
O castelo de Versalhes ainda esperando americanos, chineses e brasileiros …
Success story do turismo internacional, Dubai foi duramente atingida pela crise do coronavirus e o seu evento bandeira desse ano, a Expo 2020, cuja abertura era prevista para 20 de Outubro desse ano, deve ser adiada pelo Bureau Internacional de Exposições. Primeira Exposição Universal sediada no Oriente Médio, ganhando a nomeação em uma competição acirrada frente a Ekaterinburg na Rússia e a São Paulo, seduziu os membros do comité de seleção com as temáticas “conectar mentes e construir o futuro”, destacando oportunidade; mobilidade; e sustentabilidade. O evento já está com os pavilhões dos 180 países participantes bastante adiantados, e todos os seus grandes atores do turismo – hotéis, receptivos e centro de lazeres- prontos para receber os 25 milhões de visitantes esperados pelos organizadores.
Presidida pela França, a comissão executiva do Bureau International des Expositions (BIE) se reunirá dia 21 de Abril para oficializar a proposta de mudança de data – agora de 1ero de Outubro 2021 até 31 de Março 2022. Já apoiada pelo governo dos Emirados e pelos comissários da Expo 2020, a proposta será então submetida a Assembléia geral e deverá ser aprovada por uma maioria de dois terços dos 170 estados membros. Devido as circunstancias, ambas reuniões serão virtuais, e a decisão oficial final está sendo esperada para o mês de Junho. Mesmo sendo oficioso, o adiamento, que não prejudicará em nada a Expo seguinte (prevista em Osaka em 2025, com a temática “conceber a sociedade do futuro e imaginar a vida de amanha”), já é considerado como certo.
Além da Expo 2020, Dubai continua acreditando no seu turismo e na sua ambição de chegar a 25 milhões de turistas em 2025, e o antológico percurso realizado nos últimos 30 anos mostram que deve mesmo conseguir. Enquanto o país nem aparecia nos roteiros do turismo mundial com menos de 500.000 visitantes no início dos anos oitenta, conseguiu, com projeto politico, estratégia clara e investimentos certeiros, entrar no top 20 dos destinos turísticos e será provavelmente no top 15 nos próximos 5 anos. O sucesso em termos de número de visitantes foi acompanhado de um volume de receitas excepcional, USD 25 bilhões, devido a um recorde mundial em despesas por dia, USD 550 ou seja mais do dobro dos gastos médios nas grandes capitais internacionais como Londres, Nova Iorque ou Paris.
Na frente do museu de Dubai, um “dhaw” lembra as raizes da cidade
Se o turismo de Dubai impressiona os profissionais pelo seu extraordinário crescimento nos últimos trinta anos, ele surpreende também o visitante pelo sua diversidade. Famoso pelo seu turismo de luxo – com seus cartões postais arquiteturais como o Burj el Arab e o Burj el Khalifa -, suas opções de shopping – souks tradicionais ou centros comerciais -, e até sua gastronomia inovadora. O destino abriu novas opções. Já se consolidou no turismo de aventura com excursões (esportivas, luxuosas ou confortáveis) nas dunas do deserto, hoje concentradas nos Emirados ou no Omã e que deveriam em breve se estender na Arábia Saudita onde grandes operadoras locais como a Kurban Tours já estão propondo novidades. Destino tradicional para casais, atrai hoje famílias com uma extraordinária oferta de lazeres para crianças que explica que o emirado reivindica ser “a capital mundial dos parques temáticos”.
Uma das maiores surpresas do viajante descobrindo os Emirados é a dimensão cultural do seu turismo. Além de uma história ainda presente nas ruas dos velhos souks, no museu de Dubai, ou no forte de Al Jahili em El Ain, duas das mais fortes emoções se encontram em Abu Dhabi. Emoção espiritual com a Mesquita Sheikh Zayed, uma verdadeira maravilha do século XXI onde a beleza arquitetural das linhas de mármore branco parece realçar a fé. Emoção cultural no Louvre onde a criatividade do local e a qualidade das obras expostas mostram o quanto a civilização greco-latina pode ser bem acolhida a beira do Rub al Khali. Nos Emirados, um ambiente cultural intenso a qual uma entrada para Expo 2020 de Dubai poderá agora trazer mais uma dimensão, a proposta de “conectar mentes e construir o futuro”.
Jean Philippe Pérol
O Louvre fechado por causa de coronavirus
Veneza abandonada pelos turistas
É verdade que até a explosão da epidemia na Italia, as preocupações públicas giravam mais em torno do problemas que o turismo de massa estava trazendo, o overturismo era o a ameaça-mor. Em Barcelona, Amsterdão, Roma, Veneza ou Paris, os responsáveis procuravam, as vezes com sucesso, soluções criativas para conciliar visitantes, moradores e profissionais do setor, e permitir aos grandes destinos turísticos internacionais de escolher os “melhores” turistas em função das suas despesas, das suas sazonalidades, dos destinos associados ou das atividades procuradas. Os problemas perduram, e moradores e profissionais exigem com razão soluções duradouras e sustentáveis. A brutal queda das reservas lembram agora as autoridades, aos empresários e a todos os funcionários do setor, que o turismo do século XXI pode também ser ameaçado pelo sumiço dos viajantes, e que o “underturismo” é tão preocupante que o overturismo.
As companhias aéreas sofrem com os cancelamentos de viagens
Os esforços dos médicos, as medidas dos governos, e a chegada da primavera no hemisfério norte, vão com certeza conseguir vencer a crise do coronavirus. A resiliência extraordinária do turismo vai com certeza trazer de volta em alguns meses os fluxos a seus níveis anteriores, e até ajudar a recuperar perdas. Mas, com a mesma certeza, é possível antecipar que todos os atores que foram castigados com a queda dos fluxos turísticos -companhias aéreas, hotels, museus, espetáculos, parques ou comercio – vão integrar as suas visões do futuro do setor umas importantes lições. Sem discutir a necessidade de trazer soluções para o overturismo, a economia dos destinos, o sucesso dos empresários, os empregos e a vida dos moradores, vão pressionar para que este novo turismo, focado em experiencias sustentáveis e respeitosas dos moradores, descarta tambem de vez o risco de “underturismo”.
Jean Philippe Pérol
Andando nas ruas de Paris, olhando os nomes das ruas, das praças ou dos monumentos, o visitante é colocado frente a numerosos personagens que influenciaram os dois mil anos de vida dessa tão peculiar, orgulhosa e rebelde cidade. Assim Sainte Genevieve, Robert de Sorbon, Philippe le Bel, Etienne Marcel, Marie de Médicis, Louis XIV, Gavroche, Bienvenue, Gallieni, de Gaulle, Pompidou, Mitterand, têm os seus seguidores e deixaram suas marcas na sua cultura, no seu urbanismo e na sua arquitetura. Mas segundo o escritor Dimitri Casali, que publicou recentemente o livro “Paris Napoléon(s)”, são porem os dois imperadores da dinastia bonapartista que deixaram, durante os seus reinados e até hoje, as maiores e mais impressionantes marcas na cidade luz que 35 milhões de turistas continuam a visitar nesse século XXI.
As grandes mudanças da Paris moderna começaram com Napoleão que queria assim mostrar a potência do Império. Depois dos abandonos e das destruições que acompanharam a Revolução e a guerra civil, a volta da ordem e da prosperidade possibilitam grandes obras que perduram até hoje. O Louvre é renovado, e no seu pátio é inaugurado o Arc du Carrousel. São abertas ou ampliadas a Rue de Rivoli, a Rue de la Paix, a Rue de Castiglione, a Rue d’Ulm. Na Place Vendôme foi construída a famosa coluna com o bronze dos 1200 canhões tomados dos austro-russos na lendária vitoria de Austerlitz. São iniciadas as construções da igreja da Madeleine e da faixada do Palais-Bourbon, do Canal de Ourcq, da Bolsa de valores e, claro, do Arc de Triomphe. Foram também quatro pontes, duas das quais – Austerlitz e Iena – têm nomes de vitórias imperiais. E para que qualquer cidadão, qual que seja sua raça ou sua religião, pudesse ser enterrado decentemente, Napoleão mandou construir em 1803 o famoso cemitério do Pere Lachaise.
Outras grandes ambições parisienses do Imperador foram abandonadas depois do desastre de Waterloo. No morro de Chaillot (onde foi depois construído o Palais du Trocadero, e nos anos trinta, o Palais de Chaillot), devia ser erguido um gigantesco palácio para o seu filho, o Rei de Rome, com uma faixada de 400 metros de largura e um parque cobrindo todo o lado oeste de Paris, até Champs Elysées e o Bois de Boulogne. Mesmo se esse e alguns outros projetos foram esquecidos, a chegada ao poder em 1848 do sobrinho de Napoleão I, Napoleão III, vai relançar muitos outros, e dar a capital francesa o aspecto que ela guardou até hoje. Investindo o equivalente hoje a 120 bilhões de reais, misturando preocupações urbanísticas, socais e militares, ele vai confiar ao Prefeito de Paris, o Barão Haussmann, todos os poderes para levar ao fim a metamorfose da cidade.
A beleza imponente do Palais Garnier, a Opera de Paris
E, durante o Segundo império, Paris vai ver a abertura de grandes avenidas: boulevards Saint Germain, Saint Michel, Haussmann, Diderot, bem como Saint Michel e Sebastopol ampliando o eixo Norte Sul da capital. A avenida da Opera liga a nova Opera com o antigo Palais Royal. Para compensar a destruição de 20.000 casas ou sobrados, são construídos alojamentos novos para os operários nos bairros populares da zona leste bem como prédios modernos e elegantes nas áreas nobres da planície Monceau. O Louvre é enfim finalizado, e vários parques e praças são redesenhados. Ainda abertos hoje, dois grandes hotéis muito conhecidos dos brasileiros, o Hotel du Louvre e o Grande Hotel, são projetados e inaugurados seguindo as suas ordens. Em 1870, quando Napoleão III abdica do poder depois da derrota militar contra a Prussia, ele deixa Paris com (quase) uma bela e moderna cara da capital mundial aonde o visitante do século XXI não ia se sentir perdido.
Talvez até hoje perseguido pelo ódio de Victor Hugo (que o chamava de Napoleão o Pequeno), o sucessor de Napoleão o Grande, depois de ter feito tanto pela sua capital, não conseguiu porem conquistar o coração dos parisienses, nem gravar o nome dele, a não ser uma praça minúscula entre um Mc Donald e a estação de trens Gare du Nord, em nenhum monumento da cidade que ele tanto embelezou. Se Paris deve muito aos dois imperadores, o segundo deveria talvez ser chamado de o injustiçado ….
Esse artigo foi adaptado de um artigo original na revista francesa Le Point
O Palácio de Versalhes já ameaçado pelo overturismo?
Galinha dos ovos de ouro de muitos museus, monumentos, concertos, ou exposições, o turismo estaria agora virando o vilão da cultura? Até pouco tempo, pelo menos na França, a pergunta podia parecer estranha e os responsáveis da cultura só se preocupavam em conquistar mais visitantes internacionais. No Louvre eles chegam a representar 70% das entradas – com destaque para o milhão de americanos, os 600.000 chineses e os 290.000 brasileiros -, e mais ainda das receitas do museu e do centro comercial. E para a imensa maioria dos principais museus e monumentos franceses, os turistas são uma fonte de renda essencial, ajudando as vezes uma politica de gratuidade para os moradores ou os cidadãos da União Europeia. A importância dos turistas para cultura foi claramente percebida em 2016 quando faltaram, e depois em 2017 e 2018 quando voltaram. Mas agora é o “overturismo” que preocupa as autoridades do setor.
O Louvre já preocupado com o overturismo
A Atout France, agencia de desenvolvimento do turismo da França, já está chamando a atenção sobre o problema, lembrando que não é imediato mas deve ser antecipado. O overturismo cultural está longe da realidade de 80% dos territórios que recebe somente 20% dos turistas internacionais, mas ameaça especialmente Paris onde quase todos os visitantes procuram os museus e monumentos das margens do Rio Sena. Ele preocupa também Versalhes e o Mont Saint Michel, ou até pequenos vilarejos como Saint Paul de Vence e sítios como os castelos do Loire. Todos devem preparar o futuro sabendo que a França vai receber 100 milhões de visitantes em 2020, e que a cidade de Paris, cuja população deve cair a menos de 2 milhões de habitantes, vai ver o seu números de turistas passar de 26 milhões esse ano para 54 milhões em 2050.
Veneza é o exemplo que todos querem evitar
Enquanto a cultura é a motivação principal de 50 à 70% dos turistas na França, exista mesmo uma urgência para encontrar soluções que não decepcionam os milhões de novos visitantes. Para facilitar os percursos nos sítios mais procurados, evitar as concentrações durante os grandes feriados e promover atrações culturais menos conhecidas, existem muitas experiências internacionais a ser analisadas. Firenze e Roma tentam impedir os piqueniques nas escadarias das praças ou das igrejas, Veneza experimenta bloqueios nos lugares mais procurados nas horas de pique, e destinos como Machu Pichu (Peru), Dubrovnik (Croácia), o Taj Mahal (índia), Santorini (Grécia) e a Ilha de Páscoa já tomaram medidas para reduzir o numero de turistas – quotas menores e tarifas mais altas sendo soluções cada vez mais avançadas.
O Louvre Lens, uma grande ideia para desviar fluxos de turismo cultural
Os grandes museus da França estão na mesma lógica que seus concorrentes internacionais. Todos temem que as frustrações dos amadores de arte e dos moradores frente as filas ou as confusões que fazem as galerias onde são expostas as obras mais procuradas aparecer shopping centers em tempos de promoções. Todos eles, sejam o National Gallery em Londres, o Prado em Madrid, o Ermitage em São Petersburgo ou o Metropolitan em Nova Iorque, estudam meios de canalizar os fluxos turísticos hoje imprescindíveis para suas sobrevivências financeiras: ampliar horários, melhorar acessos, orientar os fluxos, facilitar as reservas, abrir novas salas ou até criar “subsidiarias” -solução imaginada pelo Louvre em Lens e o Centro Pompidou em Metz. A médio prazo todos sabem porem que o aumento dos preços das entradas para os turistas não residentes, por discriminatório que pode parecer, é talvez a única solução que poderá tranquilizar os moradores e garantir aos visitantes o acesso a riquezas culturais que são a grande motivação do turismo internacional.
Jean-Philippe Pérol
O Met de Nova Iorque cobra agora 25 USD dos visitantes, exceto dos moradores
A Pirâmide do Louvre
Tinha doze anos e estava entrando no Museu egípcio do Cairo com o meu pai, e ainda hoje me lembro da primeira pergunta do nosso guia: “Vocês querem visitar o museu em uma hora, um dia ou uma semana?”. Era sem dúvida uma pergunta importante (felizmente, meu pai escolheu um dia), e que tem que ser feita antes de iniciar qualquer visita: quanto tempo é necessário para aproveitar um grande museu, e mais especialmente, o museu do Louvre, o mais visitado do mundo com 8,7 milhões de visitantes, incluindo 350.000 brasileiros (a quarta nacionalidade)? E, se não tiver guia, qual itinerário escolher para aproveitar ao máximo o tempo disponível ?
A vitoria de Samotrácia
Uma pesquisa do Massachussets Institute of Technology, utilizando os sinais Bluetooth dos celulares, seguindo os itinerários e medindo os momentos passados em cada sala, deu pela primeira vez o ponto de vista dos visitantes sobre a organização de uma visita do Louvre. Ela revelou que eles não têm pressa, levam cerca de três horas, com 10% deles levando cinco horas ou mais, e pouquíssimas visitas de menos de uma hora, feitas por pessoas chegando em geral depois das quatro horas da tarde. Olhando uma media de dez a quinze salas, a grande maioria dos turistas segue o itinerário mais esperado, sempre incluindo o Gladiador Borghese, a Venus de Milo, a Vitória de Samotrácia e La Joconde de Leonardo da Vinci, algumas vezes o Grande Esfinge ou a Salle des Verres.
A Galeria de Apolo
A pesquisa mostrou que os visitantes quase não saíam dos “incontornáveis”, e que pontos excepcionais como a Galeria de Apolo ou as salas de egiptologia – essas tão apreciadas pelas crianças por causa das múmias, das imponentes estátuas ou das miniaturas da vida quotidiana na época dos faraós – são pouco visitados. Mas os pesquisadores encontraram a razão dessa escolha: o poder de atração de cada espaço aumenta em proporção do número de pessoas já presentes. Os visitantes atravessam rapidamente as salas vazias e param nas salas cheias, até um ponto crítico onde a atração das obras primas não compensa mais o sufoco da multidão.
A Grande Galeria
Mesmo com suas limitações que os próprios pesquisadores denunciaram – necessidade dos visitantes ter o Bluetooth ligado, não diferenciação dos grupos, impossibilidade de definir as motivações -, os resultados interessam tanto os profissionais quanto os visitantes. Eles ajudarão não somente os viajantes a definir os seus roteiros personalizados mas também o próprio museu a gerenciar melhor os seus fluxos de visitantes, informando mais sobre as obras menos visitados, flexibilizando os horários ou até modulando os preços. Podem também pensar no futuro a incluir na pesquisa os quase quinze cafés ou restaurantes do museu, inclusive o tão charmoso Café Marly, onde nunca deixo de terminar os meus próprios roteiros no Louvre.
Jean-Philippe Pérol
O Café Marly, na ala Richelieu do Louvre
O pau de selfie, o indispensável acessório de alguns fãs da Facebook ou da Instagram que para dividir as suas emoções de viagens, acabou de ser proibido nas visitas do castelo de Versalhes. Lembrando a especificidade do lugar, a estreiteza de varias salas e a fragilidade dos objetos expostos, o diretor avisou que os guardas eram agora encarregado de fazer respeitar essa proibição. O Louvre ainda não se pronunciou a esse respeito, mas os seus dirigentes ficaram cautelosos, talvez pensando nas reações negativas dos jovens e dos estrangeiros (especialmente americanos, chineses e brasileiros) que componham a maioria dos 9,3 milhões de visitantes. Lembraram que os paus de selfie não são proibidos mas que só podem ser utilizadas respeitando as obras expostas e a convivência com o público.
O Centro Pompidou parece estar caminhando para proibição, justificando que ela se aplica também a bengalas e mochilas. Seguindo uma tendência quase global, a National Gallery de Londres acabou de anunciar essa mesma medida. O porta-voz do museu declarou que os pau de selfie representavam um perigo para as obras expostas bem como para os direitos autorais. “Autorizamos as fotos pessoais mas não as profissionais, especialmente com flash ou com tripé. E consideramos que os paus de selfie se assimilam aos tripés.” Explicações não muito convincentes, mas que foram avançadas na Espanha pelo Museu da Rainha Sofia e que o British Museum deve adotar em breve para justificar a mesma decisão.
Vários museus americanos, o Moma e o Metropolitan em Nova Iorque, ou o Smithsonian em Washington, já se pronunciaram também contra esse polemico assessorio, bem como o Museu dos Uffizi em Firenze ou o Heritage em Amsterdam. Em Madri o Museu de Prado lembrou que não é permitido fazer qualquer foto das obras expostas, bem como entrar com qualquer acessório considerado perigoso – bengalas, guarda-chuvas ou outros.
Proibido nos shows na Inglaterra ou nos estados de futebol no Brasil, o pau de selfie pode sem dúvidas ser uma fonte de polêmicas. Pode ser de má gosto ou pode ser ridículo. Como cada novidade, o seu uso pede cuidados especiais ou pelo menos bom senso em não invadir uma foto alheia ou atrapalhar outros turistas ao esticar o equipamento. Mas diretores de museus bem como estrategistas do turismo devem se lembrar que esses acessórios ajudam os viajantes a mostrar novos ângulos de cenários famosos ou a juntar grupos de amigos em uma só foto. Junto com os smartfones ou as medias sociais, eles fazem parte dessa grande revolução de liberdade e de alegria que o web carregou nas vidas dos cidadãos da aldeia global. Em vez de proibir os paus de selfie, é sem dúvidas melhor seguir o exemplo do Obama, reagir com audácia e criatividade vendo neles não uma ameaça mas uma oportunidade para divulgar melhor museus ou eventos culturais .
Jean-Philippe Pérol
Muitas vezes desprezados pelos próprios franceses que assimilavam essas regiões a seu passado de miséria nas minas de carvão ou de ferro, gozando dum clima mais frio que inviabiliza os vinhedos, tendo sido devastados durante duas guerras, o Norte e o Nordeste da França demoraram muito para atrair os visitantes. Foi somente a partir dos anos 90, com a abertura do túnel sob o canal da Mancha, a mobilizadora nomeação de Lille em 2004 como capital europeu da cultura, e a multiplicação dos grandes projetos urbanos, que as grandes cidades da região começaram a aparecer como destinos turísticos.
Lille tem hoje nove museus importantes, sendo o Palais des Beaux Arts o segundo mais rico da França. O prédio construído em 1892 foi completamente renovado em 1997, e ampliado com uma nova ala desenhada pelos arquitetos Jean-Marc Ibos e Myrto Vitart. Suas paredes de vidros refletem as pedras da ala original, misturando as imagens e as obras do passado e do futuro. Alem de um acervo acumulado desde a criação do Museu (em 1792), com obras de Delacroix, Monet ou Donatello, o Palais des Beaux Arts abriga também uma coleção única de numismática, bem como as famosas e polêmicas mapas militares em baixo relevo de Vauban.
Antiga cidade fortificada, em crise desde o fim das siderúrgicas francesas, Metz apostou em 2003 num grande projeto cultural, a construção de uma filial do Centre Pompidou assinada pelos arquitetos Shigeru Ban (Tokyo), Jean de Gastines (Paris) et Philip Gumuchdjian (Londres). Aberto ao publico em 2010, ele recebeu um acervo de 76.000 peças da sua matriz. A audácia do projeto acelerou a renovação urbana e varias outras construções vão em breve se destacar, como o centro de convenções ou o shopping Muse.
Era uma antiga ambição do Louvre: abrir um segundo museu fora de Paris para mostrar as suas ambições nacionais, utilizando no interior da França, e com novas ideias, o seu extraordinario acervo. Em 2003, o ministério da Cultura lançou uma licitação que entusiasmou a cidade de Lens. A sua proposta, de autoria da agencia japonesa Sanaa, foi escolhida em 2005 entre mais de 120 projetos.
O prédio de vidro e de luz ajuda também a valorizar um novo conceito revolucionário de apresentação das obras: a Galeria do tempo. Numa única sala de 125 metros de comprimento, 205 peças pertencendo a todas as grandes civilizações apresentam de forma cronológica 6000 anos de historia, uma caminhada simbolicamente fechada pela “Liberté guidant le peuple” de Delacroix.
Orgulhoso de sua passado mineiro e das suas rebeldia, dos seus jardins operários ou das suas montanhas de poeira de carvão (“Terrils”), o Norte da Franca tem também outros trunfos para atrair os visitantes: a simpatia da sua juventude, a alegria da sua vida noturna e da sua gastronomia, o sabor das suas cervejas, e seus carnavais descontraídos. Assim que já foi demonstrado em Bilbao com o Guggenheim, os grandes projetos culturais são porem atrativosos excepcionais para atrair novos destinos nos roteiros turísticos internacionais.
Jean-Philippe Pérol