O turismo global sem braços para a retomada

No Canadá, a mão de obra virou o primeiro problema do trade turístico

Há muitos anos, no mundo pre-pandemia, se falava que uma carreira no turismo tinha três características: trabalhar muito, ganhar pouco mas se divertir muito. Se essa piada levantava muitos risos na época de ouro do setor, a pandemia mudou totalmente a percepção. Os baixos salários, os horários incomodos, a pressão, a falta de reconhecimento e a forte sazonalidade levaram muitos empregados despedidos ou não durante a crise, a abandonar o setor. Na França os hotéis e restaurantes perderam 10% dos seus funcionários desde 2020, e uma pesquisa feita em 2021 em cinco grandes destinos turísticos (EE-UU, Reino-Unido, França, Espanha e Alemanha) conclui que  38 % deles queriam mudar de setor num prazo de um ano. 

A França é um dos destinos onde mais falta mão de obra no turismo

Faltando candidatos, as associações profissionais e as empresas reagem para revalorizar as carreiras do setor. Na França empresários e sindicatos assinaram um acordo de revalorização salarial de 16 %, mas muitos estabelecimentos já estão indo além desse piso.  Na Alemanha, o novo acordo sindical da hotelaria e da restauração prevê aumentos de salários de até 36 % e na Suiça, onde os acordos são feitas em cada empresa, os aumentos estão girando em torno de 30%. Os salários mais altos não porem suficientes para responder as expectativas dos candidatos, que esperam também propostas referentes ao reconhecimento profissional, as perspectivas de carreira ou aos horários de trabalho.

Accor incentiva a responsabilidade na organizacão do trabalho

Sempre pioneira quando se trata de relações humanas, Accor lançou na Australia e na Nova Zelândia um programa ” Work Your Way ” para poder preencher 1 200 vagas. Para ser mais atraentes, as ofertas prevê a possibilidade de começar a trabalhar imediatamente depois da entrevista, de ter vantagens personalidades em termos de prêmios, de viagens, de folgas ou de férias. Os funcionários deverão  poder seguir na mesma atividade em outros países da região do Pacífico, ter mais oportunidades de carreira no grupo. Será dada uma maior polivalência valorizando assim a flexibilidade para todas as funções, da limpeza até a diretoria.

Mudar os horários do jantar está virando uma necessidade

A atratividade do turismo foi sempre prejudicada pelos horários muito puxados.  Para dar mais liberdade a seus funcionários, restaurantes franceses estão acabando com os horários cortados, contratando equipes diferentes para o almoço e o jantar. Outros estão começando a servir o jantar mais cedo, acabando também mais cedo para reduzir o trabalho noturno.  Alguns hotéis estão terceirizando parcialmente ou totalmente a alimentação. Na Alemanha a semana de 36 horas em somente 4 dias está sendo experimentada em Hamburg pela cadeia de hotéis “25 Hours” que deve depois estender a medida  a todos os hotéis do grupo, inclusive na Suiça.

Para atrair os candidatos, é necessário imaginação

Muitos empresários estão investindo para melhorar a qualidade de vida dos funcionários. Na Suiça, em Gstaad ou Saint-Moritz, hoteleiros construíram residências para seu pessoal, com alojamentos de qualidade. Na Austria, em Kitzbühel, o hotel Stanglwirt foi mais longe ainda, investindo para seus empregados em dois prédios de madeira com boa localização, eficiência energética, equipamentos de alto padrão e acesso gratuito aos refeitórios do hotel. Uma creche fica também a disposição das famílias, e a empresa oferece três dias suplementares de ferias para quem quiser trabalhar em obras caritativas. A valorização dos compromissos sociais, éticos e ambientais é para os candidatos, e especialmente os mais jovens, um fator importante de escolha da empresa onde querem trabalhar.

No Japão, a recepção pelos robôs já é uma realidade

Para reverter a falta de candidatos, a criatividade das empresas parece então não ter limites. No Canadá uma cadeia de restaurantes está propondo um iPhone para seus novos funcionários, e , talvez inspiradas pela “luvas”do futebol, empresas estado-unidenses estão oferecendo bonus de USD1000 para assinar o primeiro contrato. A penúria de mão de obra para acompanhar a retomada pode porem ter outras consequências, a robotização de vários serviços. Alem das opções de reservas ou de compras já rotineiras, serviços como a  recepção de clientes (Hotello), a comunicação ( Automat ou HeyDay) , o atendimento nos quartos ou o concierge (NuGuest) podem dispensar presenças físicas. Para a qualidade do serviço e o futuro da profissão, deve se esperar que a chegada de novos talentos no turismo impedirá essa robotização de ir (demais) para frente.

 

Este artigo foi adaptado de um artigo original de l’Observatoire valaisan du tourisme  na revista profissional on-line Reseau de veille en tourisme, Chaire de tourisme Transat