Descobrindo numa pesquisa que 9% dos seus visitantes estavam querendo seguir os passos dos seus ancestrais, a Escócia colocou essa temática nas suas prioridades. Foi também o caso da Irlanda, dona de uma das mais fortes comunidades especialmente em Nova Iorque, Boston e Chicago, que juntou o turismo genealógico e a descoberta do patrimônio cultural nas suas promoções. A Espanha está interessada nos latinos que já representam quarenta milhões de pessoas com origens ibéricas, e a Sociedade catalã de genealogia está trabalhando em conjunto com o turismo espanhol, não somente nos Estados Unidos mas em todas as Américas.

Varias empresas oferecem ajudar para planificar uma viagem genealógica

Na onda do “turismo transformador”, uma viagem genealógica necessita um bom preparo, incluindo as vezes a ajuda de profissionais. No Quebec, a Sociedade genealógica dos canadenses franceses oferece um seminário aos viajantes interessados. Nos Estados Unidos Ancestry.com, maior empresa mundial de genealogia, tem várias propostas para responder aos pedidos dos seus associados, seja ajudando os viajantes individuais a preparar os seus roteiros, seja oferecendo circuitos acompanhados de um especialista – em cooperação com a operadora  EF Go Ahead Tours ou com os cruzeiros da Cunard. Para os norte-americanos, o preparo da viagem pode até incluir a realização de teste DNA com empresas especializadas,  23andMeAncestryDNA, ou o National Geographic tests d’ADN, bem como uma consulta na famosa Family History Library  de Salt Lake City.

Sites estão ajudando a preparar as viagens genealógicas

Os destinos estão ajudando os viajantes a otimizar as suas pesquisas e seus encontros. O apoio pode ser através dos sites oficiais de turismo como Visit Scotland , o Turismo alemão o a Normandia, a Catalunha ou o Basilicata. Países com historias de emigração oferecem também acervos de museus especializados como o museu do Centro histórico das famílias irlandesas  em Dublin na Irlanda, trabalham com agencias de viagens que oferecem roteiros personalizados, ou recomendam genealogistas como Tataranietos.com , empresa espanhola cujos clientes são em maioria latino-americanos, ou South Africa Genealogy. Mas para uma viagem tão impactante, serão as próprias pesquisas pessoais que assegurarão o sucesso: se informar sobre a historia da região, ter o máximo de nomes e dados dos parentes e ancestrais, saber quais foram os motivos que os levaram a deixar os seus lares.

Em Carghese, na Córsega, nos passos dos ancestrais gregos

O turismo genealógico pode levar a muitas viagens, cada uma seguindo as trilhas de um dos antepassados que terá sido identificado. Assim eu mesmo tive a chance de reencontrar, alem das minhas raízes na Combraille, os passos de um combatente grego radicado na Córsega, de um carbonaro napolitano exilado na Tunísia, de um revolucionário de Mainz seguidor de Napoleão, e de um engenheiro “auvergnat”  desbravando as minas de ouro da Guiana. A historia de cada um foi sem dúvidas para mim um incrível enriquecimento pessoal e uma abertura maior para o mundo. Ajudando a saber de onde a gente vem, o turismo pode assim ajudar a saber para onde a gente vai!

Jean Philippe Pérol