
O Mont Saint Michel, entre a Bretanha e a Normandia, patrimônio e fé no monumento preferido dos franceses
Depois de um ano de confinamento, os viajantes estão cada vez mais impacientes para ver a retomada do turismo. Com a abertura progressiva dos grandes (e dos pequenos) destinos, a vacinação em massa dos adultos, e a volta das linhas aéreas internacionais, as últimas pesquisas mostram que os brasileiros querem mesmo não somente voltar a viajar, mas também viajar de forma diferente. Querem mais segurança, mais exclusividade, mais bem estar, mais sustentabilidade e mais experiências transformacionais, esses novos critérios que vão definir os destinos que aproveitarão a retomada.
Mas a saudade de viajar é antes de tudo muito pessoal, a escolha da primeira viagem pós confinamento vai assim depender das experiências e dos desejos de cada um: paisagens, cidades, e monumentos se mesclam com paixões e emoções para fazer uma lista onde terá que combinar sonhos e realidades. Assim a minha lista começa com cidades. Saudades da beleza de Paris que mexe com almas e corações, saudades do borbulho estressante de Nova Iorque, saudades da imponente e até arrogante tranquilidade de Bordeaux, da agitação descompromissada de Miami ou da carinhosa vibração de Montreal.
Tenho também saudades das paisagens que ficaram impressos na minha memória. A imponência do Puy de Dôme que guarda a minha terra, a força das cataratas de Iguaçu que carrega a história das missões, a pureza infinita das dunas do Sahara em Zagora, Djanet ou Tozeur, bem como a pura beleza do Monte Otemanu e da lagoa de Bora Bora. Mais ainda, sinto saudade das matas e dos rios da Amazônia, da misteriosa neblina cobrindo a floresta de manhã cedo nas beiras do Rio Negro, ou do incomparável por do sol na baía do Rio Tapajós.
Minhas saudades e emoções de viagem são ligados a lugares e monumentos especiais. Queria pular mais uma vez em cima da pirâmide do sol em Teotihuacan, sentar no Patio dos Leões do Palácio da Alhambra, chorar frente a resiliência de Santa Sofia, olhar as tragédias do Mar Morte desde a fortaleza de Massadá, e subir o Mont Saint Michel olhando o ouro do arcanjo. Preciso reviver o caminho do Inca e o espantoso nascer do sol clareando a magia de Machu Pichu, olhar para o oceano infinito além dos Moais da Ilha de Páscoa, escutar a chamada do muezin na Mesquita dos Omíadas, atravessar a praça São Marcos homenageando a glória cínica da Serenissima, ou responder ao sorriso do anjo risonho na hora de entrar na Catedral de Reims.
Viajar é preciso mesmo, e estamos hoje com saudade até das viagens que não fizemos e que já constam da lista das nossas descobertas pós Covid. Percorrer a Sicília nas pegadas dos gregos, dos romanos, dos árabes e dos normandos, ver Agrigento e os vinhedos de Nero d’Avola . Se emocionar em São Miguel das Missões sobre a epopéia dos jesuítas e a destruição do sonho guarani. Ser um dos primeiros a visitar o extraordinário acervo turístico de Al Ula, na rota que levava de Jerusalém à Meca, beber um Rioja nas espetaculares adegas desenhadas por Calatrava. Tentar entender na Bretanha, de Saint Malo até o pitoresco litoral da costa de granito cor de rosa, o por que da peculiaridade dessa região da França.
Temos saudades desses lugares e de muitos outros, inclusive de alguns que ainda não conhecemos. Saudade de viajar, saudade de novas emoções e de novos encontros. Na hora da retomada do turismo, relembrando os destinos marcantes e sonhando de novas experiências, poderemos assim relembrar essa frase do de Gaulle “Partir, c est vivre”. Viajar é viver, vamos agora escolher para onde.
Jean-Philippe Pérol