O turismo com 100 milhões de empregos a reconstruir

 

Egito, um dos destinos em destaque em 2021

Na véspera da alta temporada do hemisfério Norte, nos raros destinos internacionais abertos, os poucos viajantes vão com certeza amar os preços imbatíveis dos aviões e dos hotéis, a exclusividade das visitas de monumentos e atrações, a volta da natureza nos parques e jardins, ou a atenção especial dos guias e dos garçons. Menos visível para os visitantes, eles não poderão ver o outro lado da moeda desse “underturismo brutal”, o desaparecimento de muitos pequenos empregos que alegram o turista como motoristas, empregados, artesãos,  motoristas, vendedores de rua, artistas, animadores ou músicos.

Veneza saindo do overturismo e repensando uma nova relação entre turistas e moradores

Segunda uma estimativa do WTTC, o World Tourism and Travel Council, a queda de 74% do turismo internacional em 2020 já levou a destruição de 62 milhões de empregos, um número que poderia mesmo ter sido maior sem as medidas de apoio ao setor de muitos governos. A Organização Mundial do Turismo acredita porém que esses números são subestimados devido ao atraso da retomada, e já projeta para o final desse ano mais de 100 milhões de desempregados. Um cenário negro dentro do qual a OCDE teme que a metade das pequenas e médias empresas do setor desaparecem antes de 2022.  

As Ilhas do Tahiti souberam aproveitar o turismo para preservar seu patrimônio cultural

A crise do turismo impacta toda a economia de muitos países onde o setor representa não somente 10% do PIB, mas também a primeira fonte de divisas,  e até 25% dos empregos gerados nos últimos 5 anos. Em agosto 2020, um relatório da ONU chamou a atenção dos governos sobre a importância desses empregos, especialmente na África e na Oceania. Mesmo pouco qualificados, eles oferecem verdadeiras perspectivas de formação e de carreira para jovens sem diplomas, mulheres, populações rurais, povos autóctones e grupos marginalizados. São também essenciais a preservação do patrimônio natural e cultural. 

Os dois cenários da OMT para 2021

As perspectivas a curto prazo continuam pessimistas. Depois de anunciar uma queda de 87% do turismo internacional em janeiro, a OMT publicou dois cenários para 2021. O primeiro seria de uma retomada a partir de julho, com um aumento de 66% das chegadas em relação a 2020 – ainda inferior de 55% aos níveis anteriores a crise  O mais provável seria no entanto o segundo, uma volta ao normal a partir de setembro, um aumento das chegadas de somente 22% em relação a 2020 – inferior de 67% aos níveis de 2019.  A saída definitiva da crise seria assim projetada para janeiro ou abril de 2022. 

O turismo pos Covid ainda deve ser redesenhado

Com a normalidade ainda demorando a voltar, muitos dos seus profissionais obrigados a encontrar empregos em outras atividades ou perdendo fé no futuro do setor,  o turismo corre o risco de perder os homens e as mulheres que são a sua maior riqueza. Mesmo com as dramáticas circunstâncias atuais, ninguém deve porém perder a esperança. Em primeiro lugar porque os fluxos de turismo internacional vão voltar a crescer, a projeção da OMT de 1,8 bilhão de turistas para 2030 sendo somente recuada de dois ou três anos, permitindo a recuperação dos 100 milhões de empregos perdidos . Em segundo lugar porque o turismo vai acelerar uma extraordinária mutação – ecológica, social, cultural e comportamental- que vai ser para todos os profissionais do setor, e especialmente os mais jovens,  um desafio apaixonante.

Jean-Philippe Pérol

Emoções transformacionais e exclusividade,  tendências para ser respondidas

Os ecologistas e o turismo: na França, um difícil encontro

Se a ecologia está trazendo uma nova dimensão ambiental e humana a todos as viagens, e se o ecoturismo é citado por 13% dos agentes brasileiros como uma das grandes tendencias pós Covid19, os ecologistas dão as vezes a impressão de ter dificuldades a entender a importância social e econômica do turismo. A ministra da transição ecológica da França, que já proibiu a calefação nos terraços dos bistrôs parisienses, está agora preocupando os profissionais com vários projetos que podem prejudicar o setor. O primeiro seria a proibição dos voos domésticos de curto alcance entre cidades interligadas por trens em menos de duas horas e trinta minutos.

Pompili quer acabar com as publicidades julgadas por ela ofensivas ao meio ambiente

Esse projeto dos ecologistas acabaria com os voos de Paris para Nantes, Lyon ou Bordeaux. Para apaziguar as companhias aéreas, que mostrar os perigos dessa medida sobre o feed dos seus voos internacionais, seriam poupados alguns voos domésticos de conexão bem como os voos inter-regionais exigindo conexões . Mas vem agora um segundo projeto,  a proibição da publicidade de produtos ou serviços com impactos julgados negativos sobre o meio ambiente. Na black-list da ministra Barbara Pompili  constariam assim produtos alimentares considerados pouco saudáveis, ou “cúmplices” do desmatamento em Borneo ou na Amazônia, bem como viagens de avião ou pacotes turísticos responsáveis de emissão de CO2.

Carros, fast foods, roupas, e pasta de avelã seriam incluídos na black list da publicidade

Juntando os protestos das agencias de publicidade, das companhias aéreas e das operadoras, a proibição de cartazes ou de anúncios para  viagens de longa alcance chocou mais ainda os profissionais e os políticos das regiões francesas de ultramar. Com mais de 70% dos seus visitantes vindo da França continental, a Martinica, a Guadalupe, Saint Martin, a Reunião ou as Ilhas de Tahiti teriam que enfrentar mais uma insuportável ameaça para suas economias turísticas já fragilizadas pela crise do Covid19.  Sem se preocupar com o impacto econômica dessas medidas, o Ministério, que validou a lista com um “Comitê Cidadão” nomeado por ele, responde que a redução do consumo de energias fósseis é acima de considerações econômicas locais. 

O turismo autêntico e sustentável nas Ilhas de Tahiti

O tamanho do prejuízo potencial pode porém freiar o projeto do governo. As agências de publicidade estão avaliado as perdas em mais de um bilhão de euros somente para os canais de televisão. As empresas estigmatizadas, Nutella, McDonald, Renault, Peugeot, Air France, e todo o setor da moda, representam dezenas de milhares de empregos que serão ameaçados se as medidas anunciadas foram confirmadas. A luta dos profissionais do turismo das regiões do ultramar francês deve assim contar com apoios valiosos para acabar com os preconceitos dos radicais contre o seu setor, bem como continuar a construir um turismo sustentável e assumindo seu papel de motor do desenvolvimento econômico e humano.

O luxo continua de acreditar nos cruzeiros

 

O grupo LVMH continua investindo no turismo de luxo

As grandes companhias de cruzeiros foram algumas das empresas mais atingidas pela crise. Alem de ser totalmente paralizadas, juntos com todos os atores do turismo, elas atraíram a atenção da mídia internacional pelos problemas específicos que encontraram. O caso mais trágico e mais espetacular foi sem dúvidas o Diamond Princess. Bloqueado no porto japonês de Yokohama, sofreu uma quarentena de mais de duas semanas durante a qual 700 dos seus 3700 passageiros foram infetados pelo virus. O caso se repetiu com vários navios, na Ásia mas também na América do Sul com o Zaandam da Holland América, e até no Brasil com os navios de luxo Silver Shadow da Silversea Cruises ou  Costa Fascinosa  da Costa Cruzeiros.

O Diamond Princess no porto de Yokohama

Esses casos, e numerosos outros, tiveram uma divulgação global, com amplas detalhes das terríveis experiências sofridas pelos passageiros, – bem como dos tripulantes que foram as vezes mais atingidos-, gerando um forte impacto negativo sobre a imagem dos cruzeiros. Com os navios parados até o mês de Julho, investimentos sanitários a fazer, e credibilidade a reconstruir, as grandes companhias de cruzeiros viram o volume das suas capitalizações na bolsa de Nova Iorque  despencando de até 80%. Assim a Carnival, que gasta quase um bilhão de USD para manter a sua frota, viu o valor das suas acões passar de USD 51 a USD 9 de janeiro a abril, e a Norwegian, que passou perto da falência, viu as suas passar de USD 60 à USD 8 nos quatro últimos meses.

Frank del Rio, CEO da Norwegian Cruises

Norwegian Cruise Lines estava em graves dificuldades e já tinha avisado a SEC, o regulador da bolsa de Nova Iorque,  que seus resultados trimestrais significariam que ” a situação atual da pandemia de Covid-19 ia ter um impacto sobre os resultados, as operações, as perspectivas, os planos de desenvolvimento, os objetivos, o crescimento, a reputação, os fluxos de caixa, a procura dos consumidores e o valor das ações”. Enquanto esse comunicado alimentava as rumores mais desastrosas, incluindo ameaças de falência, no dia seguinte a chegada do famosíssimo grupo LVMH, líder mundial do luxo agora muito presente no turismo, ia virar a mesa.

Os futuros navíos, aqui da MSC,  devem antecipar as novas exigências do consumidor

Filial du grupo e da holding da família Bernard Arnaud, o fundo de investimentos americano L Catterton investiu logo USD 400 milhões na Norwegian Cruises Line, o controlo potencial de 20% do capital da empresa. Ajudou em seguido a conseguir um empréstimo de USD 2 bilhões para reforçar a tesouraria do grupo. Segundo o seu CEO, Frank del Rio, a terceira companhia de cruzeiros do mundo disponha assim agora do fôlego suficiente para enfrentar até 18 meses de restruturação. A renovada confiança dos investidores vai permitir de responder as novas exigências sanitárias, ecológicas e comportamentais dos consumidores, e de acompanhar o excepcional potencial de crescimento do setor que continua de projetar 30 milhões de cruzeiristas até o final da década.

O Paul Gauguin da Ponant na lagoa de Bora Bora

Mesmo se essa investimento abra grande perspectiva financeiro – a volta das ações da Norwegian a seu nivel pré-crise significaria uma lucro de quase USD 2 bilhões para a filial de LVMH-, ele mostra também que o famoso grupo francês confirme seu interesse pelo setor. A LVMH já era um ator importante tanto do turismo que dos cruzeiros de luxo. Através de uma outra filial, Kering, o grupo é dono da única companhia de cruzeiros de bandeira francesa, a Ponant Yacht Cruises & Expeditions  que combina intimidade, autenticidade e elegância nos seus navios de pequeno porte. O novo investimento mostra que o luxo acredita nos cruzeiros,  na retomada e na volta de uma clientela que, mesmo com novas exigências que deverão ser atendidas, se mostra extremamente fiel.

Esse artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original de Serge Fabre na revista francesa profissional on-line La Quotidienne

Nos cruzeiros do Ponant, a procura da exclusividade @sylvain adenot

Além de lua de mel ou de surfe, Tahiti para famílias?

Lua de mel em Bora Bora Foto @marcgerard

Quem sonha em lua de mel coloca Tahiti e suas ilhas, com certeza, como um dos destinos mais procurados do mundo. A beleza das paisagens de  Bora Bora ou Moorea, os tons de azul e a pureza das suas águas, a onipresença dos seus colares ou das suas coroas de flores, e o atendimento sempre carinhoso dos seus moradores criaram a imagem de romantismo desde a chegada dos primeiros europeus  que pensavam ter reencontrado uma nova Citera, a ilha de Vênus. E desde os anos 1960, quando a construção do aeroporto de Papeete abriu a região para o turismo internacional, a maioria dos visitantes que chega na Polinésia francesa são jovens que acabaram de se casar, ou menos jovens de todas as idades, nacionalidades ou comunidades que querem renovar seus votos de amor, combinando uma ocasião especial com um lugar único.

Desafio dos JO 2024, Teahupoo atrai surfistas do mundo inteiro

Nos últimos anos, o Tahiti seduziu porem outros viajantes. Foram com toda lógica aventureiros ou esportistas, mergulhadores procurando as emoções do recifes de corais de Rangiroa ou surfistas atrás das impressionantes ondas de Teahupoo (aquelas que já foram selecionadas para as provas de surfe dos Jogos Olímpicos de Paris 2024). Mais recentemente, apareceram visitantes até então inesperados, famílias com crianças  vindas não somente da França mas também da Europa, da América do norte, da Ásia e até do Brasil. Pertencendo a uma geração acostumado a viajar desde a adolescência, esses novos pais querem continuar a viajar mesmo com filhos pequenos, e escolheram o Tahiti pela tranquilidade, pelas atividades existantes, pelas facilidades de alojamento e ,mais ainda, pela atenção dada às crianças na cultura local.

Não tem idade para começar o caiaque

As crianças de todas as idades amam as areias cor-de-rosa de Tikehau e Rangiroa, brancas de Moorea e Bora Bora, ou até as pretas da ilha de Tahiti, as praias sempre tranquilas sem nenhuma preocupação de overturismo. As águas quentes e muito seguras são uma alegria para eles e uma tranquilidade para os pais. Muitas atividades náuticas podem ser feitas com crianças mesmo pequenas, seja observar baleias (em Tahiti, Rurutu ou Moorea) ou golfinhos (em Tahiti ou Rangiroa), alimentar arraias (em Bora Bora ou Moorea), seja simplesmente  nadar vendo os peixes coloridos em cima dos aquários naturais das lagoas cercadas de arrecifes de corais (Rangiroa, Bora Bora).  Essas atividades bem como todos os passeios de barco respeitam as rígidas normas francesas  de segurança, tendo sempre equipamentos adaptados aos turistas mirins.

Os quartos do Manava têm espaços para todos

Hospedagens e restaurantes deixam as famílias muito à vontade.  Com quartos geralmente espaçosos (não somente nos estabelecimentos de alto luxo, mas também em locais mais em conta como os hotéis Manava do Tahiti ou de Moorea, o Kia Ora de Rangiroa ou o Pearl de Tikehau), os hotéis são bem adaptados – sendo melhor pegar bangalôs na praia que sobre palafitas se as crianças foram muito pequenas. A grande oferta de AirBnb (mais de 300 opções) e as numerosas pensões de família são também opções interessantes se forem bem pesquisadas com um profissional antes de fazer a escolha. E se os pais podem confiar nos serviços de babysitters e aproveitar um jantar romântico a dois, as crianças amarão um piquenique em família num “motu” (por exemplo o Coco Beach de Moorea) ou uma refeição descontraída no ambiente popular das famosas “roulottes”.

Na lagoa de Rangiroa, a caminhada de mãe e filha

A tranquilidade das ilhas e a atenção dada às crianças na cultura local são os mais fortes argumentos para escolher o Tahiti e as suas ilhas como destino de uma viagem em família. Nos hotéis, nos restaurantes ou nas lojas, o pessoal sempre responde com gentileza e eficiência aos pedidos ou as exigências dos pequenos turistas. Os próprios taitianos, grandes consumidores de turismo local, em geral em família, aceitam com muita espontaneidade de enturmá-los seja para correr na areia, pular na piscina, brincar de pega pega perto das “roulottes” ou dividir os brinquedos. E a atenção dada as crianças vira também uma oportunidade  para um papo descontraído com os pais,  uma ocasião de descobrir que o Brasil, nessa região do mundo, continua com um extraordinário capital de simpatia dos moradores de todas as idades.

Jean Philippe Pérol

As areias brancas de Tikehau

 

No Kia Ora, pai e filha experimentando a moda tahitiana

De Porto Rico a Salvador, e de Olkhon a Tahiti, os 52 destinos 2019 do New York Times

Salvador, único destino brasileiro da lista

Publicando a sua seleção 2019 dos 52 destinos sugeridos para o ano, o New York Times conseguiu mais uma vez inovar e surpreender. Iniciada em outubro, e liderado pela editora chefe do caderno de turismo do jornal, o processo mobilizou não somente a equipe nova iorquina mas os correspondentes, jornalistas e fotógrafos que o NYT tem nos cinco continentes. Alem dos critérios próprios de cada destino, foram também avaliados as novidades do local, o seu acervo cultural, a sua sustentabilidade, bem como os seus cuidados com o overturismo. É provável que nenhum turista – a não ser Sebastian Modak, o jornalista que foi escolhido para isso – vai visitar esses 52 lugares, mas a lista será sem dúvidas uma fonte de inspiração para muitos viajantes que querem seguir os novos trends do turismo mundial.

A Grécia, um dos destinos esquecidos nessa seleção 2019

O sério do jornal e a transparência do processo não impedem as primeiras críticas sobre as escolhas feitas. A lista é sem dúvidas muito “americana” com 11 destinos estadounidenses e 2 canadenses. A Europa é bem representada com 19 destinos, mas a Ásia (6), a América latina (4), a África (2), e o Oriente Medio (4) não parecem despertar o mesmo interesse. E se alguns destinos são incontestáveis boas dicas para 2019, outras parecem ter sido escolhidas somente para esbanjar originalidade, impedindo talvez a entrada de concorrentes mais atraentes e mais promissores. A notoriedade do New York Times e a qualidade do trabalho da equipe da editora chefe fazem assim mesmo da publicação das “52 places to go in 2019” um evento para todos aqueles que querem seguir os novos trends do turismo mundial.

Porto Rico liderando os destinos 2019 do NYT

Porto Rico, Hampi (na Índia) e Santa Barbara são os três destinos que dividem o pódio. Porto Rico parece ter sido mais premiado pela sua garra em se recuperar dos estragos feitos pelo furacão Maria, já que nenhuma das três novidades anunciadas – A programação do  Centro de Bellas Artes Luis A. Ferré , o anuncio do novo centro de lazer de San Juan, o District Live! , ou a nova escala dos navios de cruzeiros em Port das Américas, no litoral sul da ilha-, parece justificar a transformação do pequeno Estado associado na maior e mais excitante atração do turismo mundial. Hampi, sitio  tombada pela UNESCO agora mais acessível e com algumas infraestruturas novas, merece atrair os apaixonados de cultura indiana com suas mil construções preservadas desde o século XVI. Ao contrario parece surpreendente que um simpático foodie market seja suficiente  para por Santa Barbara em terceiro lugar.

As Ilhas de Tahiti foram merecidamente confirmadas na lista

A lista muitos acertos merecedores. O New York Times premiou alguns destinos tradicionais mas que devem ser relembrado como os Açores, Zadar e a costa da Croácia, o Irã, Tunis, Cadiz, ou as Ilhas de Tahiti. Lembrou também que grandes experiências podem ser vividas fora das grandes capitais, em Plovdiv na Bulgária, em Lyon ou Marselha na França, em Aalborg na Dinamarca ou em Perth na Austrália. Deve ser anotado alguns premios de criatividade, como as Ilhas Maluinas, a trilha de Paparoa (na Nova Zelândia), a ilha de Olkhon (no meio do lago Baical), ou o vale de Elqui no deserto do Atacama. O Brasil só teve um destino na lista, Salvador de Bahia, mas com um brilhante décimo quarto lugar apoiado na sua nova Casa do Carnaval , na abertura dos Fera Palace Hotel e do Fasano Salvador, ou do sucesso da franco-brasileira  Regata Transat Jacques Vabre. E agora, quais destinos brasileiros entrarão na lista 2020?

Jean-Philippe Pérol

Olkhon no lago Baical, uma escolha prêmio de criatividade!

Na Polinésia francesa, o novo Paradigma do turismo de luxo

Na Ilha do Guy Laliberté, uma redefinição do turismo de luxo

Depois de quase dez anos de obras, o bilionário canadense Guy Laliberté abra agora para o publico sua ilha-refugio, Nukutépipi, um paraíso exclusivo combinando a preservação do ecosistema do Arquipélago das Tuamotu e a homenagem as tradições culturais dos Polinésios. O homem que criou o “Cirque du Soleil”, revolucionou o circo e inventou uma nova forma de lazer artístico, está redefinindo o turismo de luxo, juntando uma beleza natural e cultural exclusiva, com um atendimento excepcional num quadro perfeito reservado a uns “happy few”. A 700 quilômetros no sudeste de Tahiti, o atol quer assim ser um esconderijo autentico único no mundo onde pequenos grupos de até 52 pessoas podem viver juntos uma experiência de humildade e de perfeição frente aos azuis do mar e ao ecosistema da ilha, somente completados por serviços, obras de arte ou até sons cuidadosamente escolhidas.

Nukutépipi é um dos menores atóis da Polinésia

Com somente 2,7 quilômetros de comprimento, sendo um dos menores atóis da Polinésia francesa, e nunca tendo sido habitado de forma permanente,  Nukutépipi seduziu o Guy Laliberté pelos seus recifes de corais, suas praias virgens, sua lagoa protegida, e sua mata primária. Mesmo frágil, o ecosistema foi assim sempre protegido, oferecendo opções privilegiadas para mergulhar com peixes raros, nadar com as baleias, observar os pássaros ou simplesmente olhar a natureza desde um espetacular mirante. Escondidas na vegetação, seguindo a praia num total respeito ao meio ambiente, as construções combinam as tradições da Polinésia com a arte e o design contemporâneo. Concebido como sendo um refugio pessoal, a ilha conta com uma residência master de 647 m2 com quatro quartos, duas residências júnior de 247 m2 com dois quartos, e treze bangalôs de 70 m2, podendo hospedar com absoluto conforto 52 hospedes.

Obras de arte são espalhadas em vários cantos da ilha

Deslumbrante, exclusiva, e pioneira, Nukutépipi está sendo comercializada pela Sunset Luxury Villas, uma cadeia de destinos de exceção pertencendo a Guy Laliberté, e administrada pela SPM, companhia hoteleira representada no Brasil pela Cap Amazon. Para respeitar o espírito de esconderijo, e a sua dedicação a “ricos e famosos”, a ilha só pode ser reservada na sua totalidade. O preço de um milhão de Euros por semana inclui os voos desde e para Papeete, o pessoal, as refeições, as bebidas, as atividades, e os espetáculos. Mesmo se alguns privilegiados já tiveram a oportunidade de hospedar-se na ilha, a inauguração oficial está prevista para o primeiro semestre do ano que vêm, com uns convidados escolhidos a dedo nos principais países onde existem personalidades capazes de querer conquistar esse novo Paradigma do turismo de luxo. Influençiadores brasileiros já estão previstos para participar.
.
.
Ia Ora Na em Nukutépipi!  

.

Jean-Philippe Pérol

 

As construções respeitam as tradições da arquitetura da Polinésia

 

 

Villas e bangalôs têm sempre o seu acesso a praia

 

 

A Residência master e seus bangalôs

 

A mata primária seduziu o Guy Laliberté

 

A fauna do atol é a grande atração dos mergulhos

 

Por do sol em Nekutépipi

A  ilha de Nekutépipi na Polinésia francesa faz parte do portfolio da Sunset Luxury Villas, uma coleção de propriedades exclusivas concebidas pelo Guy Laliberté

Fotos Nukutépipi @ LM Chabot

Para escolher o seu destino, os serviços que você não quer (e provavelmente não vai) usar são fundamentais

O Vale de Papenoo, a beleza selvagem do interior da ilha de Tahiti

Seja para aproveitar em família uma praia num all inclusive, seguir um grupo organizado num circuito continental, explorar  sozinho caminhos  exclusivos, sonhar a dois frente a paisagens românticos,  enriquecer sua cultura – e dos seus filhos-  em sítios marcantes ou eventos excepcionais, ou simplesmente seguir em liberdade a vida de um morador, a escolha de um destino turístico ainda é uma alquimia muito pessoal.  Os desejos e os gostos de cada viajante se misturam com a beleza do lugar, o património, os preços, as infraestruturas, os serviços, os lazeres, a acessibilidade, o imaginário, e, ultimamente, até a facilidade de ser explorado nas mídias sociais. Assim, buscando o destino com o máximo e o melhor dos critérios seus, o turista define o seu destino entre a Riviera maia, Lisboa, Machu Pichu, Tahiti, Paris ou Nova Iorque.

Ministerios das relações exteriores publicam mapas dos riscos por pais

A segurança virou nos últimos trinta anos um critério fundamental, o primeiro para 67% dos viajantes europeus e norte americanos. Um critério que as autoridades e as operadoras estão levando muito a sério. Ele explica em parte tanto as dificuldades dos países do sul do Mediterrâneo e da América Latina (inclusive o Brasil), que o sucesso crescente dos países da Europa do Norte ( Islândia, Noruega, Suécia, Dinamarca) ou da Oceania (Austrália, Nova Zelândia ou Polinésia francesa). A segurança é em primeiro lugar a tranquilidade em relações as agressões e a violência contra as pessoas, mas inclui também o recuso absoluto de enfrentar riscos climáticos ou sanitários. Esses desafios devem hoje ser integrados a qualquer politica de desenvolvimento turístico.

Serviços de urgência integram as preocupações dos profissionais e dos turistas

Mas tem mais um fator essencial que deve ser considerado na escolha de um destino, são as infraestruturas e os serviços de saúde. Tendo sido recentemente colocado frente a um banal mas grave acidente, percebi a que ponto era importante dispor de uma assistência total em termos de urgências, de médicos, ou de hospitais. Participando de um seminário de turismo na Polinésia francesa, e durante uma excursão de bicicleta elétrica, a minha esposa caiu numa descida do vale do Papenoo, e, mesmo usando capacete, teve um traumatismo craniano alem de varias fraturas das costas e da clavícula. Foi um acidente que precisava de tratamento de extrema urgência, uma operação complexa, devendo ser realizada no máximo cinco horas depois do choque, enquanto o local era um vale isolado no final de uma trilha onde os celulares não pegavam.

Do terraço do hotel, olhando para o mar e esperando os pulos das baleias jubarte

O happy end desse drama mostrou toda a importância de uma cadeia completa de serviços funcionando perfeitamente: bombeiros chegando a tempo no local com o material necessário, hospital com todos os equipamentos de neurologia, neurocirurgião altamente qualificado de plantão, UTI de padrão internacional, enfermeiras e médicos competentes e atenciosos. E ainda uma impressionante equipe de Europ Assistance que se encarregou de toda a parte administrativa e financeira, e ainda organizou o repatriamento com conforto e carinho. A eficiência do sistema de saúde francês, a competência e a gentileza dos colegas e atendentes de Tahiti foi apesar do estresse um excepcional reconforto.

O sorriso da criança com seu tambor chamando para gente voltar

Claro que não viajamos pensando em acidente ou em ficar doente. Mas na longa lista de critérios de escolha do destino da nossa próxima viagem, verificar se existe por perto as infraestruturas e as competências para qualquer eventualidade é uma garantia que a sua viagem sempre terá um final feliz. Foi o caso para nos essa vez, talvez ajudado pela força do Mana, esse axé da Polinésia sempre lembrado pelos moradores. Mauruuru Tahiti, voltaremos.
.
.
Jean-Philippe Pérol

Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue” do autor na revista profissional on line Mercados e Eventos

A ilha de Páscoa dos turistas voltando a ser também a Rapa Nui dos moradores?

Norwegian Argentina abrindo caminho para novos destinos, com oportunidades para Tahiti e o Caribe francês

A Norwegian Air Argentina chegando com rotas inéditas

Enquanto as companhias low-costs estão multiplicando as aberturas de linhas entre a Europa e as Américas, incluindo o Brasil com os voos da Joon/Air France para Fortaleza, a Norwegian quer fazer de 2018 o ano de todos os sucessos. Hoje terceira low cost europeia, anunciou a abertura de mais 12 rotas para os Estados Unidos, saindo de Amsterdã, Madri e Milão. De Paris, a  dinâmica companhia norueguesa anunciou agora voos diretos para oito aeroportos americanos: Nova Iorque (JFK e Newark), Boston, Fort Lauderdale, Orlando, Denver, Los Angeles e Oakland. Norwegian surpreendo também seus concorrentes com o lançamento de uma classe Premium, com mais de um metro de espaço para as pernas, novos equipamentos de vídeo e wifi a bordo.

Buenos Aires Londres, primeiro voo programado, no dia da Saint Valentin

Mas a grande novidade para Norwegian será o inicio das operações da sua filial argentina, aberta em setembro do ano passado e que vai começar a voar de Buenos Aires para Londres no dia 14 de fevereiro , oferecendo passagens a partir de 340 Euros. O projeto argentino, onde será investido 4,3 bilhões de USD nos próximos dez anos, é extremamente ambicioso, as previsões para 2024 sendo de 70 aviões, com uma rede regional, sul-americana e intercontinental para quatro continentes, e um total de 17 milhões de passageiros. As autorizações dadas em dezembro pelo ministério argentino dos transportes surpreenderam pelo numero de rotas concedidas, um total de 152, com 72 domesticas e 80 internacionais, 51 das quais estão hoje sem concorrente.

Os argentinos já lideram as 100.000 chegadas internacionais em Fortaleza

O Brasil pode talvez lamentar que um investimento desta importância escapou para o vizinho “hermano”, especialmente quando se sabe que os primeiros estudos e contatos tinham sido feitos há três anos no Brasil pelos executivos europeus e norte americanos da empresa. Mas,  mesmo sediada em Buenos Aires, a Norwegian Air Argentina deve trazer uma grande contribuição para o turismo brasileiro, abrindo mais ainda o seu maior . São previstas 13 voos saindo de Buenos Aires para São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, Natal, Maceió, Porto Alegre,Porto Seguro, Salvador e Recife. Dois voos sairiam de Córdoba para São Paulo e Salvador, e um de Mendonza para São Paulo.

Tahiti e suas ilhas (acima Tikehau) no calendário da Norwegian

As novas rotas planejadas pela Norwegian vão também trazer novas ofertas de voos mais diretos (especialmente se a empresa consegue autorizações de “quinta liberdade”da ANAC)  e/ou mais baratos para os brasileiros. Alem de destinos tradicionais como Paris, Miami, Nova Iorque, Roma ou Madri, aonde a competição será acirrada com LATAM ou Aerolínas,  são programadas novidades como Moscou, Perth, Honolulu, Kiev, Oslo ou Tel Aviv, hoje sem concorrentes diretos. A França “ultramarina” poderia também ser uma das grandes favorecida pelo dinamismo da companhia norueguesa. Papeete, na Polinésia francesa, é uma das rotas autorizadas – um incremento da oferta atual que poderia consolidar o impressionante sucesso de Taiti nos últimos dois anos.

O hotel La toubana, charme e bom gosto na Guadalupe

O Caribe francês poderia também ganhar uma grande oportunidade no mercado Argentino (e talvez no Brasil). A Norwegian vai competir na rota de Saint Martin, destino bem conhecido dos argentinos, tanto do lado francês que do lado holandês, tanto como ponto de transito para Saint Barthelemy que de saída para numerosos cruzeiros. Já bem instalada na Martinica e na Guadalupe, onde opera rotas para Estados Unidos, Canadá e França, a nova low-cost conseguiu autorizações para Fort de France e Pointe à Pitre. Para essas ilhas francesas que sempre sonharam em receber turistas da América do Sul, mas nunca tiveram ligações regulares (Saint Martin e a Guadalupe tiveram só charters, a Martinica tem um charter semanal da MSC), a chegada da Norwegian Air Argentina pode ser o inicio de uma grande arrancada tanto na Argentina que no Brasil.
Jean-Philippe Pérol

La Samanna em Saint Martin, com reabertura prevista nos próximos meses

 

 

Rangiroa, do outro lado do mundo, enoturismo com golfinhos e baleias!

Entre a lagoa e o Oceano, os vinhedos de Rangiroa

Para quem gosta de vinhos diferentes, o “Special Blend” da Bodega del fin del Mundo é sem dúvida uma excelente opção. Nos confins da Patagônia Argentina, em San Patricio del Chanar, alguns pioneiros conseguiram colher uvas dos melhores vinhedos da região – Malbec, Cabernet Sauvignon e Merlot – e compor o vinho único, aromático, tânico e sensual, que seduz não somente pela sua potência, mas também pela sua origem tão peculiar. Mas, pelo menos pela geografia, esse vinho da Patagônia tem agora um concorrente muito sério para o título de vinho proveniente da última adega do fim do mundo. Na ilha de Rangiroa, no arquipélago das Tuamutus, na Polinésia Francesa, um destemido empreendedor, Dominique Auroy, e um enólogo vindo da Alsácia, Sebastien  Thepenier, estão produzindo três brancos e um rosé, única vinícola num raio de 5 a 10 mil quilômetros nesses confins do mundo do Pacífico Sul.

Os quatro rótulos produzidos em Rangiroa

Depois de experimentar dezenas de uvas em várias ilhas da Polinésia, Dominique Auroy ficou convencido de que o terroir de coral de Rangiroa era o melhor lugar para implantação dos vinhedos, selecionando três variedades para compor o seu “Vin de Tahiti”: Carignan, Grenache e  Muscat. O clima regular e com pouca chuva oferece também a possibilidade de duas safras por ano. O sucesso foi rápido, e a produção subiu para 38.000 garrafas. Depois de descartar os tintos que não chegavam à qualidade requerida, quatro rótulos se destacaram: o “Blanc de Corail”, muito mineral mas com sabores de agrumas, e o “Clos du Récif” , com notas de baunilha, sendo os dois premiados em 2008 e 2009 com a medalha de prata das Vinalies Internationales. O rosé “Nacarat” tem sabores de frutas vermelhas, e o branco doce é um perfeito companheiro para um aperitivo ou um prato tahitiano de frutos do mar.

Le mur de requins de Rangiroa @GIE Tahiti tourisme/Philippe Bacchet

 Mas se Rangiroa pode ser colocada agora nos roteiros do enoturismo internacional, a fama da ilha vem em primeiro lugar pelos seus extraordinários spots de mergulho. Para principiantes ou profissionais, a lagoa oferece emoções múltiplas com muitos tipos de peixes, tubarões, barracudas, golfinhos, tartarugas, desde o spot tranquilo do “Aquarium” para um snorking em família, até a “parede de tubarões” que encontra-se a uns 50 metros de profundidade, perto da famosa passe de Tiputa. É nessa passe, bem como na segunda passe do atol – Avatoru -, que são organizadas as principais saídas dos seis clubes de mergulho. Qual que seja a excursão escolhida, e a hora do dia ou da tarde, a caçada dos tubarões (ponta negra, cinza, martelo, seboso ou limão) é sempre o momento mais espetacular, quando eles espalham as “perches pagaies”, os  “chinchars”, as  “caranges”, ou os “napoleões”.

Golfinho pulando na passe Tiputa

Além do enoturismo e do mergulho, Rangiroa, segundo maior atol de coral do mundo com mais de 250 quilômetros de circunferência, vale também pelas suas belezas naturais. A lagoa azul – uma pequena lagoa dentro da lagoa principal – ou as areias cor-de-rosa, são os passeios mais procurados pelos numerosos casais em lua-de-mel. E, para quem quiser mesmo descansar, que tal tomar um copo de “Blanc de Corail” nas famosas cadeiras laranja da Pousada “Le Relais de Josephine”, esperando uma baleia ou olhando para os golfinhos que brincam de entrar e sair pela passe de Tiputa.

Manuia!*

Jean-Philippe Pérol

*Saude em tahitiano

No Relais de Josephine, o lugar certo para esperar baleias e golfinhos

%d blogueiros gostam disto: