Segunda edição do Invino amplia mercado com novos players

Press release da Promonde, São Paulo, 28 de março de 2022

A Borgonha vai ser a grande vedete da segunda edicão do Invino

O francês Jean-Philippe Pérol, no Brasil desde 1976, sempre foi um visionário. Dirigiu os escritórios para as Américas da antiga Maison de la France, hoje Atout France, ocupando também a função de Diretor Geral em Paris da organização.  Foi o primeiro a acreditar nos anos 2000 na democratização das viagens internacionais para os brasileiros e apostar no potencial da então nova classe média para o turismo francês. Apaixonado por tecnologia, sempre alertou que as operadoras e agências de viagens eram os maiores parceiros dos Tourism Boards. Depois, no início dos anos 2010, entendeu a importância das mídias sociais, em especial o Instagram, como veículo de promoção de destinos, e criou campanhas icônicas com influenciadores digitais.

Vinho e turismo, o encontro de duas paixões

Quando deixou o turismo da França, apostou suas fichas na Amazônia e nas viagens com conteúdo. E percebeu, igualmente,  que o enoturismo no Brasil poderia ter um crescimento significativo ao longo dos anos. Criou, a partir daí, em 2019, o Invino Wine Travel Summit. A segunda edição acontecerá no Hotel Unique, no próximo dia 11 de abril. Abaixo ele explica o cenário atual das viagens de vinhos, a motivação para organizar a segunda edição e que novidades os profissionais de turismo poderão conhecer no evento. As inscrições estão abertas gratuitamente pelo site.

A pandemia causou uma paralisação das atividades turísticas. Por outro lado, essa cocoonização forçada promoveu o aumento no consumo de vinhos, inclusive com surgimento de um novo mercado. Quais as expectativas de vocês com relação ao enoturismo, nessa retomada das viagens?

JPP: A pandemia causou uma brutal retração de 84% do mercado mundial do turismo em 2020 passando de 1,5 bilhão a menos de 400 milhões. O enoturismo também sofreu, mas devemos ser otimistas porque as tendências surgidas com a crise vão dar um forte impulso nas viagens por três razões: o crescimento da gastronomia (e do vinho) nas motivações; a procura de temáticas e de conteúdos fortes e, por fim,  a resiliência do turismo de luxo que representa ume boa parte (mesmo se não a única) do enoturismo nacional e internacional no Brasil.

A Cité do Vin de Bordeaux, uma arquitetura enobrecendo o enoturismo

Um novo empreendimento turístico voltado para o universo do vinho surge na Borgonha. É a resposta da região à Cité du Vin, em Bordeaux, nessa saudável concorrência entre as duas regiões?

JPP: Na França, a questão Bourgogne/Bordeaux é tão viva quanto a direita/esquerda na politica ou PSG/Marselha no futebol. No contexto, Cité du Vin et la Gastronomie da Borgonha e da Cité des Cultures et des Civilisations du Vin, deve se anotar que são dois projetos totalmente diferentes. Com os dois estando presentes no evento de enoturismo Invino, o brasileiro poderá ver que são muito mais complementares que concorrentes.

Trata-se da segunda edição do evento. A Cap Amazon reuniu muitas informações sobre o mercado. Quem é hoje o brasileiro que consome enoturismo?

JPP: A primeira informação que devemos divulgar a nossos colegas do trade é o impressionante crescimento desse tipo de turismo no Brasil nos últimos anos. Quero especialmente destacar dois pontos que chamam minha atenção na preparação desta segunda edição. O primeiro, é que o consumo de vinho e de enoturismo atinge hoje uns perfis de consumidores muito mais largos, além dos tradicionais connaisseurs da elite social e econômica e dos descendentes de imigrantes europeus no sul do país. O segundo é que o enoturismo brasileiro é hoje uma grande realidade em São Paulo, no Sul e até no Nordeste, e que os agentes de viagens tem aí um grande potencial a longo mas também a curto prazo.

De Nordeste a Sul, o enoturismo brasileiro está em plena ascenção

Há uma diferença do enoturista brasileiro para o de outras nacionalidades?

JPP: Acho que temos que falar dos enoturistas brasileiros e não do enoturista brasileiro. Temos uma clientela tradicional e de alto padrão aquisitivo que procura um enoturismo de luxo e que costuma comprar muito vinho com grande rótulos. Essa clientela está crescendo, procurando novos destinos e sendo cada vez mais curiosa sobre vinhos diferentes. Mas temos também uma clientela nova, que precisa talvez ser mais acompanhada que os enoturistas franceses ou italianos, e é nesse momento que os agentes de viagens podem ter um papel muito importante!

Quais suas apostas em enoturismo para o próximo ano?

JPP: Muito Brasil. O doméstico vai ser sucesso no enoturismo, como o sul do país, mas São Paulo vai surpreender; a Argentina também, pela proximidade e preços interessantes; a França, claro. Países ou regiões menos conhecidas vão também aproveitar. A presença da Suíça e da Catalunha no Invino não são meras coincidências. Queria lamentar a esse respeito que a Moldavia teve que cancelar sua participação devido a guerra que está chegando a suas fronteiras orientais.

A Garzon virou um exemplo de sucesso enoturístico

Quais as novidades para a edição 2022 do Invino?

JPP: Uma edição mais internacional, com expositores vindo de 8 paises, e uma participação mais importante do trade do vinho – teremos por exemplo o  World Wine apresentando seus vinhos no coquetel de encerramento. A gastronomia vai ter também uma presença mais forte com um almoço do chef bourguignon Emmanuel Bassoleil, e – last but not least – uma apresentação dos Queijos da França que vão se harmonizar com os vinhos da Garzon, um encontro original entre o Velho e o Novo Mundo.

A quem o evento se destina e como se inscrever?

JPP: O Invino quer que os mundos do turismo e do vinho se encontrem mais e se conheçam melhor. Devemos, assim, contar com 80 buyers, agentes de viagens e operadoras querendo se implicar no enoturismo, e 40 jornalistas e influenciadores vindo tanto do turismo quanto do vinho. Os 30 expositores se dividem também entre os dois setores. A particularidade do Invino em misturar palestras, seminários e encontros com refeições harmonizadas e degustações vai ajudar a criar esse clima de intercâmbio e de convivialidade que tanto gostamos.

A Suiça se posiciona como um destino de enoturismo

A Borgonha e o enoturismo no surpreendente (e sustentável) ranking 2022 da Lonely Planet

As Ilhas Cook foram a grande surpresa do Top Ten 2022

Património cultural, belezas naturais e tolerância destacaram Omã

Atras das pequenas ilhas da Polinésia se destacaram destinos já confirmados e lugares menos conhecidos. Foram assim premiados a Noruega (pela sustentabilidade e os novos museus), a Ilha Maurice (pela biodiversidade, especialmente em Rodrigues), Belize (pela barreira de coral e os vestigios maias de Lamanai), a Eslovénia (pelo cicloturismo bem como a enogastronomia), e Anguilla (pela reconstrução sustentável depois do furacão Irma). Constam também na lista Omã (pela cultura tolerante e as belezas naturais), o Nepal (pelo reconstrução sustentável depois do terremoto), o Malaui (pelo ecoturismo e a proteção de especies animais ameaçadas)e o Egito (pelo património histórica e a gestão comunitárias de vários projetos turísticos).

Merida foi justamente lembrada como capital do Yucatán

Os top ranking das cidades valorizam também os esforços feitos para a sustentabilidade, a diversidade e as energias renováveis, em Auckland, Taipé, Friburgo, Atlanta, Dublin ou mesmo Firenze. A presencia de Lagos na Nigeria, Nicosia em Chipre, ou de Gyeongiu na Coreia do Sul foram porem surpresas interessantes, assim que a homenagem a Merida (México). O seu Gran Museo del Mundo Maya , os seus passeios de bicicletas para Uxmal ou Chichen Itza,  e a sua gastronomia incorporando influências maias, caribenhas e europeias foram as atrações principais justificando a sua presencia na lista como mais atrativo destino do Yucatán.

Shikoku, um Japão tradicional com 88 templos e um vanguardismo ecológico

As regiões foram selecionadas com os mesmos critérios, e uma forte influencia das preocupações ambientais que as autoridades souberem integrar na Virginia ocidental (Estados Unidos), no Kent (Inglaterra), na Cenic Rim (Australia) e em Vancouver (Canada). Se a presencia da Islândia recompensa o sucesso de um turismo criativo e pioneiro, e se Porto Rico é incentivada  a continuar seus esforços de recuperação, três destinos são mesmo achados para 2022: Atacama (Chile) com o desenvolvimento do seu turismo sustentável e comunitário, Xishuangbanna (China), com sua mosaica étnica. seus elefantes e sua gastronomia, e  Shikoku (Japão), com suas paisagens, seus 88 templos e seu envolvimento na sustentabilidade.

Enquanto o vinho é uma das temáticas que mais cresce no turismo, a Borgonha, com seus 84 apelações (incluindo 33 Grands Crus), não podia não ter sido escolhida para fechar os destaques da Lonely Planet. Pioneira do enoturismo responsável com um programa bem sucedido de certificação de vinhedos, ela vai também inaugurar em 2022 dois projetos exemplares, a Cité internationale de la Gastronomie et du Vin (CIGV), em Dijon, e a Cité des Vins et des Climats de Bourgogne nas três cidades emblemáticas de Beaune, Chablis e Macon. Alem do vinho e da gastronomia, o júri quis também destacar a natureza e as paisagens da região, e os esforços bem sucedidos para desenvolver o ecoturismo e as trilhas nos seus morros, lagos e rios. 

Na França, turismo na Borgonha em tempo de pandemia

Os mágicos telhados dos Hospices de Beaune reabriram dia 19 de Maio

Em tempo de pandemia, depois de 10 dias de quarentena, ganha-se o direito de andar pela França. Nesse momento, pegar um carro e seguir estradas turísticas em total liberdade é uma das melhores formas de viajar e de acumular experiências únicas em tempo de pandemia. E para quem procura seguir com antecipação as novas tendências esperadas para o novo mundo pós covid, combinar   bem estar, cultura e enologia leva com tranquilidade a escolher a Borgonha,- Dijon, Beaune, sua fé e seus vinhedos-, como coração de um roteiro em família cheio de experiências e de boas surpresas.

Boas surpresas nas ruas pedestres do centro histórico de Dijon,

Ponto de partida da “Route des grands crus”, Dijon, capital dos duques de Borgonha reservou aos pedestres todo o seu centro histórico. Sempre mais rica em informações com um guia, a visita segue o “itinerário da coruja”, a ave símbolo da cidade, escolhida ou por ser associada a sabedoria da deusa Atena, ou por se chamar em francês “grande duque” . Alternando belezas arquiteturais – com destaques para o Palácio dos Duques, a catedral Santa Benina e a torre de Philippe le Bon-, para algumas curiosidades – a menor loja do mundo-, e para lojas de especialidades – mostardas, cremes de cassis ou doces-, o circuito mistura  imprescindíveis clichês, surpresas, e encontros com moradores sempre atenciosos.

O Clos des Issarts, um Gevrey-Chambertin 1er Cru

Borgonha é mesmo enoturismo, e os primeiros vinhedos começam no próprio município de Dijon com o Marsannay  e o Fixin, duas apelações pouco conhecidas  mas coloridas, frutadas e poderosas, alguns dos seus “climats”  tentando atingir em breve o selo de premier cru. No Château de Marsannay, a primeira degustação do dia (com um anfitrião fã do Brasil) mostrou que essas ambições eram legítimas. O vinho rei da Côtes de nuits, é porém o Gevrey-Chambertin, favorito do Napoleão, e, segundo nosso guia, muito procurado pelos brasileiros. E na adega do Philippe Leclerc, produtor local e onde fizemos uma segunda generosa degustação, o Brasil é mesmo uma das esperanças da retomada do enoturismo.

A 2CV, prazer, saudade e emoção nos vinhedos

Se os passeios de bicicleta são uma das grandes tendências do turismo na Borgonha, o visitante sem pressa tem uma outra opção emocionante: a 2CV “My French tour” da Mélanie. Nas pequenas estradas da “Route des Grands Crus”, o nosso barulhento, lento, apertado mas charmosíssimo carrinho dos anos 50 passou por Pommard, Volnay, Meursault, Puligny-Montrachet, et Chassagne-Montrachet. Paramos para ver o espetáculo dos “climats”, esses vinhedos definidos pela geologia dos solos, a exposição a luz do sol e aos savoir-faire de gerações de viticultores. Paramos para visitar uma “cabotte”- casinha de pedras multi-centenária- e uma estátua de São Cristovão. Paramos mais ainda para visitar as adegas  do Castelo de La Crée.

O Hotel Le Cep foi uma das boas surpresas da viagem

Outra boa surpresa da viagem foi o Hotel Le Cep em Beaune. Mesmo sabendo que era um dos melhores hotéis da Borgonha, sua arquitetura, seus espaços e especialmente seu atendimento ficaram acima das expectativas. Construído com a interligação de vários prédios, incluindo dois casarões do século XVI, encostado e com acesso as antigas muralhas da cidade, o hotel tem o charme da sua história: torres, escadas, pátios, quartos diferenciados, salões prestigiando de tenentes de Luis XIV até celebridades do jazz. Infelizmente não tivemos tempo de experimentar os dois SPAs, e o restaurante gastronômico do grupo Bernard Loiseau estava fechado devido pandemia, no entanto a adega foi o quadro impressionante de grandes momentos de convivialidade enológica .

Em Aloxe Corton, o castelo domina os 2000 anos de vinhedos

Viajar em tempo de pandemia é sem dúvidas complicado, mas dá também uma intensidade trazida pelas relações peculiares nesses momentos de crise bem como a garra e alegria dos atores do turismo que atuam pela retomada. De cada parada dessa viagem, da Borgonha e depois das Sources de Cheverny ou de Paris, levamos a certeza que o turismo pós pandemia será ainda mais imprescindível e mais transformacional.

Jean-Philippe Pérol

 

 

 

Na França, turismo e confinamento nos tempos de pandemia …

Para cada viajante, um decreto de confinamento com copias para desembargadores e juizes

Viajar é preciso, e mesmo como as restrições legitimamente impostas pela luta contre o Covid, alguns turistas estão se arriscando. Do Brasil, é assim possível ir nos Estados Unidos, se aceitar passar 14 dias de quarentena num destino aberto – o México por exemplo-, ou na França, se tiver um passaporte europeu  e aceitar passar 10 dias de confinamento na chegada. Aproveitando o fato que a Air France (quase) sempre manteve os seus voos para Paris, e já tendo recuado duas vezes a nossa viagem, decidimos de fazer essa experiência de turismo em família em tempo de pandemia, um roadtrip incluindo a Auvergne, a Borgonha, o Vale do Loire e Paris.

A Air France assegurando a ligação França-Brasil

A viagem começa bem – o pessoal de bordo da Air France fazendo o máximo de esforço para tirar o estresse dos poucos passageiros, até a chegada em Paris e o começo das dificuldades. Vindo do Brasil, os viajantes são colocados em longas filas, da polícia, do registro do lugar de confinamento, do teste PCR (brasileiros, franceses, indianos e sul africanos, negativos e positivos, bem juntinhos). E depois de duas horas e meio (para os primeiros, os últimos levaram mais de quatro horas), conseguimos sair com o imponente decreto de confinamento assinado pelo “Prefet” de policia de Paris, com cópia para dois desembargadores e dois presidentes de tribunais regionais.

Auzances, lugar escolhido para nosso confinamento

Com obrigação de ir diretamente para o lugar de confinamento, corremos na Hertz e saímos logo para a nossa casa da família, 350 quilômetros a fazer sem poder parar para respeitar o confinamento. Contornando Paris, o nosso itinerário nos leva até Orléans, atravessa o Rio Loire (sem ver os castelos) , e segue depois o vale do Rio Cher (o mesmo que passa em Chenonceaux), Bourges, a floresta de Tronçay com seus carvalhos pluri centenários, Montluçon e as últimas curvas atravessando as antigas minas de ouro. Com medo das multas de 1000 Euros para quem furar o confinamento e de 135 Euros para quem furar o toque de recolher, chegamos até adiantado no nosso destino, Auzances.

O impressionante empenho da PM local vigiando os confinados

Começou então a rotina do confinamento. Correr de manhã para aproveitar as duas horas (das 10:00 as 12:00) disponíveis para fazer as compras ou passear em um raio de um quilômetro, decisões dos sábios dos 27 comitês que administram na França a luta contre o Covid.  Descobrir logo a eficiência da PM que apareceu de manhã cedo para ter certeza que estávamos em casa, e do ministério da saude que ligou três vezes perguntando se eu era eu, e se minha esposa era minha esposa ….  pensei que era uma piada e perguntei para o atendente, mas era colombiano e não falava bem francês, só resolvemos falando em espanhol para a família ser checada e liberada.

Brinquedos no supermercados, nem pensar!

Confinamento é rotina, mas também confronto com a burocracia. Correndo para o supermercado, descobrimos que era possível comprar comida mas não eletrodomésticos, livros mas não brinquedos, e meias de crianças mas somente até dois anos. As sementes eram proibidas se for para plantar, mas liberadas para dar para seu canário. Não podia entrar em loja de móveis, mas fazendo a encomenda na hora pela internet, podia retirar o que for precisa. Nosso carro da Hertz pifou, mandaram o reboque mas para ser substituído era necessário buscar o novo a uma distancia de 60 quilômetros, sendo necessária então uma autorização excepcional que ninguém era competente para dar.

Mesmo a 1 km de casa, o campo é lindo mesmo

Estar trancado na casa de família tem seus momentos de alegria. É possível receber parentes ou amigos, até seis de uma vez e com máscaras, e a condição que o encontro não dure mais de quatro horas. É também a ocasião de novos encontros, por exemplo os PM da cidade vizinha que viram dar apoio a seus colegas daqui provavelmente cansados de passar quase todo dia sem deixar nem uma multa. E de reencontros, por exemplo uma velha amiga de infância, hoje enfermeira, que passou para recolher o material para nosso terceiro teste PCR em 10 dias – nenhuma exceção sendo prevista para os vacinados. E mesmo nos limites de um quilômetro, o campo da minha terra é lindo mesmo.

A lareira de casa, um lugar perfeito para viver um confinamento

Mas esse confinamento é mesmo cheio de emoção e raízes, um tempo para abraçar parentes, reforçar amizades, medir o carinho dos moradores e até da prefeita, jogar bola com minha filha na frente da igreja, ou olhar com minha esposa a fogueira na grande lareira que esquenta a casa desde o século XVI. No décimo dia de isolamento, depois de mais uma ligação do ministério da saúde, e esperando o último controle da PM, pensamos que finalmente  foi o justo preço a pagar para seguir o nosso roteiro para os vinhedos da Borgonha em  Beaune e Dijon, o SPA das Sources de Cheverny, e as novidades Parisienses, o Hotel de la Marine e a Bourse du Commerce. Viajar é preciso, mesmo nos tempos de pandemia.

Jean-Philippe Pérol

 

14 Juillet: uma data, um desfile, uns fogos, uns bailes e muita festa!

 

feu d'artifice du 14 juillet 2012 sur le sites de la Tour Eiffel

O 14 de Julho, também chamado de Dia da Bastilha em alguns países amigos, virou festa national da França em 1880 com um voto da Câmara dos deputados que oficializou mas não deixou claro o motivo exato da escolha dessa data. Tomada da Bastilha Para alguns, era a comemoração do 14 de Julho 1789, a sangrenta tomada da fortaleza real da “Bastille”, símbolo da prepotência e do autoritarismo da monarquia, pelo povo parisiense que procurava armas para se opor as tropas militares hostis as reformas políticas. Charles_Thévenin_-_La_Fête_de_la_FédérationPara outros, era a festa da Federação, no dia 14 de Julho 1790, quando meio milhão de parisienses e de soldados “federais” vindo da França inteira assistiram a uma missa solene durante a qual o rei Louis XVI jurou fidelidade aos princípios da jovem Revolução.

defile14juillet-garde-republicaine

A festa do “14 Juillet” tem três imprescindíveis tradições. A primeira é o desfile militar, homenagem as Forças Armadas nas quais todo povo confiava nesse final do sigilo XIX para enfrentar a ameaça alemã e recuperar as “províncias perdidas”, a Alsácia e a Lorena.Desfile do 14 de Julho 2015 Até 1914 o desfile era no hipódromo de Longchamps, e foi a partir da vitoria de 1919 que ele virou tradição, descendo os Champs-Elysées.Banda das Agulhas Negras em Paris Juntos com os militares franceses, desfilem também tropas de países amigos – ingleses em 2004, africanos em 2010, argelinos o ano passado, mexicanos esse ano, e mesmo os cadetes brasileiros das Agulhas Negras em 2005! -.  O desfile é tradicionalmente encerrados pela Legião estrangeira – com um passo mais lento que as tropas regulares, ela não pode desfilar na frente -, pela Guarda Republicana a cavalo e pelos aviões da “Patrouille de France” (a esquadrilha da fumaça francesa).

Fogos de artificios em Carcassonne

As duas outras tradições que fazem a alegria dos moradores e dos visitantes são os fogos de artifícios e os bailes, ambos organizados em quase todos os 36.000 municípios do pais. Tradição da realeza francesa, que comemorava assim as vitorias militares, os casamentos ou os nascimentos da família real, os  fogos de artificio viraram durante a Terceira Republica uma tradição popular. Ela foi se repetindo desde a primeira festa do 14 de Julho, em 1880,  quando rodas de fogos escreverem na noite parisiense as palavras “Vive la République” para a alegria dos espectadores presentes.

Bailes populares 14 de Julho

Os bailes são os outros grandes momentos dos 14 Juillet, sendo o mais tradicional de todos o “Bal des Pompiers”, o baile dos bombeiros. Organizado desde os anos trinta em Paris, ele exista hoje em milhares de municípios que se orgulham dessa festa que junta a população, os turistas e os mais populares dos militares (pelo menos na França, mas também em muitos outros países) , os bombeiros. Baile dos bombeiros!Famosos pelos seus “accordeonistes” (sanfoneiros ), os bailes dos bombeiros se abriram agora as musicas mais contemporâneas, virando grandes eventos populares em cidades como Dijon, Nice, Estrasburgo, Toulouse ou Nancy.

14 de Julho em Manaus

O  “14 Juillet” é também festejando em muitos lugares do mundo, incluindo no Brasil onde São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília ou Manaus tiveram eventos populares para comemorar uma festa nacional que quer, desde o seu inicio, ser a festa de todos os amantes da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade.

Jean Philippe Pérol

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Os vinhedos da Champagne e da Borgonha no Patrimônio mundial da Humanidade!

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Gastrónomos,  bons vivants, enófilos, ou simples amadores de bons vinhos e de festas alegres adoraram de ler ontem que  a UNESCO aprovou a entrada dos vinhedos da Champagne e da Borgonha  na lista do patrimônio mundial da Humanidade. Reunido em Bonn, na Alemanha, o comité do patrimônio  da organização internacional reconheceu que o conjunto dos vinhedos, das adegas, dos prédios históricos e do “savoir-faire” dessas duas regiões representavam paisagens culturais únicos no mundo.  Como cada um dos 1027 sítios já registrados (sendo 19 no Brasil), a Champagne e a Borgonha entraram na lista como uma homenagem a suas especificidades.

A abadia de Hautvillers visto do ceu photo_fenouil

A UNESCO explicou que a escolha da Champagne premiou seus “coteaux, maisons et caves” (sejam, vinhedos, casas de produção e comercialização, e adegas). Foram nesses lugares que foi desenvolvida o método de elaboração dos vinhos espumantes com a segunda fermentação, isso desde a sua invenção no século XVII até sua industrialização no decorrer do século XIX.

O beneditino Pierre Perignon

A inscrição dos Coteaux, Maisons et Caves de Champagne na lista do patrimônio se refira a três sítios cuidadosamente escolhidos no dossiê de candidatura. CIVC-DINER EN TETE A TETE-SIPA PRESS-JP BALTEL Paris-FRANCE, le 07/12/07O primeiro é o morro Saint Nicaise em Reims, com sua abadia de Saint Pierre d’Hautvillers onde o beneditino Pierre Perigon (mais famoso como Dom Perignon) teria inventado as seleções de uvas, a dupla fermentação, a rolha de curtiço e a taça flauta.  Na parte subterrânea do morro ficam as fabulosas adegas de Ruinart, Pommery, Clicquot et Heidsick. O segundo sitio inclui três vinhedos históricos da Champagne, Hautvilliers, Aÿ e Mareuil-sur-Aÿ, incluindo as adegas da Bollinger. Fort Chabrol em EpernayO terceiro é a Avenida da Champagne em Epernay, onde ficam as mais prestigiosas casas de negociantes bem como as seus quilômetros de adegas, seus espaços de vinificação e seus imponentes estoques de milhões de garrafas. O Fort Chabrol, centro de pesquisa enológica  foi também inscrito no projeto que cobre assim todo o processo de produção do Champagne.

O vinhedo de Clos Vougeot

Na Borgonha, a UNESCO homenageou os “Climats“, vinhedos cuidadosamente delimitados nas “Côtes de Nuits” e “Côtes de Beaune“, no Sul da capital, Dijon. A cada uma dessas propriedades – no total são 1247 – corresponde um tipo de solo, uma uva, e o “savoir-faire” dos homens que conseguiram assim dar a cada vinho um sabor único. Vinhedos da Bourgogne Essa nova paisagem cultural (é a categoria atribuída pela UNESCO) foi listada com duas partes diferentes. A primeira cobre todos os vinhedos bem como os centros de vinificação , quarenta vilarejos com nomes mágicos (Aloxe-Corton, Chambolle-Musigny, Gevrey-Chambertin, Pommard, Vosne Romanée …), bem como a cidade de Beaune. A segunda é o centro histórico de Dijon, a cidade onde a UNESCO reconheceu que foram tomadas as decisões políticas que, desde a época da gloria do Ducado de Borgonha, levaram a formação do sistema dos “climats”.

A França pode agora se orgulhar de 41 sitios classificados no Patrimonio cultural da Humanidade, três dos quais – os vinhedos da Champagne e da Borgonha, e a cidade de Saint Emilion- sendo uma homenagem a sua tradição vinícola.

Jean Philippe Pérol

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Kir Royal ou Kir Impérial?

Mostarda de Dijon… ou Mostarda da Borgonha?

Borgonha: da fé nasceu o vinho …

 

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Na Borgonha, é talvez no tradicional leilão dos Hospices de Beaune que a estreita ligação entre a fé e o vinho têm a sua maior expressão. Essencial para o ritual da missa católica, o vinho era desde o século V trabalhado na Borgonha pelas comunidades de monges, especialmente os cluniacenses ( a partir de 909 perto de Mâcon e em algumas áreas famosas como a Romanée-Saint-Vivant.) e os cistercienses (a partir de  1098 nas regiões de Côte de BeauneCôte de Nuits, e Chablis). DSCN0138 - copieEm 1443, na auge do ducado de Borgonha, quando as vinícolas ganharam um novo impulso com a proibição do Gamay e a obrigatoriedade do Pinot Noir, o chanceler do duque Nicolas Rolin, homem de muita fé, mandou construir um hospital, os Hospices de Beaune. E para sustentar seu funcionamento, doou também uns 60 hectares de vinhedos. Até hoje, mais de 500 “peças” (barris de 228 litros) leiloadas no terceiro domingo de novembro são os principais recursos dessas obras caritativas. Foi assim que a fé, que criou esses vinhos maravilhosos , foi depois financiada por eles….

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Hoje na Borgonha, os vinhos continuam guiando os passos do viajante. Os nomes dos lugares desfilam feito as ofertas dum grande cardápio de vinho: Gevrey-Chambertin, Nuits-Saint-Georges, Savigny-les-Beaune, Meursault… Vindo do Brasil, as visitas imprescindíveis vão com certeza incluir o castelo do Clos Vougeot, os vinhedos da Romanée e também algumas propriedades que se destaquem: SAO JORGE DALIo Chateau de Pommard com suas impressionantes esculturas de Dali -, o “domaine” de Drouhin Laroze – com suas adegas que podem ser o cenário dum jantar inesquecível, ou o Chateau de Velle com sua animadíssima demonstração de tonelaria. A descoberta das sutilezas do Pinot noir – a uva preferida dos duques porque transmita ao vinho todas as sutilezas dos mil “terroirs” da Borgonha, acontece também nas inúmeras propriedades – quase 5000, com uma media de menos de 7 hectares- onde os produtores gostam de explicar suas especificidades e de deixar o visitante experimentar os seus vinhos antes de poder comprar los.

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A fé sempre fica por perto. Em Vezelay fica uma das maiores basílica do mundo católico, ponto alto dum dos caminhos de Santiago, o Caminho de Limoges, 75 dias de caminhada de Namur até Compostela. O santuário e a abadia ficam numa colina sagrada desde a época dos gauleses, um desses lugares onde sopra o espírito. MARC MENEAUE nos flancos da colina, os vinhedos de Chardonnay chegam até o pequeno vilarejo de Saint-Père onde se esconde o extraordinário restaurante L’espérance do chefe Marc Meneau.  A fé se vê também nas outras 29 abadias que marcam as paisagens da Borgonha: das mais importantes, Fontenay, fundada pelos cistercienses em 1119 e  hoje patrimônio da humanidade , Citeaux, ou Cluny, outrora sede da maior igreja da cristandade, até as menores as vezes transformadas em hotel como o Relais Chateaux Abbaye de la Bussière.

AUXERREE nos confins da Borgonha, já perto da Champagne, a visita dos vinhedos de Chablis, dos seus solos ricos em fósseis e dos seus sutis chardonnay acabará com certeza em Auxerre, nas ruas estreitas que levam a sua catedral gótica e a sua cripta romana. Frente ao altar onde a Joana d Arc rezou em 1429, o visitante poderá meditar sobre esses monges beneditinos ou cistercienses que conseguiram, com trabalho, técnica e criatividade, inventar na terra fria e difícil da Borgonha esses vinhos singulares que foram os preferidos do Louis XIV e do Napoleão.

Jean-Philippe Pérol

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