
A Basílica de Santa Maria de Guadalupe recebe até 20 milhões de peregrinos
O turismo religioso não foi poupado pela crise. Até na Terra Santa: enquanto o ministro israelense do turismo esperava superar em 2020 o recorde de 4,6 milhões de turistas do ano anterior, pela primeira vez em 1600 anos, nenhum peregrino foi rezar em Jerusalém. Os outros grandes destinos de peregrinação, Guadalupe no México, Lourdes na França, Fátima no Portugal ou Santiago na Espanha perderam a quase totalidade dos seus 3, 4, 6 ou 10 milhões de visitantes. A Inglaterra, que tinha preparado uma série de grandes eventos para comemorar os 850 anos da morte de Thomas Becket, o arcebispo assassinado em Canterbury, teve que cancelar toda a programação.

Os caminhos de Santiago, antiga caminhada agora nas novas tendências
Mas o mais antigo turismo do mundo aproveitou também a crise para mostrar a sua resiliência, e uma pesquisa feita durante a pandemia junto aos peregrinos dos Caminhos de Santiago de Compostela mostrou que as dificuldades e as restrições podiam não somente não desanimar alguns viajantes, mas ainda podiam trazer novos motivos para iniciar uma caminhada. Além da espiritualidade e da descoberta de um patrimônio cultural, as peregrinações atraíam agora também pela conexão com a natureza, o respeito ao meio ambiente, a autenticidade dos encontros, o bem estar emocional, e o poder transformador do espaço pessoal criado na lentidão da caminhada.

No Reek de Croagh Patrick, a maior peregrinação da Irlanda
Os santuários também souberam encontrar soluções criativas para responder as perturbações geradas pela pandemia. Na Irlanda, a tradicional peregrinação do último domingo de Julho, o Reek de Croagh Patrick, foi agora estendida ao mês inteiro, limitando assim as aglomerações e os riscos sanitários. Em Santiago de Compostela, foi concedido um privilegio papal para esticar o Xacobeo (O Ano Santo, assim chamado quando o 25 de Julho, dia da abertura, cai um domingo), dando assim aos peregrinos mais tempo para gozar do privilegio de entrar na magnífica Catedral através da Porta Santa antes que ela esteja murada para os próximos onze anos.

A fé e a espiritualidade das procissões noturnas de Lourdes
O turismo religioso entrou também com força na era digital, criando eventos virtuais nas principais plataforma de mídias sociais. Nossa Senhora de Lourdes lançou Lourdes United, a sua primeira peregrinação digital. Enquanto o santuário só tinha até então uma página en francês na Facebook, abriu mais quatro em inglês, espanhol, italiano e português. De seis milhões de peregrinos físicos até 2018, conseguiu pular a 80 milhões de e-peregrinos durante a espetacular peregrinação virtual do dia 16 de Julho de 2020.

Em Orcival (Auvergne), um exemplo de peregrinação de proximidade
Muitos santuários aproveitaram para lançar novas ideias, e relançar um turismo religioso combinado com as novas exigências dos viajantes, como procura por natureza, bem estar e espiritualidade. Três tendências se destacaram:
- as micro-peregrinações: longos itinerários tradicionais oferecem alternativas mais acessíveis. Em vez de 40 quilômetros, a Cwmhir Heritage Trust Abbaye do Pais de Gales abriu um caminho novo de somente a metade da distância. E para seu milenário, a Catedral cathédrale Saint–Edmundsbury anunciou vários itinerários de um até 30 quilômetros como opção aos 120 quilômetros da marcha anglicana inaugurada em 1539.
- as peregrinações locais são estimuladas pelo avanço do turismo de proximidade. Nos Estados Unidos, várias revistas católicas deram um novo impulso às visitas do patrimônio religioso norte americano. Na Austrália, o magazine The Catholic Weekly promoveu uma seleção de sete peregrinações regionais.
- a personalização dos itinerários chegou ao turismo religioso. O site do British Pilgrimage Trust oferece um guia para ajudar a desenhar uma peregrinação pessoal, dando também ao viajante a opção de escolher o seu meio de transporte: a pé, de carro, de bicicleta ou a cavalo.
Este artigo foi adaptado de dois artigos originais de Siham Jamaa na revista profissional on-line Reseau de veille en tourisme, Chaire de tourisme Transat