A Historia do Brasil nas ruas de Paris

Opera Garnier em Paris

Opera Garnier, na Praça da Opera em Paris

Na terça-feira, 22 de maio de 1877, um visitante inesperado tocou a campainha do apartamento de Victor Hugo, 21 rua de Clichy em Paris. Dom Pedro IIQuando o então mais famoso escritor da França abriu a porta,  a surpresa foi imensa a ficar frente a frente com o Imperador do Brasil, Dom Pedro II. Mesmo sendo um republicano convicto,  Victor Hugo gostou tanto do encontro que passou alguns dias depois no Grand Hotel, na Praça da Ópera, e deixou   para o monarca uma foto com essa comovente homenagem : “Para aquele que tem Marco Aurélio como antepassado”. Essas anedotas, junto a muitas outras, estão no livro agradável e bem documentado de Maurício Torres Assunção, “A historia do Brasil nas ruas de Paris”. Nos 174 endereços listados,  o turista brasileiro vai encontrar novos motivos para gostar de Paris, bem como novos centros de interesses para definir  seus itinerários.

O bar do Jardin des Plantes

O bar do Jardin des Plantes

Se Dom Pedro I só ficou uma vez em Paris, depois da sua abdicação, convidado de palácio em palácio  pelo Rei Louis Philippe – mas preferindo se hospedar num palacete na rua de Courcelles, Dom Pedro II era apaixonado pela cidade. Marcou com a sua presencia todos os monumentos parisienses, especialmente nos bairros localizados entre o Louvre, a Opera e os Champs Elysées. Atrás de novidades técnicas ou científicas,  frequentou o Institut De France, o Jardin des Plantes e o Jardin d’Acclimatation, visitou os esgotos e financiou o Institut Pasteur. Em Paris, Amor, Ordem e ProgressoPara o viajante, a mais emocionante lembrança será talvez de caminhar pelo Parc Monceau onde ele gostava de andar, doente e sozinho, nos últimos dias do seu triste exílio. Por ironia da historia, os grandes inimigos do Império, os positivistas, estão também enraizados em Paris onde o movimento de “Amor, Ordem e Progresso” nasceu. No número 5 da rua Cayenne, no Marais, fica a Capela da Humanidade num prédio onde teria morada Clotide de Vaux de Ficquelmont, a musa do Auguste Comte!

O primeiro voo do Numero 14 bis, 13 de Setembro 1906

Santos Dumont (liderando, a direita) e o 14 bis

O mais parisiense dos brasileiros foi sem dúvida Santos Dumont, o “pequeno Santôs” como era carinhosamente chamado.La Grande Cascade Nos 22 anos que passou em Paris, são 39 lugares selecionados no livro de Maurício Torres, desde o Jardin d’Acclimation ou o Campo de Jogo de Bagatelle de onde saíram as suas aeronaves, até o Café de la Paix, a Grande Cascade ou o Maxim’s onde ele gostava jantar. Numerosas placas comemoram suas façanhas, o seu primeiro recorde histórico (em Bagatelle), o segundo (em Saint Cloud), o seu impressionante acidente (na avenida Presidente Kennedy) ou seu segundo domicilio nos Campos Elíseos 114, na frente do qual  pousava com seu pequeno balão “Baladeuse” ou, depois, com seu aviãozinho “Demoiselle”.

Sede do Partido Comunista Francês, projeto do Niemeyer

O pais que quase adotou a Marseillaise como hino oficial ainda marcou muitos lugares em Paris, nos passos de Villa-Lobos (Restaurante Le Boeuf sur le Toit, Salle Pleyel ou Maison de l’Amérique Latine), do Lucio Costa ( Maison du Brésil ou sede da UNESCO), Villa Lobos em Parisou do Oscar Niemeyer que afirmou suas ligações políticas desenhando a sede do Partido Comunista francês bem como a (antiga) sede do diário l’Humanité em Saint-Denis. Com fatos inéditos ou poucos conhecidos, o livro do Maurício revela com muito humor essas relações excepcionais entre Paris e alguns dos mais famosos Brasileiros. Para o visitante, os seus legados arquitecturais, científicos, sociais ou culturais, celebrados em placas, monumentos e nomes de ruas, podem assim fazer de uma estadia na Cidade Luz uma viagem pela historia do Brasil.

Jean-Philippe Pérol

 

A História do Brasil nas Ruas de Paris, de Maurício Torres Assunção. Editora Casa da Palavra.

O Parque Monceau

O Parque Monceau, onde passeava o Dom Pedro exilado

Novos investidores nos mais tradicionais hotéis e palaces de Paris!

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Aproveitando desde 2008 incentivos fiscais muito favoráveis, investidores internacionais estão tomando posse dos mais prestigiosos hotéis e palaces de Paris. Entre os mais dinâmicos, destaquem se as monarquias do Golfo, o sultão de Brunei e recentemente os chineses. Com impressionantes programas de renovação, trazendo novas bandeiras, deixaram as criticas do lado e estão ajudando a consolidar Paris como um dos destinos no mundo com a melhor hotelaria.…

Os qataris estão liderando com três estabelecimentos. O primeiro é o Le Grand Hotel. Com sua excepcional localização frente ao Opera de Paris, ele foi inaugurado em 1862, junto com o seu Café de la Paix, pela imperatriz Eugenie, esposa do Napoleon III, o imperador que mandou o Barão Haussmann redesenhar Paris e construir a Opera Garnier. cafe_de_la_paix_paris_france_optDepois de varias renovações, o hotel era desde 1982 propriedade e bandeira da Intercontinental. A bandeira vai ficar mais 30 anos com o grupo americano, mas o hotel pertence desde dezembro de 2014 ao Fundo qatari Constellation que pagou 330 milhões de Euro, inclusivo 60 milhões para a renovação dos 400 quartos e das 70 suites. Esse mesmo fundo do Qatar já tinha comprado em 2013 varios grandes hotéis franceses tais como o Concorde Lafayette, o Hotel do Louvre ou o Martinez em Cannes.

Os qataris investiram também em 2010 no Royal Monceau, um “Palace” parisiense construído em 1928. Depois de uma renovação completa assinada pelo grande designer francês Philippe Starck, ele tinha reaberto em 2010 com a bandeira da Raffles Hotels de Singapora. Le_Royal_Monceau_Raffles_Paris_-_Le_Restaurant_Italien_Il_Carpaccio_2-resizeO fundo soberano do Qatar seria também dono do prestigioso Ritz, na praça Vendôme. Atualmente em renovação, esse hotel espera ganhar a prestigiosa distinção de “Palace” que ele ainda não tem. Com a ajuda de uma historia impressionante – destacando-se as figuras de Coco Chanel e Ernest Hemingway- e do grande arquiteto designer Thierry Despont, a reabertura no primeiro semestre 2015 será sem duvidas espetacular.

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Os sauditas compraram dois dos mais famosos hotéis de Paris. O primeiro é o Crillon, ícone da praça da Concorde e fundador da aventura dos Relais Chateaux. Hoje fechado para obras, deve reabrir esse ano com uma bandeira americana, Rosewood Hotels and Resorts. O segundo é o George V, construído em 1928 perto dos Champs Elysees, que pertence por parte ao príncipe Talal e por parte a Bill Gates. Ele é administrado pela Four Seasons e conseguiu também a distinção de “Palace”.

Muito criticado na imprensa pela sua politica interna muito rigorista, o Sultão de Brunei é outro grande investidor nos “Palaces” de Paris. É hoje dono do Meurice, tradicional estabelecimento aberto em 1835 frente aos Jardins des Tuileries, e do Plazza Athénée, endereço muito querido da alta sociedade brasileira, com seu restaurante do Alain Ducasse e sua adega de 35.000 garrafas. Ambos hotéis fazem parte do Dorchester Group.

MandarinLobby

Em julho 2014, a admissão do Shangri-La e do Mandarin Oriental no fechadíssimo grupo dos “Palaces” parisienses chamou a atenção sobre os investimentos chineses nos hotéis de Paris. Com o outrora Hotel Majestic, que reabriu como Península, são três grandes estabelecimentos parisienses comprados por empresas de Hong Kong.

Com os mais lindos hotéis de Paris pertencendo a esses novos investidores (inclusive 6 dos 8 “Palaces”, o Bristol sendo o único a pertencer a uma família do velho continente), e todos com bandeiras estrangeiras, não faltaram vozes para se preocupar com a autenticidade e/ou o charme francês do serviço oferecido aos turistas. CONCIERGEMas quem teve a sorte de hospedar num desses hotéis pode confirmar que todos eles continuam de oferecer o melhor do “savoir-faire” à francesa, e pode assegurar que cada detalhe, da arquitetura da faixada até as dicas do concierge, respeita o inigualável charme de Paris, o mesmo que atraiu esses novos e bemvindos investidores.

Jean-Philippe Pérol

Esse artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original do Serge Fabre publicado no site da Pagtur