Nas tendências da era pós Covid, a Escócia aposta numa retomada sustentável

A retomada do turismo não se percebe somente nos pedidos e nas reservas que estão se acelerando nas agências e nas operadoras, mas também nas campanhas de promoção que os destinos mais dinâmicos já estão desenvolvendo nos seus mercados emissores. Muitas mensagens divulgadas no inicio da crise eram de cautela – “Nos vemos logo” do México, “A España espera”, “Stay home” da Eslovénia, “Fica em casa” do Equador, “É tempo de parar” do Portugal -. Outros destinos apostavam na esperança ou no sonho – o Peru com “Saúde, sonho e depois viagem”, ou a Suíça com “Sonhe agora e viagem mais tarde”-.

Agora estão começando as campanhas da era pós Covid, com o objetivo direto de incentivar as viagens e de  apoiar os profissionais. É hora de valorizar as novas tendências, de ir direto ao essencial – a França fala assim de #Whatreallymatters”, “O que importa mesmo”. Para os marqueteiros e os comunicantes, é preciso sensibilizar o viajante com a nova normalidade sanitária e ecológica, e ao mesmo tempo comunicar para ele a certeza que essa nova normalidade não vai lhe prejudicar, e vai deixar o turismo trazer alegria, prazer, bem estar e convivialidade social.

Uma das campanhas mais marcantes foi agora lançada pela Visit Scotland para revigorar o seu turismo, antes da crise um setor de 11,5 bilhões de libras de receitas e cerca de 9% dos empregos escoceses, hoje completamente arrasado. “Now is your time” (“Agora é seu momento “) destaca o turismo responsável, com novos lugares para explorar e atrações já plebiscitadas, e mais ainda com novas atitudes para aceitar. Focando no mercado britânico, prevista para toda temporada, a campanha vai ser declinada para cinco tipos de atividades, desde o turismo de proximidade até os “short breaks”, as reuniões de familia, o turismo de aventuras e o bem estar.

Para que a retomada seja conforme a seus objetivos de segurança e sustentabilidade, Visit Scotland publicou três videos incentivando os turistas a viajar de forma responsável. Varias informações e dicas são também disponíveis no site Web  para ajudar os visitantes a proteger os ecosistemas e a valorizar o patrimônio natural e humano. Um foco especial é feito para o camping – de motorhome ou de barracas-, com recomendações para fazer suas reservas, organizar o seu itinerário, respeitar a fauna e a flora, e aproveitar os contatos com os moradores e as comunidades locais respeitando o Scottish Outdoor Access Code.

Valorizando as boas práticas e os novos protocolos, a campanha “Now is your time” corresponde perfeitamente a nova normalidade que chegou para ficar tanto para os viajantes que para os profissionais. O turismo vai ter que se adaptar a novas práticas sociais, novos comportamentos, mais transparência, mais proteção e mais responsabilidade. Na hora de um turismo mais intenso e mais seletivo, a Visit Scotland  quer agora assegurar a visibilidade e a notoriedade da Escócia comunicando sobre essas novas tendências. “Now is Scotland time?”

Este artigo adaptado de um artigo original de Fanny Beaulieu Cormier na revista profissional on-line Reseau de veille en tourisme, Chaire de tourisme Transat  

Homens e mulheres no coração do turismo pós crise …

Hoje não se vende as qualidades do hotel, se fala do hoteleiro @latoubana

Aceleradora de tendências, a crise do Covid obriga todos os profissionais a repensar suas ofertas, seus públicos alvo, bem como suas estratégias de marketing para responder às novas procuras dos viajantes que vão compor a retomada. Já anunciado há alguns anos, o foco no lado humano do turismo, dos consumidores até os funcionários e os moradores, o “marketing humanizado” está tomando uma dimensão fundamental. Segundo o marqueteiro Olivier Coullerez, presidente e fundador da agência Espresso Communications, «hoje a ideia não deve ser de vender as qualidades de um hotel, mas de falar do hoteleiro  ».

Para mostrar a resiliência do turismo, e a força do seus atores, a  GLP Films  realizou vários clipes mostrando homens e mulheres que tiveram papéis de destaque no desenvolvimento do seu destino. Com o hashtag  #TourismStrong , são assim popularizadas “success stories” de atores locais na Uganda, no Peru, na Costa Rica, no Brasil ou em Nova Iorque. Além da história de cada profissional envolvido, uma atenção particular é dada aos esforços que foram feitos para promover os “savoir-faire” regionais, através da criação de plataformas especializadas. No estado australiano do New South Wales por exemplo, a organização Culture Maps Central NSW promove as empresas locais de arte e cultura com um mapa interativo valorizando as ofertas.

Helsinki procurando turistas combinando com seus valores

Pensando na retomada, muitos destinos estão trabalhando em definir melhor os seus visitantes internacionais, destacando aqueles que se identificam com os valores da região ou das experiências propostas. Na Finlândia, Laura Aalto, diretora do turismo de Helsinki, lembra que a estratégia de marketing da cidade é construída em torno de visitantes fiéis que se identificam com seus valores: confiança, inovação, abertura de espírito, e sustentabilidade. Os visitantes devem também integrar a comunicação. Visit Florida desenvolveu uma parceria com Outbound Collective, uma operadora especializada em atividades esportivas. Para atrair novos clientes, 12 especialistas vindos de minorias hoje pouco representadas estão apresentando nas mídias sociais experiências personalizadas.

As novas oportunidades do teletrabalho

O turismo pós Covid vai também levar a uma gestão mais humana dos fluxos, espalhar os viajantes em regiões hoje menos visitadas, incentivar as visitas durante a baixa estação, e parar de promover os lugares e as datas que provocaram tensões com os moradores. Com a explosão do teletrabalho, a crise abriu novas oportunidades de longas estadias que alguns destinos, como  Barbados, a  Estónia  ou o Massif de Charlevoix, no Québec , e algumas plataformas ,como Booking.com, souberam aproveitar. O turismo de amanhã já está se definindo, sempre amarrado em experiências humanas, interativas, baseado no respeito de valores sociais sustentáveis e  autênticas que devem integrar não somente a oferta de produtos e serviços mas também a própria promoção.

 

Este artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original de Fanny Beaulieu Cormier na revista profissional on-line Reseau de veille en tourisme, Chaire de tourisme Transat  

A crise, uma oportunidade para os destinos turísticos investir na sustentabilidade?

A sustentabilidade, futuro do turismo pos coronavirus?

Nas novas tendências esperadas para a retomada do turismo, a sustentabilidade e a procura de produtos éticos são destaques tanto no Brasil como no mundo inteiro. Segundo muitas grandes mídias internacionais, a pandemia e o confinamento podem ser oportunidades para os destinos turísticos que entenderam a necessidades de mudanças profundas no setor, beneficiando o meio ambiente, os moradores e os turistas. Assim, aproveitar esses tempos de underturismo para investir em desenvolvimento sustentável pode levar, para o World Economic Forum (WEF), a uma vantagem competitiva decisiva em relação a concorrência para convencer tanto os viajantes que os investidores. 

Petra Stušek da Slovénia recebendo o prêmio ITB do turismo sustentável

Para definir e colocar em prática uma nova estratégia de turismo sustentável, os destinos podem usar exclusivamente seus próprios recursos humanos, oucontratar uma certificadora – uma solução mais cara porém mais fácil e com mais credibilidade, especialmente se escolher uma empresa referenciada pelo Global Sustainable Tourism Council , respondendo assim a critérios internacionais. Em ambos os casos, o destino deverá dispor de uma equipe qualificada cujo primeiro objetivo será de fazer um benchmark das melhores práticas dos seus concorrentes, bem como uma avaliação completa das experiências já realizadas pelos profissionais da sua região mobilizados no projeto.

Ilhas Maurício se posiciona agora como destino sustentável

A chave do sucesso de uma política de turismo sustentável fica no equilíbrio entre a vida das comunidades, o desenvolvimento econômico, o respeito dos acervos culturais e a preservação do meio ambiente. Todos os atores devem ser solicitados e apoiados durante todo o processo, e as suas iniciativas devem ser integradas, seguidas e valorizadas no plano global. A conscientização da importância de cada um ajuda também a solidariedade entre os profissionais do setor. No Oceano Índico, nas Ilhas Maurício, uma politica de capacitação especifica para hotéis, restaurantes, agências, e táxis levou ao sucesso da estratégia de todo o destino.

Source : Azores DMO

Com total transparência, um destino sustentável deve também escolher indicadores para medir os impactos sociais, econômicos, culturais ou ambientais das ações. Esses indicadores são geralmente propostas pelas certificadoras, mas exemplos de sucessos merecem ser seguidos. Assim nos Açores, que ganharam a certificação Earthcheck em 2019, foram escolhidos o progresso dos empregos nos hotéis e restaurantes, o número de famílias beneficiadas com o crescimento econômico, a redução dos empregos precários, as economias de água, a redução das emissões de CO2 e a ampliação da coleta seletiva do lixo.

Source : Thompson Okanagan Tourism Association

A sustentabilidade vira um argumento chave da promoção de um destino, a condição de focar todos os públicos em função da especificidade de cada um. Os moradores devem ser os primeiros a ser convencidos virando assim não somente consumidores mas também embaixadores do local. Os profissionais podem ser integrados nas campanhas, um processo muito mobilizador que foi muito bem aproveitado pelo Açores. Para os viajantes potenciais, o plano de comunicação deve promover as boas práticas e o respeito do meio ambiente. Foi a estratégia da Islândia com a Iceland Academy, incluindo um juramento que outros destinos como a Nova Zelândia, Palau ou a região canadense de Thompson Okanagan, na Colúmbia Britânica, já estão propondo a seus visitantes.

Este artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original de Fanny Beaulieu Cormier na revista profissional on-line Reseau de veille en tourisme, Chaire de tourisme Transat  

Nas águas do Tapajós, ecoturismo e comunidades

Os destinos rivalizam para incentivar a sonhar hoje as viagens de amanhã

Em tempo de confinamento, os destinos mostram muita criatividade para continuar presentes junto aos seus potenciais visitantes, combinando responsabilidade – ficar em casa é um imperativo de saude pública- e mantimento do sonho de viajar. São aulas de cozinha, receitas de mixologia, palestras culturais, visitas de museus, passeios, atrações e até carrosséis ofertos a imaginação. Não é hora de vender produtos ou serviços, mas de cultivar a esperança e o desejo de recomeçar a viajar.  Os escritórios de turismo escolheram varias estratégias de comunicação. Com destaque aos sempre surpreendentes países do Norte (acima o exemplo das Ilhas Feroe), todos esses profissionais mostram como, nesse momento de crise, o marketing de destino, inspiracional por natureza, se transformou em marketing da esperança.

Com as mídias sociais ainda mais populares desde o inicio do confinamento, vários destinos estão usando-los como canais de comunicação privilegiados e as vezes exclusivos. O Turismo Portugal mudou seu lema #CantSkipPortugal para #CantSkipHope e lançou um vídeo  aconselhando de parar já que os atrativos do país poderão ser visitados depois.  Visit Norway marcou seus fotos e videos com #Dreamnowvisitlater. Turismo Montreal pede aos viajantes de não sair de casa e de vir mais tarde com  #VisitUsLater e #APlusTard. Alguns marqueteiros são mais diretos, assim Visit Estonia que inventou #staythefuckhome, ou VisitBrighton que mudou seu nome para DoNotVisitBrighton.

A Primeira Ministra da Finlândia liderando uma estratégia inovadora

Os influenciadores têm em alguns destinos um lugar de destaques na comunicação de crise. É o caso da Finlândia, cuja jovem Primeira Ministra tinha pedido para a Empresa nacional de Abastecimento emergencial , antes mesmo que se fala da pandemia, a contratação de uma agência especializada em mídias sociais e influenciadores, a  PING Helsinki para ajudar a sua comunicação. 1500 “key workers” – como são chamados esses comunicantes-, são assim mobilizados ao lado das mídias tradicionais para repassar mensagens oficiais ou personalizados para públicos específicos, nacional ou internacional. O Quebec apostou também nos influenciadores para incentivar as pessoas a ficar em casa, assim a blogueira Lydiane autour du monde  que mostra agora fotos de confinamento ou de viagens passadas.

As visitas virtuais ganharam um novo impulso com o confinamento. O Dinamarca, a Noruega e o Japão  apresentam vários passeios e excursões on-line, e Malta apresenta videos com caminhadas nas ruas da cidade velha.  Na França, as cidades de LyonBordeaux mostram varias atividades acessíveis sem sair de casa.  Discover Puerto Rico   apostou nas experiencias on line com cursos de salsa, receitas de coquetéis com um mixologista e aulas de cozinha. Travel Saint Lucia colocou Instagram videos de 7 minutos incentivando a fazer aulas de yoga, a aprender a cozinhar pratos típicos ou a seguir um guia. O Chile lançou o aplicativo Chile 360º, com vídeos e imagens de paisagens chilenas, incluindo até óculos opcionais. Os maiores esforços são talvez feitos por Visit Orlando que propõe de forma virtual a quase totalidade das suas atrações.

Este artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original de Fanny Beaulieu Cormier na revista profissional on-line Reseau de veille en tourisme, Chaire de tourisme Transat 

No Brasil, a campanha  “Não Cancele, Remarque”

As operadoras acreditam cada vez mais nas responsabilidades ambientais e sociais

Ruy Tone, da Katerre expedições, com as crianças da Fundação Malaquias

Segundo uma pesquisa da Booking.com junto a 12.134 viajantes dos cinco continentes, 87% confirmam seu desejo de viajar agora de forma mais sustentável, e 39 % declararam que já viajam com atitudes ecoresponsáveis, como reduzir suas pegadas ambientais ou viver uma experiência com os moradores do local. Para ajudar as operadoras a antecipar a evolução destas exigências dos consumidores, a organização Global Sustainable Tourism Council (GSTC) oferece conselhos e critérios a respeitar para os profissionais do turismo que querem evoluir para a sustentabilidade, tendo regras especificas para hotéis e para operadoras. Para estas, o GSTC lembra que a chave do sucesso é a rigorosa planificação e a cobertura, com boas prÁticas, das questões ambientais, sociais, culturais, econômicas, de qualidade, de direitos humanos e de segurança.

A australiana Intrepid orgulhosa de seis ano de zero carbone

Cada vez mais operadoras tentam reduzir o impacto sobre o meio ambiente dos roteiros que  estão desenhando. Uma pioneira foi a australiana Intrepid Travel, uma empresa “carbono neutra” desde 2010, que compensa o CO2 das viagens que vende com plantação de árvores e cultura de algas marinhas. Agora com um projeto de permacultura, que congrega o saber científico com o popular de olho na continuidade do ser humano como espécie na Terra, a empresa já recebeu a elevadíssima certificação  B Corps  e quer ser em 2020 a primeira agência a ter um balanço carbono negativo a nível mundial. Outras pioneiras estão nesse caminho, por exemplo a Natural Habitat Adventures (NHA) no Colorado, que alega ser “carbo neutra” desde 2007. A francesa Kuoni propõe aos clientes de pagar uma taxa de carbono. Esta ideia virou obrigação em todos os pacotes vendidos pela canadense Karavaniers que, além disso, doa 1% dos seus lucros a associações ambientais.

A Lifestraw, arma dos viajantes contra a poluição dos plásticos

Muitas operadoras insistam também com os receptivos locais para que as boas práticas sejam respeitadas pelos viajantes. A gestão responsável dos dejetos é lembrada pela agência canadense Terres d’aventure, que envolveu nesta experiencia não somente seus clientes mas seus colaboradores em Quebec e nos destinos onde opera. O cuidado com a água em garrafas de plástico descartáveis, substituídas por cantis, é uma outra boa pratica cada vez mais popular. Algumas operadoras fornecem aos turistas garrafas reaproveitáveis, e pedem aos receptivos de instalar máquinas de purificação de agua ou, se não tiver, de fornecer canudos com filtros de carbone das marcas Grayl ou LifeStraw .Estas são práticas já adotadas pela Nomad Tanzania, na Tanzania, pela Pugdundee Safaris, na Índia, na Cottar’s Safaris, no Quênia, ou na Galapagos Safari Camp, no Equador.

No Nepal, Sasane Sisterhood escolha seus guias nas mulheres das comunidades

Os cuidados com as responsabilidades sociais são cada vez mais fortes. No Quênia, a associação Kilimanjaro Porters Assistance Project incentiva as operadoras a respeitar vários critérios éticos, ajudando a melhorar as condições de trabalho dos guias, dos carregadoras e dos cozinheiros locais bem como das suas comunidades. No Nepal, a agência  Sasane Sisterhood Trekking and Travel  contrata mulheres vítimas do tráfico humano como guias, e desenha os itinerários para privilegiar regiões desfavorecidas. No Brasil a Katerre, empresa do Grupo Ruy Tone que integra também o Mirante do Gavião, o restaurante Caxirí, o barco Belle Amazon e a operadora Turismo Consciente, contribua em Nova Airão para Fundação Almerinda Malaquias e seu Centro de Educação e Formação Profissional focado no artesanato sustentável.

Source : YouTube, Pugdundee Safaris

Assumir suas responsabilidades ambientais e sociais necessita também uma comunicação bem feita com seus funcionários, seus parceiros e seus clientes. 40% dos viajantes interrogados pela Booking.com confirmaram que uma boa visibilidade das acoes ecoresponsáveis fomentariam a escolher uma viagem. Mas é necessário que os argumentos respeitam a transparência, a a humildade e a autenticidade que   evitam a impressão  de “greenwashing” – a falsidade ecológica que ameaça os projetos sem consistência. A associação dos parceiros e dos funcionários a uma estratégia de transição responsável pode ser a chave do sucesso. Assim é na agência indiana Pugdundee Safaris, onde o orgulho da equipe pelo impacto positivo da sua atividade sobre a fauna, a flora e a vida das suas comunidades ajudou a construir experiências únicas e autênticas para os clientes.

Esse artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original de Fanny Beaulieu Cormier na revista profissional on-line Reseau de veille en tourisme, Chaire de tourisme Transat