A França, ainda líder do turismo mundial?

A França mais uma vez líder do turismo mundial em 2017

Mesmo publicadas com um pouco de atraso, as estatísticas 2017 do turismo francês são importantes para analisar a evolução do primeiro destino mundial. Com 86,9 milhões de entradas, a França continuou na liderança em entradas de turistas, na frente da Espanha (81,8 milhões, em expansão de 8,6% no conturbado mundo mediterrâneo) que passou na frente dos Estados Unidos (73,0 milhões, pagando talvez com uma queda de 3,8%  a rigidez migratória do Trump). Com um crescimento de 5,1% foi não somente borrada a queda provocada pelos terríveis atentados de novembro 2015 e julho 2016, mas também ultrapassado o recorde anterior de 2015. Anunciando com muito orgulho esse resultado, o ministro das relações exteriores e do turismo confirmou que a França deveria atingir em 2020 a meta de 100 milhões de entradas e consolidar sua liderança.

Com alta de 47%, o turismo russo foi o que mais cresceu

Se esse bom resultado era esperado, os profissionais ficaram surpresos pelo desempenho dos mercados internacionais. Os esperados turistas asiáticos ainda não recuperaram os níveis de 2015, a China crescendo pouco (4,9%), a Índia ainda caindo (-5,6%), e somente o Japão tendo um crescimento forte (17,8%). Os americanos (5,6%) e mais ainda os brasileiros (17,9%) voltaram com toda força, mas foi da Europa que foram registrados os maiores fluxos com destaque para Rússia (43,4%), Espanha (17,3%), Bélgica (9,6%). Primeiro mercado europeu, o Reino Unido não pareceu sofrer do Brexit se consolidou na frente da Alemanha, chegando a 12,7 milhões de entradas e  6%  de crescimento, uns números decisivos para oferecer a França o seu novo recorde de 2017.

EEUU lideram disparados o ranking das receitas do turismo internacional

O ranking do turismo mundial é porem bem diferente quando as receitas internacionais são o primeiro critério de classificação. A liderança disparada pertence nesse caso aos Estados Unidos com 190 bilhões de Euros, seguindo da Espanha com 60,3 bilhões. Mesmo tendo revisado os seus números e “re-encontrado” 10 bilhões de euros de receitas suplementares, a França fica somente em terceiro lugar com 54 bilhões de euros, uma posição ainda ameaçada pela China e pela Tailândia que poderiam subir no pódio já em 2018. Com a OMT projetando há 20 anos a chegada de  130 milhões de turistas na China em 2020, com os Estados Unidos e a Espanha num trend de forte crescimento, é certo que o título de pais mais visitado do mundo trocará de titular, e  que ambas lideranças em receitas e em entradas de turistas internacionais serão então perdidas.

Nas Sources de Caudalie, liderança em bem estar e enogastronomia

Na hora da sustentabilidade e da valorização do impacto econômico e social do turismo, os profissionais estranham a insistência dos políticos em se vangloriar de resultados quantitativos discutíveis. A França já  se posiciona como um grande líder mundial do “melhor turismo” em vez do “mais turismo”, respondendo as expectativas tanto dos seus turistas que dos seus moradores. Numa concorrência mundializada, três fatores diferenciantes contribuem a uma nova liderança: a imagem de um acervo cultural mundialmente reconhecido, um bem viver autêntico e protegido, uma oferta temática completa, especialmente nos segmentos com mais valor agregado (luxo, gastronomia, bem estar, enologia, esqui, congressos ou grandes eventos.

Nos vilarejos da Provence, as mesas esperam turistas e moradores

Se o seu primeiro lugar em números de chegadas de turistas não vigorará alem dessa década, a França pode guardar sua liderança como destino de “melhor turismo” frente as novas tendências que estão se desenhando hoje. Pode continuar liderando pelo seu forte conteúdo cultural, seu patrimônio , seus museus, sua arquitetura, mas também pela alternativa que ele oferece ao modelo do concorrente norte americano. Pode liderar pela especificidade do seu arte de viver, o seu estilo de vida autentico compartilhado entre os viajantes internacionais, os turistas locais (mais de dois terços do turismo francês é domestico) e os moradores. Pode liderar pelas suas normas sempre rígidas, protegendo o consumidor em termos de sustentabilidade, de uso do espaço público, de alimentação ou de ética social.

O Mont Saint Michel, patrimônio e fé no monumento mais visitado fora de Paris

A França vai também guardar a sua liderança pela riqueza da sua oferta turística. Com uns 40 destinos internacionais, consegue oferecer uma excepcional diversidade que inclui produtos e serviços de excelência em quase todos os segmentos. A Pirámida do Louvre, o Palácio dos Festivais de Cannes, as pistas de Courchevel, o Mont Saint Michel, os bangalós  de Bora Bora, os Hospices de Beaune, os vinhedos de Bordeaux, o bar do Lutetia, o Versailles do Ducasse, as adegas de Reims, os “bouchons”de Lyon, a vida de Saint Tropez, o castelo de Chenonceaux, o porto de Honfleur, o Hotel du Palais em Biarritz, ou as simples ruas e praças de Paris, Saint Paul de Vence, Saint Emilion ou Cap Ferret, são esses lugares de excelência, mais que números discutíveis, que ajudarão a França a liderar o turismo mundial.

Jean-Philippe Pérol

O porto de Honfleur, seduzindo os turistas pela sua luz e sua História

Esse artigo foi inicialmente publicado no “Blog Points de vue” do autor na revista profissional on line Mercados e Eventos

A Torre Eiffel se preparando para os J.O. 2024 e a Exposição Universal 2025!

A Dama de Ferro, o Rio Sena e a ponte Alexandro III

Talvez impressionada pelo sucesso da Dama de Ferro – que festejou em setembro 300 milhões de visitantes desde a sua inauguração em 1889, a Prefeitura de Paris anunciou um importante projeto de renovação dos acessos da Torre Eiffel. Pressionados pelos 7 milhões de visitantes e 20 milhões de passantes com crescentes exigências tanto de atendimento que de segurança, a Prefeita e o Presidente da Torre anunciaram uma licitação para escolher os arquitetos e os urbanistas que terão a difícil tarefa de facilitar o acesso e a circulação nessa área. Esperando uma forte contribuição dos moradores e dos turistas, a escolha do projeto vencedor será feita em janeiro de 2019, e as obras deverão ser realizadas entre 2021 e 2023, sem que seja fechada em nenhum momento até uma inauguração em 2024.

Os famosos pilares que inspiraram muitos artistas até no Brasil

Alem de melhorar a circulação dos pedestres e de agilizar as entradas dos turistas, o novo circuito deverá oferecer mais bancos, banheiros ou restaurantes, e dar mais informações para os visitantes, especialmente na área cultural que será reforçada com mais visitas guiadas valorizando o patrimônio. A prefeitura lembrou aos concorrentes que o projeto deverá ser bonito, ecológico, e respeitoso da historia desse monumento. Terá que ser ambicioso mas sóbrio, ágil e evolutivo, dentro de um orçamento sem surpresas. Mostrando muita criatividade, arquitetos, urbanistas e paisagistas internacionais vão assim concorrer para fazer do “Grand Site Tour Eiffel” uma vitrina emblemática do turismo parisiense oferecendo aos visitantes e aos moradores uma nova e agradável experiência.

Luar iluminando o Palais de Chaillot e a Torre

Para viabilizar o projeto, o vice prefeito encarregado do turismo, Jean François Martins, anunciou uma verba de 50 milhões de Euros, dentro de um investimento global de renovação de 300 milhões incluindo também obras  de manutenção bem como equipamentos de segurança – paredes de vidro blindadas ou proteções a prova de balas. Os financiamentos serão feitos diretamente pela empresa publica que gerencia a Torre Eiffel, a SETE. Com um faturamento anual de 70 milhões de Euros, a SETE trabalha com vários parceiros – lojas, banco, um bar, o restaurante 58 Tour Eiffel com seu “pique-nique chic”, e o famosíssimo “Jules Verne” de Alain Ducasse, lugar de “sonho e magia” com uma estrela Michelin e onde jantaram até os casais Trump e Macron. Com o “Grand site Tour Eiffel” não foram anunciadas as previsões de aumento dos fluxos turísticos, mas muitas pessoas se lembrem que a inauguração do “Grand Louvre” triplicou as entradas….

Casais Trump e Macron no Jules Verne do Alain Ducasse

129 anos depois da sua inauguração, a obra mestre do Gustave Eiffel está pronto para uma nova vida. Hoje monumento mais famoso do mundo (sua imagem foi avaliada em 2012 numa pesquisa da Câmara de Comércio da Itália em 434 bilhões de Euros, cinco vezes mais que o Coliseu, seis que a Torre de Londres), sempre soube se renovar. Obra provisória da Exposição Universal de 1889, não foi desmontada porque a cidade de Paris concedeu a exploração ao Eiffel  para pagar suas dívidas. Por falta de público ia ser destruída quando foi salva pelo sucesso da Exposição de 1900, e escapou em 1944 de uma ordem do Hitler para explodir-la. Renovado para Exposição Universal de 1937, a Dama de Ferro estará pronta para os grandes eventos que Paris vai hospedar na próxima década, especialmente os Jogos Olímpicos de 2024 e a Exposição Universal de 2025.

Jean-Philippe Pérol

A Torre Eiffel na inauguração da Exposição de 1889

 

Castelos, hotéis e AirBnb, uma nova experiência que só Alain Ducasse podia oferecer!

Quarto no Pombal do Château de Courban

Quarto no Pombal do Château de Courban na Borgonha

O grupo californiano AirBnb vai mais uma vez surpreender tanto os seus seguidores como seus detratores, assinando um acordo de parceria com  Châteaux & Hôtels Collection, um grupo francês reunindo 500 restaurantes ou estabelecimentos hoteleiros, presidido pelo famosíssimo  e muito influente chef Alain Ducasse. Ambas inovadoras e pioneiras, as duas empresas vão trabalhar juntas para oferecer aos viajantes não somente quartos únicos em todos os endereços Châteaux & Hotels Collection da França, bem como experiências exclusivas em Paris.

O restaurante parisiense Citrus Etoile

O restaurante parisiense Citrus Etoile

AirBnb vai comercializar no seu site de reservas os hotéis da rede – cada estabelecimentos podendo oferecer seja alguns seja todos seus quartos. E Alain Ducasse criou quatro roteiros especialmente para AirBnb, como acompanhar o chef Gilles Epié numa feira livre e depois na cozinha do seu restaurante Citrus l’Étoile, descobrir a “Manufacture de Chocolat” Alain Ducasse ou visitar os bastidores da sua escolha de cozinha e participar de uma degustação. com a diretora Alexandra Legrand. Mas alem de ser a primeira vez que um acordo comercial liga a AirBnb e um dos grandes atores do setor turístico da França, essa parceria representa para cada um dos dois grupos uma virada estratégica importante.

Paris, primeiro destino mundial da AirBnb

Paris, primeiro destino mundial da AirBnb

Para AirBnb, essa parceria é uma sequencia lógica do crescimento da Trips, a sua plataforma de planejamento de viagem. Já contando com posadas, “bed and breakfast” e pensões, o próximo passo tinha que ser  ampliar a oferta de hotéis. Com  Châteaux & Hôtels Collection, os clientes vão ter acesso a novas experiências de qualidade. Na hora onde seu modelo econômico sofre de mudanças nas legislações nos grandes destinos turísticos mundiais, AirBnb pode fazer desse acordo um passo importante para competir com as grandes OTA, Booking et Hotels.com. O prestigio de Alain Ducasse pode também ser decisivo para mostrar ao setor hoteleiro, até então extremamente hostil, que sinergias são possíveis entre a economia participativa e as hospedagens tradicionais.

Novas perspectivas se abram também para Châteaux & Hôtels Collection. Os  viajantes qui visitam o site ou frequentam as hospedagens da AirBnb (só na França seriam 10 milhões) vão descobrir os seus endereços. Pelo menos numa primeira fase, os 400 hoteleiros da rede oferecerão em prioridade os quartos mais originais e inéditos como um pombal ou a torre de um castelo do Renascimento, mas a escolha será de cada estabelecimento. Concordando com AirBnb sobre a necessidade de comunicar com os viajantes duma forma diferente, consciente das revoluções trazidas pelas grandes plataformas de reservas, a rede presidida pelo Ducasse vai, com essa inesperada parceria, conseguir um novo posicionamento, tanto em relação aos seus outros parceiros na distribuição que junto aos novos viajantes do século XXI.

Jean-Philippe Pérol

O Castelo de Besseuil, Château Hotel na Borgonha

O Castelo de Besseuil, Château Hotel na Borgonha

 

 

Na grandeza de Versalhes, o chefe Ducasse revisitando as refeições do Rei Sol

O patio de hora do palacio de Versailles

O pátio de hora do palácio de Versalhes

Convidado a mesa do Luis XIV, o mais faminto dos gourmets do século XXI teria muitas dificuldades para acompanhar o apetite do Rei, com suas refeições de trinta a cinquenta pratos divididos em cinco a sete “serviços”.  Com muitas carnes de caça, peixes de agua doce, todos os tipos de aves (incluindo pavão ou cisne), e legumes da horta real (o rei era viciado em ervilhas), o culinário da época estranharia hoje pelas especiarias e pelos alimentos, muito cozidos ou super bem-passados. O serviço também era diferente, com a mesa sempre cheia de pratos, os convidados comendo sem garfo e as bebidas sendo servidas separadamente.

Mesas do "Café contemporain" Ore

Mesas do “Café contemporain” Ore

Se o Rei Sol e seu esplendor pertencem ao passado, o famoso chefe estrelado Alain Ducasse decidiu trazer de volta em Versalhes parte das grandes tradições culinárias do século XVII. No ultimo dia 13 de setembro, inaugurou no Pavilhão Dufour, na entrada do Castelo, um Restaurante chamado Ore, palavra latina significando Boca. Durante dia, começando no café da manha, Ore é um elegante “café contemporâneo” com um cardápio oferecendo receitas clássicas do culinário francês inspiradas da época, mas também pratos simples ou rápidos, sobremesas ou doces para acompanhar um simples cafezinho ou um chá da tarde. Num local atraindo muitas famílias, o Alain Ducasse também não esqueceu de oferecer um menú para crianças.

As salas do restaurante

As salas do restaurante, reabilitadas pelo Dominique Perrault

De noite, os salões do restaurante, reabilitados pelo famoso arquiteto Dominique Perrault, podem virar o palco de uma experiência única, um jantar privativo respeitando o cerimonial, os cardápios, a louça, o serviço e a decoração dos tempos do Louis XIV. Levando os convidados para as suas mesas, o maitre grita “Messieurs, à la viande du roi !” (Senhores, vamos para a carne do Rei) como exigia o protocolo. Os garçons de peruca vestem  uniformes da época. A louça da “Manufacture royale de Limoges” foi especialmente reeditado pelo Bernardaud, e os copos de cristais não são  padronizados como era de praxe.

Com pratos, o impressionante cardápio de uma refeição do Rei Sol

Com 44 pratos, o impressionante cardápio de uma refeição de 1757

Alain Ducasse quis, nesse lugar único, oferecer  uma comida francesa contemporânea, mas  inspirada do culinário da época dos reis, não somente um jantar mas uma verdadeira experiência histórica e gastronômica. Os convidados podem assim começar com quatro entradas (caldo de ervas, legumes ao natural, croquetes de rã, lagostinhas com caviar e cogumelos recheados), continuar três pratos principais (peixe pregado ao molho holandês, patê quente de carnes de caça, galinha com lagostinhas), dois pratos menores (tortas de trufas brancas e pretas, guisado de cogumelos selvagens), e acabar com três sobremesas (groselhas com agua de rosa, bolo Fontainebleau com morangos do mato, e o famoso bolo de chocolate Louis XIV).

Alain Ducasse no seu restaurante de Versalhes

Alain Ducasse no seu restaurante de Versalhes

O novo empreendimento do criativo chefe vai alem do Café e do restaurante. O Ore aproveita também uma galeria de recepção de 2.700 m2, um auditório de 150 lugares, salas de seminários, e uma cozinha com equipamentos da ultima geração. A diretora do Palácio de Versalhes, Catherine Pégard, acredita que,  com a chegada do Restaurante Ore, a arte de viver a francesa vai ganhar em Versalhes uma vitrina excepcional junta aos visitantes vindo do mundo inteiro. Obrigado ao Rei Sol e a Alain Ducasse.

Jean-Philippe Pérol

 

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Novos investidores nos mais tradicionais hotéis e palaces de Paris!

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Aproveitando desde 2008 incentivos fiscais muito favoráveis, investidores internacionais estão tomando posse dos mais prestigiosos hotéis e palaces de Paris. Entre os mais dinâmicos, destaquem se as monarquias do Golfo, o sultão de Brunei e recentemente os chineses. Com impressionantes programas de renovação, trazendo novas bandeiras, deixaram as criticas do lado e estão ajudando a consolidar Paris como um dos destinos no mundo com a melhor hotelaria.…

Os qataris estão liderando com três estabelecimentos. O primeiro é o Le Grand Hotel. Com sua excepcional localização frente ao Opera de Paris, ele foi inaugurado em 1862, junto com o seu Café de la Paix, pela imperatriz Eugenie, esposa do Napoleon III, o imperador que mandou o Barão Haussmann redesenhar Paris e construir a Opera Garnier. cafe_de_la_paix_paris_france_optDepois de varias renovações, o hotel era desde 1982 propriedade e bandeira da Intercontinental. A bandeira vai ficar mais 30 anos com o grupo americano, mas o hotel pertence desde dezembro de 2014 ao Fundo qatari Constellation que pagou 330 milhões de Euro, inclusivo 60 milhões para a renovação dos 400 quartos e das 70 suites. Esse mesmo fundo do Qatar já tinha comprado em 2013 varios grandes hotéis franceses tais como o Concorde Lafayette, o Hotel do Louvre ou o Martinez em Cannes.

Os qataris investiram também em 2010 no Royal Monceau, um “Palace” parisiense construído em 1928. Depois de uma renovação completa assinada pelo grande designer francês Philippe Starck, ele tinha reaberto em 2010 com a bandeira da Raffles Hotels de Singapora. Le_Royal_Monceau_Raffles_Paris_-_Le_Restaurant_Italien_Il_Carpaccio_2-resizeO fundo soberano do Qatar seria também dono do prestigioso Ritz, na praça Vendôme. Atualmente em renovação, esse hotel espera ganhar a prestigiosa distinção de “Palace” que ele ainda não tem. Com a ajuda de uma historia impressionante – destacando-se as figuras de Coco Chanel e Ernest Hemingway- e do grande arquiteto designer Thierry Despont, a reabertura no primeiro semestre 2015 será sem duvidas espetacular.

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Os sauditas compraram dois dos mais famosos hotéis de Paris. O primeiro é o Crillon, ícone da praça da Concorde e fundador da aventura dos Relais Chateaux. Hoje fechado para obras, deve reabrir esse ano com uma bandeira americana, Rosewood Hotels and Resorts. O segundo é o George V, construído em 1928 perto dos Champs Elysees, que pertence por parte ao príncipe Talal e por parte a Bill Gates. Ele é administrado pela Four Seasons e conseguiu também a distinção de “Palace”.

Muito criticado na imprensa pela sua politica interna muito rigorista, o Sultão de Brunei é outro grande investidor nos “Palaces” de Paris. É hoje dono do Meurice, tradicional estabelecimento aberto em 1835 frente aos Jardins des Tuileries, e do Plazza Athénée, endereço muito querido da alta sociedade brasileira, com seu restaurante do Alain Ducasse e sua adega de 35.000 garrafas. Ambos hotéis fazem parte do Dorchester Group.

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Em julho 2014, a admissão do Shangri-La e do Mandarin Oriental no fechadíssimo grupo dos “Palaces” parisienses chamou a atenção sobre os investimentos chineses nos hotéis de Paris. Com o outrora Hotel Majestic, que reabriu como Península, são três grandes estabelecimentos parisienses comprados por empresas de Hong Kong.

Com os mais lindos hotéis de Paris pertencendo a esses novos investidores (inclusive 6 dos 8 “Palaces”, o Bristol sendo o único a pertencer a uma família do velho continente), e todos com bandeiras estrangeiras, não faltaram vozes para se preocupar com a autenticidade e/ou o charme francês do serviço oferecido aos turistas. CONCIERGEMas quem teve a sorte de hospedar num desses hotéis pode confirmar que todos eles continuam de oferecer o melhor do “savoir-faire” à francesa, e pode assegurar que cada detalhe, da arquitetura da faixada até as dicas do concierge, respeita o inigualável charme de Paris, o mesmo que atraiu esses novos e bemvindos investidores.

Jean-Philippe Pérol

Esse artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original do Serge Fabre publicado no site da Pagtur 

Good France ou Goût de France?

Refeições a francesa: alem da Unesco, prazer, alegria e convivialidade!

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Relais & Châteaux Auberge des Templiers ©Photo Eric Dudan

Dentre dos novos impulsos que a França quer dar a seu turismo, a gastronomia tem um lugar de destaque, sendo escolhida como a primeira temática valorizada pelo recém criado Conselho nacional da promoção do turismo. A presença no grupo de trabalho de três dos mais respeitados chefes franceses – Alain Ducasse, Guy Savoy e Joel Robuchon – , o envolvimento do ministro das relações exteriores, e a escolha do 19 de Março como dia mundial dos “goûts de France” – Sabores da França- mostraram que o assunto é sério.

É claro que os 610 restaurantes estrelados pelo prestigioso Guia Michelin são um grande atrativo,  e os brasileiros frequentam as mesas dos mais famosos “trois étoiles” como o Relais Bernard Loiseau na Borgonha, a Maison Pic em Rhône-Alpes e a Assiette Champenoise em Reims. 1377098324equipeChefes mais novos, com cozinha alegre e criativa, também se promoverem recentemente no Brasil, o Michael Nizzero da Briqueterie na Champanha, ou o Jean Sulpice de Val Thorens.

Mas a gastronomia na França vai agora muito além do sucesso desses mestres talentosos. Desde o reconhecimento pela Unesco da “refeição gastronômica à moda francesa”em 2010, o foco não é mais uma receita francesa em particular, ou um formalismo extremo restrito a uma elite. tableÉ hora do prazer, ou melhor, dos prazeres da mesa. Comer, na França, é um ritual cultural marcando momentos importantes da vida, mas com uma mistura original de convivialidade e gastronomia, que reúne os franceses ao redor duma mesa bem colocada, para dividir pratos de qualidade acompanhados de um vinho adequado. Uma refeição é antes de tudo um momento de prazer, não um pit-stop numa correria desajeitada.

20122567A força da gastronomia francesa (para 20% dos brasileiros, o primeiro motivo de viagem para França) é que esse prazer e essa alegria podem ser vividos nos 78.000 restaurantes das 26 regiões francesas. Um bom “repas a francesa”, com seu aperitivo, seus pratos a base de produtos locais, seus queijos e sua combinação de vinhos, pode ser encontrado em todas as regiões, e cada francês tem seus favoritos. Toubana-053Pode ser uma “brasserie” em Paris a Closerie des lilas, ou a Coupole tão querida dos brasileiros, ou na Ile de la Cité o tranquilo Restaurant Paul. Em Lille, no surpreendente norte onde a cerveja acompanha o culinário “Chti”, a tradicional Chicorée é uma grande opção. Mas pode ser a Ferme Saint Sebastien em Charroux, na Auvergne, o criativo Côté cour na cidade de Aix en Provence ou o caribenho Toubana na Guadalupe. Pode ser um desses simpáticos e agitados “bouchons” de Lyon, o “Tire-bouchon” ou o “Les Lyonnais”. DSCN0193Ou pode ser também uma “table d`hôtes” de um pequeno vilarejo, por exemplo perto de Auzances, na minha terra, o maravilhoso “Au petit creusois” que tem as vezes cogumelos frescos (“girolles”) e serve um menu completo por menos de 30 euros.

É esse espírito de convivialidade e prazer, enraizado na sua gente e na sua terra, que faz o turista amar a gastronomia francesa. Mas na terra da liberdade, alem desses rituais, pode aproveitar refeições bem simples, por exemplo um prato em volta dum vinho no L’écluse em Paris ou no bar de la Poste em Saint Emilion. DSCN3797 - copieE se não poder parar o tempo necessário, lembre-se que um Jambon Beurre (sanduiche de presunto e manteiga numa “baguette”), com um copo de Saint-Amour no balcão do barzinho da esquina, não é um “repas à la française” mas também representa um excelente momento de prazer e de alegria à francesa.

Jean-Philippe Pérol

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Relais & Châteaux Moulin de l’Abbaye ©Philippe Schaff