China x EEUU: a guerra comercial já prejudica o turismo

A liberdade iluminando o mundo… ainda?

Mexendo a cada lance com centenas de bilhões de USD, a guerra comercial que o Trump declarou para resto do mundo, e mais especialmente para China, está preocupando os profissionais do turismo dos Estados Unidos. A US Travel Association lembra que o setor teve nos últimos anos um forte crescimento, mas uma desaceleração  começou em 2017 com a queda do turismo proveniente da América Latina e do Oriente Medio. As entradas aumentaram ainda de 0,7% em 2017 e os 77 milhões de visitantes internacionais gastaram um recorde de USD 251,4 bilhões, mas com somente 2%  de alta em relação a 2016, longe da media de 8,9% dos anos Obama. A chave da expansão do turismo americano está agora no mercado chinês, responsável hoje por 3 milhões de entradas e mais de USD 35 bilhões de receitas, e com perspectivas de quase 5 milhões de entradas e  de mais de USD 50 bilhões de receitas projetadas para 2023.

Entre os EEUU e a China, um confronto global pode impactar todos os setores

Mesmo se o NTTO (National Trade and Tourism Office) está esse ano com alguns problemas para publicar estatísticas confiáveis, varias pesquisas mostram tendência negativa  em 2018. Um USD muito forte, a fraqueza da economia de vários países da América Latina -incluindo o México e o Brasil, bem como a desastrosa imagem do Presidente americano, seriam responsáveis de uma queda de quase 4% do numero de turistas e de USD 4,6 bilhões das receitas, bem como da perda de 40.000 empregos. E a guerra comercial sino-americana poderia piorar essas projeções. Desde março, o turismo chinês para os EEUU está em queda de 8,9%, e as reservas de grupos estão 34,4% abaixo dos números de 2017. Considerando os gastos elevados desses turistas ( uma media de USD 7000 por pessoa enquanto as outras nacionalidades não passam de USD 4400), uma pesquisa da Forwardkeys estima em USD 500 milhões o impacto da primeira batalha..

A guerra comercial vai prejudicar as metas de 5 milhões de turistas chineses em 2023

As novas taxas impostas essa semana sobre USD 200 bilhões de produtos chineses, e as retaliações de Pequim, vão ampliar a guerra comercial, e o impacto sobre o turismo pode ainda aumentar. Se é em principio descartado umas restrições explicitas sobre as viagens para os Estados Unidos, as autoridades chineses têm varias maneiras de provocar uma queda significava. Podem por exemplo ampliar os avisos negativos para os viajantes, assim que já fizeram em julho chamando atenção sobre a violência, a falta de segurança e até a sinofobia ameaçando os turistas chineses nas grandes cidades americanas. As mídias chineses podem até liberar a fibra nacionalista de uma população que ficou chocada pelas medidas de Trump e que pode muito bem desviar as suas preferências para outros destinos do Pacifico, da Ásia, da Europa ou da América Latina. A guerra somente está começando, mas os primeiros acontecimentos não são favoráveis para os profissionais do turismo dos Estados Unidos.

Esse artigo foi inspirado de um artigo de  Serge Fabre na revista profissional on-line La Quotidienne

A França, ainda líder do turismo mundial?

A França mais uma vez líder do turismo mundial em 2017

Mesmo publicadas com um pouco de atraso, as estatísticas 2017 do turismo francês são importantes para analisar a evolução do primeiro destino mundial. Com 86,9 milhões de entradas, a França continuou na liderança em entradas de turistas, na frente da Espanha (81,8 milhões, em expansão de 8,6% no conturbado mundo mediterrâneo) que passou na frente dos Estados Unidos (73,0 milhões, pagando talvez com uma queda de 3,8%  a rigidez migratória do Trump). Com um crescimento de 5,1% foi não somente borrada a queda provocada pelos terríveis atentados de novembro 2015 e julho 2016, mas também ultrapassado o recorde anterior de 2015. Anunciando com muito orgulho esse resultado, o ministro das relações exteriores e do turismo confirmou que a França deveria atingir em 2020 a meta de 100 milhões de entradas e consolidar sua liderança.

Com alta de 47%, o turismo russo foi o que mais cresceu

Se esse bom resultado era esperado, os profissionais ficaram surpresos pelo desempenho dos mercados internacionais. Os esperados turistas asiáticos ainda não recuperaram os níveis de 2015, a China crescendo pouco (4,9%), a Índia ainda caindo (-5,6%), e somente o Japão tendo um crescimento forte (17,8%). Os americanos (5,6%) e mais ainda os brasileiros (17,9%) voltaram com toda força, mas foi da Europa que foram registrados os maiores fluxos com destaque para Rússia (43,4%), Espanha (17,3%), Bélgica (9,6%). Primeiro mercado europeu, o Reino Unido não pareceu sofrer do Brexit se consolidou na frente da Alemanha, chegando a 12,7 milhões de entradas e  6%  de crescimento, uns números decisivos para oferecer a França o seu novo recorde de 2017.

EEUU lideram disparados o ranking das receitas do turismo internacional

O ranking do turismo mundial é porem bem diferente quando as receitas internacionais são o primeiro critério de classificação. A liderança disparada pertence nesse caso aos Estados Unidos com 190 bilhões de Euros, seguindo da Espanha com 60,3 bilhões. Mesmo tendo revisado os seus números e “re-encontrado” 10 bilhões de euros de receitas suplementares, a França fica somente em terceiro lugar com 54 bilhões de euros, uma posição ainda ameaçada pela China e pela Tailândia que poderiam subir no pódio já em 2018. Com a OMT projetando há 20 anos a chegada de  130 milhões de turistas na China em 2020, com os Estados Unidos e a Espanha num trend de forte crescimento, é certo que o título de pais mais visitado do mundo trocará de titular, e  que ambas lideranças em receitas e em entradas de turistas internacionais serão então perdidas.

Nas Sources de Caudalie, liderança em bem estar e enogastronomia

Na hora da sustentabilidade e da valorização do impacto econômico e social do turismo, os profissionais estranham a insistência dos políticos em se vangloriar de resultados quantitativos discutíveis. A França já  se posiciona como um grande líder mundial do “melhor turismo” em vez do “mais turismo”, respondendo as expectativas tanto dos seus turistas que dos seus moradores. Numa concorrência mundializada, três fatores diferenciantes contribuem a uma nova liderança: a imagem de um acervo cultural mundialmente reconhecido, um bem viver autêntico e protegido, uma oferta temática completa, especialmente nos segmentos com mais valor agregado (luxo, gastronomia, bem estar, enologia, esqui, congressos ou grandes eventos.

Nos vilarejos da Provence, as mesas esperam turistas e moradores

Se o seu primeiro lugar em números de chegadas de turistas não vigorará alem dessa década, a França pode guardar sua liderança como destino de “melhor turismo” frente as novas tendências que estão se desenhando hoje. Pode continuar liderando pelo seu forte conteúdo cultural, seu patrimônio , seus museus, sua arquitetura, mas também pela alternativa que ele oferece ao modelo do concorrente norte americano. Pode liderar pela especificidade do seu arte de viver, o seu estilo de vida autentico compartilhado entre os viajantes internacionais, os turistas locais (mais de dois terços do turismo francês é domestico) e os moradores. Pode liderar pelas suas normas sempre rígidas, protegendo o consumidor em termos de sustentabilidade, de uso do espaço público, de alimentação ou de ética social.

O Mont Saint Michel, patrimônio e fé no monumento mais visitado fora de Paris

A França vai também guardar a sua liderança pela riqueza da sua oferta turística. Com uns 40 destinos internacionais, consegue oferecer uma excepcional diversidade que inclui produtos e serviços de excelência em quase todos os segmentos. A Pirámida do Louvre, o Palácio dos Festivais de Cannes, as pistas de Courchevel, o Mont Saint Michel, os bangalós  de Bora Bora, os Hospices de Beaune, os vinhedos de Bordeaux, o bar do Lutetia, o Versailles do Ducasse, as adegas de Reims, os “bouchons”de Lyon, a vida de Saint Tropez, o castelo de Chenonceaux, o porto de Honfleur, o Hotel du Palais em Biarritz, ou as simples ruas e praças de Paris, Saint Paul de Vence, Saint Emilion ou Cap Ferret, são esses lugares de excelência, mais que números discutíveis, que ajudarão a França a liderar o turismo mundial.

Jean-Philippe Pérol

O porto de Honfleur, seduzindo os turistas pela sua luz e sua História

Esse artigo foi inicialmente publicado no “Blog Points de vue” do autor na revista profissional on line Mercados e Eventos

Turismo internacional, o ótimismo e a confiança

As viagens internacionais antecipando a retomada do crescimento brasileiro

Com um crescimento de 20% das viagens internacionais e de 50% das despesas no exterior durante o primeiro trimestre, os profissionais brasileiros do turismo estão hoje muito otimistas em relação a 2017. As projeções anuais variam de 5% até 20%, deixando quase certa uma recuperação dos clientes perdidos em 2016 e talvez até em 2015, especialmente  junto aos novos viajantes de lazer. Os “emergentes”  estão de novo transformando o Brasil numa grande potência turística internacional, empurrando o crescimento das vendas das operadoras, com taxa de dois e as vezes de três dígitos.

A nova campanha bem sucedida de Paris para atrair os visitantes

Castigada durante dois anos seguintes, a França está voltando a ser o destino favorito dos brasileiros na Europa, com um crescimento de 25,6% de janeiro a março, e umas perspectivas de quase 50% nos próximos seis meses. Alem de recuperação de demanda reprimida, esses resultados se devem aos esforços dos profissionais e das autoridades no atendimento, na segurança e nos preços, bem como ao cambio favorável ao euro e as facilidades de viagem – fatores que impactam de forma negativo o grande concorrente americano.

Paris se preparando para receber os Jogos de 2024

O otimismo dos franceses em relação as chegadas de turistas brasileiros é agora reforçado com os novos rumos da política da França. Um Presidente jovem, trazendo ideias de abertura ao mundo, de respeito as diversidades culturais e de orgulho de pertencer a um pais acolhedor, deve ajudar os turistas do mundo inteiro a escolher nosso pais . O turismo parece também ser uma das prioridades do novo Presidente, e os profissionais notaram com muita satisfação que o primeiro compromisso oficial que ele assumiu domingo foi de receber o Comité Olímpico Internacional para empurrar a candidatura de Paris para os Jogos 2024.

O Airbus 380, uma das opção para aumentar a oferta de assentos no Brasil

Para esse otimismo ser confirmado com números, o turismo brasileiro precisa agora de confiança. Confiança dos viajantes na retomada, mesmo gradual, da economia bem como na estabilidade do cambio. Confiança também dos profissionais que o setor está mesmo voltando a crescer. Dois gargalos só poderão ser resolvidos com essa confiança. O primeiro é a oferta de voos internacionais que caiu de 25% esse ano, o Brasil tendo menos voos, menos assentos e menos gateways internacionais. Agora com somente 5 voos diários, Paris é um dos destinos onde a situação ficou mais critica. Com saudade de ligações regulares para Brasília, Recife, Salvador ou Manaus, temos que esperar a ampliação de numero de assentos prevista pela Air France e torcer para ver a LATAM – ou uma outra companhia brasileira-  voltar a por a mesma confiança no destino França que a saudosa VARIG.

A Travel week, encontro mor dos profissionais do turismo de luxo

A confiança é também necessária para ver os profissionais estrangeiros voltar a investir em promoção no mercado brasileiro. Os últimos eventos do trade – WTM bem como Travel Week- mostraram queda de 20% e mais nas participação de expositores internacionais, sejam as companhias aéreas, os destinos, os receptivos ou os hotéis. A retomada do mercado só poderá ser definitiva se esses incontornáveis parceiros voltam a investir no Brasil, adaptando os seus serviços e as suas ofertas, e, mais ainda, investindo em ações de promoção. A nos, profissionais brasileiros, o dever de repassar essa confiança, e a convicção que o Brasil continua de ser um dos maiores mercados emergentes do mundo global.

Jean-Philippe Pérol

Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue do autor na revista profissional on line Mercados e Eventos

Trump vai mesmo impactar o turismo internacional?

O Trump Presidente poderia prejudicar o Trump hoteleiro

O Trump Presidente poderia prejudicar o Trump hoteleiro

Talvez por ter acontecido no fechamento do WTM de Londres, encontro-mor do turismo mundial, o resultado das eleições americanas foi também nos últimos dias o grande assunto das conversas dos profissionais. Uma pesquisa feita nos corredores do Salão tinha revelada que só 7% do trade internacional apoiava o excêntrico bilionário, e que os outros o julgava misógino , racista, sem experiência política, vulgar, e intelectualmente vazio.  Agora que Trump foi eleito, e sabendo que nenhum responsável do turismo esperava esse resultado, a grande pergunta é de saber até onde essa vitoria poderá impactar os fluxos turísticos internacionais!

O WTM de Londres, grande encontro do turismo mundial

O WTM de Londres, grande encontro do turismo mundial

Se Trump cumpre as suas promessas de campanha, deve reforçar os controles sobre a entrada dos franceses e dos alemães, exigir passaporte biométrico para qualquer isenção de visto, construir um muro para impedir as entradas de mexicanos, controlar de forma estrita os brasileiros, desconfiar dos chineses, e proibir as entradas de qualquer muçulmano.  Num total de 78 milhões de turistas entrando nos Estados Unidos, mais da metade seriam assim submetidos a algum tipo de constrangimento. E  cinco dos de maiores mercados emissores para os Estados Unidos são na lista negra do magnata. Segundo o relatório anual da WTM, o resultado das eleições americanas pode assim ter grandes consequências sobre o turismo mundial.

Os danos das declarações do candidato – e as prováveis decisões do Presidente – podem ser catastróficas para a imagem dos Estados Unidos nos grandes mercados emissores, os novos valores não correspondendo mais com os ideais que os visitantes estão procurando. Temida pelos responsáveis de Visit USA ou de Brand USA, esse risco já está virando realidade. Uma pesquisa da Travelzoo mostrou que 20%  dos britânicos estão descartando viajar agora para os Estados Unidos, e a maioria pensa que o turismo americano vai ser prejudicado. Paradoxo surpreendente, o empresário Trump será mais prejudicado ainda pela queda da imagem dos Estados Unidos, a metade dos clientes das agencias de viagens inglesas declaram não querer mais se hospedar nos hotéis do magnata.

O turismo canadense aproveitando o novo cenário?

O turismo canadense aproveitando o novo cenário?

Enquanto o turismo mundial continuará a crescer nos próximos anos, as possíveis dificuldades dos Estados Unidos poderão ser aproveitadas por alguns dos seus concorrentes. É o caso do Canada que constatou nos últimos dias, das Províncias Marítimas até Montréal e  Vancouver, um boom das reservas vindo não somente da Inglaterra e da Europa, mas também dos próprios Estados Unidos. No Brasil, se o cambio ajudar e o Dolar se fortalecendo frente ao Euro, a Europa poderia ser a grande favorecida. É so relembrar o impacto do saudoso Bush sobre as viagens internacionais. Durante as suas presidências, o numero de brasileiros indo para os Estados Unidos perdeu a liderança, passando de 740.000 entradas a 770.000, enquanto as viagens para Europa tinham cresceram de 600.000  a mais de 1.000.000. O ranking  se inverteu de novo em 2015, 2,2 milhões contra 1,8 milhões, pelo carisma do Obama. Em 2018, o Canadá, a França, o Portugal ou a Itália terão talvez de agradecer o Donald.

Jean-Philippe Pérol

Em Paris, a opção de juntar a Torre Eiffel e a estátua da Liberdade!

Em Paris, a opção de juntar a Torre Eiffel e a estátua da Liberdade!

Esse artigo foi inspirado de dois artigos em francês , um  de Michäel Boumal na revista profissional online Pagtur, e um outro no l’Echo Touristique  

“Vive la différence”, o Brexit favorecendo o turismo?

Os clichês de Londres mais procurados depois do Brexit

Os clichês britânicos mais procurados depois do Brexit

Se os políticos e os economistas do mundo inteiro foram muito negativos sobre as consequências do Brexit, os turistas internacionais parecem ter aprovado a decisão dos ingleses. Aproveitando  uma queda da libra de quase 10% – a moeda atingiu seu nível mais baixo dos últimos 30 anos-, as entradas de turistas subiram de 4,3% em julho. Se as chegadas da Europa ainda são fracas (em recuo de 1,8% mas caiam de 6,8% antes do plebiscito) , a alta é puxada pelos os chineses, os americanos, os canadenses e a maior parte dos não-europeus que crescem de 8,6%. E se ainda é cedo para desenhar tendências a longo prazo, a alta deve se prolongar nos próximos meses: as reservas da International Net bookings, que eram em queda de 2,8% em maio, estão agora também em alta de 4,3%.

American tourist in London

Turista americano em Londres

Os americanos são há muito tempo os mais numerosos turistas internacionais na Inglaterra. Foram 3,3 milhões em 2015, um crescimento de 10% em relação a 2014, e, segundo Visit Britain – a agencia nacional de promoção do turismo, vários indicadores mostram que a popularidade do pais cresceu depois do Brexit. Os números estão bastante impressionante na Internet: 38% de visitantes a mais no próprio site da VisitBritain, mas também  138% a mais nas pesquisas no site da British Airways nos Estados Unidos, 30% a mais no site e nas vendas da Expedia. Os hoteleiros ingleses confirmam um crescimento das reservas, especialmente os “last minut bookings”.

O distrito financeiro de Londres

O distrito financeiro da City

A  fraqueza da libra depois do Brexit é dada pelos profissionais como a primeira razão desse crescimento surpreendente. Num destino visto há anos como muito caro, ela não somente impulsionou as reservas internacionais, mas impactou também as viagens dos próprios britânicos. Com um poder aquisitivo diminuído e já impactando os destinos ligados ao dólar,  eles estão  aumentando sua procura de viagens domésticos, e a  Airbnb já anunciou que a  procura de apartamentos no mercado inglês subiu de 122% desde o plebiscito. Essa tendência favorecendo as “staycations” está sendo observada também pela Expedia.

Abbey Road, um dos imperdíveis clichês de Londres

Abbey Road, um dos imperdíveis clichês

O maior impacto do Brexit sobre o turismo na Grã Bretanha deverá porem se medir em termo de imagem. Em primeiro lugar pelo reposicionamento em termo de preços que os hoteleiros já perceberam e ampliaram com uma seria de iniciativas para dar aos visitantes “more value for money”, oferecendo up-grades, diárias de cortesia ou serviços complementares. A libra barata reforça a atratividade da marca, e deve aumentar ainda mais sua força nas clientelas mais jovens e nos mercados emergentes. JPP LONDRESMas o maior impulso dado a imagem do pais será de mostrar a sua diferencia. Enquanto os destinos turísticos devem cada vez mostrar uma identidade forte e um conteúdo que justifica a escolha de viajantes internacionais cada vez mais experientes, o novo posicionamento britânico vai ser uma extraordinária oportunidade. Frente a uma Europa aonde a “harmonização” poderia levar a uma banalização, a Grã Bretanha poderá atrair ainda mais pelo sua peculiaridade. Para os destinos turísticos,  é importante  lembrar que “Vive la différence”.

Jean Philippe Pérol

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Entre a Europa e o mar aberto, a Grã Bretanha sempre deverá escolher o mar aberto

Esse artigo foi publicado na revista profissional Mercados e Eventos   

Turismo cubano: a corrida dos americanos já começou!

Autentica Cuba

Com mais de 3 milhões de turistas e 14% de crescimento em 2014, o embalo do turismo para Cuba se verifica em todos os mercados:  26% na Inglaterra, 25% na França, 22% na Alemanha, 16% na Espanha e no Brasil.TOUR EM CUBA Mas no mercado americano, a  Revolução do turismo Caribenho, anunciada desde o inicio das negociações entre os Estados Unidos e Cuba, está avançando ainda mais rápido que se esperava. Se a reabertura das embaixadas dos dois países ainda não se concretizou, Cuba já está vivendo um espetacular crescimento das entradas de americanos desde as primeiras facilitações de viagens anunciadas pelo Presidente Obama. Obama CubaSegundo as estatísticas da Universidade de Havana, foram 36%  de entradas a mais de Janeiro a Abril comparando com o mesmo período de 2014. Mesmo sem contar os cubanos-americanos, foram assim mas de 50.000 americanos que jà entraram em Cuba esse ano, sendo 80% em vôos diretos e 20% ainda passando por outros países, principalmente México, Bahamas ou Jamaica.

CUBA

A nova politica da Casa Branca, facilitando as viagens para a ilha não somente dos americanos de origem cubana mas também de doze categorias de viajantes, autorizando os vôos diretos desde o mês de Março, é sem dúvidas responsável desses resultados. BAJA FERRIESEles vão ainda melhorar nos próximos meses com a aprovação na semana passada de serviços de ferries entre a Florida e Cuba. Pela primeira vez nos últimos 50 anos, o governo americano autorizou uma companhia de navigação, a Baja Ferries, a operar  entre Miami e Havana. O vice Presidente da empresa, Joseph Hinson, declarou que os ferries devem levar 10 horas para percorrer as 200 milhas,  saindo de Miami a noite para chegar em Cuba de madrugada. Confirmou que os serviços deveriam começar em setembro ou outubro desse ano, com preços de ida e volta em torno de $250 a $300. Havana FerryA Baja Ferries planejou três a quatro viagens por semana para um total de 2000 a 3000 passageiros. A Havana Ferry Partners de Fort Lauderdale, também anunciou ter conseguido a autorização. O projeto apresentado no seu site seria de utilizar barcos de alta velocidade podendo levar 300 passageiros. Duas outras companhias, United Caribbean Lines Florida of Greater Orlando, e  Airline Brokers Co. of Miami and Fort Lauderdale, também anunciaram ter conseguido a autorização.

CUBA E ESTADOS UNIDOS NUM TAXI DE HAVANA

Com mais de um milhão de lugares por ano, os serviços de ferries vão aproximar mais ainda a Flórida e Havana, reaproximando mais ainda Cuba do seu lugar passado de destino turístico favorito dos americanos. Os preços baixos, bem como a possibilidade de levar muito mais malas, devem ampliar as quantidades de televisões, computadores, pneus, roupas ou remédios que os cubanos americanos levarão para seus familiares. Muito consciente do impacto  do turismo, não somente sobre o desenvolvimento econômico mas também sobre o progresso politico e social, o Presidente Obama deve estar esperando grandes consequências desse estratégia de abertura começando pelas viagens. ARTISTAS CUBANOSPara o turismo cubano, o desafio será não somente de mostrar sua capacidade a receber esse fluxo de milhões de novos turistas, más também de não perder a sua autenticidade …

Esse artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original de Patrick Clarke no Travelpulse do 27 de Maio 2015.

O Hermione, o novo sonho do Marquês de La Fayette.

SAIDA DE LA ROCHELLE

Não foi somente uma copia do Hermione, o navio que levou em 1780 o Marquês de La Fayette para os Estados Unidos, que zarpou ontem de Rochefort, pequeno porto do oeste da Franca. Foi também um sonho louco, nascido hà 25 anos atrás: reconstruir a partir das plantas do Concorde (o navio irmão do Hermione), e com as técnicas da época, esse veleiro de 65 metros de comprimento e 11 metros de largura, com seus 2200 metros quadrados de velas e seus 26 canhões.

A associação Hermione La Fayette, que conduziu o projeto a partir de 1997, levou 18 anos para ver o sonho virar realidade. OS BARRISFoi necessário encontrar os engenheiros e os artesãos capazes de construir um navio do século XVIII, respeitando as plantas e os materiais da época, mas obedecendo as exigências da navegação moderna – motores auxiliares, radares ou GPS – bem como as normas de conforto do século XXI. Formar a tripulação foi uma outra dificuldade, mesmo se os avanc1os tecnológicos vão permitir de reduzir o numero de marinheiros, 240 na época e somente 80 hoje, sendo 19 profissionais e 61 voluntários – homens e mulheres.

A HERMIONE SAINDO DE ROCHEFORT

O maior desafio foi sem dúvidas financeiro. Precisou juntar 26 milhões de euros, com bastante apoio politico (a região Poitou-Charente doou quase 6 milhões, a cidade de Rochefort também contribui), e mais ainda com muita criatividade. Durante os 17 anos da construção, 4 milhões de visitantes pagaram as suas entradas – um total de quase 9 milhões de euros. Presidida pelo Henry Kissinger, a associação “The friends of Hermione La Lafayette” levantou a metade dos 6 milhões necessários para financiar a viagem que levará o Hermione nos passos do “herói dos dois mundos”. YORKTOWNA primeira escala será dia 5 de junho em Yorktown, no local historico onde as tropas francesas e os insurgentes americanos  assinaram a vitoria decisiva contra o exercito inglês. Depois de duas paradas em Filadélfia e Baltimore, o maior evento será sem duvidas em Nova Iorque onde a presencia do navio do Marquês de La Fayette no dia 4 de Julho não passará despercebida. É prevista uma escorta de centenas de barcos e um espetacular desfile frente a estátua da Liberdade, essa obra de Bartholdi que  também homenageou a amizade entre a França e os Estados Unidos.

4 JULHO EM NOVA IORQUE

Se os Presidentes Francois Hollande e Barack Obama deram para esse viagem uma grande dimensão política, lembrando os valores de liberdade e de coragem que uniam os voluntários franceses de 1780 e os rebeldes liderados por Washington, o turismo deve porem ser o grande beneficiado do projeto do Hermione. O navio estará de volta em Rochefort dia 29 de Agosto. Com uma excepcional projeção no Estados Unidos e no mundo inteiro, o antigo porto militar, e suas vizinhas Cognac e La Rochelle,  devem ser duvidas virar um novo destino para os turistas franceses e internacionais – incluindo brasileiros.

Jean-Philippe Pérol

HERMIONE LA FAYETTE

E-turismo: as agencias on-line numa encruzilhada?

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Na Franca, pela primeira vez desde que nasceu o e-turismo, as vendas das agências de viagens na Internet baixaram esse ano em relação ao ano anterior. A queda começou com -1% no primeiro semestre, mas ficou mais importante a partir de julho e chega agora a -4%, atingindo mais especificamente as agencias on-line tradicionais. Evolution-de-e-tourismeA tendência é preocupante para o turismo porque as vendas globais na internet continuam em alta, com um faturamento de 56,5 bilhões de Euros esse ano, e um forte aumento do numero de sites de vendas, agora mais de 150.000, incluindo muitas start-ups. A morosidade do turismo não atinge os outros setores de e-comercio que estão ainda em forte crescimento: 9% para as vendas de produtos de consumo ao publico, e 8% para as vendas B2B.

DSCN0121Olhando os números proveniente dos Estados Unidos, se vê também que a euforia do turismo on-line està diminuindo. Lá, as agencias on-line estão além disso enfrentando um outro desafio, o crescimento das vendas diretas dos grandes fornecedores – companhias aéreas ou hoteleiras – que já estão abocanhando quase 60% do mercado das vendas de turismo no web.

Claro que as viagens continuam sendo líderes de vendas no web, e claro que se trata da França ou dos Estados Unidos, e não do Brasil. hu_pacote_lisboa_paris_aereo_001_normalAqui as agencias on-line ainda aproveitam crescimento excepcionais, mais de 11% em 2013 e provavelmente ainda 6% esse ano. Mas era 18% em 2012, e a tendência é mesmo de queda. Nesse novo quadro, o modelo econômico das OTA (On line Travel Agency) vai ter que evoluir. O tempo da valorização dos investimentos pela conquista de mais faixas de mercado vai talvez acabar, e os lucros vão assim voltar a ser os primeiros critérios de avaliação dos grandes atores do setor.

A primeira agencia da Wagons lits no Brasil, foto de Abril 1936

A primeira agencia da Wagons lits no Brasil, foto de Abril 1936

Frente a essas encruzilhadas, as agencias on-line jà estão mostrando mais qualidade e criatividade.  Lançam produtos e serviços mais sofisticados, melhoram o contato com o cliente, reforçando o atendimento com chat ou telefone, e as vezes mesmo (re)abrindo lojas …. Com as agencias tradicionais agora consolidando suas posições nos segmentos de lazer com mais valor agregado, a concorrência vai redobrar, e a grande aventura das agencias de viagem que o Thomas Cook começou a escrever em 1842 ainda não acabou….

Jean-Philippe Pérol

Esse artigo foi adaptado dum artigo original do L Echo Touristique

A França, de novo primeiro destino turístico mundial em 2013, verdade ou marmelada?

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Com 84,7 milhões de entradas de turistas internacionais, a França foi de novo, em 2013, o país mais visitado do mundo, à frente dos Estados Unidos (70 milhões) , da Espanha (61 milhões) e da China (51 milhões). Mesmo esperada, essa notícia, anunciada pelo próprio ministro da economia , mostrou o dinamismo do turismo francês que continua com a preferência dos viajantes do mundo inteiro. Com muitos mercados europeus  ainda em recuperação – com um crescimento médio de 1,2% -, esses resultados devem muito ao desempenho da  Alemanha (+6,4%) , da América do Norte (+5,8%) e mais ainda da China que cresceu de 23,4%. A Rússia e a Índia participam dessa euforia, o Brasil se consolidando numa nona posição mas sendo o único BRICS a não ter um crescimento de dois dígitos.

Entradas de turistas estrangeiros (em milhões)

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O sucesso da França deve muito a Paris, que se consolidou frente a Londres como primeira cidade turística do mundo com 47 milhões de visitantes em relação a sua concorrente inglesa com 35, mas também as regiões de Nice e de Lyon que atraem cada vez mais turistas. O objetivo do ministro Laurent Fabius, 100 milhões de turistas dos quais 1,5 milhões de brasileiros, deveria assim ser atingindo em 2022.

Receitas do turismo internacional (em bilhões de dólares)

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Mesmo positivos, esses números foram recebidos com muitas críticas de vários profissionais franceses. A principal é que a forca econômica do turismo deve ser medida pelas receitas e não pelo número de entradas. The Louvre, Paris, FranceNesse ranking os grandes vencedores são os Estados Unidos com mais de 200 bilhões de dólares, enquanto a França tenta encostar na Espanha  com 63 bilhões. A segunda crítica se refere a metodologia. Para a Organização Mundial do Turismo, qualquer viajantes que fica mais de uma noite é um turista. Mas os 84,7 milhões de turistas que entram a França não são todos interessados pelas belezas das suas paisagens  ou pela arte francesa de viver. 15 milhões estão somente em trânsito de uma ou duas noites, atravessando o território ou dormindo perto de um aeroporto no caminho de um outro destino final. Todos esses turistas também não se hospedem em hotéis ou resort, quase um terço escolhem hospedagens não comerciais.

Mas a metodologia é a mesma para todos, os passageiros com multi-destinos existem em todos os países, e a França é mesmo o primeiro destino turístico mundial. As críticas não são justificadas, – os números estão certos e não tem nenhum fundamento falar de “marmelada” na publicação dessas estatísticas, porém é importante  levá-las em consideração. A  satisfação dos resultados não deve esconder o trabalho a fazer para melhorar.IMG_2420 A França precisa mesmo aumentar suas receitas turísticas, incrementar a qualidade do seu atendimento, oferecer serviços ainda mais diversificados, continuar a renovar a sua oferta hoteleira e atrair turistas em mais regiões. A liderança é com certeza uma satisfação, mas também uma grande responsabilidade. E as estatísticas são necessárias tanto para medir as realizações tanto quanto para lembrar o percurso a seguir.

Jean Philippe Pérol

100 milhoes de turistas nos EE-UU em 2020?

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Pelo menos na sua política de turismo, Obama esta mostrando que “Yes, he can”. Visitando na semana passada o “Hall of fame” do baseball em Cooperstown, ele anunciou as ambições americanas nesse setor: “Quero passar de 70 milhões de turistas em 2013 para 100 milhões logo no inicio dos anos 20. 052214_potus_cooperstown (1)“ No mesmo discurso, ele declarou também que tinha pedido aos Secretários do Comercio e da Segurança de trabalhar com as companhias aéreas, os hoteleiros, os Estados e os municípios para encurtar os tempos de demora nas filas de imigração e para melhorar a experiência vivido pelos viajantes nos aeroportos americanos. Fez questão de lembrar que o recado devia ser simples: mais turistas estrangeiros significava mais empregos para os americanos. “Melhorando o tempo de espera na chegada (sem fazer nenhum compromisso com a segurança), os turistas ficarão mais satisfeitos. Em Dallas e Chicago, já conseguiram reduzir o tempo médio de espera a menos de 15 minutos. “ ainda lembrou Obama, insistindo que cada turista bem recebido virava um embaixador do turismo americano junto a sua família e seus amigos.

Essas medidas se inscrevem na estratégia de apoio ao turismo que o Obama desenvolveu desde 2011 com a reativação de Brand USA, a criação de um fundo de promoção de 100 milhões de dólares e a multiplicação de contatos com os lideres do setor, sendo a ultima vez dia 22 desse mês na Casa Branca . E interessante notar que Obama não esquece o quanto é fundamental convencer a opinião publica da importância do turismo na economia mas também na imagem dos Estados Unidos.?????????? As declarações do Presidente lembram que de oito a quatorze milhões de empregos dependem do turismo, que 150.000 empregos novos sao criados cada ano, e que esses empregos não podem ser deslocalizados. Destacam também que o fato de receber turistas do mundo inteiro deve ser para cada americano um motivo de orgulho, e que essas visitas são boas para os monumentos, os parques ou as lojas, mas também boas para toda economia americana.

mascote-copa-2014-tatu-bolaNa véspera da Copa, pensando no impulso que poderá ser dado ao turismo no Brasil nos próximos anos, a política seguida pelos Estados Unidos tem muitas ideias para ser seguidas: estratégia discutida com todos os atores, envolvimento das autoridades no mais alto nível, orçamento ambicioso e gerenciado em PPP, mobilização da população em torno do atendimento aos turistas, objetivos de criação de empregos e de crescimento econômico claramente anunciados.

Com centenas de destinos turísticos brigando pelo bilhão de turistas internacionais que viajam pelo mundo, a concorrência vai ficar cada vez mais forte. Entre os grandes, os Estados Unidos estão agora querendo desafiar a Franca, a Espanha e a Itália e a China para pegar o primeiro lugar não só em receitas (eles já tem) mas também em passageiros. Ainda na trigésima sétima posição do turismo receptivo internacional, o Brasil tem também tudo a ganhar a entrar nessa briga.

Jean Philippe Pérol

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Esse artigo foi escrito utilizando um artigo e umas informações provenientes da revista online Pagtour