Em Djanet, a Argelia quer mostrar que o Saara tambem é cultura

O deserto do Tassili, paisagem de espiritualidade

O deserto, e mais ainda o Saara, é certamente uma das paisagens que mais fascina os viajantes. Conhecido desde a antiguidade pelos romanos, percorrido durante toda a Idade Média pelos exploradores e os missionários árabes e parcialmente integrado ao Reinado Marroquino em 1591, foi somente a partir do final do século XVIII que ele interessou os aventureiros e os científicos europeus. Saindo da Gâmbia, o escocês Mungo Park chegou em 197 até o Rio Niger, mas não conseguiu continuar. Foi o francês René Caillé, vindo da velha colônia de Saint Louis do Senegal, que entrou na cidade mítica e proibida de Tombuctu, para seguir atravessando o Saara até a costa marroquina.

Perto de Marrakech, a mais famosa placa de transito do Saara

René Caillé ficou decepcionado com a sua viagem: não tinha em Tombuctu os telhados de ouro e as ruas de paralelepípedos de pedras preciosas descritos nas legendas, mas a fama de cidade se espalhou pela Europa e o mito perdurou. Hoje o turismo no Sahara tem dois principais pontos de entrada: no Marrocos e na Tunísia. Perto de Marrakech, a cidade de Zagora se orgulha de dar aos turistas um primeiro cheiro de deserto, e quem visitou a famosa oasis se lembra de ter sonhado frente a famosa placa de trânsito: Tombuctu, 52 dias de camelo. No Sul da Tunisia, Tozeur reivindica também a condição de portão de entrada do deserto, um título sem dúvidas justificado pela beleza das suas paisagens, a sua cultura tamazigh, a imensidão salgada do lago Chott el Jerid e a imponência do seu palmeiral.

A reabertura dos voos deve beneficiar turistas e moradores

Dona da maior parte do Saara, abrigando alguns dos mais famosos pontos de interesse da região – de Ghardaia à Tamanrasset ou à Djanet-, a Argélia quer agora aproveitar do crescimento da procura dos viajantes para os grandes desertos. Deu um passo importante no mês retrasado não somente abrindo um voo direto de Paris para Djanet, mas ainda liberando os turistas deste voo da exigência do visto prévio se tiver serviços reservados com agências locais. Ainda longe de competir com seus vizinhos da África do Norte, ainda sem muitas opções de turismo balneário no seus 1200 km de litoral, o ministério argelino quer aproveitar o potencial e da notoriedade do seu imenso deserto.

As pinturas rupestres são uma grande atracão do Tassilí

A nova estratégia da Argélia é de fazer de Djanet, e do Parque Nacional Cultural do Tassili um dos motores da retomada turística do pais. O parque, além da beleza das suas paisagens de pedras e de areias coloridas, das suas oasis de intensa vegetação e da sua rica fauna,  é um verdadeiro museu a céu aberto, com milhares de pinturas e gravuras rupestres. Essas pinturas dão testemunho de 10.000 anos atrás, quando a região ainda tinha uma rica vegetação e os povos caçadores aproveitavam girafas, elefantes, antílopes, leões, búfalos e cavalos  antes das mudanças climáticas que transformaram o Saara no atual deserto.

O chá no deserto é sempre uma grande experiência

Os viajantes são também fascinados pela peculiar cultura dos moradores que pertencem a grande etnia  Tuareg. Na contrapé do islã rigorista, os homens tem a cara coberta com o “cheche”, um turbante de 8 metros de comprimento e as mulheres não têm véus, e andam de roupas coloridas. Falando a sua própria língua, da família do tamazigh, com uma escritura geométrica original ( o Tifinagh), eles guardam fortes tradições culturais nos vários países onde são espalhados. Os visitantes se encantam pela convivialidade do seu culinário, a emoção da sua cerimônia do chá, a força do seu artesanato, ou a surpreendente alegria das suas danças. Na nova corrida ao turismo de deserto onde muitos destinos estão agora competindo – do Marrocos a Arabia Saudita, da Tunisia ao Omã e aos Emirados-, a Argélia pode também chegar a uma posição de destaque.

Jean-Philippe Pérol

Os inseparáveis camelos vêm até cumprimentar os convidados

 

Além do Oiapoque, as tartarugas de couro atraiam científicos e turistas

Tartaruga de couro pondo na praia de Awala-Yalimapo

Além do Oiapoque, nas praias de Caiena, de Remire-Montjoly ou da reserva natural de Amana, sombras gigantes saiam das ondas do mar e subam na areia.  De abril até agosto,  as tartarugas de couro andam com dificuldades para procurar o melhor lugar para por seus ovos. Com suas nadadeiras traseiras, ela cava a areia até o buraco ter a profundidade certa. Começa então um esforço intenso, no ritmo de uma respiração forte, para expulsar e depois enterrar uma centena de ovos. Exausta, a tartaruga de mais de meia tonelada vai então fazer três vezes a volta do seu ninho antes de de arrastar até as águas do oceano.

Tortue Luth © Anaele Sacchettini

A tartaruga volta para a água depois de por

Parte francesa da Amazônia, a Guiana é considerada um dos mais importantes lares de três tartarugas marinhas muito emblemáticas mas muito ameaçadas: a tartaruga olivácea, a tartaruga verde (ou aruanã) e a tartaruga de couro. Também chamada de tartaruga luth, essa última é um gigante do mar, o maior reptil depois dos crocodilos, o macho podendo medir até dois metros e meio e pesar mais de 900 quilos. Capazes de percorrer milhares de quilômetros no mar para se alimentar de medusas e águas-vivas, elas tem pontos de desovas tanto no Pacifico (Australia, Malásia e Costa Rica) que no Atlantico (Flórida, Africa, Caribe e mesmo nas margens da Foz do Rio Doce no Espírito Santo).

A corrida para o mar depois da eclosão é outro momento emocionante

O litoral da Guiana Francesa é porem o lugar privilegiado onde as fêmeas voltam para fazer seus ninhos, com até 18.000 desovas em 2018, principalmente nos cinco quilômetros da praia de Awala-Yalimapo, perto da foz do Rio Maroni e da fronteira com o Surinam. Desde os anos setenta, a importância destes sítios levou os científicos a chamar a atenção sobre a necessidade de uma politica de preservação frente as fortes ameaças de extinção que pesam sobre as tartarugas marinhas da Guiana, seja pelo recuo do litoral, pela caça descontrolada, e pelas perturbações animais ou humanas durante os momentos cruciais da desova e da eclosão dos ovos. 

A desova das tartarugas de couro atrai agora centenas de turistas, com um impacto importante sobre a economia e os empregos da região. Frente ao riscos ecológicos, a Rede tartarugas marinhas da Guiana coordena  os quarenta principais atores da fileira trabalhando seja nos projetos científicos de conservação seja no acompanhamento dos turistas. Na reserva natural de Amana os guardas da reserva organizam visitas em grupos, ensinando os bons comportamentos para viver essa experiência excepcional sem perturbar os animais. Voluntários da associação Kwata organizam também durante a temporada animações e conferencias de sensibilização para os mais jovens.

                                                         

 

Turismo na Amazônia é mesmo para crianças?

Árvores gigantes, igapós, mistérios e perigos no imaginário amazônico

“- Vão viajar nesse feriado?

– Vamos sim, viagem de barco com a nossa filha!

– Que bom! E vão para onde?

– Vamos para Amazônia.

– Com criança??? Mas é um perigo, tantos insetos, bichos, calor… E de barco ainda! Nem pensar!”

Entrosamento, compreensão e diversidade ajudam o sucesso da expedição

Quantas vezes ouvimos esses comentários falando com amigos sobre as maravilhosas viagens que podem ser organizadas no Rio Negro ou no Tapajós! Comentários tão distantes de uma realidade acolhedora, vibrante e instrutiva quando se tratar de viagens bem preparadas com profissionais da região. E quantas crianças voltaram de lá com experiências de natureza e de vida inesquecíveis depois de aproveitar as praias e as águas, de passear nas matas, de ver pássaros, macacos ou jacarés e de ter emocionantes momentos de compartilhamentos com outras crianças brasileiras nas comunidades caboclas ou indígenas.

O Jacaré Açú pronto para zarpar do Mirante do Gavião

Para uma menina de 5 anos na hora de zarpar do Mirante do Gavião em Nova Airão, a instalação no barco Jacaré Açu ,traz os primeiros momentos de deslumbramento. Na cabine, com sua cama dupla, sua janela panorâmica, suas paredes de madeira bruta e seu kit de bem-vinda, a preocupação sanitária combina com a promoção do artesanato da região. Na sala de jantar, com uma grande cesta cheias de balas, de chocolates e de pirulitos. No salão de jogo um imenso sofá e um telão de televisão parecem esperar a criançada. No deck é possível correr  da popa para proa, ou de bombordo a estibordo para encontrar as mais bonitas vistas sobre a cidade, o Rio Negro ou as Anavilhanas.

O bicho pau fascina pela sua fragilidade

Na primeira parada está sendo construído o hotel Madadá e os quatro quilômetros da trilha das Cavernas são o primeiro teste. As crianças fazem questão de não serem carregadas, e seguem com atenção às instruções de segurança: não tocar em nada, não sair da trilha, não fazer barulho e sempre andar perto de um adulto. Cada uma das grutas é uma descoberta e os morcegos sobrevoando o grupo só assustam alguns adultos. Se a falta de concentração é difícil para eles na procura de macacos na copa das árvores, os  pequenos são muito interessados pelas formigas, caranguejeiras, borboletas, bicho-paú ou lagartas, mais fácil de observar durante todo o percurso.

A magia do contato com os animais

Subindo o Rio Jauaperí, a vida selvagem não falta. Botos tucuxis ou cor de rosa  são visto desde o deck, os passeios nos igapós são ocasiões de ver macacos-prego ou macacos-aranha, tucános, araras, papagaios e gaviões. À noite jacarés e bacuraus são momentos de emoção, bem como os gritos dos guaribas, dos sapos e das ariranhas. Com a tranquilidade trazida pela experiência dos guias de selva e a proximidade dos pais, a curiosidade das crianças supera muito o possível medo. Assim, durante a única noite num acampamento montado na selva do Rio Xixuaú, escuta-se uma criança deitada na rede perguntando para o pai: “Papai, vamos pegar a lanterna e ir na mata procurar uma onça?”….

As delicias de um banho seguro nas águas do Rio Negro

Quentes, tranquilas, com muito areia e poucos bichos, as águas negras são perfeitas para nadar e mergulhar. Se as praias brancas, virgens e infinitas só aparecem a partir de agosto tanto no Rio Negro que no Jauaperí, é possível tomar banho o ano inteiro com as devidas precauções, escolhendo no rio principal ou nos igarapés, um lugar livre de galhos submersos, de lodo, de capim ou da presença de animais. Pulando do deck ou agarrados numa boia, nadando ou remando numa canoa, os rios amazônicos trazem às crianças e às famílias muitos momentos de alegria.

O intercãmbio com as comunidades é uma experiência única

Para crianças e adultos as maiores emoções numa viagem para Amazonia são os encontros. Tendo viajado com a mãe no mundo inteiro, a filha de uma das maiores figuras do trade brasileiro fala ainda dez anos depois dos momentos passados se pintando de urucú com uma menina que a levou na sua casa de palafitas: “foi a melhor experiencia de viagem da minha vida”. Brincando com crianças nas comunidades visitadas – essa vez de Xiparinã-,  conhecendo as suas moradias e modo de viver, compartilhando jogos ou atividades, a pequena viajante levou para São Paulo não somente emoções e alegrias, mas também uma visão muito melhor da realidade e do futuro do Brasil. Sim, turismo na Amazônia é mesmo para crianças.

Jean-Philippe Pérol

Olhar juntos as águas do Rio Negro ou do Tapajos, sempre um grande momento para pais e filhos

Arábia Saudita nos grandes destinos turísticos mundiais de 2030?

Madain Saleh, a Petra do sul onde nasceu a escritura árabe

O acordo assinado o mês passado pelo Diretor Geral de Cruise Saudi, e o Presidente de MSC, vai dar um impulso espetacular aos cruzeiros nessa região, dando ao MSC Magnifica a possibilidade de zarpar de Jeddah, segundo porto do Oriente Médio, cidade histórica tombada pela UNESCO e ponto tradicional de entrada dos peregrinos para Meca. Um segundo navio, o MSC Virtuosa, operando no Golfo Pérsico, vai enriquecer os seus itinerários com escalas em Damman, porto dando acesso ao oasis de Al Ahsa, um outro sítio inscrito no patrimônio mundial da UNESCO. Para a temporada 2021/2022, as duas empresas esperam receber até 170.000 novos turistas.

Nos arredores do porto de Al Wajh, o Mar Vermelho ainda virgem de turistas

Os roteiros do MSC Magnifica terão como ponto alto a visita do oasis de Al Ula, também tombada pela UNESCO. A vinte quilômetros do vilarejo, os surpreendentes atrativos da região são os 138 túmulos de Maidin Saleh, segunda capital dos Nabateus, as vezes chamada de “Petra do sul”, antiga capital troglodita de um reinado citado na Bíblia, etapa da “rota do incenso” que ligava a Palestina com o Hejaz. O acesso é possível pelo porto de Al Wajh, famoso pelo seu centro historico e seu litoral, onde os turistas levados pela MSC poderão desembarcar para descobrir esse impressionante e ainda desconhecido acervo da humanidade.

O projeto de hotel de Jean Nouvel em Sharaan

Toda região de Al Ula é o centro de um grande projeto de parque natural, arqueológico e turístico. Com o apoio da França, a Arábia Saudita está investindo na renovação desse conjunto excepcional, incluindo infra-estruturas rodoviárias, ferroviárias  e hoteleiras. O projeto integrou uma extraordinário hotel troglodita desenhado pelo arquiteto francês Jean Nouvel. Totalmente integrado nas paisagens, com 40 quartos e três vilas esculpidas nos morros, varandas escondidas, e um imenso pátio central, deve abrir em 2024 e virar um dos símbolos do sucesso das ambições turísticas sauditas.

A Kaaba e o complexo hoteleiro de Meca com seu “Big Ben” gigante

A Arabia Saudita já é o vigésimo quinto destino turístico mundial, e recebeu em 2019 20 milhões de turistas internacionais – três vezes mais que o Brasil-, um pouco mais da metade sendo peregrinos indo para Meca.  Pouco conhecido fora do mundo muçulmano, esse turismo religioso foi também profundamente transformado nos últimos anos. Com grandes hotéis de luxo com vista direta sobre a Kaaba, o complexo de Abraj Al Bait revolucionou as infraestruturas locais e as receitas turísticas da cidade santa que chegam hoje a USD 4100 por pessoa. Segundo as autoridades locais, essa evolução vai seguir com o crescimento do número de peregrinos, projetado em 30 milhões para 2030.

O projeto Coral Bloom, luxo, meio ambiente e novas tendências

As ambições do turismo saudita abrangem também o turismo balneário, com a abertura de 50 resorts em 22 ilhas e 6 pontos do litoral, incluindo campos de golfe, marinas, e centros de lazer. O projeto mais espetacular, Coral Bloom, inclui 11 hotéis de alto luxo  concebido pelo estúdio Foster & Partners que está sendo desenhado para valorizar o extraordinário meio ambiente da ilha de Shurayrah. Sem prédios, construídos com materiais leves, com design incorporando as últimas tendencias do turismo pós covid, os estabelecimentos vão oferecer uma experiência inovadora de luxo responsável e  ecológico. Com aberturas programadas a partir de 2022, serão uma etapa chave para colocar a Arábia Saudita nos grandes destinos turísticos mundiais em 2030.

Jean-Philippe Pérol

Caribe Amazônico: ninguém vai acreditar!

No Rio Tapajós, praias de cair o queixo! Credito imagem Claudia Buss

Alguns anos atrás, querendo mudar a sua imagem carregada dos sofrimentos do famoso “Papillon” imortalizado pelo Steve McQueen, a Guiana Francesa lançou uma campanha cujo lema era “Ninguém vai acreditar”. Os visuais mostravam como era possível, na Amazônia francesa, andar de canoa numa correnteza, caminhar no meio duma imensidão verde, beijar um filhote de jacaré, seguir os passos de uma tartaruga na praia ou dormir olhando para um céu estrelado. Aquém do Oiapoque, seria mesmo possível de pegar o mesmo lema, adicionando ainda muitas experiências que só podem ser vividas nos rios, nas matas, nas praias, nas cidades ou nas comunidades da Amazônia brasileira.

÷ A Guiana francesa  já apostou nas inacreditáveis experiências amazônicas

Na Amazônia brasileira, algumas das mais inacreditáveis experiências podem ser vividas na região de Alter do Chão, nas águas do rio Tapajós e dos seus afluentes, ou nas florestas preservadas – parques naturais, reservas extrativistas, reservas indígenas, ou terras quilombolas –  que tocam as suas margens e seus arredores. A imensidão desses rios é sem dúvida a maior especificidade amazônica, oferecendo a oportunidade de chegar a pontos mais exclusivos, de desfrutar de paisagens mágicos e de chegar as comunidades mais distantes para intercambiar com os moradores sobre a sua cultura, o seu artesanato, a sua culinária ou simplesmente descobrir o modo de vida desse Brasil tão peculiar. 

Batismo no encontro das águas, o grupo em volta das madrinhas do Dolphin . Credito imagem Claudia Buss

Ninguém vai acreditar que nesses rios podem agora encontrar o conforto e até o luxo de dois barcos de turismo, mas é porém a oferta feita pela Amazon Rio Negro em parceria com a Turismo Consciente. O Belle Amazon, há dois anos navegando no Tapajós, ganhou agora uma irmão maior. No dia 2 de Novembro, no encontro das águas azuis do Tapajós e das águas barrentas do Amazonas, as madrinhas Andrea Delfino e Caroline Putnoki batizaram o todo reformado Amazon Dolphin com a tradicional explosão de uma garrafa de Chandon e os aplausos de participantes dentre dos quais o empresário Raimundo Delfino, amigo e compadre, o Laurent Suaudeau, chef e consultor gastronômico, e o Ruy Tone da Turismo Consciente. 

Dá para acreditar? Credito imagem Claudia Buss

O que ninguém mesmo vai acreditar sobre esse Caribe da Amazônia, são as praias exclusivas, de águas translúcidas, azuis ou alaranjadas, mas sempre de areia branca, onde o Amazon Dolphin pode agora levar os visitantes. Para relaxar depois de percorrer uma trilha ou de visitar uma comunidade, para desfrutar do sol e da água quente olhando os seus filhos brincar, ou para tomar um aperitivo servido junto com bolinhos de piracuí ou macaxeira frita, o comandante vai saber escolher o ponto certo para atracar e aproveitar o serviço atencioso e eficiente da equipe de bordo. E, acredite ou não, cada refeição é a ocasião de provar e harmonizar um prato da prestigiosa cozinha paraense, porque não um pato no tucupí com um Pinot noir de Provence?

Jean Philippe Pérol

 

Os 36 metros e as 12 cabines de charme e conforto do Amazon Dolphin Credito imagem Claudia Buss

Os ecologistas e o turismo: na França, um difícil encontro

Se a ecologia está trazendo uma nova dimensão ambiental e humana a todos as viagens, e se o ecoturismo é citado por 13% dos agentes brasileiros como uma das grandes tendencias pós Covid19, os ecologistas dão as vezes a impressão de ter dificuldades a entender a importância social e econômica do turismo. A ministra da transição ecológica da França, que já proibiu a calefação nos terraços dos bistrôs parisienses, está agora preocupando os profissionais com vários projetos que podem prejudicar o setor. O primeiro seria a proibição dos voos domésticos de curto alcance entre cidades interligadas por trens em menos de duas horas e trinta minutos.

Pompili quer acabar com as publicidades julgadas por ela ofensivas ao meio ambiente

Esse projeto dos ecologistas acabaria com os voos de Paris para Nantes, Lyon ou Bordeaux. Para apaziguar as companhias aéreas, que mostrar os perigos dessa medida sobre o feed dos seus voos internacionais, seriam poupados alguns voos domésticos de conexão bem como os voos inter-regionais exigindo conexões . Mas vem agora um segundo projeto,  a proibição da publicidade de produtos ou serviços com impactos julgados negativos sobre o meio ambiente. Na black-list da ministra Barbara Pompili  constariam assim produtos alimentares considerados pouco saudáveis, ou “cúmplices” do desmatamento em Borneo ou na Amazônia, bem como viagens de avião ou pacotes turísticos responsáveis de emissão de CO2.

Carros, fast foods, roupas, e pasta de avelã seriam incluídos na black list da publicidade

Juntando os protestos das agencias de publicidade, das companhias aéreas e das operadoras, a proibição de cartazes ou de anúncios para  viagens de longa alcance chocou mais ainda os profissionais e os políticos das regiões francesas de ultramar. Com mais de 70% dos seus visitantes vindo da França continental, a Martinica, a Guadalupe, Saint Martin, a Reunião ou as Ilhas de Tahiti teriam que enfrentar mais uma insuportável ameaça para suas economias turísticas já fragilizadas pela crise do Covid19.  Sem se preocupar com o impacto econômica dessas medidas, o Ministério, que validou a lista com um “Comitê Cidadão” nomeado por ele, responde que a redução do consumo de energias fósseis é acima de considerações econômicas locais. 

O turismo autêntico e sustentável nas Ilhas de Tahiti

O tamanho do prejuízo potencial pode porém freiar o projeto do governo. As agências de publicidade estão avaliado as perdas em mais de um bilhão de euros somente para os canais de televisão. As empresas estigmatizadas, Nutella, McDonald, Renault, Peugeot, Air France, e todo o setor da moda, representam dezenas de milhares de empregos que serão ameaçados se as medidas anunciadas foram confirmadas. A luta dos profissionais do turismo das regiões do ultramar francês deve assim contar com apoios valiosos para acabar com os preconceitos dos radicais contre o seu setor, bem como continuar a construir um turismo sustentável e assumindo seu papel de motor do desenvolvimento econômico e humano.

França: na retomada do turismo, o sucesso de destinos inesperados

Com 132 metros de altura, o Viaduto das Fadas, ponte mais alta da U.E.

A crise, uma oportunidade para os destinos turísticos investir na sustentabilidade?

A sustentabilidade, futuro do turismo pos coronavirus?

Nas novas tendências esperadas para a retomada do turismo, a sustentabilidade e a procura de produtos éticos são destaques tanto no Brasil como no mundo inteiro. Segundo muitas grandes mídias internacionais, a pandemia e o confinamento podem ser oportunidades para os destinos turísticos que entenderam a necessidades de mudanças profundas no setor, beneficiando o meio ambiente, os moradores e os turistas. Assim, aproveitar esses tempos de underturismo para investir em desenvolvimento sustentável pode levar, para o World Economic Forum (WEF), a uma vantagem competitiva decisiva em relação a concorrência para convencer tanto os viajantes que os investidores. 

Petra Stušek da Slovénia recebendo o prêmio ITB do turismo sustentável

Para definir e colocar em prática uma nova estratégia de turismo sustentável, os destinos podem usar exclusivamente seus próprios recursos humanos, oucontratar uma certificadora – uma solução mais cara porém mais fácil e com mais credibilidade, especialmente se escolher uma empresa referenciada pelo Global Sustainable Tourism Council , respondendo assim a critérios internacionais. Em ambos os casos, o destino deverá dispor de uma equipe qualificada cujo primeiro objetivo será de fazer um benchmark das melhores práticas dos seus concorrentes, bem como uma avaliação completa das experiências já realizadas pelos profissionais da sua região mobilizados no projeto.

Ilhas Maurício se posiciona agora como destino sustentável

A chave do sucesso de uma política de turismo sustentável fica no equilíbrio entre a vida das comunidades, o desenvolvimento econômico, o respeito dos acervos culturais e a preservação do meio ambiente. Todos os atores devem ser solicitados e apoiados durante todo o processo, e as suas iniciativas devem ser integradas, seguidas e valorizadas no plano global. A conscientização da importância de cada um ajuda também a solidariedade entre os profissionais do setor. No Oceano Índico, nas Ilhas Maurício, uma politica de capacitação especifica para hotéis, restaurantes, agências, e táxis levou ao sucesso da estratégia de todo o destino.

Source : Azores DMO

Com total transparência, um destino sustentável deve também escolher indicadores para medir os impactos sociais, econômicos, culturais ou ambientais das ações. Esses indicadores são geralmente propostas pelas certificadoras, mas exemplos de sucessos merecem ser seguidos. Assim nos Açores, que ganharam a certificação Earthcheck em 2019, foram escolhidos o progresso dos empregos nos hotéis e restaurantes, o número de famílias beneficiadas com o crescimento econômico, a redução dos empregos precários, as economias de água, a redução das emissões de CO2 e a ampliação da coleta seletiva do lixo.

Source : Thompson Okanagan Tourism Association

A sustentabilidade vira um argumento chave da promoção de um destino, a condição de focar todos os públicos em função da especificidade de cada um. Os moradores devem ser os primeiros a ser convencidos virando assim não somente consumidores mas também embaixadores do local. Os profissionais podem ser integrados nas campanhas, um processo muito mobilizador que foi muito bem aproveitado pelo Açores. Para os viajantes potenciais, o plano de comunicação deve promover as boas práticas e o respeito do meio ambiente. Foi a estratégia da Islândia com a Iceland Academy, incluindo um juramento que outros destinos como a Nova Zelândia, Palau ou a região canadense de Thompson Okanagan, na Colúmbia Britânica, já estão propondo a seus visitantes.

Este artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original de Fanny Beaulieu Cormier na revista profissional on-line Reseau de veille en tourisme, Chaire de tourisme Transat  

Nas águas do Tapajós, ecoturismo e comunidades

Na Amazônia brasileira, um necessário consenso pelo turismo!

A natureza intocada, riqueza turística da Amazônia

O desenvolvimento sustentável da Amazônia brasileira parece um objetivo tão evidente que é difícil imaginar que todos os  responsáveis politicos, os moradores, as ONG bem como os atores econômicos e sociais da região não cheguem a um consenso geral para atingi-lo. Esse consenso é mais evidente ainda – e mais necessário- quando se trata do turismo, atividade trans-setorial que só pode se desenvolver e prosperar com a implicação e os esforços de todos. Além de algumas ONG -especialmente estrangeiras- que esquecem que a Amazônia brasileira é do Brasil, de alguns ambientalistas que não valorizam o desenvolvimento econômico ou de alguns grileiros que desprezam a sustentabilidade, o turismo deveria conseguir criar um consenso geral por ser uma atividade econômica e social que pode justamente ajudar a desenvolver a região, reforçando a integração nacional e preservando a sustentabilidade.

Encontros com comunidades são momentos fortes  para os visitantes

Os recentes acontecimentos em Alter do Chão, com a surpreendente prisão (e depois a soltura) de quatro ambientalistas acusados de tocar fogo na mata para incentivar compaixão – e remessas de dinheiro- da opinião pública nacional e internacional, e os esquisitos bate bocas entre o presidente e o Leonardo DiCaprio mostram que ainda há muito caminho para percorrer. Se o alvo parece ser a sustentabilidade, o turismo é diretamente ameaçado por dois motivos. O primeiro é que os turistas que procuram a Amazônia brasileira têm forte motivações ecológicas. Além da extraordinária história da região, eles querem ver e viver os ecossistemas tão peculiares, os papéis na luta contra os efeitos de gás estufa, ou as ligações das comunidades locais com a natureza. Durante as suas estadias na região, mostram na grande maioria dos casos atitudes responsáveis, de respeito a natureza, de preservação  dos animais e de apoio aos moradores.

Lodges, pousadas ou hotéis criam empregos e empurram as economias locais

A falta de consenso afetaria o turismo também pelo fato de que os ambientalistas são atores profundamente envolvidos nesse turismo sustentável. Em Manaus, Novo Airão, Alter do Chão, Macapá ou Soure, hotéis, pousadas ou lodges foram construídos e continuam a ser explorados por pessoas convencidas da urgência da defesa do meio ambiente e do apoio ao desenvolvimento das comunidades. Muitas operadoras ou agências de receptivo trabalhando na região têm ligações estreitas com ONGs ou associações comunitárias, e a maioria oferece para os seus clientes a possibilidade de ajudar fundações locais ou de participar de projetos humanitários. E em alguns casos esses projetos se tornam até a principal motivação da viagem tanto de turistas brasileiros quanto de visitantes internacionais.

Na Fundação Malaquias, o sucesso das sinergias entre edução, turismo e ambientalismo

Mas o turismo sustentável precisa com a mesma urgência do apoio das autoridades em todos os níveis. Na Amazônia, como em todos os grandes destinos turísticos, os atores privados ou públicos do setor precisam de uma forte implicação das autoridades para definir a estratégia, orientar os investimentos, assegurar as normas de qualidade, e organizar a capacitação profissional. Numa região onde 86,2% do espaço é protegido como parques, reservas indígenas ou extrativistas, áreas preservadas ou devolutas, o suporte dos responsáveis administrativos e políticos federais, estaduais e municipais é fundamental para o sucesso do turismo. Os conflitos que ainda aparecem são as vezes lamentáveis, ofendem a natureza, os moradores e a sociedade, mas traduzem as dúvidas ou as preocupações de parte da população. O turismo pode e deve ser o primeiro setor onde se encontra um consenso de todos para continuar no caminho do desenvolvimento sustentável  que a Amazônia precisa.

Jean-Philippe Pérol

Com 12,8% do espaço disponível, o consenso para o desenvolvimento é imprescíndivel

 

O Belle Amazon, com Turismo Consciente na comunidade de Urucurea

Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue” do autor na revista profissional on line Mercado e Eventos

As operadoras acreditam cada vez mais nas responsabilidades ambientais e sociais

Ruy Tone, da Katerre expedições, com as crianças da Fundação Malaquias

Segundo uma pesquisa da Booking.com junto a 12.134 viajantes dos cinco continentes, 87% confirmam seu desejo de viajar agora de forma mais sustentável, e 39 % declararam que já viajam com atitudes ecoresponsáveis, como reduzir suas pegadas ambientais ou viver uma experiência com os moradores do local. Para ajudar as operadoras a antecipar a evolução destas exigências dos consumidores, a organização Global Sustainable Tourism Council (GSTC) oferece conselhos e critérios a respeitar para os profissionais do turismo que querem evoluir para a sustentabilidade, tendo regras especificas para hotéis e para operadoras. Para estas, o GSTC lembra que a chave do sucesso é a rigorosa planificação e a cobertura, com boas prÁticas, das questões ambientais, sociais, culturais, econômicas, de qualidade, de direitos humanos e de segurança.

A australiana Intrepid orgulhosa de seis ano de zero carbone

Cada vez mais operadoras tentam reduzir o impacto sobre o meio ambiente dos roteiros que  estão desenhando. Uma pioneira foi a australiana Intrepid Travel, uma empresa “carbono neutra” desde 2010, que compensa o CO2 das viagens que vende com plantação de árvores e cultura de algas marinhas. Agora com um projeto de permacultura, que congrega o saber científico com o popular de olho na continuidade do ser humano como espécie na Terra, a empresa já recebeu a elevadíssima certificação  B Corps  e quer ser em 2020 a primeira agência a ter um balanço carbono negativo a nível mundial. Outras pioneiras estão nesse caminho, por exemplo a Natural Habitat Adventures (NHA) no Colorado, que alega ser “carbo neutra” desde 2007. A francesa Kuoni propõe aos clientes de pagar uma taxa de carbono. Esta ideia virou obrigação em todos os pacotes vendidos pela canadense Karavaniers que, além disso, doa 1% dos seus lucros a associações ambientais.

A Lifestraw, arma dos viajantes contra a poluição dos plásticos

Muitas operadoras insistam também com os receptivos locais para que as boas práticas sejam respeitadas pelos viajantes. A gestão responsável dos dejetos é lembrada pela agência canadense Terres d’aventure, que envolveu nesta experiencia não somente seus clientes mas seus colaboradores em Quebec e nos destinos onde opera. O cuidado com a água em garrafas de plástico descartáveis, substituídas por cantis, é uma outra boa pratica cada vez mais popular. Algumas operadoras fornecem aos turistas garrafas reaproveitáveis, e pedem aos receptivos de instalar máquinas de purificação de agua ou, se não tiver, de fornecer canudos com filtros de carbone das marcas Grayl ou LifeStraw .Estas são práticas já adotadas pela Nomad Tanzania, na Tanzania, pela Pugdundee Safaris, na Índia, na Cottar’s Safaris, no Quênia, ou na Galapagos Safari Camp, no Equador.

No Nepal, Sasane Sisterhood escolha seus guias nas mulheres das comunidades

Os cuidados com as responsabilidades sociais são cada vez mais fortes. No Quênia, a associação Kilimanjaro Porters Assistance Project incentiva as operadoras a respeitar vários critérios éticos, ajudando a melhorar as condições de trabalho dos guias, dos carregadoras e dos cozinheiros locais bem como das suas comunidades. No Nepal, a agência  Sasane Sisterhood Trekking and Travel  contrata mulheres vítimas do tráfico humano como guias, e desenha os itinerários para privilegiar regiões desfavorecidas. No Brasil a Katerre, empresa do Grupo Ruy Tone que integra também o Mirante do Gavião, o restaurante Caxirí, o barco Belle Amazon e a operadora Turismo Consciente, contribua em Nova Airão para Fundação Almerinda Malaquias e seu Centro de Educação e Formação Profissional focado no artesanato sustentável.

Source : YouTube, Pugdundee Safaris

Assumir suas responsabilidades ambientais e sociais necessita também uma comunicação bem feita com seus funcionários, seus parceiros e seus clientes. 40% dos viajantes interrogados pela Booking.com confirmaram que uma boa visibilidade das acoes ecoresponsáveis fomentariam a escolher uma viagem. Mas é necessário que os argumentos respeitam a transparência, a a humildade e a autenticidade que   evitam a impressão  de “greenwashing” – a falsidade ecológica que ameaça os projetos sem consistência. A associação dos parceiros e dos funcionários a uma estratégia de transição responsável pode ser a chave do sucesso. Assim é na agência indiana Pugdundee Safaris, onde o orgulho da equipe pelo impacto positivo da sua atividade sobre a fauna, a flora e a vida das suas comunidades ajudou a construir experiências únicas e autênticas para os clientes.

Esse artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original de Fanny Beaulieu Cormier na revista profissional on-line Reseau de veille en tourisme, Chaire de tourisme Transat 

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