Em Al Ula, os moradores acompanham um novo destino de luxo, arte e cultura

 

A sala de concerto, ícono arquitetural de Al Ula

Outrora cidade proibida – os seus habitantes teriam sido malditos por duvidar das palavras do profeta-, capital de uma região distante com uma economia tradicional baseada no cultivo de támaras ou de cítricos e  na criação de camelos, Al Ula parecia a bela adormecido da Arabia Saudita . Suas riquezas arqueológicas de Madain Saleh e de Hegra, heranças milenárias dos nabateanos, já eram conhecidas e tombadas pela UNESCO desde 2008,  mas atraiam somente alguns poucos turistas vindo de Riade ou Jeddah, sem impacto significante sobre a vida quotidiana e as perspectivas profissionais dos 65.000 moradores.

Turistas num restaurante de Al Ula

Tudo mudou a partir de abril 2016, quando o principe herdeiro Mohamed Ben Salman lançou o projeto Visão 2030, que dava a Arabia Saudita nova perspectivas de desenvolvimento, fazendo do turismo e dos lazeres uma prioridade para sair de uma economia exclusivamente ligada ao petróleo. Com um impressionante orçamento de US$ 35 bilhões, foi criada a Comissão real de Al Ula, com a missão de transformar a região em destino turístico de alto luxo focado em arte, cultura e esporte. O projeto deveria ser integrado no ecosistemo local e respeitar a sustentabilidade, com o objetivo de receber em 2030 um milhão de turistas de alto poder aquisitivo sem cair no overturismo.

Shahad Bedair, uma das primeiras mulheres sauditas  guia de turismo

A grande ambição do projeto é a criação de empregos e de oportunidade para a população local. São previstas 38.000 vagas, e já são milhares de moradores que foram contratados não somente como vendedores, recepcionistas, guias de turismo, motoristas, mas também como gerentes ou executivos – a própria Comissão já conta com dois terços de funcionários locais. Para poder atender a procura de pessoal especializado, milhares de bolsas e de estágios de formação foram realizados. Foram cursos de línguas, formações especializadas em hotelaria, arqueologia, agricultura ou gestão sustentável na Europa ou nos Estados Unidos. E para gerenciar o Parque, vários rangers foram mandados estudar dezoito meses na Tanzania.

Os agricultores aproveitam também o projeto

Mesmo se o projeto ainda têm muitas realizações pela frente – foram abertas 1000 dos 4000 quartos de hotéis previstos até 2030-, a vida dos moradores já mudou. Com o turismo, mais oportunidades profissionais, especialmente para jovens diplomados e para mulheres, mais encontros com visitantes, sauditas ou internacionais, mais opções de lazer com festivais culturais, exposições de arte ou competições esportivas, estão trazendo uma abertura excepcional que crescerá com o sucesso.  Empresários locais estão construindo novos bairros de casas e apartamentos  nas áreas sul da cidade, e na área norte, no vilarejo de Dadan, vai ser aberto um centro de ensino e pesquisa arqueológico. O impacto do projeto em Al Ula vai assim muito alem do turismo, trazendo aos moradores renda, qualidade de vida e abertura para o mundo.

O turismo está mudando a vida na antiga cidade

Em Djanet, a Argelia quer mostrar que o Saara tambem é cultura

O deserto do Tassili, paisagem de espiritualidade

O deserto, e mais ainda o Saara, é certamente uma das paisagens que mais fascina os viajantes. Conhecido desde a antiguidade pelos romanos, percorrido durante toda a Idade Média pelos exploradores e os missionários árabes e parcialmente integrado ao Reinado Marroquino em 1591, foi somente a partir do final do século XVIII que ele interessou os aventureiros e os científicos europeus. Saindo da Gâmbia, o escocês Mungo Park chegou em 197 até o Rio Niger, mas não conseguiu continuar. Foi o francês René Caillé, vindo da velha colônia de Saint Louis do Senegal, que entrou na cidade mítica e proibida de Tombuctu, para seguir atravessando o Saara até a costa marroquina.

Perto de Marrakech, a mais famosa placa de transito do Saara

René Caillé ficou decepcionado com a sua viagem: não tinha em Tombuctu os telhados de ouro e as ruas de paralelepípedos de pedras preciosas descritos nas legendas, mas a fama de cidade se espalhou pela Europa e o mito perdurou. Hoje o turismo no Sahara tem dois principais pontos de entrada: no Marrocos e na Tunísia. Perto de Marrakech, a cidade de Zagora se orgulha de dar aos turistas um primeiro cheiro de deserto, e quem visitou a famosa oasis se lembra de ter sonhado frente a famosa placa de trânsito: Tombuctu, 52 dias de camelo. No Sul da Tunisia, Tozeur reivindica também a condição de portão de entrada do deserto, um título sem dúvidas justificado pela beleza das suas paisagens, a sua cultura tamazigh, a imensidão salgada do lago Chott el Jerid e a imponência do seu palmeiral.

A reabertura dos voos deve beneficiar turistas e moradores

Dona da maior parte do Saara, abrigando alguns dos mais famosos pontos de interesse da região – de Ghardaia à Tamanrasset ou à Djanet-, a Argélia quer agora aproveitar do crescimento da procura dos viajantes para os grandes desertos. Deu um passo importante no mês retrasado não somente abrindo um voo direto de Paris para Djanet, mas ainda liberando os turistas deste voo da exigência do visto prévio se tiver serviços reservados com agências locais. Ainda longe de competir com seus vizinhos da África do Norte, ainda sem muitas opções de turismo balneário no seus 1200 km de litoral, o ministério argelino quer aproveitar o potencial e da notoriedade do seu imenso deserto.

As pinturas rupestres são uma grande atracão do Tassilí

A nova estratégia da Argélia é de fazer de Djanet, e do Parque Nacional Cultural do Tassili um dos motores da retomada turística do pais. O parque, além da beleza das suas paisagens de pedras e de areias coloridas, das suas oasis de intensa vegetação e da sua rica fauna,  é um verdadeiro museu a céu aberto, com milhares de pinturas e gravuras rupestres. Essas pinturas dão testemunho de 10.000 anos atrás, quando a região ainda tinha uma rica vegetação e os povos caçadores aproveitavam girafas, elefantes, antílopes, leões, búfalos e cavalos  antes das mudanças climáticas que transformaram o Saara no atual deserto.

O chá no deserto é sempre uma grande experiência

Os viajantes são também fascinados pela peculiar cultura dos moradores que pertencem a grande etnia  Tuareg. Na contrapé do islã rigorista, os homens tem a cara coberta com o “cheche”, um turbante de 8 metros de comprimento e as mulheres não têm véus, e andam de roupas coloridas. Falando a sua própria língua, da família do tamazigh, com uma escritura geométrica original ( o Tifinagh), eles guardam fortes tradições culturais nos vários países onde são espalhados. Os visitantes se encantam pela convivialidade do seu culinário, a emoção da sua cerimônia do chá, a força do seu artesanato, ou a surpreendente alegria das suas danças. Na nova corrida ao turismo de deserto onde muitos destinos estão agora competindo – do Marrocos a Arabia Saudita, da Tunisia ao Omã e aos Emirados-, a Argélia pode também chegar a uma posição de destaque.

Jean-Philippe Pérol

Os inseparáveis camelos vêm até cumprimentar os convidados

 

Nas praias da Normandia, uma nova batalha do Dia D

O filme “O dia mais longo” foi decisivo para popularizar o Dia D

O Taj Mahal, maravilha do mundo e do amor

O Taj Mahal, “cochicho de amor no ouvido da eternidade”

« Um cochicho de amor deixado no ouvido da eternidade, isso é o Taj Mahal, teu sonho de mármore, Shah Jahan ». Foi assim que o poeta falou desse mágico mausoléu que o então imperador mogol dedicou a sua esposa Aryumand Banu Begam, a Mumtaz Mahal. Considerado como uma das sete maravilhas do mundo moderno, o Taj Mahal deve ser descoberto com tempo e silêncio, os dois maiores luxos do visitante. Para quem chega em Agra depois de uma viagem cansativa, procurando os clichês tantas vezes reproduzidos, é melhor não se precipitar, e conhecer primeiro a cidade e sua outra grande atração, o Forte Vermelho, impressionante conjunto arquitetural tombado pela UNESCO que domina o rio Yamuna.

A porte do Forte Vermelho

Construído a partir de 1558 em cima de um antigo forte do século XI, o Forte Vermelho cobre uma área de 38 hectares onde o imperador Akbar mandou construir a fortaleza bem como um palácio digno da nova capital do Império. Erguido com a pedra arenita vermelha característica do Rajastão, o conjunto ganhou o nome de Forte Vermelho. Das muralhas da fortaleza, além da curva do rio carregado de barro amarelo, o visitante pode aproveitar a vista de uma pérola branca e rosa cercada de floresta verde. É o momento para descer das torres cor de sangue, subir no tuk tuk, e atravessar o parque para chegar próximo do Taj Mahal.

Visitantes indianos na grande porta do Taj Mahal

Nos arredores do mausoléu, têm mais de cem barracas de lembrancinhas, refrigerantes ou lanches para atender os milhares de turistas – na grande maioria indianos – que visitam o local, seja por motivos religiosos, históricos, ou para celebrar esse imenso amor. Na multidão, muçulmanos e hindus, homens vestidos de branco seguem mulheres de olhos negros cobertas de véus coloridos, famílias numerosas mostram suas crianças como símbolo de prosperidade enquanto anciãos vão esbanjando sabedoria. Todos participam ao encanto do lugar, mesmo quando o barulho da multidão é pouco a pouco substituído pelos cliques das cameras ou as batidas dos pés nos caminhos de mármore.

Uma das mesquitas do conjunto arquitetural

Uma das coisas mais bonitas do Taj é o espaço que o cerca e que prepara a emoção do visitante. Os prédios anexos são distantes o suficiente para não distrair a atenção do monumento principal, mas são bastantes numerosos e ricos para lembrar a grandeza do Império mogol: várias mesquitas, o túmulo de uma dama de companhia,  outros de principes imperiais. Caminhando entre o canal, as árvores e as cercas vivas, é importante se aproximar devagar do palácio que se ergue entre os minaretes, ainda idêntico a visão do seu criador, como se a perfeição da obra tivesse desanimado os seus sucessores de fazer qualquer mudança ou de adicionar nem que seja uma pedra.

Depois de quase cinco séculos, o Taj Mahal ainda segue intocado

Em todo o monumento, nada distrai o visitante da arquitetura. As paredes, as portas e os pisos são só mármores, alguns especialmente esculpidos, outros combinando cores como se fossem tapetes ou cortinas de seda que o visitante pode acariciar com a mesma sensualidade.  Se tiver a sorte de fazer a visita na época da lua cheia, vale a pena esperar o por do sol quando o mármore quente pega uma cor leitosa, e que os cheiros de tabaco, de lírios e de varas de São José  invadem o pátio. Mesmo se o domo cobra um túmulo, o Taj Mahal não inspira nenhuma tristeza, impressiona ao contrário pela perfeição das vidas que ele comemora. Talvez por isso, esse encontro com uma tal maravilha do mundo e do amor tem que ser preparada e merecida.

Jacques Baschieri

Esse artigo foi traduzido e adaptado de um artigo do Jacques Baschieri  na revista profissional on-line Mister Travel

Em Versailles ou no Louvre, o underturismo ameaça o patrimônio cultural e histórico nacional

O castelo de Versalhes ainda esperando americanos, chineses e brasileiros …

Santa Sofia, a história e o turismo se juntando frente a política?

Erdogan reinaugurando Santa Sofia como mesquita

A notícia da reabertura de Santa Sofia como mesquita levantou uma onda de emoções no mundo inteiro. Não foi tanto pelo fato de ouvir as rezas nesse local que foi consagrado pelo Islã durante quase cinco séculos, até que Mustafa Kemal a transformou em museu. Chocante foi o discurso do Presidente da Turquia, Recep Erdogan, que colocou claramente o evento na sequência do confronto entre o Oriente e o Ocidente, querendo repetir o drama de 1453, o saque da cidade e o fim do último emperador romano Constantino XI.  A memória do gesto de Mehmet II entrando na basílica mostrava a vontade do Erdogan de lembrar o papel da Turquia na humilhação e na queda de Constantinopla, uma das datas mais importantes para a  história do mundo moderno.

Herdeira de três impérios, Istambul atrai 10 milhões de turistas por ano

Para quem já visitou Istambul, as impressões trazidas são no entanto completamente opostas. O fascínio da basílica como da própria cidade vem justamente das múltiplas culturas e das heranças dos três impérios – romano, bizantino e otomano- que surgem em cada um dos seus cantos, se sobrepondo sem se ocultar, se seguindo e se completando para mexer com o visitante. Assim, como museu, e antes de voltar a ser mesquita, Santa Sofia, a jóia de Justiniano, glória da igreja ortodoxa, fascinava pela audácia da arquitetura inspirada do Panteão de Roma, pelos  mosaicos e as pinturas cristãs, mas também pelos quatro minaretes escalando o céu do Bósforo, pelas caligrafias sagradas dos oito escudos pendurados nos pilares ou pelo sumptuoso mirhab.

Os mosaicos agora vedados nos dias de reza

Esse multiculturalismo não se encontra somente na  Santa Sofia. O viajante é  impressionado pela riqueza e o tamanho do palácio otomano de Topkapi, mas também pela igreja bizantina de Santa Irene que fica em um dos seus pátios, ou pelas cisternas que o abastecia em água e que foram construídas pelo imperador Justiniano. As imperdíveis muralhas que cercam a cidade histórica, legado do imperador romano Teodose, contam aos turistas mil anos de façanhas dos defensores que foram vencidos somente duas vezes, pelos cruzados e depois pelos turcos. E na outra margem do Chiffre de Ouro, os 30 metros da torre de Galata lembram as ligações especiais que os genoveses católicos mantiveram tanto com os bizantinos quanto com os otomanos.

A magia única da catedral mesquita de Cordoba

Todos os amantes dessa fascinante cidade esperam que a herança de Santa Sofia será preservada, que o acesso dos turistas será garantido, e que seus tesouros – especialmente os mosaicos e as pinturas ameaçados pelo rigorismo religioso- não serão de novo escondidos.  Se o destino de um monumento hoje turco só pode ser decidido pelas autoridades turcas, podemos esperar que  levarão em consideração os 10 milhões de visitantes que pesam na economia e na vida da cidade. O Presidente Erdogan poderia também decidir entrar na historia vendo Santa Sofia com o mesmo olhar que o imperador Carlos Quinto deu um dia na mesquita catedral de Cordoba, impedindo a sua destruição e deixando para a humanidade um grande exemplo de multiculturalismo.

Jean-Philippe Pérol

Esse artigo foi inspirado de uma ideia de Jacques Baschieri na revista profissional on-line Mister Travel

Em Dubai e nos Emirados, a Expo 2020 adiada para 2021, mantendo as perspectivas de um turismo surpreendente

Expo 2020 em Dubai já conta com mais de 180 paises participantes

Success story do turismo internacional, Dubai foi duramente atingida pela crise do coronavirus e o seu evento bandeira desse ano, a Expo 2020, cuja abertura era prevista para 20 de Outubro desse ano, deve ser adiada  pelo Bureau Internacional de Exposições. Primeira Exposição Universal sediada no Oriente Médio, ganhando a nomeação em uma competição acirrada frente a Ekaterinburg na Rússia e a São Paulo, seduziu os membros  do comité de seleção com as temáticas “conectar mentes e construir o futuro”, destacando oportunidade; mobilidade; e sustentabilidade. como criar um blogO evento já está com os pavilhões dos 180 países participantes bastante adiantados, e todos os seus grandes atores do turismo – hotéis, receptivos e centro de lazeres- prontos para receber os 25 milhões de visitantes esperados pelos organizadores.

O Pavilhào francês na Expo 2000 deve ficar pronto em setembro

Presidida pela França, a comissão executiva do Bureau International des Expositions (BIE) se reunirá dia 21 de Abril para oficializar a proposta de mudança de data – agora de 1ero de Outubro 2021 até 31 de Março 2022. Já apoiada pelo governo dos Emirados e pelos comissários da Expo 2020, a proposta será então submetida a Assembléia geral e deverá ser aprovada por uma maioria de dois terços dos 170 estados membros. Devido as circunstancias, ambas reuniões serão virtuais, e a decisão oficial final está sendo esperada para o mês de Junho. Mesmo sendo oficioso, o adiamento, que não prejudicará em nada a Expo seguinte (prevista em Osaka em 2025, com a temática “conceber a sociedade do futuro e imaginar a vida de amanha”), já é considerado como certo.

O Burj el Khalifa, o ícono de 828 metros, símbolo do dinamismo de Dubai

Além da Expo 2020, Dubai continua acreditando no seu turismo e na sua ambição de chegar a 25 milhões de turistas em 2025, e o antológico percurso realizado nos últimos 30 anos mostram que deve mesmo conseguir. Enquanto o país nem aparecia nos roteiros do turismo mundial com menos de 500.000 visitantes no início dos anos oitenta, conseguiu, com projeto politico, estratégia clara e investimentos certeiros, entrar no top 20 dos destinos turísticos e será provavelmente no top 15 nos próximos 5 anos.  O sucesso em termos de número de visitantes foi acompanhado de um volume de receitas excepcional, USD 25 bilhões, devido a um recorde mundial em despesas por dia, USD 550 ou seja mais do dobro dos gastos médios nas grandes capitais internacionais como Londres, Nova Iorque ou Paris.

Na frente do museu de Dubai, um “dhaw” lembra as raizes da cidade

Se o turismo de Dubai impressiona os profissionais pelo seu extraordinário crescimento nos últimos trinta anos, ele surpreende também o visitante pelo sua diversidade. Famoso pelo seu turismo de luxo – com seus cartões postais arquiteturais como o Burj el Arab e o Burj el Khalifa -, suas opções de shopping – souks tradicionais ou centros comerciais -, e até sua gastronomia inovadora. O destino abriu novas opções. Já se consolidou no turismo de aventura com excursões (esportivas, luxuosas ou confortáveis) nas dunas do deserto, hoje concentradas nos Emirados ou no Omã e que deveriam em breve se estender na Arábia Saudita onde grandes operadoras locais como a Kurban Tours já estão propondo novidades. Destino tradicional para casais, atrai hoje famílias com uma extraordinária oferta de lazeres para crianças que explica que o emirado reivindica ser “a capital mundial dos parques temáticos”.

Em Abu Dhabi, a beleza mágica da Mesquita Sheikh Zayed

Uma das maiores surpresas do viajante descobrindo os Emirados é a dimensão cultural do seu turismo. Além de uma história ainda presente nas ruas dos velhos souks, no museu de Dubai, ou no forte de Al Jahili em El Ain, duas das mais fortes emoções se encontram em Abu Dhabi. Emoção espiritual com a Mesquita Sheikh Zayed, uma verdadeira maravilha do século XXI onde a beleza arquitetural das linhas de mármore branco parece realçar a fé. Emoção cultural no Louvre onde a criatividade do local e a qualidade das obras expostas  mostram o quanto a civilização greco-latina pode ser bem acolhida a beira do Rub al Khali. Nos Emirados, um ambiente cultural intenso a qual uma entrada para Expo 2020 de Dubai  poderá agora trazer mais uma dimensão, a proposta de “conectar mentes e construir o futuro”.

Jean Philippe Pérol

A Veneza do norte não quer virar uma Disneylândia

O Quai du Rosaire, lugar mais fotografado de Bruges

Notre Dame de Paris abrindo um debate sobre monumentos históricos, cultura e turismo

5 anos e mais de um bilhão de Euros serão necessários para a reconstrução de Notre Dame de Paris

Apagado o incêndio, ficamos todos impressionados pelas polêmicas que estão surgindo em torno da reconstrução de Notre Dame de Paris. Será que as doações são indecentes? Será que deve ser dedutíveis dos impostos? Será que esse dinheiro não deveria ir para outros projetos? Será que o governo deve investir num edifício religioso? Será que a reconstrução deve respeitar o projeto original do século XII ou integrar as construções posteriores até o século XIX? Será que o arquiteto deve ser francês? Será que os carpinteiros devem voltar a utilizar carvalho ou encontrar uma solução ecológica? Será que a União Europeia deve pagar? E políticos ou associações radicais já estão fazendo a mais fundamental das perguntas: será que a catedral deve ser mesmo reconstruída?

Na beira do Tapajós, as ruínas descuidadas do sonho de Henry Ford

Se podem parecer esdrúxulas – e as vezes são-, essas perguntas devem levar a um debate mais fundamental ainda: qual deve ser o lugar do patrimônio histórico e cultural na sociedade do século XXI, e quem deve financiá-lo, o poder publico, os fiéis (quando tiver), os doadores privados ou os turistas? Essas perguntas estão surgindo agora, mas o debate tinha começado há tempo. Na França, em um livro de ficção política escrito em 1985, Gilbert Pérol imaginava que, por falta de dinheiro frente as impossíveis obras, as autoridades da União Europeia iam mandar destruir em 2030 as torres de todas as igrejas em mais de 30.000 vilarejos. Mas o debate é mundial, para monumentos tombados pela UNESCO ou humildes memórias de comunidades, de Veneza a Bâmiyân, de Palmira ao Rio de Janeiro, de Timbuktu ao Fordlândia.

No Museu Nacional, muitos acervos se foram com parte do prédio

Se muitas destruições se devem a trágicos acidentes ou a folia humana, não se deve esquecer que a falta de manutenção, bem como o abandono das autoridades, são causas sempre presentes. Um ano atrás, a revista Le Point já avisava que Notre Dame de Paris estava num estado calamitoso e que os 4 milhões de euros de verbas públicas anuais não cobravam 3% dos investimentos necessários. E a destruição do acervo do Museu Nacional se deve tanto ao incêndio que a falta de orçamento suficiente nos últimos anos. Na Europa, se o Presidente Macron sensibilizou Bruxelas sobre a necessidade de criar um fundo comum para financiar os monumentos ameaçados, é pouco provável que a situação financeira pós Brexit bem como as divergências culturais entre os 27 membros  levam a soluções rápidas.

Incendiado pelos ingleses em 1860, a Cidade Proibida é hoje o monumento mais visitado do mundo

O turismo deve e pode ser uma solução. Deve porque a cultura e os monumentos históricos são um dos maiores motivos de atratividades dos destinos, os 50 lugares mais visitados do mundo sendo, pelo menos fora dos Estados Unidos, grandes referencias culturais como a Cidade Proibida, os Souks de Istambul, Notre Dame, Montmartre, o Zocalo, o Louvre ou a Grande Muralha. E das 100 cidades mais visitadas do mundo, quase a metade têm como maior acervo turístico um ou vários monumentos culturais internacionalmente procurados. A cultura (e a religião) foi a primeira motivação de viagem da historia, e pegou hoje, com a procura de experiências pessoais e até de turismo transformacional, um impulso ainda maior.

Veneza já cobra uma taxa de entrada para financiar sua manutenção

Os profissionais do turismo devem assim mostrar que o setor é capaz de trazer soluções para salvar nossos monumentos. Três ideias podem ser trabalhadas. A primeira é o lobbying junto as autoridades para mostrar o impacto do patrimônio na atratividade e nas receitas dos destinos turísticos. A segunda é integrar, em proporção da sua capacidade financeira, as listas de doadores mobilizados para salvar as obras, inclusive oferecendo a seus clientes a possibilidade de participar, uma prática cada vez mais comum nos Estados Unidos e crescendo na Europa. Devemos enfim aceitar que muitos destinos têm como única opção de cobrar dos turistas uma taxa de entrada. Sejam igrejas ou templos, sejam cidades inteiras, o estão instalado pedágios para os turistas. Mesmo com taxas pequenas, as receitas representam valores consideráveis que, se bem utilizadas, ajudarão a evitar que outros dramas prejudicam o nosso patrimônio universal.

Jean-Philippe Pérol

Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue”  do autor na revista profissional on line Mercados e Eventos

Em Waterloo, os franceses vencendo … a licitação para gerenciar o Memorial da batalha!

Nas comemorações do bicentenário, a reconstituição da batalha

Em Waterloo, essa triste planície onde as tropas de Wellington e Blucher acabaram no dia 18 de Junho de 1815 com os sonhos franceses da Revolução e do Império, uma francesa conseguiu uma surpreendente vitória. Geneviéve Rossillon, presidente da operadora de sítios e monumentos turísticos Kleber Rossillon fundada pelo seu pai, venceu uma licitação da região belga da Valônia para administrar durante os próximos quinze anos o sitio da famosa e trágica batalha. Localizado a vinte minutos ao sul de Bruxelas, o Memorial 1815 inclui não somente os principais campos  e prédios que viram a heróica derrota dos soldados de Napoleão, mas também  um centro de informação e de interpretação  multimídia subterrâneo inaugurado durante as comemorações do bicentenário.

O Memorial 1815

A empresa Kleber Rossillon já administra nove sítios patrimoniais na Franca , recebendo mais de um milhões e meio de visitantes na Bretanha, no Vale do Loire e na Auvergne. Desde 2015 é responsável da famosa Grotte Chauvet 2, réplica fiel da gruta inscrita ao patrimônio da UNESCO pelas suas excepcionais  pinturas rupestres que nossos ancestrais deixaram há 36.000 anos. O Memorial de Waterloo sera o seu primeiro investimento fora da França. Genevieve Rossillon já mostrou grandes ambições com a sua vontade de quase dobrar o numero de visitas – passando de 170.000 a 300.000, contando  na contratação de quinze funcionários para melhorar o atendimento, na multiplicação dos eventos e das animações, e na ampliação da oferta cultural para todos os públicos

O Museu Wellington, último quartel geral do vencedor

Logo esse ano, já são previstas importantes comemorações, dia 18 de Maio com os 250 anos do nascimento do Duque de Wellington, e dia 15 de Agosto pelo aniversário do Napoleão. Perto do morro do Leão – monumento erguido pelos holandeses então ocupando a Bélgica -, serão realizadas a partir de junho varias reconstituições da batalha bem como da vida e do dia a dia das tropas. O novo Memorial terá também novidade nos seus dois restaurantes”, ambos com um decoração inspirada do ambiente na véspera da batalha . O  « Wellington » vai oferecer cardápios e preços tipo “Bistrô”, enquanto o mais requintado « Le Bivouac » apresentará uma cozinha mais gastronômica. Com essas novas ideias, a francesa Kleber Rossillon espera que a sua batalha de Waterloo será mesmo vitoriosa!

Esse artigo foi traduzido e adaptado de um artigo publicado na revista on-line Pagtour

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