A Venus de Botticelli, nova e criativa influenciadora virtual

Surpreendente pela sua beleza e sua ousadia – foi pintado no final do século XV -, o quadro do Sandro Botticelli “O Nascimento de Vênus”, mostrando a deusa do amor saindo do mar nua numa concha, é uma das mais conhecidas obras de arte do Renascimento. O Ministério italiano do turismo  e  a  ENIT estão apostando nessa image marcante para o lançamento de uma nova campanha de promoção internacional chamada “Open to Meraviglia”. Nesse projeto, aprovado nos mais altos níveis do governo da Itália, a linda ruiva, com seus cabelos ao vento, será a protagonista central de uma versão moderna e digital, onde reencarnou como uma influenciadora virtual.

A nova Vênus anda até de bicicleta

Agora vestida com elegância e descontração, a nova Venus leva a sério o seu trabalho de influenciadora, fazendo pose nos mais atraentes destinos do país. Apresentando as maravilhas da Itália para o mundo, ela vai apresentar suas paisagens ricas e coloridas, seus monumentos icônicos, suas cidades de arte e seus pequenos vilarejos, suas especialidades eno-gastronômicas.  Nos cartazes, bem como nos posts e nos vídeos, a linda renascentista aparece comendo pizza nas margens do Lago de Como, andando de bicicleta na frente do Coliseu de Roma, tirando um selfie na Piazza San Marco de Veneza ou olhando para o mar na região de Puglia.

Em Veneza, a influenciadora virtual não esquece o seu selfie

A escolha da obra de Botticelli e o lema da campanha nasceram de uma ideia da famosa agência italiana Armando Testa. Depois de um primeiro video e de imagens do Sul, do Centro e do Norte da Italia, serão adicionados novos visuais correspondendo as viagens que a Vênus ressuscitada realizará em várias épocas do ano nas regiões e nas cidades que aderirão a essa promoção. Com um orçamento de 9 milhões de Euros, a divulgacão será dividida entre uns painéis nos grandes aeroportos ou estações de trens internacionais, e uma campanha de comunicação numérica. A influenciadora virtual terá suas paginas no site italia.it, e seus perfis em todas as principais mídias sociais, incluindo na Instagram com os endereços  venereitalia23  e venere_italia23.

A nova Vênus quer atrair os Millenials

A campanha “Open to Mariviglia” sera realizada em vários países europeus, nos Estados Unidos e em  mercados emergentes como China, Sudeste asiático, India, Emirados e América do Sul (incluindo o Brasil). Como é de se esperar, o foco principal será os jovens, Millenials e gerações X e Z que podem não somente decidir das suas viagens mas ainda influenciar seus pais. A escolha da Venus de Botticelli, como símbolo de renascimento e de renovação do turismo italiano já abriu uma polêmica. O humor e a criatividade parece seduzir as novas gerações, mas a  imagem de um ícone da cultura italiana comendo pizza revolta alguns conservadores que esquecem talvez que o próprio Botticelli tinha chocado mais ainda a sociedade do século XV mostrando a beleza do corpo da deusa pagã. Com certeza o debate só reforçará o sucesso dessa campanha criativa.

Vinhos, turismo e preços, um ranking original da Europa enoturística

Smith Haut-Laffite, uma vinícola de Bordeaux onde enoturismo combina com cultura

Com mais de 15 milhões de reservas de apartamentos por ano em parceria com grandes empresas, – Booking, Interchalet, TUI, Housetrip ou Trip Advisor-, a plataforma Holidu publicou um ranking “cientifico” e popular das regiões europeias de enoturismo. A pesquisa levou em consideração não somente a qualidade e a variedade dos vinhos produzidos, as infraestruturas turísticas e o numero de vinícolas abertas os visitantes, mas também o consumo de vinho per capita, o preço medio das garrafas consumidas no local, assim que o número de entregas de diplomas de sommeliers nos centros locais de capacitação. A lista que foi estabelecida mostrou lógica e surpresas.

A “Cité du Vin”, monumento a Bordeaux cidade mundial do vinho

  • Nova-Aquitânia – França

A lógica levou a Nouvelle Aquitaine para o primeiro lugar. A região de Bordeaux, de Cognac e de Bergerac tem mais de 11.000 vinícolas, muitos dos mais famosos vinhos do mundo, e oferece preços atrativos com seus “vinhos de mesa”. As infraestruturas turísticas são de qualidade, o patrimônio cultural invejável, e a fama da sua gastronomia e das suas paisagens é mais que merecida. A dica da Holidu : Ir até a lagoa de Arcachon e provar as ostras locais com um Pessac Leognan branco (por exemplo um Hauts de Smith) .

Nos arredores do Etna, os vinhos de “lava”

  • Sicília – Itália

A surpresa já apareceu com o segundo lugar da Sicília. Mas, conhecida pela sua longa história, seu rico património e sua cultura peculiar, a ilha se posiciona cada vez mais no enoturismo. Vinhos como o Malvasia, o Novello e o Catarratto Bianco são algumas das maravilhas a ser descobertas . A dica da Holidu : nos arredores  do famoso vulcão  Etna, 18 hectares de vinhedos produzem desde o século XVII um vinho escuro  que pode ser provado depois da visita, acompanhando as “polpette”, as tradicionais bolinhas de carne.

Vinhedos e moinhos em Castilha La Mancha

  • Castilha-La Mancha – Espanha

Primeira região produtora da Espanha, a Castilha La Mancha se destaca pela grande variedade de uvas, Grenache, Syrah, Cabernet Sauvignon, Tempranillo, Merlot, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Macabeu ou Airén. Na terra dos moinhos, os tintos, rosés ou brancos impressionam pela qualidade e pela excelente relação preço/ qualidade. A dica da Holidu : antes de começar as visitas das adegas, visitar a “cidade encantada” no parque natural da Serranía de Cuenca.

Em Pompei, o vinho tem uma longa história

  • Campania – Itália

Quase chegando no pódio desse ranking, a Campania ainda é pouca conhecida do mundo do vinho, mas tem uma tradição vinícola de 3200 anos, e uma excepcional riqueza turística. Vários dos seus vinhos devem ser degustados, por exemplo o Greco, o Asprinio, o Pallagrello branco, o Fiano, o Falanghina, o Coda di Volpe, o Forastera ou o Biancolella. A dica da Holidu: não esquecer de visitar as ruinas de Pompei, uma experiencia única no mundo ainda enriquecida pelas recentes descobertas arqueológicas.

Entre Lácio e Toscana, a surpreendente Úmbria

  • Úmbria – Itália

Outra surpresa da lista é o quinto lugar da Úmbria, mais conhecida pelas suas riquezas culturais. Entre Roma e Florença, o coração verde da Itália, trabalha varias uvas de qualidade, locais como o Sagrantino, o Sangiovese ou o Colorino, mas também internacionais como o Merlot e o Cabernet Sauvignon. A dica da Holidu : não perder a “Galleria Nazionale dell’Umbria”, localizada no “Palazzo dei Priori”, um dos mais imponentes prédios históricos de Perugia.

O charme irresistível de Chenonceau, o Castelo das 3 Damas

  • Vale do Rio Loire – França

Seguindo o Vale do Rio Loire, 2000 vinícolas se espalham entre a costa do Oceano Atlântico e a Auvergne. Famosa pelos seus vinhos alegres e fáceis de beber, sejam brancos como o Muscadet, o Sancerre ou o Pouilly, sejam tintos como o Saumur Champigny, sejam espumante como. A (merecida) fama dos Castelos do Loire explica também o sucesso do enoturismo da região.  A dica da Holidu: o itinerário tem que ser feito para combinar vinhedos e castelos, sendo que Chambord, Azay le Rideau, Cheverny, e mais ainda Chenonceau, são imperdíveis.

Vinhedos perto de Valencia

  • Valencia – Espanha

Dona de uma oferta turística muito completa, orgulhosa da sua cultura preservada, a região de Valencia colocou mais uma vez a Espanha no Top 10 da Holidu. Alem de uma grande variedade de uvas (Monastrell, Tempranillo, Cabernet Sauvignon e Merlot), o sucesso valenciano deve muito aos preços extremamente competitivo dos seus vinhos – os mais baratos da lista. A dica da Holidu: Visitar a cidade medieval de Bocairente e seus arredores.

Os incomparáveis paisagens da Toscana

  • Toscana – Itália

Pioneira do enoturismo, a Toscana ficou famosa pelo Chianti desde o século XIV, explorando uma grande diversidade de uvas:  Sangiovese, Canaiolo, Cabernet Sauvignon, Merlot, Trebbiano e Malvasia. Com cidades e vilarejos esbanjando história e cultura,  um clima  e uma luz excepcionais, a região oferece uma grande diversidade a todos os públicos.  A dica da Holidu: Aproveitar um passeio de bicicleta para mergulhar na cultura local e marcar atividades  com os moradores.

Os jardins da Quinta da Bacalhôa em Setubal

  • Setúbal – Portugal

Sendo os portugueses os maiores consumidores de vinho per capita da Europa, um ranking europeu de enoturismo devia ter uma região portuguesa, e foi Setúbal que se destacou com seus vinhos originais. Tradicional produtor de prestigiosos, incluindo o famoso Moscatel de Setúbal, a região produz também vinhos tinto exportados no mundo inteiro como o Periquita ou o Bacalhôa. A dica da Holidu: vale a pena seguir as rotas ou trilhas túristicas em volta das quais são organizadas muitas atividades, incluindo para as famílias.

Trufa branca e vinhedos do Piemonte

  • Piemonte – Itália

Uma quinta região italiana fecha o ranking da Holidu: o Piemonte. Famosa pela qualidade (e o preço) dos seus vinhos proveniente de uvas locais  (Nebbiolo, dolcetto, brachetto ou cortese), a região produz os famosos Barolo, Gattinara, Ghemme e Barbaresco, bem como os mundialmente conhecidos Asti Spumante. Em Alba, é certamente um deles que será recomendado para uma harmonização com a famosa trufa branca, A dica da Holidu: aproveitar as numerosas atividades náuticas oferecidas na região, canoa, vela ou  windsurf.

Esse artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original na revista francesa profissional on-line Mister Travel

Veneza, parabens para os seus 1600 anos!

A tradição, ou a lenda, ensina que Veneza foi fundada no dia 25 de março de 421. Três cônsules, mandados pelo prefeito de Pádua, teriam iniciado neste dia a construção da igreja de San Giacometo do Rialto, ainda hoje considerada uma das mais antigas da cidade mesmo se datando provavelmente do século XI. Os historiadores são mais divididos, alguns escolhendo 452, quando a lagoa foi o refúgio dos sobreviventes da destruição da cidade vizinha de Aquileia pelas hordas de Átila, outros preferindo 697 quando o patrício Paulicius foi eleito e reconhecido pelo então soberano bizantino como primeiro “doge” (duque en lingua veneta).

San Giacometo do Rialto, lendário lugar de fundação da cidade

As comemorações dos 1600 anos começaram dia 25 de março na basílica San Marco, com uma missa celebrada pelo Patriarca Francesco Moraglia – retransmitida on-line para respeitar as rígidas normas sanitárias da Itália. As 4 da tarde, os sinos de todas as 84 igrejas da cidade tocaram juntos, e a rede nacional de televisão italiana apresentou um documentário em homenagem a Veneza com músicas, fotos e vídeos ilustrando a peculiar história da Serenissima. A prefeitura anunciou também muitas iniciativas culturais previstas para 2021 e 2022, misturando o virtual com o máximo de presencial se a pandemia deixar.

Os navios de cruzeiros devem agora ancorar fora da cidade histórica

Para seu aniversário, o primeiro presente que Veneza recebeu foi porem a proibição feita aos grandes navios de cruzeiro de entrar no Grande Canal. Anunciada de forma solene pelos ministros da cultura, do turismo, do meio ambiente e das infraestruturas, a decisão  tinha sida tomada em 2012 para “proteger um patrimônio pertencendo não somente a Italia mas a toda humanidade”, mas ainda não vigorava devido aos atrasos na construção de um porto alternativo.  A pressão dos moradores, as exigências da UNESCO, e a emoção provocada por dois incidentes graves em 2019 levaram o governo italiano a encontrar uma solução provisória no porto industrial e a efetivar a proibição.

235 projetos vão comemorar os 1600 anos

Além dos grandes eventos tradicionais como a famosa Biennale ou o Venice Boat Show, com numerosas ideias e propostas vindo não somente dos moradores mas do mundo inteiro, o  Comitê da comemorações dos 1600 anos  já selecionou 235 projetos para serem apoiados pela prefeitura. Nessa cidade que já sofreu do overturismo, mas cuja economia depende completamente dos visitantes, é certo que todos terão que seguir as novas tendências do turismo pós Covid. Um turismo construído com os moradores, mais ligado com os fluxos domésticos, espalhado em todos os cantos da cidade, privilegiando os pernoites e as estadias mais longas. Um turismo mais qualitativo a altura das esplendores que essa cidade mágica oferece a seus visitantes há 1600 anos!

Jean-Philippe Pérol

A retomada pode se projetar sem os excessos do overturismo?

Pesquisa internacional mostra um otimismo razoável sobre a retomada do turismo

A esperada pesquisa do “World Travel Monitor” sobre as viagens internacionais em 2020 confirmou os números já conhecidos, e deu algumas prudentes esperanças. O turismo foi mesmo um dos setores econômicos mais atingidos no mundo, com uma queda média das viagens internacionais de 70%, com diferenças significativas segundo os continentes. A queda foi mais importante na Ásia com quase 80% , depois na América Latina com 70%, na América do Norte com 69%, a Europa tendo a menor queda com 66%. A geografia explica talvez essas diferenças, as viagens de carro – mais importantes no turismo internacional na Europa- caindo somente de 58% enquanto as viagens de avião sofrem muito mais com um recuo de 74%.

A procura de viagens mudou com a crise

As viagens de lazer foram as mais atingidas, com uma queda de 71%, mais que as viagens de negócios que caíram de 67% (mas serão provavelmente mais penalizadas no médio e longo prazo), e mais as viagens de amigos e familiares que recuaram de  62%. Dentro das viagens de lazer, a queda foi bem menor para a procura de natureza(-53%). Como era de se esperar, o transporte aéreo sofreu o maior recuo mundial – 74%-, enquanto o transporte terrestre caiu de somente 58%. As diferenças foram também importantes nas hospedagens, com a hotelaria mostrando ocupações com queda recorde de 73%, muito superior a seus concorrentes, seja aparthotéis, AirBnb ou particulares . A pesquisa mostrou enfim que o viajante 2020 gastou 14% a menos, mas a queda foi principalmente a consequência do declíno das viagens intercontinentais.

Na Ásia, o turismo urbano deve ser a tendência 2021

Os resultados da pesquisa da IPK mostram um certo otimismo em relação a 2021. O grande obstáculo para a retomada sendo o Covid e não a crise econômica, e com 90% dos entrevistados aceitando de ser vacinados, os 62% que estão com vontade de viajar este ano dependem agora somente da disponibilidade da vacina. As intenções de viagem post Covid são mais fortes para as visitas a parentes e amigos, e para as férias na praia. Na Ásia, há uma tendência importante para o turismo urbano. Nos outros mercados, na Europa e nas Américas, como foi levantado em pesquisas no Brasil, nota-se também um crescimento da procura de ecoturismo e de bem estar.

Personalização, conteúdo e exclusividade são as tendências do turismo de luxo

Além desse otimismo razoável, e de novas exigências de sustentabilidade ou de turismo de luxo,  a  pesquisa destacou os destinos mais procurados para 2021. Nos cinco continentes, os turistas têm uma preferência marcada para os países próximos, mas essa tendência é muito mais forte na Europa. Os líderes do turismo europeu, a Espanha, da Itália, da França e da Alemanha devem assim ser os primeiros a aproveitar uma retomada cujo ritmo só será definido pela disponibilidade das vacinas: iniciada em 2021, seria completa em 2022 ou no mais tardar em 2023. Um otimismo (muito) razoável.

Esse artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original de Serge Fabre na revista francesa profissional on-line Mister Travel

Democratas ou Republicanos, destinos são também Política?

A imagem do Presidente impacta a imagem do pais e do destino

As últimas eleições americanas, e a acirrada disputa que acabou com a vitória de Joe Biden, foram seguidas com muita atenção – e as vezes com muita paixão – pelos profissionais do turismo do mundo inteiro. Agentes de viagem ou hoteleiros sabem que as futuros decisões dos responsáveis políticos impactam de forma decisiva as escolhas dos viajantes. Com rumos diferentes dados pelos governos ao crescimento econômico,  aos índices da bolsa, ao valor de câmbio, as infraestruturas, bem como a imagem do país e de seu “comandante-em-chefe”, os fluxos de turistas podem aumentar, diminuir ou simplesmente mudar de destinos.

O dinamismo de Wall Street impacta diretamente as viagens dos americanos

Se olhar por exemplo os fluxos de turistas norte americanos para Europa nos últimos trinta anos, pode observar que dois desses fatores explicam as flutuações do número de viajantes. O valor do câmbio do USD frente as moedas européias e depois para o EUR, combinado com o nível do índice da bolsa de  Nova Iorque, definem assim claramente as evoluções anuais, baixando até menos de 10 milhões quando for desfavoráveis como em 2003 ou 2008, e subindo até um teto de 18 milhões quando a força do USD se junta com o otimismo de Wall Street, o que foi o caso em 2000, 2007 ou 2018.

Obama se empolgou pela promoção do turismo nos EEUU

Além das suas decisões e dos seus sucessos, os dirigentes democratas ou republicanos influenciam as viagens com sua própria imagem. Olhando a dura concorrência da Europa e dos Estados Unidos para o  primeiro lugar dos seus destinos junto aos viajantes brasileiras, é assim interessante de ver como os brasileiros votaram com as suas viagens. Atrás da Europa no início dos anos 90, os Estados Unidos passaram na frente durante a cia do Clinton. A liderança se inverteu na presidência do Bush, até que a chegada do Obama voltou a por os Estados Unidos no primeiro lugar, posição que eles perderam depois da eleição do Trump. Os jogos estão agora abertos para 2021….

As escolhas politicas americanas impactam os destinos europeus

Uma pesquisa realizada alguns anos atrás pela Atout France nos Estados Unidos mostrou que a própria escolha dos destinos depende também dos perfis políticos dos viajantes. 78% dos entrevistados declaravam que suas convicções partidárias influenciavam as suas viagens. Dos quatro grandes destinos europeus dos estadunidenses, a Inglaterra era “vermelha” (preferida por 87% dos republicanos e somente 18% dos democratas) assim como, em menor escala, a Alemanha (24% dos republicanos e 18% dos democratas), enquanto a França e a Itália eram azuis de forma arrasadora (respectivamente 8% republicana e 73% democrata para a primeira, 14% republicana e 57% democrata para a segunda). Será que viagem é mesmo também politica?

Jean-Philippe Pérol

Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue” do autor na revista profissional on line Mercado e Eventos

O coronavirus e o underturismo

O Louvre fechado por causa de coronavirus

Verdadeiro choque para os profissionais do mundo inteiro, o cancelamento do salão Internacional do Turismo de Berlim virou o símbolo da crise que a economia turística está atravessando. A recessão já atingiu os grandes mercados da Asia, quatro dos quais – a China, a Coreia, o Japão e Taiwan- sendo listados no top ten dos  países emissores publicado pela Mastercard. A progressão do virus na Europa, e especialmente na Itália, está agora atingindo em cheio os maiores mercados receptivos do mundo, e as praças desertas de Veneza ou o fechamento do Louvre ilustram o impacto  do coronavirus. Para as empresas do setor, as ameaças sobre as receitas do setor (somente na França as perdas são estimadas a um bilhão de euros por mês), e mais ainda sobre milhões de empregos, mostram de forma espetacular os riscos do “underturismo”. 

Veneza abandonada pelos turistas

É verdade que até a explosão da epidemia na Italia, as preocupações públicas giravam mais em torno do problemas que o turismo de massa estava trazendo, o overturismo era o a ameaça-mor. Em Barcelona, Amsterdão, Roma, Veneza ou Paris, os responsáveis procuravam, as vezes com sucesso, soluções criativas para conciliar visitantes, moradores e profissionais do setor, e permitir aos grandes destinos turísticos internacionais de escolher os “melhores” turistas em função das suas despesas, das suas sazonalidades, dos destinos associados ou das atividades procuradas. Os problemas perduram, e moradores e profissionais exigem com razão soluções duradouras e sustentáveis. A brutal queda das reservas lembram agora as autoridades, aos empresários e a todos os funcionários do setor, que o turismo do século XXI  pode também ser ameaçado pelo sumiço dos viajantes, e que o “underturismo” é tão preocupante que o overturismo.

As companhias aéreas sofrem com os cancelamentos de viagens

Os esforços dos médicos, as medidas dos governos, e a chegada da primavera no hemisfério norte, vão com certeza conseguir vencer a crise do coronavirus. A resiliência extraordinária do turismo vai com certeza trazer de volta em alguns meses os fluxos a seus níveis anteriores, e até ajudar a recuperar perdas. Mas, com a mesma certeza, é possível antecipar que todos os atores que foram castigados com a queda dos fluxos turísticos  -companhias aéreas, hotels, museus, espetáculos, parques ou comercio – vão integrar as suas visões do futuro do setor umas importantes lições. Sem discutir a necessidade de trazer soluções para o overturismo, a economia dos destinos, o sucesso dos empresários, os empregos e a vida dos moradores, vão pressionar para que este novo turismo, focado em experiencias sustentáveis e respeitosas dos moradores, descarta tambem de vez o risco de “underturismo”.

Jean Philippe Pérol

Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue do autor na revista profissional on line Mercado e Eventos

A Wine Paths destacando o Top Five das tendências do enoturismo para 2020

A Puglia, nova tendencia do enoturismo italiano

Começando uma nova década, o enoturismo se consolida como uma das grandes temáticas de viagem dos próximos anos, e alguns destinos já estão sendo destacados pelos especialistas. A Wine Paths, o site de referencia das viagens com temática de vinhos ou de bebidas espirituosas, que promove 52 regiões produtoras, famosas ou escondidas, anticipa que cinco delas deveriam surpreender em 2020. A liderança, ficou sem surpresa na Itália, ainda muito focada nos conceituados vinhos da Toscana , mas que deve agora atrair com outras regiões produtoras ainda esquecidas dos enoturistas. Valorizando as paisagens tranquilas e as maravilhas de vinicolas até então discretas do extremo sul da Itália, a Puglia, com vinhos fortes, elaborados a partir de uvas Sangiovese e Montepulciano, e harmonizados com um surpreendente culinário local, deve assim encabeçar o Top Five.

Piquenique harmonizado na beira do Rio Uruguai

O Uruguai se consolidou nos últimos anos como um grande destino do enoturismo internacional, tanto pelos seus vinhos encorpados que aproveitam a uva “Tannat”, que pela beleza dos seus imponentes  rios  ou a riqueza das suas numerosas especies de pássaros coloridos que derem o nome a este pequeno pais. Sobrevoado de balão ou de avião, percorrido nas suas rotas dos vinhos, o Uruguai é conhecido pelas belezas naturais, a  arquitetura colonial, as praias, a vida urbana, a simpatia dos moradores e seu ambiente agradavelmente antiquado. Com uma estabilidade social e uma democracia consensual, o pais oferece a seus visitantes uma invejável segurança. Um quadro ideal para visitar, em Carmelo ou Maldonado, algumas das mais premiadas e das mais criativas vinícolas do novo mapa mundial do enoturismo.

O oeste irlandês é a terra das tradições célticas e do “whiskey”

Considerada a mais selvagem e paradoxalmente a mais hospitaleira das regiões irlandesa, o Oeste irlandês é também conhecido pelo seu whiskey doce e frutado. A sua fama vem talvez dos seus numerosos pequenos vilarejos interligados por estradas espetaculares  que atravessam vales isolados, morros escuros, campos de flores amarelas e correntezas de aguas claras. A cidade principal, Galway, foi escolhida como capital europea da cultura em 2020 e vai ter uma programação intensa focada nos jovens, com destaque para espetáculos de teatro, música, dança e exposições, para seus famosaos pubs e sua gastronomia tradicional. O ponto alto da viagem é sempre a visita das destilarias de uísque irlandês, sendo a ajuda de um especialista local  sempre recomendada.

As adegas de Jerez na Andaluzia

A região de Cadiz, na Andaluzia, merece mesmo ser um dos destinos mais procurado pelos enoturistas em 2020. A fama do “triângulo Sherry” – e dos seus múltiplos vinhos fortificados Jerez, Xeres ou Sherry – se espalhou no mundo inteiro há séculos. Essa tradição se viva durantes as visitas das vinícolas, muitas delas com espetaculares adegas centenárias lembrando que Jerez de la Frontera tem uma longa história para contar desde a epopéia da Reconquista. Cadiz é não somente um outro ponto perfeito para excursões exclusivas, mas também uma cidade histórica com um grande acervo arquitetura, ruas estreitas que acabam na muralhas medievais, bares e restaurantes animados, feiras livres de peixes e praias encantadoras  banhadas pelo Oceano Atlântico.

Mendoza lidera o enoturismo argentino, mas a hora é também  de Salta

Hoje grande pais de enoturismo pela justa fama dos vinhos da região de Mendoza – que combinam um excepcional “terroir” argentino, o tanino e as cores do Malbec, e o “savoir faire” de investidores internacionais-,  a Argentina está agora mostrando a sua diversidade com novos destinos na Patagónia e nas províncias do Norte. Em 2020, a Wines Adventure, maior receptivo de enoturismo argentino, aponta o sucesso de  Salta onde encontram se alguns dos mais altos vinhedos do mundo ,produzido vinho branco Torrontes bem como tintos encorpados com uvas Cabernet, Malbec e Tannat. Itinerários nas vinícolas do Norte argentino podem também incluir as cataratas de Iguaçu, do lado argentino e do lado brasileiro.
E pensando no Brasil, será que a lista do Top Five 2021 da Wine Paths poderá incluir seu primeiro brasileiro?
Esse artigo foi traduzido da enews da Wine Paths editada no dia 10 de janeiro

Mais ameaças para Sereníssima?

Navio de cruzeiro no Grande Canal

Navio de cruzeiro no Grande Canal

Se o gigantismo dos navios de cruzeiro é uma das grandes ameaças ao patrimônio de Veneza, o êxodo da sua população é um outro problema  cuja origem é justamente o impacto do turismo sobre a qualidade de vida. Enquanto Veneza tinha nos anos 50 175.000 habitantes, o centro histórico só tem hoje 55.000 habitantes, e continua se esvaziando no ritmo de 1000 pessoas por ano. Hoje o risco é de se transformar num cidade sem moradores, uma Venicelândia onde desapareceria  o peculiar modo de vida que a Sereníssima Republica inventou ao longo dos 1230 anos da sua Historia, da mítica fundação no século VI até a perda da sua independência decretado pelo Napoleão em 1797.

O protesto dos moradores contre os esvaziamento da cidade

O protesto dos moradores contra o Venexodus, o esvaziamento da cidade

A complexidade e o lado anacrônico da vida na cidade explicam em parte o esvaziamento do centro, mas os moradores denunciam em primeiro lugar os 28 milhões de turistas. Eles sustentam a economia da cidade e geram 40.000 empregos, porem lotam os transportes públicos, empurram para cima os preços imobiliários, matam os comércios de proximidade,  bloqueiam o transito, mesmo pedestre, em todos os espaços de vida – até 150.000 pessoas por dia na Praça San Marco. Iniciados em 2009, os protestos se multiplicaram, sendo o último no dia 12 de Novembro quando os manifestantes, carregando malas para simbolizar o êxodo, penduraram o hashtag #Venexodus na Ponte do Rialto.

Turistas na Praça San Marco

Turistas na Praça San Marco

Se todos concordam que a racionalização dos fluxos turísticos é imprescindível para salvar Veneza, as soluções ainda não fazem a unanimidade. O prefeito já deixou claro que limitar o turismo teria um impacto direto sobre a economia e os empregos. Uma das ideias seria de cobrar uma taxa para entrar na cidade, só seriam isentos moradores e pessoas com hospedagem, mas essa cobrança ainda é chocante na democrática Itália. O prefeito está por enquanto trabalhando com a ideia de uma taxa sobre os transportes públicos, bem com um sistema de pre-reserva para poder chegar nos principais monumentos ou passar nas pontes. E contratou vigilantes, os guardiões de San Marco, para  evitar os abusos.

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O mercado municipal do Rialto

Recusando que Veneza acaba virando uma nova Pompei, muitos moradores querem medidas mais radicais, como incentivos fiscais para ajudar os venezianos a comprar ou alugar apartamentos, ou sobretaxas para os proprietários hospedando turistas. Uma associação sugeriu que o acesso a Praça San Marco será limitado a 60.000 pessoas por dia, com pagamento de uma taxa. Famoso por ter sempre priorizado o turismo sem limite, o prefeito aceitou de negociar propostas para reequilibrar a economia da cidade e o bem estar dos seus eleitores. Talvez se lembrou que os turistas visitam Veneza não somente pela beleza única do seu patrimônio, mas também pelo seu estilo de vida e pela sua alma, um turismo sustentável que só pode perdurar com a permanência dos seus habitantes.

Jean-Philippe Pérol

O Café San Paolo

O Café San Polo em Veneza

Quais orientações para o turismo em 2015?

Courchevel e AirBnB, uma nova e surpreendente promoção.

Courchevel e AirBnB, uma nova e surpreendente promoção.

Em toda o planeta turismo, observadores, profissionais e viajantes tentam adivinhar as grandes orientações de 2015. No Brasil as primeiras análises parecem pessimistas, ninguém se arrisca a prever um crescimento tanto das chegadas de turistas internacionais quanto das viagens dos brasileiros para o exterior. CB_GUEULETON_CR_UNE_2-400x400As transportadoras já esperam uma super capacidade da oferta, as operadoras e as agências só mostrarão previsões de altas com crescimentos externos alegrando as Bolsas mas não aumentando o número de clientes. A morosidade dos viajantes não impede porém novas mudanças que continuam revolucionando o setor. Pelo terceiro ano, o seminário organizado no Quebec pelo Paul Arseneault, da Universidade do Quebec em Montreal, e  o Pierre Bellerose, de Tourisme Montréal, tentou apontar as ideias marcantes para 2015, algumas já influenciando o mercado brasileiro do turismo.

O turismo virou imagens que devem contar historias personalizadas. O viajante quer bater fotos, fazer selfies, mandar vídeos onde ele vai ser valorizado, essa valorização pessoal sendo quase tão importante quanto o próprio destino escolhido. As informações correm rápido, no Facebook, no Youtube ou no Instagram, e a viagem deve permitir não somente  contar mas construir essa historia. Essa nova atitude deve ser respeitada logo na promoção, a hiper-personalização fazendo de cada cliente uma “nicho” de mercado e matando o marketing de massa.

Os serviços devem sempre incluir qualidade, conforto, criatividade e experiência global. Essas são agora exigências com as quais todos devem se submeter. Em um hotel se espera não somente um colchão de qualidade, um wifi grátis e de alta velocidade, mas um checkin relâmpago, o respeito ao meio ambiente e até uma integração da comunidade local. O restaurante tem que trabalhar com produtos e pratos regionais, oferecer uma verdadeira experiência gastronômica e saber gerenciar as exigências de reservas. Exif_JPEG_PICTUREOs novos conceitos atingem até os aeroportos. Ai o viajante não é mais somente um passageiro com um checkin beneficiado pelas novas tecnologias, cartão de embarque no smartfone e chips para identificar a mala. Ele é um consumidor passeando  em um shopping gigante, comendo em restaurantes ou se divertindo aproveitando um wifi grátis.

As agências tradicionais e as agencias on-line vão se reaproximar. Neste fim da época de ouro do crescimento com dois dígitos, as agencias on-line estão reinventando o seu relacionamento com seus clientes. Frente a agencias tradicionais agora mais consolidadas, convergências vão aparecer. As experiências físicas e virtuais vão se tornar complementares com o uso de todos os canais – on line em computadores, tablets ou celulares , agências, centrais telefônicas, entrega a domicilio. A aparição de uma nova ferramenta da Apple para gerenciar a globalidade das viagens é também uma possibilidade.

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O turismo colaborativo vai continuar a crescer, pelo menos na hospedagem e no transporte. Mesmo com uma forte hostilidade dos outros atores do setor – agências, hotéis ou táxis -, e com necessários acertos com as autoridades – controle de qualidade, taxas ou impostos-, a oferta de serviços colaborativos convenceu os usuários do mundo inteiro. As plataformas de hospedagens e de transporte urbano vão continuar a se expandir, e outros setores, como as visitas com guia ou até a alimentação, podem seguir.

Norte do Peru

Mesmo com uma economia parada e um crédito escasso, as novas tendências vão se firmar no Brasil, cada uma no seu ritmo. A força das mídias sociais, o potencial de algumas operadoras, a recente privatização dos aeroportos vão até acelerar certas mudanças apontadas no exterior. A provável apatia do mercado vai do seu lado dificultar a aparição de novos destinos. JPP NO LES SOURCES DE CAUDALIESCom menos reais e um dólar caríssimo, o crescimento da América do Sul (Chile, Bolívia ou Peru),  e a consolidação dos grandes destinos tradicionais na Europa ( Itália com Milão e Roma, França com Paris, o Mont Saint Michel, Bordeaux ou a Borgonha) devendo ser as tendências mais marcantes.

Jean-Philippe Pérol

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