Celular no avião, uma polémica que já era?

Receber ou fazer ligação durante o voo é quase sempre proibido

Mesmo com o Wi-fi a bordo se generalizando, o cenário de dezenas de celulares tocando  num avião lotado de gente falando alto ainda não aconteceu. Mas poderia muito bem acontecer daqui há um ou dois anos já que os avanços tecnológicos permitam a qualquer celular de receber ligações se o avião tiver os equipamentos necessários, e algumas companhias já autorizam as ligações em rotas especificas. Mas, na imensa maioria dos voos internacionais, as conversas telefónicas são proibidas por quatro tipos de razões distintas: os riscos técnicos, a oposição dos tripulantes, as dúvidas dos passageiros, e a legislação restritiva.

A longa história das ligações telefônicas a bordo

O possível impacto das ligações telefónicas sobre a segurança dos voos tem uma longa historia. Nos anos 90 era autorizadas desde um telefono fixo instalado perto dos galleys, nos anos 2000 foi um aparelho encaixado na sua frente onde era possível falar depois de passar um cartão de credito. Com a sofisticação crescente dos celulares, os temores de interferências com os equipamentos do cockpit levaram nos anos seguintes os especialistas a uma proibição total.  Hoje as pesquisas nunca comprovaram esses riscos, os fabricantes garantem o risco zero para os novos aparelhos, e a segurança eletrônica  não deveria mais ser um motivo de impedir as ligações.

A oposição dos tripulantes é extremamente firme. Eles acham que a liberação das chamadas telefônicas poderia levar ao caos nas cabinas, que brigas as vezes incontroláveis vão acontecer entre passageiros falando alto no telefone e outros querendo tranquilidade. Já gerenciando poltronas reclináveis, excessos de bebidas, luzes noturnas e choros de bebês, as aeromoças e os comissários não querem ser obrigados a interferir em novos conflitos de comportamento.  Alguns sindicatos profissionais levantaram também problemas de segurança pela falta de atenção dada as instruções dos tripulantes pelos passageiros grudados aos seus telefones.

Altos executivos são os mais favoraveis ao uso do celular no avião

Os viajantes e os profissionais do turismo estão divididos sobre essa liberação. Varias pesquisas mostraram que a maioria dos passageiros estão se opondo a um “liberou geral”. Eles temem que os toques das chamadas e as conversas a voz alta levam a uma cacofonia geral, e que discussões sobre níveis de som geram atritos e até brigas. Essas pesquisas mostraram também que menos de 5% dos viajantes acham interessantes poder utilizar os seus celulares durante os voos. Mas esses encontram-se principalmente entre os homens de negócios e os passageiros da classe executiva que as companhias aéreas vão, com certeza, escutar com muita atenção.

A proibição de uso dos celulares ainda é a regra geral

Mesmo se não é internacionalmente proibido de receber ou fazer ligações a bordo, essa proibição existe de fato ou de direito em muitos países. É o caso dos Estados Unidos onde existam não somente restrições da Federal Communications Agency sobre o uso das duas bandas mais utilizadas pelos celulares, mas também uma regra da  Federal Aviation Administration proibindo as conversas por celular nos voos comerciais. No Brasil a ANAC exige que os celulares estejam em modo avião durante o voo. Sem proibir as conversas via aplicativo, pede com bom senso que os tripulantes vigiam “formas incômodas ou inseguras de uso dos celulares como utilização dos alto-falantes ao invés de fones de ouvido, e as comunicações em voz alta”.

O celular nos trens já virou hábito de todos sem gerar conflito!

Os especialistas prevêem que as agencias reguladoras liberarão o uso de celulares nos aviões, deixando as companhias aéreas decidir tanto as possibilidades como as condições de uso. Para evitar os caos sonoros e os conflitos, uma das soluções será talvez de copiar o modelo escolhido por varias companhias de trem que abriram espaços específicos para os passageiros querendo fazer ligações em voz alta. E a longo prazo, é bom lembrar que os millennials e as novas gerações quase não falam mais  diretamente no celular mas deixam mensagens. O bom senso e os novos hábitos de consumo terão evitado uma guerra.

Cobrar pela sua bagagem, agora um negócio de US$ 67,4 bilhões!

Champagne para todos?

Champagne para todos?

Quem não gostou da última decisão da ANAC de autorizar, a partir do 14 de Março, a cobrança do despacho de bagagens,  vai ser talvez decepcionado ao saber que a cobrança de serviços anexos pelas companhias aéreas ainda cresceu em 2016, devendo chegar a US$ 67,4 bilhões. Na sua pesquisa anual junto às 67 maiores empresas de transporte aéreo internacional, a IdeaWorksCompany/Car Trawler mostrou que essas receitas, incluindo vendas a bordo e vendas ligadas a programas de milhas, deverão chegar a 17,81 US$ por passageiro, sejam 9,1% das receitas globais das companhias aéreas. Um crescimento de 13,8% em um ano.

As receitas anexas das companhias triplicaram desde 2010

As receitas de “serviços opcionais” representam mais de US$ 44 bilhões, dois terços do total. São os despachos ou excessos de bagagens, as bebidas e a comida a bordo, a marcação dos assentos ou os upgrades, as vendas de duty-free e, cada vez mais, o wi-fi que cada vez mais companhias estão oferecendo. As outras receitas são provenientes da venda dos programas de Frequent Flyers (FFP) e das comissões recebidas sobre as vendas de serviços terrestres como reservas de hotéis ou de carros.

Repartição das receitas nas companhias tradicionais fora dos EE-UU

O relatório da IdeaWorksCompany mostra que todas as 178 empresas existentes não estão aproveitando da mesma forma essas novas fontes de receitas, três grupos se destacando com mais de 10% do seu faturamento global em serviços anexos. São as companhias low cost que chegam a uma média de 11,8% com uma política de ofertas “à la carte”, muita agressiva e muito bem aproveitada por empresas como Anadolu Jet, Cebu Pacific Air, ou VivaAerobus. Em segundo lugar ficam as grandes companhias americanas como Delta, United ou Alaska, com 12,3% do seu faturamento proveniente principalmente dos pagamentos de bagagens e dos programas de Frequent flyers. Na liderança, destacam-se com 25,5% algumas empresas – Spirit Airlines, Ryanair, Eurowings ou Flydubai, que fizeram dessas receitas um objetivo estratégico.

Receitas por tipo de companhia aérea

Para as companhias tradicionais, as receitas de serviços anexos só representam uma média de 5,8% do faturamento global, mas com um crescimento excepcional em relação a 2015. Com pagamento de bagagens quase generalizado, vendas de assentos, cobrança de vantagens anexas, propostas de wi-fi, Aerolíneas Argentinas, Air New Zealand, LOT Polish Airlines, Royal Jordanian mas também Austrian, Lufthansa,  SWISS e até Emirates estão agora priorizando o crescimento dessas receitas.

Spirit Airlines, campeã das receitas opcionais

Spirit Airlines, campeã das receitas opcionais com 43% do faturamento

A conclusão mais interessante do relatório da IdeaWorksCompagny se refere à atitude do novo viajante. Enquanto ele tenta desesperadamente encontrar as tarifas mais baratas, ele aceita ao mesmo tempo de pagar quase US$ 20 para serviços opcionais claramente identificados para melhorar seu conforto. Essa nova tendência não vai somente enriquecer a sua “experiência” durante o voo, vai também ajudar as companhias aéreas a melhorar suas rentabilidades, satisfazer os seus acionistas, tranquilizar seus funcionários, e garantir o futuro do setor. Então, obrigado à ANAC por deixar a Gol, a Latam ou a Azul cobrar a sua mala?

Cobrança do despacho de malas agora liberalizada pela ANAC

Cobrança do despacho de malas agora liberalizada pela ANAC

Esse artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original de Tatiana Rokou  no Travel Daily News International