O Airbus 380 está de volta, até quando?

O Airbus A380, efêmero grande sucesso da Air France

Mesmo se a pandemia quase o tenha matado, e se a Airbus tinha antecipado para 2021 o fim da sua produção, o A380 não quer desaparecer. Com a retomada do setor, os Jumbos do século XXI estão cada dia mais numerosos a percorrer os céus.  Seguindo o exemplo da Emirates, e como únicas exceções a Air France, a China Southern e a Malaysia Airlines, todas as companhias aéreas que tinham adquirido o gigante já o reintegraram parcialmente ou totalmente na sua frota.  É o caso da All Nippon Airways, da Asiana Airlines, da British Airways,  da Korean Air, da Qantas, da Qatar Airways, e recentemente da Etihad.

A Emirates foi pioneira na volta do A380

Singapore, primeira companhia a explorar o A380, tem agora 12 deles voando nas suas rotas asiáticas bem como para Austrália, todos eles com somente 471 passageiros numa configuração luxuosa. A Lufthansa, que planejava se livrar dos 14 aparelhos sua frota, está reativando-o numa versão para 509 passageiros nos voos de Munique para Nova Iorque, Boston, Los Angeles e Banquecoque, lançando uma forte campanha de comunicação que aproveite a incrível empatia do público para este avião tão peculiar. E a própria Emirates, a maior compradora,  já reativou 100 dos seus 123 aviões, todos para 517 assentos dos quais 14 são destinados às prestigiosas suites de primeira classe.

A saturação dos aeroportos favoreceu a volta do A380

Em qualquer uma destas bandeiras, e em todas as rotas onde estão operando, estes aviões são lotados. Acumulando taxas de ocupações de 85 à 90% de ocupação e tarifas aéreas 23% mais caras esse ano – essa carestia deve se manter até 2024 ou mesmo 2025 devido aos atrasos nas entregas de centenas de aviões da nova geração pela Boeing e a Airbus-, os A380 contribuem a melhorar os resultados das companhias aéreas. Para alguns especialistas, poderão inclusive ajudar a trazer de volta os lucros logo em 2023, um ano mais cedo que as previsões iniciais.

Favorito dos viajantes, o A380 não deve ter sucessor

Para muitas companhias, este volta do A380 vai ser duradoura. Emirates, que foi em 2019 a única empresa do setor a pedir uma nova versão do aparelho, está agora repetindo o seu pedido, argumentando que este avião seria uma solução para o congestionamento dos aeroportos consecutivo a retomada, e que deve se acelerar a partir de 2024. Insensível a estes argumentos, a Airbus não tem nenhum previsão sobre um novo super jumbo, e seu diretor comercial acha que as novas tecnologias e a exigência de sustentabilidade vão favorecer os aviões de pequeno porte. Nos próximos anos, é mais que provável que o transporte aéreo continuará com um grande paradoxo: o avião favorito dos viajantes do mundo inteiro continuará a voar, mas será condenado a não ter sucessor. Depois do Concorde, as mesmas esperanças, o mesmo embalo, o mesmo sucesso e o mesmo fracasso?

 

Jean-Philippe Pérol 

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American Airlines: o fim dos serviços comerciais para as agências de viagens?

American Airlines com novas estratégias na era da retomada

Esperada desde o mês de Abril, e já realizada nos Estados Unidos apesar das importantes críticas do setor, a reestruturação da sua força de vendas europeia foi anunciada  pela diretoria da American Airlines. Numa decisão dramática, tomada num momento  de forte crescimento do volume de vendas e dos resultados da empresa, todos os funcionários dos serviços comerciais de vendas e de suporte da Alemanha, da Itália, da França e da Espanha foram despedidos. Em toda Europa, foram somente preservadas 10 pessoas da equipe na Inglaterra, além do call center de Liverpool.

A British e a Iberia deverão assumir os serviços cortados

Essa estratégia, coordenada com seus parceiros da One World, segue o exemplo de outras companhias aéreas dentro das alianças concorrentes: a Lufthansa na Star Alliance, ou a Air France com a Delta na  Sky Team, iniciado na América do Norte e inspirado do acordo anterior da KLM com a North West. A restruturação já tinha sido iniciada com um serviço cliente chamado JBS (Joint Business Selling), operado com a British Airways e a Iberia que devem agora assumir todos os serviços da American Airlines. O atendimento personalizado será exclusivo das grandes contas empresariais.

Os agentes duvidam da neutralidade da NDC em relação às vendas diretas

Essa reorganização pode também ser a consequência da vontade da American de favorecer a NDC (New Distribution Capability), uma nova norma tecnológica do setor para a distribuição e a venda de passagens pelas companhias aéreas e as agências de viagens. Com uma oferta muito mais completa que os ferramentas de distribuição tradicional, a NDC é acusada de romper a neutralidade oficial em relação aos circuitos de distribuição. O CEO da American Airlines, Robert Isom, teve que confirmar que todas as medidas tomadas  eram consequências da prioridade dada às vendas  diretas, e que isso poderia ter um impacto sobre o relacionamento com as agências.

Vendas diretas e bleisure devem compensar a queda das viagens de negócios

Mesmo preocupando os profissionais do turismo, a estratégia escolhida, tanto com a NDC, que, com a redução drástica das equipes de vendas, e a aproximação maior com as grandes empresas aparece como uma resposta a queda duradoura das viagens de negócios, cujos volumes são ainda 19,2% abaixo do nível de 2019. Os resultados do primeiro trimestre estão 37% acima do ano passado,  mas de 12 bilhões de USD, tanto pelo aumento de 9,2% da oferta que pelo forte crescimento das tarifas domesticas e internacionais, e as ações da America

Esse artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original da revista francesa profissional on-line Mister Travel  

 

A história do transporte aéreo, uma guerra com poucos sobreviventes

A fusão com a Varig só atrasou o fim da Cruzeiro

Se o transporte aéreo cresceu de 5% por ano desde a Segunda Guerra Mundial, a história das grandes empresas do setor foi bem mais movimentada. Na América do Sul, olhar 50 anos para trás é sem dúvidas assustador. A VIASA venezuelana desapareceu em 1997, a AVIANCA sobreviveu, mas atravessou dois “Chapter 11” e as falências de várias subsidiárias, a Ecuatorián de Aviación colapsou em 2006, enquanto a Faucett e a Aeroperú desapareceram. No Chile, a LAN Chile se manteve mas a LADECO foi absorvida. A Aerolinas Argentinas também se manteve, protegida pelo seu estatuto público, mas a LAP paraguaia e a PLUNA uruguaia pararam de operar em 1994 para a primeira, em 2012 para a segunda.  O Brasil não escapou destas convulsões, e as 4 grandes companhias aéreas que sobrevoam os céus tupiniquins nos anos 1970 desapareceram, a Cruzeiro em 1993 , a Sadia/Transbrasil em 2001 , a VASP em 2005 e a VARIG em 2006.

A sede da PANAM na Park Avenue foi muito tempo o símbolo da sua potência

Se esse quadro parece desanimador, é importante ressaltar que as mesmas dificuldades foram enfrentadas pela companhias aéreas  históricas dos outros continentes. Assim nos Estados Unidos onde, desde 1960, 65  tiveram que buscar a proteção judicial do “chapter 11”, e 32 delas, incluindo os mais prestigiosos nomes do setor. A PAN AM, a grande pioneira que revolucionou o transporte aéro no final dos anos 1960, abriu a primeira volta ao mundo, iniciou os voos do B747, criou os sistemas de reserva eletrônicos, revolucionou as atividades comerciais. A sua sede arrogante na Park Avenue parecia o símbolo da sua supremacia mundial, até que a liberação do setor e a chegada dos low costs a levassem a sua falência em 1991.

O Concorde unilateral da Braniff voou de Paris para Dallas

A sua concorrente  TWA , com a qual dividia as principais rotas internacionais, seguiu o mesmo caminho. Muito tempo liderado pelo excêntrico Howard Hugues, a companhia era o símbolo de sucesso do seu país. Vítima dos mesmos problemas que a PANAM, desapareceu com as dificuldades  e teve que fusionar com a  American Airlines em 2001. Outra vítima famosa foi a Braniff que, depois de uma trajetória fulminante, marcada pelos seus aviões coloridos e a parceria num Concorde Paris Dallas com a Air France, desapareceu em 1982. A própria American Airlines, assim como as outras duas grandes transportadoras aéreas estadunidenses nascidas nos anos 1920, Delta Airlines  e United Airlines, só sobreviveram depois de ter passadas pela triste mas salvadora experiência do  « Chapter 11 ».

A queda da Swissair chocou o mundo da aviação mundial

Na Europa, a guerra do aero deixou também poucos sobreviventes entre as grandes empresas históricas do setor. A espetacular queda da Swissair em 2002 foi somente um acidente numa longa e saudosa lista onde constam a UTA francesa, a BCAL da Escócia, a Sabena belga, a Olympic grega, e ultimamente a Alitália, a SAS escandinava só escapando pela sorte de conseguir um « Chapter 11 » bem gerenciado. Talvez sem surpresa,  as empresas que se saíram melhor foram justamente as três maiores companhias europeias, enraizadas nas três maiores potências econômicas da região: França, Reino Unido e Alemanha.

A Air France se saiu reforçada, guardando a elegância

Enquanto a ascensão das companhias do Golfo e a força dos seus hubs pareciam  irresistíveis, e que os low costs enxugavam a maior parte das ligações intra-europeias, as três empresas escreverem exemplos de resiliência e de transformações vencedoras. A  Air France,  com o apoio firme dos sucessivos governos franceses, conseguiu não somente se sair das crises, mas ainda ser bem sucedida na complicada fusão com a KLM. A British Airways, perto da falência no início dos anos 2000, teve que reduzir suas ambições e sua rede, mas  sobreviveu brilhantemente. E a Lufthansa não foi poupada pelas crises, mas superou todas as dificuldades e ampliou sua cobertura através de aquisições seletivas. As três ganharam e sobreviverem, mas agora a guerra continua, e o Oriente Médio e a Asia serão talvez os próximos campo de batalha.

Esse artigo foi inspirado em um artigo original da revista profissional on-line francesa Tourmag

 

A Air France voltando a ligar as Amazônias brasileira e francesa

Depois de 37 anos, Belém voltando nas rotas da Air France

Reforçando a sua malha regional no Caribe, a Air France vai reabrir a partir de 5 de maio de 2023 um voo direto entre Belém e Caiena (Guiana Francesa), atualmente abandonado pela Azul. O voo será semanal, operado com um Airbus A320 equipado com Wi-Fi. Ele seguirá sem precisar de conexão  para Fort-de-France (Martinica), e depois para Pointe-à-Pitre (Guadalupe), reconectando diretamente o Caribe francês com o Brasil.  Os horários foram também escolhidos para oferecer aos viajantes da região norte mais uma possibilidade de viajar para França, com uma conexão para Paris-Orly.

Air France voltando para a Amazônia

Muito sazonal, devido ao fraco intercâmbio econômico e turístico, essa rota sempre foi difícil e, em trinta anos, oito companhias se sucederam entre os aeroportos de Val-de-Cans (Belem)  e de Felix Eboué (Caiena). Os mais velhos se lembram da Cruzeiro do Sul, da TABA, da VARIG, da Penta, da TAF, da Suriname Airways e da Air Caraïbes, além, claro, da própria Air France que já explorou esse voo de 1984 a 1986. E para quem viveu a febre de desenvolvimento da Amazônia nos anos 1970, essa volta da Air France não pode deixar de relembrar a emocionante abertura do voo Manaus Caiena Paris, um inesquecível pouso de um B747 o dia 31 de março  de1977 (era programado para ser dia 1 de abril, mas as autoridades aeronáuticas da época pediram adiantar de um dia para coincidir com o aniversário dos eventos de 1964).

A ponte unindo as duas margens do Rio Oiapoque

Se a história mostra que a ligação aérea entre as duas margens do Oiapoque foi sempre muito aleatória, existem pelo menos três razões de pensar que a Air France pode agora sem bem sucedida: a primeira é que a nova conjuntura política facilitou a volta do Brasil nas agendas dos principais líderes políticos, e as grandes mídias francesas, europeias e norte americanas estão apoiando novas iniciativas de intercâmbio. Essa tendencia se traduz também a níveis regionais, com os países das Guianas e do Caribe muito interessados em multiplicar as relações culturais e econômicas. Do lado francês, a Martinica, a Guadalupe e a própria Guiana já mostraram ser surpreendentes mercados emissores para o Brasil, além de parceiros interessados pela cooperação regional.

O voo deve relançar a cooperação inter-regional, Guiana no Amapá, ou Martinica no Pará

Mas as maiores perspectivas são mesmo amazônicas. A Guiana francesa é também a Amazônia francesa, cobrindo menos de 2% da imensa bacia do Rio Mar, 30 vezes menos que o lado brasileiro, mas o suficiente para ser parte do pequeno e exclusivo grupo de 9 países que devem definir o futuro dessa região tão cobiçada pelas outras grandes potências. Concentrando as atenções pelo impacto do seu necessário desenvolvimento sobre o aquecimento global, a Amazônia vai, sem dúvida, ver nos próximos anos uma aceleração dos investimentos internacionais, dos intercâmbios culturais e das chegadas de turistas. Para Air France, umas oportunidades  para continuar a acompanhar e até a escrever paginas da História desta fascinante Amazônia onde a França tem sua mais extensa fronteira internacional.

 

Jean-Philippe Pérol

 

Horarios dos voos da Air france (até o dia 31 de Outubro):

AF603:  saída de Belém nos sábados as 09:35, chegando em  Caiena aa 11:10

AF602: saída de Caiena nas sexta-feiras as 15:40, chegando em Belém as 17:15

Celular no avião, uma polémica que já era?

Receber ou fazer ligação durante o voo é quase sempre proibido

Mesmo com o Wi-fi a bordo se generalizando, o cenário de dezenas de celulares tocando  num avião lotado de gente falando alto ainda não aconteceu. Mas poderia muito bem acontecer daqui há um ou dois anos já que os avanços tecnológicos permitam a qualquer celular de receber ligações se o avião tiver os equipamentos necessários, e algumas companhias já autorizam as ligações em rotas especificas. Mas, na imensa maioria dos voos internacionais, as conversas telefónicas são proibidas por quatro tipos de razões distintas: os riscos técnicos, a oposição dos tripulantes, as dúvidas dos passageiros, e a legislação restritiva.

A longa história das ligações telefônicas a bordo

O possível impacto das ligações telefónicas sobre a segurança dos voos tem uma longa historia. Nos anos 90 era autorizadas desde um telefono fixo instalado perto dos galleys, nos anos 2000 foi um aparelho encaixado na sua frente onde era possível falar depois de passar um cartão de credito. Com a sofisticação crescente dos celulares, os temores de interferências com os equipamentos do cockpit levaram nos anos seguintes os especialistas a uma proibição total.  Hoje as pesquisas nunca comprovaram esses riscos, os fabricantes garantem o risco zero para os novos aparelhos, e a segurança eletrônica  não deveria mais ser um motivo de impedir as ligações.

A oposição dos tripulantes é extremamente firme. Eles acham que a liberação das chamadas telefônicas poderia levar ao caos nas cabinas, que brigas as vezes incontroláveis vão acontecer entre passageiros falando alto no telefone e outros querendo tranquilidade. Já gerenciando poltronas reclináveis, excessos de bebidas, luzes noturnas e choros de bebês, as aeromoças e os comissários não querem ser obrigados a interferir em novos conflitos de comportamento.  Alguns sindicatos profissionais levantaram também problemas de segurança pela falta de atenção dada as instruções dos tripulantes pelos passageiros grudados aos seus telefones.

Altos executivos são os mais favoraveis ao uso do celular no avião

Os viajantes e os profissionais do turismo estão divididos sobre essa liberação. Varias pesquisas mostraram que a maioria dos passageiros estão se opondo a um “liberou geral”. Eles temem que os toques das chamadas e as conversas a voz alta levam a uma cacofonia geral, e que discussões sobre níveis de som geram atritos e até brigas. Essas pesquisas mostraram também que menos de 5% dos viajantes acham interessantes poder utilizar os seus celulares durante os voos. Mas esses encontram-se principalmente entre os homens de negócios e os passageiros da classe executiva que as companhias aéreas vão, com certeza, escutar com muita atenção.

A proibição de uso dos celulares ainda é a regra geral

Mesmo se não é internacionalmente proibido de receber ou fazer ligações a bordo, essa proibição existe de fato ou de direito em muitos países. É o caso dos Estados Unidos onde existam não somente restrições da Federal Communications Agency sobre o uso das duas bandas mais utilizadas pelos celulares, mas também uma regra da  Federal Aviation Administration proibindo as conversas por celular nos voos comerciais. No Brasil a ANAC exige que os celulares estejam em modo avião durante o voo. Sem proibir as conversas via aplicativo, pede com bom senso que os tripulantes vigiam “formas incômodas ou inseguras de uso dos celulares como utilização dos alto-falantes ao invés de fones de ouvido, e as comunicações em voz alta”.

O celular nos trens já virou hábito de todos sem gerar conflito!

Os especialistas prevêem que as agencias reguladoras liberarão o uso de celulares nos aviões, deixando as companhias aéreas decidir tanto as possibilidades como as condições de uso. Para evitar os caos sonoros e os conflitos, uma das soluções será talvez de copiar o modelo escolhido por varias companhias de trem que abriram espaços específicos para os passageiros querendo fazer ligações em voz alta. E a longo prazo, é bom lembrar que os millennials e as novas gerações quase não falam mais  diretamente no celular mas deixam mensagens. O bom senso e os novos hábitos de consumo terão evitado uma guerra.

Viagens de negócios e video-conferências, qual futuro depois da retomada?

Montpellier, cidade sede da Chaire Pegase de pesquisa turística

Representando 25% dos viajantes e gastando mundialmente USD 1.400 bilhões por ano, os homens e as mulheres de negócios contribuíam por 55 à 75% das receitas das companhias aéreas. Com a crise do Covid, e a redução dos riscos e gastos das empresas, essas viagens despencaram de mais de 70%, numa clara ameaça a economia do setor. Enquanto a retomada parece por enquanto limitada ao lazer, e a video-conferencia instalada para ficar, a Chaire Pégase, centro de pesquisas da universidade de turismo de Montpellier na França, publicou um estudo mostrando as tendências e as consequências dessa competição entre o video e o presencial .

Video-conferências entraram para ficar

Antes da crise, 35% das empresas já tinham começado a utilizar as video-conferências, para reduzir seus custos financeiros, humanos e ambientais. Mas a tendência se acelerou. Nos últimos 15 meses, a maioria das viagens de negócios foram canceladas, seja por necessidade de redução de custos (31%), por precaução sanitária (71%), impossibilidade de viajar (55%), ou vontade de contribuir ao meio ambiente (22%). Em 53% dos casos, essas viagens foram substituídas por video-conferências, os participantes elogiando essa evolução por ser menos cansativa (65%), e permitindo um melhor equilíbrio entre trabalho e vida pessoal (66%). Mas a substituição tem seus inconvenientes, 82% dos interessados são saturados com as video-conferências, a falta de comunicação com os colegas (73%), a perda de oportunidades para atingir suas metas (64%), e as dificuldades de ganho de novos clientes (60%).

As grandes feiras são um dos setores mais ameaçados

A pesquisa da Chaire Pegase mostra porém uma grande diversidade de opiniões e de comportamentos em função dos tipos de viagens, do setor econômico e do tamanho da empresa. Para os entrevistados, as viagens ligados a intervenções técnicas (59%), a prospeção comercial e as vendas (59%), bem como ao relacionamento com os clientes  (50%) serão os mas rápidos a recomeçar. Devem seguir depois as reuniões internas nas filiais pertencendo a um mesmo grupo. Os eventos profissionais, feiras, salões, conferências (27%), e os incentivos (30%) voltarão somente num segundo tempo, bem como os eventos ligados a formação (21%) que podem ser realizados em formatos híbridos.

Reuniões internos são as mais propicias a video-conferencias

A retomada das viagens de negócios depende também dos setores de atividades das empresas. Segundo a McKinsey, as construtoras, as imobiliárias, as farmacêuticas devem ser as primeiras a liberar as viagens enquanto os setores energético e têxtil devem demorar mais, bem como os serviços e a pesquisa científica que terão mais facilidade para seguir nas video-conferencias. O tamanho das empresas sera um outro fator diferenciador. Com mais recursos, as grandes empresas vão poder reiniciar suas viagens de negócios logo depois da crise, enquanto as pequenas estruturas terão que reconstruir os seus caixas antes de pensar em investir mais que o mínimo indispensável

40% das viagens de negócios substituídas por video-conferencias?

As video-conferencias mudaram  mesmo a economia do setor. No curto prazo, 70% dos entrevistados pensam viajar menos até o final da crise, e 42% acham que essa situação vai perdurar. A pesquisa da Chaire Pégase prevê no logo prazo uma queda 40% das viagens de negócios enquanto o turismo de lazer vai recuperar a partir de 2024 as previsões de crescimento anterior a crise. Uma boa noticia para as companhias low cost, mas uma forte preocupação para as companhias aéreas tradicionais como Air France ou Lufthansa que construíram seus modelos econômicos em cima desses viajantes. No mundo pós Covid, terão não somente de repensar os serviços oferecidos aos homens de negócio  com  uma melhor segmentação, mas também dar uma atenção muito maior aos turistas de lazer que o sucesso das video-conferencias não deveria atingir.

Jean-Philippe Pérol

United Airlines apostando mesmo no supersônico?

Um sucessor para o Concorde em 2029?

A companhia aérea United Airlines e a start-up Boom Supersonic anunciaram um acordo viabilizando a volta dos voos comerciais supersônicos graças à encomenda de 15 aparelhos – com opção de mais 35- e a um impressionante investimento em tecnologias sustentáveis. Chamado Overture, o avião seria apresentado em 2025, decolaria pela primeira vez em 2026 e começaria a operar comercialmente em 2029. Voando a Mach 1,7 , poderia levar 55 passageiros de Nova Iorque a Londres ou Paris em 3 horas e meio, bem como de São Francisco a Tóquio em 6 horas. Incluindo uma encomenda anterior da Japan Air Lines, e uma possível opção da Virgin, as pre- vendas estão agora chegando a 70 aparelhos.

Além de ser a mais importante encomenda de avião supersônico dos últimos 50 anos, a grande novidade do acordo é a exigência de net-zero carbone a ser respeitada desde o primeiro dia do projeto, tanto na construção quanto no uso exclusivo de combustíveis sustentáveis (SAF, sustainable aviation fuel). Segundo o Presidente da United, Scott Kirby, o Overture deve não somente encurtar da metade os tempos de voos, mas também oferecer aos passageiros umas experiências de voo completamente diferentes: sensação “espacial” de voar a 18 quilômetros de altura, conforto de cadeiras inovadoras com tecnologias sem contato, largos espaços individuais.

O Overture projetado num galpão da United

Com a desistência da start-up concurrente Aerion -apoiada pela Boeing- , o Overture seria então o primeiro avião oferecendo voos comerciais supersônicos desde o último voo do Concorde da Air France no dia 31 de Maio de 2003. Os grandes desafios que o projeto franco-britânico encontrou – autorizações de sobrevoo, consumo excessivo de combustível e conforto aquém das expectativas- ainda deverão ser superados. Se a Boom Supersonic já levantou USD 270 milhões com vários parceiros, incluindo o inglês Rolls Royce, os especialistas estão estimando a mais de USD 10 bilhões os investimentos necessários para viabilizar o projeto, um montante que assustou até a Boeing.

O conforto a bordo será uma exigência imprescindível

Se ainda têm muitos desafios para vencer, a saudade do Concorde e o apelo para um novo avião supersônico comercial é forte. A United acredita que o Overture vai atrair viajantes com possibilidades de aproveitar esse luxo, homens de negócios com pressa mas querendo encontros presenciais mais produtivos, ou turistas abastados querendo relaxar em destinos distantes. Sabendo das dificuldades enfrentadas nas vendas, a Boom Supersonics já está fazendo ofertas para clientes mais específicos: chefes de estado querendo modernizar seus aviões presidenciais, ou até forças armadas querendo enviar de forma emergencial unidades especializadas para frentes de operações.

Jean-Philippe Pérol

Além do Covid, um “Brazilian bashing” ?

A variante brasileira do virus preocupa muito cientistas e políticos

O hashtag #VariantBresilien é talvez mais um exemplo da degradação da imagem do Brasil junto as opiniões públicas da América do Norte e da Europa ocidental. Empurrados pelo descontrole da pandemia, fakes ou verdadeiros, os rumores sobre as variantes “sul americanas” são motivos para discriminar brasileiros, bloquear ou suspender voos internacionais , ou simplesmente para  impedir a entrada de viajantes provenientes do Brasil. Em uma reportagem publicada no dia 18 de Abril, a Folha de São Paulo citou casos no Portugal, na Irlanda, na Holanda e na França, e lembrou o risco de xenofobia e de violências como foi o caso nos Estados Unidos com a comunidade chinesa.

A suspensão dos voos da Air France foi uma das decisões mais fortes

Na França, as medidas contre os viajantes provenientes da América do Sul foram endurecidas essa semana. Sem poder limitar as chegadas de vários países europeus – Suécia, Polônia ou Hungria- onde a pandemia tem índices muito mais altos que no Brasil ou no Chile, o governo impõe uma quarentena para todos os residentes de 4 países sul americanos, incluindo seus próprios cidadãos. As restrições contra o Brasil estão virando um assunto político, simpatias “latinas” virando suspeitas, viagens para América do Sul sendo julgadas escandalosas, a direita esquecendo a herança do de Gaulle e pedindo mais “firmeza”, a esquerda  confundindo proximidades políticas e relações com estados e povos.

As divergências sobre o futuro da Amazônia alimentam o “Brazilian bashing”

Se a situação sanitária e a preocupação com as variantes brasileiras do vírus são uma realidade, esse “Brazilian bashing” se inscreve infelizmente em uma tendência de vários anos. As mudanças na politica internacional do Brasil, suas evoluções sobre assuntos de sociedades, bem como o novo relacionamento do poder politico com a imprensa não foram sempre bem compreendidos pelas mídias que constroem a opinião mundial. E os crescentes mal-entendidos sobre a Amazônia, cuja realidade é parcialmente ou totalmente desconhecida pelos governos estrangeiros, pesam cada vez mais sobre a imagem do país, afetando a economia, as exportações, os investimentos e o turismo.

A volta dos brasileiros ajudará a imagem a dar a volta por cima

Mesmo com esse quadro negativo, os profissionais do turismo – especialmente aqueles que estão envolvidos nas relações com a França, devem acreditar que essa situação será superada, tendo várias razões para isso.

  • a pandemia é um fator importante da aceleração desse “Brazilian bashing”, mas as campanhas de vacinação bem sucedidas levarão ao final dessa crise, mesmo se pode demorar ainda vários meses.
  • a guerra verbal sobre a Amazônia vai ter que evoluir em uma cooperação respeitosa da soberania brasileira, assegurando os objetivos de luta contra as mudanças climáticas. Longe de ser um bloqueio ao desenvolvimento da região, um novo acordo internacional pode abrir oportunidades – inclusivo no turismo- e  ajudar a mudar a imagem do Brasil.
  • a relação especial entre os dois países tem raizes na história e na cultura, muito mais fortes que divergências pontuais. Auguste Comte e Santos Dumont sempre superaram o Conde d’Eu, o litígio do contestado ou a guerra da lagosta.
  • as mudanças politicas nas perspectivas de 2022, e a troca de ministro das relações exteriores, deveriam afastar a ideia que o Brasil vai aceitar de ser um pária através do mundo.
  • A França sempre foi um dos mais importantes destinos dos turistas brasileiros, e ser brasileiro sempre foi na França um motivo de atendimento especial (Como foi no Brasil  para os turistas franceses). Multiplicando os encontros e as relações pessoais, a retomada do turismo deve ser outro importante fator para acabar com esse triste “Brazilian bashing”.

Jean Philippe Pérol

Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue” do autor na revista profissional on line Mercado e Eventos

Air France, a esperança está na diferença

Ben Smith, o CEO na primeira linha para saida da crise

7,1 bilhões de Euros de prejuízo. Um numero que assusta mesmo no mundo do transporte aéreo atingindo pela crise do Covid, um choque sem precedente para Air France que, junto com sua coligada KLM, perdeu em 2020 59% do seu faturamento e 67% dos seus clientes. Mesmo com fortes reduções de despesas, e corte de 8.700 empregos,  o pesadelo do grupo franco-holandês pode ainda não ter chegada ao fim. O diretor financeiro do grupo avisou que o ano 2021 será complicado, que o primeiro trimestre é  difícil e que a retomada será lenta e progressiva a partir do segundo trimestre desse ano. Os reajustes de despesas continuarão com mais 6.000 cortes de empregos, os resultados só voltarão a ser positivos em 2023, e a crise  deveria ser completamente superada somente em 2024 …

Para seus 60 anos, a Air France ganhou um selo comemorativo

Mesmo se a queda da Pan American em 1991 ensinou que mesma as maiores companhias aéreas são mortais, é impossível imaginar que a “Compagnie Nationale Air France”  não consegue se sair por cima dessa crise. Fundada oficialmente em 1933 – mas tendo incorporado a Aeropostale do grupo Latecoere que tinha sido criada em 1917 -, ele atravessou com sucesso muitas crises econômicas, humanas, políticas e sociais. Para a França, foi durante muito tempo uma excepcional ferramenta de politica internacional e de apoio a industria nacional. A escolha dos seus dirigentes, de Pérol à Juniac, d’Attali à Spinetta ou de Blanc à Janaillac, foi sempre um privilégio da Presidência da República, e o apóio político e financeiro nunca faltou, seja depois da guerra, seja na primeira crise do petróleo em 1974, ou  mesmo quando, em 1994, a companhia precisou de  EUR 4 bilhões de hoje  para se reestruturar.

O Concorde fez história também no Rio de Janeiro

No Brasil, a Air France sempre foi uma companhia diferente. Pela história – gravada da ponta de Fernando de Noronha até as praias de Caravelas ou os campos de Pelotas -, pelo pioneirismo – do Concorde que pousou no Rio de Janeiro de 1976 até 1983, ou dos B747 em Manaus-, ou pelos eventos espetaculares – o Premio Molière nos teatros de Rio, São Paulo, Manaus, ou Belem. Air France devia também sua posição peculiar a importância das ligações entre o Brasil e a França – que foi até 2016 o primeiro destino de viagem dos brasileiros na Europa. Com alegrias, sucessos, e também terríveis tragédias, era percebida como a mais brasileira das companhias aéreas internacionais, e as pesquisas mostravam que nas cabeças e nos corações dos brasileiros, só tinha um concurrente: a VARIG.

A crise levou os velhos B747 bem como os revolucionários A380

A aventura da Air France vai mesmo continuar, o governo francês já injetou  EUR 7 bilhões desde o inicio da crise, e já sinalizou que ia fazer os investimentos necessários – mesmo se tivesse de resistir as vontades de rebaixamento da União Européia. Para todos aqueles que seguem a epopeia dessa grande companhia, a esperança é que continua sendo uma companhia aérea carregando uma visão diferente, não somente explorando aviões mas sendo sempre uma “compagnie nationale”. Uma companhia cujas rotas seguem e reforçam as ligações da França com os países amigos, cujas escolhas tecnológicas continuam pioneiras e seguras, cujo serviço seja a vitrina do art de vivre e da elegância a francesa, uma companhia falando francês, cuja presença nos quatro cantos do mundo, e mais especialmente no Brasil, seja enraizada na historia e na cultura comum.

Jean Philippe Pérol

 

Na grande crise de 1974, Gilbert Pérol da Air France e Antoine Veil da UTA desenhavam juntos as soluções para a retomada

Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue” do autor na revista profissional on line Mercado e Eventos

Giscard em Manaus, 8 horas para uma visão da Amazônia

 

O  casal presidencial recebido pelo governador Enoch Reis, na fila o Jean Philippe Pérol

Presidente da França de 1974 a 1981, Valery Giscard d’Estaing foi o primeiro dirigente francês a visitar a Amazônia. Numa viagem rápida de 4 dias, ele fez questão de passar oito horas em Manaus para uma visão relâmpago dessa região que já era, com a Transamazônica, a Zona Franca, e os grandes projetos desenvolvimentistas (“Desenvolver para não devolver”, “Integrar para não entregar”), nos focos da atualidade no Brasil e no mundo. Passando por cima do pouco entusiasmo dos seus anfitriões do Rio, São e Brasília, e seguindo os conselhos do seu amigo Michel Poniatowski que tinha visitado a cidade no ano anterior com o agente consular e diretor local da Air France, o Presidente chegou no aeroporto numa manhã de Outubro de 1978.

Nas redes dos amigos da Polícia Federal, a fauna da Amazônia

A preparação da sua viagem não tinha sido muito conforme ao protocolo tradicional. Fora o encontro com o então governador Enoch Reis e a visita da cidade,  toda organização tinha sido confiada ao jovem agente consular da França que tinha proposto um almoço com a pequena comunidade francesa no hotel Tropical, seguido de um passeio no lago Mamori, com três pontos fortes: pescaria, seringueiras e castanhais. O almoço foi descontraído, com todos os pesos pesados do governo que acompanhavam o presidente – Simone Veil, Alain Peyrefitte et Jean François Deniau-, conversando livremente. Cortês, mas sempre distante, Giscard só precisou de um rápido briefing do agente consular para fazer um brilhante discurso sobre as relações franco brasileiras e o exaltante futuro da Amazônia.

No seringal do Girão, o Giscard se impressionou com a história da borracha

Foi no Mamori que o Giscard teve suas maiores emoções. Os cenários foram preparados  com a ajuda de alguns empresários manauara – Fernando Duque levando o presidente-, da polícia federal, da aeronáutica e da equipe da Air France de Manaus – reforçada pelo Gilles Saint Exupéry. Tinham como destaques uma puxada de rede – onde tinham sido pendurados alguns minutos antes um tucunaré, um jacaré e uma tartaruga -, bem como a visita de um seringal onde o presidente ficou impressionado com a história da borracha e as terríveis condições de vida dos homens que escreveram essa epopéia. Na saída da mata, Giscard não esqueceu a elegância e pediu para o coronel que o acompanhava de lhe trocar os sapatos antes de entrar no helicóptero que o levou de volta para Manaus.

A volta de helicóptero, com um tucunaré presenteado pelo Saint Exupéry

A viagem de Giscard faz parte hoje da história de Manaus – o presidente francês foi um dos poucos líderes mundiais que afirmou na cidade a sua crença no desenvolvimento da Amazônia. Algumas perguntas ou fakenews cercaram essa viagem histórica. Não chegou de Concorde, mas foi embora no Jumbo da Air France que pousava nessa época duas vezes por semana na capital do Amazonas. A visita do Mamori não foi acompanhada pelo governador, a mais alta autoridade presente foi o Major Brigadeiro Protásio que emprestou helicópteros e hidravião para a operação. Enfim os filhos do Giscard não participaram da viagem, mas na primeira lista protocolar constava os nomes de três deles, inclusive do Henry que hoje lidera o Club Mediterranée. Se tivesse vindo, quem sabe se a visita relâmpago do Presidente francês teria impactada mais ainda o turismo na Amazônia?

Jean Philippe Pérol

Henri Giscard d’Estaing no Lake Paradise com Caroline Putnoki, Janick Daudet e Jean Philippe Pérol

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