Em Versailles ou no Louvre, o underturismo ameaça o patrimônio cultural e histórico nacional

O castelo de Versalhes ainda esperando americanos, chineses e brasileiros …

Os destinos rivalizam para incentivar a sonhar hoje as viagens de amanhã

Em tempo de confinamento, os destinos mostram muita criatividade para continuar presentes junto aos seus potenciais visitantes, combinando responsabilidade – ficar em casa é um imperativo de saude pública- e mantimento do sonho de viajar. São aulas de cozinha, receitas de mixologia, palestras culturais, visitas de museus, passeios, atrações e até carrosséis ofertos a imaginação. Não é hora de vender produtos ou serviços, mas de cultivar a esperança e o desejo de recomeçar a viajar.  Os escritórios de turismo escolheram varias estratégias de comunicação. Com destaque aos sempre surpreendentes países do Norte (acima o exemplo das Ilhas Feroe), todos esses profissionais mostram como, nesse momento de crise, o marketing de destino, inspiracional por natureza, se transformou em marketing da esperança.

Com as mídias sociais ainda mais populares desde o inicio do confinamento, vários destinos estão usando-los como canais de comunicação privilegiados e as vezes exclusivos. O Turismo Portugal mudou seu lema #CantSkipPortugal para #CantSkipHope e lançou um vídeo  aconselhando de parar já que os atrativos do país poderão ser visitados depois.  Visit Norway marcou seus fotos e videos com #Dreamnowvisitlater. Turismo Montreal pede aos viajantes de não sair de casa e de vir mais tarde com  #VisitUsLater e #APlusTard. Alguns marqueteiros são mais diretos, assim Visit Estonia que inventou #staythefuckhome, ou VisitBrighton que mudou seu nome para DoNotVisitBrighton.

A Primeira Ministra da Finlândia liderando uma estratégia inovadora

Os influenciadores têm em alguns destinos um lugar de destaques na comunicação de crise. É o caso da Finlândia, cuja jovem Primeira Ministra tinha pedido para a Empresa nacional de Abastecimento emergencial , antes mesmo que se fala da pandemia, a contratação de uma agência especializada em mídias sociais e influenciadores, a  PING Helsinki para ajudar a sua comunicação. 1500 “key workers” – como são chamados esses comunicantes-, são assim mobilizados ao lado das mídias tradicionais para repassar mensagens oficiais ou personalizados para públicos específicos, nacional ou internacional. O Quebec apostou também nos influenciadores para incentivar as pessoas a ficar em casa, assim a blogueira Lydiane autour du monde  que mostra agora fotos de confinamento ou de viagens passadas.

As visitas virtuais ganharam um novo impulso com o confinamento. O Dinamarca, a Noruega e o Japão  apresentam vários passeios e excursões on-line, e Malta apresenta videos com caminhadas nas ruas da cidade velha.  Na França, as cidades de LyonBordeaux mostram varias atividades acessíveis sem sair de casa.  Discover Puerto Rico   apostou nas experiencias on line com cursos de salsa, receitas de coquetéis com um mixologista e aulas de cozinha. Travel Saint Lucia colocou Instagram videos de 7 minutos incentivando a fazer aulas de yoga, a aprender a cozinhar pratos típicos ou a seguir um guia. O Chile lançou o aplicativo Chile 360º, com vídeos e imagens de paisagens chilenas, incluindo até óculos opcionais. Os maiores esforços são talvez feitos por Visit Orlando que propõe de forma virtual a quase totalidade das suas atrações.

Este artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original de Fanny Beaulieu Cormier na revista profissional on-line Reseau de veille en tourisme, Chaire de tourisme Transat 

No Brasil, a campanha  “Não Cancele, Remarque”

Frente as ameaças do overturismo, a França da cultura procura novas oportunidades

O Palácio de Versalhes já ameaçado pelo overturismo?

Galinha dos ovos de ouro de muitos museus, monumentos, concertos, ou exposições, o turismo estaria agora virando o vilão da cultura? Até pouco tempo, pelo menos na França, a pergunta podia parecer estranha e os responsáveis da cultura só se preocupavam em conquistar mais visitantes internacionais. No Louvre eles chegam a representar 70% das entradas – com destaque para o milhão de  americanos, os 600.000 chineses e os 290.000 brasileiros -, e mais ainda das receitas do museu e do centro comercial. E para a imensa maioria dos principais museus e monumentos franceses, os turistas são uma fonte de renda essencial, ajudando as vezes uma politica de gratuidade para os moradores ou os cidadãos  da União Europeia. A importância dos turistas para cultura foi claramente percebida em 2016 quando faltaram, e depois em 2017 e 2018 quando voltaram. Mas agora é o “overturismo” que preocupa as autoridades do setor.

O Louvre já preocupado com o overturismo

A Atout France, agencia de desenvolvimento do turismo da França, já está chamando a atenção sobre o problema, lembrando que não é imediato mas deve ser antecipado. O overturismo cultural está longe da realidade de 80% dos territórios que recebe somente 20% dos turistas internacionais, mas  ameaça especialmente  Paris onde quase todos os visitantes procuram os museus e monumentos das margens do Rio Sena. Ele preocupa também Versalhes e o Mont Saint Michel, ou até pequenos vilarejos como Saint Paul de Vence e sítios como os castelos do Loire. Todos devem preparar o futuro sabendo que a França vai receber 100 milhões de visitantes em 2020, e que a cidade de Paris, cuja população deve cair a menos de 2 milhões de habitantes, vai ver o seu números de turistas passar de 26 milhões esse ano para 54 milhões em 2050.

Veneza é o exemplo que todos querem evitar

Enquanto a cultura é a motivação principal de 50 à 70% dos turistas na França, exista mesmo uma urgência para encontrar soluções que não decepcionam os milhões de novos visitantes. Para facilitar os percursos nos sítios mais procurados, evitar as concentrações durante os grandes feriados e promover atrações culturais menos conhecidas, existem muitas experiências internacionais a ser analisadas. Firenze e Roma tentam impedir os piqueniques nas escadarias das praças ou das igrejas, Veneza experimenta bloqueios nos lugares mais procurados nas horas de pique, e destinos como Machu Pichu (Peru), Dubrovnik (Croácia), o Taj Mahal (índia), Santorini (Grécia) e a Ilha de Páscoa já tomaram medidas para reduzir o numero de turistas – quotas menores e tarifas mais altas sendo soluções cada vez mais avançadas.

O Louvre Lens, uma grande ideia para desviar fluxos de turismo cultural

Os grandes museus da França estão na mesma lógica que seus concorrentes internacionais. Todos temem que as frustrações dos amadores de arte e dos moradores frente as filas ou as confusões que fazem as galerias onde são expostas as obras mais procuradas aparecer shopping centers em tempos de promoções. Todos eles, sejam o National Gallery em Londres, o Prado em Madrid, o Ermitage em São Petersburgo ou o Metropolitan em Nova Iorque, estudam meios de canalizar os fluxos turísticos hoje imprescindíveis para suas sobrevivências financeiras: ampliar horários, melhorar acessos, orientar os fluxos, facilitar as reservas, abrir novas salas ou até criar “subsidiarias” -solução imaginada pelo Louvre em Lens e o Centro Pompidou em Metz. A médio prazo todos sabem porem que o aumento dos preços das entradas para os turistas não residentes, por discriminatório que pode parecer, é talvez a única solução que poderá tranquilizar os moradores e garantir aos visitantes o acesso a riquezas culturais que são a grande motivação do turismo internacional.

Jean-Philippe Pérol

O Met de Nova Iorque cobra agora 25 USD dos visitantes, exceto dos moradores

 

Turismo para família combinando Disney, parques, outlets … e cultura? Paris Ile de France, claro!

Disneyland Paris, primeira atração turística da Europa

As comemorações dos 25 anos da Disneylândia Paris mostraram o sucesso desse empreendimento – hoje a atração turística mais visitada da Europa com 13,4 milhões de entradas -, bem como o impacto que ele teve sobre o turismo francês. O Mickey com sotaque atraiu novos perfis de visitantes e deu um novo impulso não somente nos mercados de proximidade mas também na Ásia e nas Américas. No Brasil, que até então dava para a Flórida a quase exclusividade dos parques de lazer, foram mais de 80.000 viajantes (um crescimento de quase 40%) que descobrirão em 2017 a Disney à francesa. A crescente presença de brasileiros nos grandes parques como Asterix, o Puy du Fou e o Futuroscope, ou nos 250 outros parques  espalhados na região Paris Ile de France e nas outras regiões francesas, mostram que a França é cada vez mais considerada no Brasil como um destino para famílias com crianças grandes ou pequenas.

A Fondation Vuitton, encostada no Jardin d’Acclimatation

Em 2018, a reabertura do saudoso Jardin d’Acclimatation, encostado na Fondation Vuitton e nas florestas urbanas do Bois e Boulogne, vai dar mais um impulso na atratividade da região para o turismo de famílias. O mais antigo parque de Paris, aberto em 1860 pelo Imperador Napoleão III, está sendo completamente renovado e o seu proprietário, o grupo de luxo LVMH, tem a ambição de atrair em breve mais de 2 milhões de visitantes. O projeto inclui a renovação do patrimônio arquitetural herdado do Império, dos estábulos, do pombal, e dos aviários, bem como a valorização das atrações mais queridas dos parisienses –  Trenzinho (aberto em 1878), Rio Encantado (aberto em 1927), ou Casa dos Espelhos. Além das 23 atrações já existentes, 17 serão abertas, todas no mesmo espírito “retro-futurista” inspirado em Jules Verne. Apostando na complementaridade com a Fondation Vuitton, combinando parque e cultura, a LVMH espera atrair turistas internacionais de todas as idades.

Grandes marcas e pequenos preços no outlet La Vallée Village

Não bastassem os parques, a região Paris Ile de France está agora seduzindo as famílias pelas opções de shopping. As medidas tomadas para facilitar as aberturas de loja nos domingos, bem como a simplificação dos procedimentos de reembolso de até 16 % de impostos já agradaram os turistas. A multiplicação dos outlets  foi mais um passo. A França tem hoje 21 “vilarejos de marcas”, sendo oito perto de Paris e três em Troyes, na Champagne vizinha. Os maiores, tais como o One Nation Paris, as Marques Avenues, o Usine Center, ou o Usine Mode et Maison, chegam a juntar lojas de fábricas, lojas de departamentos (inclusive cinco Galeries Lafayette) ou até lojas tradicionais, com preços de liquidações. Pela proximidade da Disney, ou talvez das 190 lojas do shopping Val d’Europe, hospedando 120 marcas francesas e internacionais, o La Vallée Village , que hospede 120 marcas francesas e internacionais, é o mais popular junto aos turistas brasileiros.

Em Vaux le Vicomte, cultura e diversão para toda família

Na concorrência com os grandes destinos de turismo em família curtidos pelos brasileiros, a região de Paris Ile de France tem acima de tudo um trunfo importante, um acervo cultural excepcional que surpreende pelas numerosas ofertas para crianças de todas as idades. Em Paris mesmo, a Cité des Sciences, o Palais de la découverte, o Musée des Arts forains são algumas opções para as famílias, bem como o Museu do Homem, o Museu da Marinha ou o próprio Louvre, se o roteiro escolhido for adaptado – mostrando que a cultura pode também ser atual e divertida. Nos arredores da capital, os mais prestigiosos castelos, incluindo Versalhes, Fontainebleau ou Vaux le Vicomte, oferecem animações ou eventos  para adultos e crianças. Para os turistas brasileiros, que exigem das suas viagens para França uma forte dimensão cultural, será talvez um argumento decisivo para escolher Paris e sua região como o outro destino para famílias juntando parques de lazer, shopping … e cultura.

Jean-Philippe Pérol

Os Etangs de Corot, exemplo de canto escondido de Paris Ile de France

No Museu do Exército, a herança parisiense da guerra de 1870 e da “Commune”

 

“Année terrible”, assim que a chamava o Victor Hugo, 1870 foi na França o ano da primeira grande e humilhante derrota frente a Alemanha,  seguida  do inicio da atroz guerra cicil que arrasou Paris na primavera 1871. Pouco conhecidos dos próprios parisienses, e menos ainda dos visitantes, a Guerra de 70 e a “Commune de Paris” são as temáticas de uma exposição no Museu do Exército, nos Invalides. Até o dia 31 de julho essa exposição vai apresentar fotografias e peças referentes a esses conflitos, dando os quadros históricos e os pontos de vista dos dois países: para a Alemanha o longo processo de unificação de 1813 até a proclamação final de 1871 na Galeria dos Espelhos em Versalhes, para a França o ciclo das revoluções  patrióticas e sociais, da tomada da Bastilha em 1789 até o triunfo da Republica em 1879.

No bairro de La Défense, a estátua comemorativa da batalha

A exposição lembra os numerosos lugares de Paris e da sua região cuja historia é ligada com os dramas de 1870. As vezes chamado hoje de Manhattan parisiense, o bairro de la Défense deve seu nome a defesa heróica dos seus habitantes contra as tropas alemães, e a uma estátua comemorativa que foi erguida em 1880. Retirada em 1965 durante a construção do novo bairro de negócios, ele faz hoje parte do conjunto da Fonte de Agam, na Esplanada da Defense. Do outro lado de Paris, a resistência aos invasores é também lembrada na Praça Denfert Rochereau com a replica do Leão de Belfort, estátua gigante do Auguste Bartholdi (o escultor da estátua da Liberdade), que comemora o invicto defensor da cidade da Alsácia.

O Palacio dos Tuileries, destruido durante a Commune

A guerra civil, a semana sangrenta e os massacres dos revolucionários são também lembrados em vários cantos da capital. Andando nos jardins dos “Tuileries”, os visitantes podem imaginar o Palácio que ligava as duas asas do Louvre, que foi incendiado pelos parisienses e que o vitorioso “governo de Versalhes” propositalmente não quis reconstruir para que sejam lembradas as violências dos combates. Outros incêndios serão lembrados passando pela Prefeitura ou o Palácio de Justiça, outros massacres no Pantheon. E andando pelo cemitério do Pere Lachaise, onde muitos brasileiros visitam o túmulo do Allan Kardec, o visitante pode parar no famoso “Mur des fédérés” onde foram executados os últimos 147 revoltosos.

O Sacré Coeur de Montmartre, memória discutida mas popular de 1870/1871

A exposição não podia esquecer o Sacré Coeur de Montmartre, cuja construção foi decidida em 1871 como uma promessa do comerciante Alexandre Legentil, que queria que a França pedisse perdão dos pecados dos republicanos responsáveis, segundo ele, da derrota e da guerra civil. Com o apoio da igreja e da maioria ultra conservadora de Congresso, foi decidida a construção de uma basílica no mesmo lugar onde tinha começada a revolução parisiense, na época uma praça repleta de barracas de feirantes, e de bares populares. O Sacré Coeur de Montmartre foi logo um sucesso popular. Dez milhões de fieis fizeram doações para sua construção, e hoje a basílica é o segundo monumento religioso mais visitado da França com 11 milhões de entradas.

A barricada da Place Vendôme, foto do acervo doado pelo Dom Pedro II

Outros lugares de Paris ainda lembram essa época, inclusive a Place Vendôme então cercada de barricadas e onde a famosa coluna foi derrubada pelos revolucionários. Mas mesmo polêmico, gerando brigas entre liberais e patriotas ou entre socialistas e conservadores, mesmo se esse ano a Prefeita de Paris ainda recebeu um pedido de demolição da basílica, o Sacré Coeur ficou como a mais visível e a mais famosa memória dessas duas grandes feridas francesas que foram a Guerra de 1870 e a Commune de Paris. E, para o consenso, é possível caminhar pela Rua do 4-Septembre, que lembra a proclamação da República, essa herança de todos.

Jean-Philippe Pérol

A paz e a harmonia dos Jardins dos Tuileries

Na grandeza de Versalhes, o chefe Ducasse revisitando as refeições do Rei Sol

O patio de hora do palacio de Versailles

O pátio de hora do palácio de Versalhes

Convidado a mesa do Luis XIV, o mais faminto dos gourmets do século XXI teria muitas dificuldades para acompanhar o apetite do Rei, com suas refeições de trinta a cinquenta pratos divididos em cinco a sete “serviços”.  Com muitas carnes de caça, peixes de agua doce, todos os tipos de aves (incluindo pavão ou cisne), e legumes da horta real (o rei era viciado em ervilhas), o culinário da época estranharia hoje pelas especiarias e pelos alimentos, muito cozidos ou super bem-passados. O serviço também era diferente, com a mesa sempre cheia de pratos, os convidados comendo sem garfo e as bebidas sendo servidas separadamente.

Mesas do "Café contemporain" Ore

Mesas do “Café contemporain” Ore

Se o Rei Sol e seu esplendor pertencem ao passado, o famoso chefe estrelado Alain Ducasse decidiu trazer de volta em Versalhes parte das grandes tradições culinárias do século XVII. No ultimo dia 13 de setembro, inaugurou no Pavilhão Dufour, na entrada do Castelo, um Restaurante chamado Ore, palavra latina significando Boca. Durante dia, começando no café da manha, Ore é um elegante “café contemporâneo” com um cardápio oferecendo receitas clássicas do culinário francês inspiradas da época, mas também pratos simples ou rápidos, sobremesas ou doces para acompanhar um simples cafezinho ou um chá da tarde. Num local atraindo muitas famílias, o Alain Ducasse também não esqueceu de oferecer um menú para crianças.

As salas do restaurante

As salas do restaurante, reabilitadas pelo Dominique Perrault

De noite, os salões do restaurante, reabilitados pelo famoso arquiteto Dominique Perrault, podem virar o palco de uma experiência única, um jantar privativo respeitando o cerimonial, os cardápios, a louça, o serviço e a decoração dos tempos do Louis XIV. Levando os convidados para as suas mesas, o maitre grita “Messieurs, à la viande du roi !” (Senhores, vamos para a carne do Rei) como exigia o protocolo. Os garçons de peruca vestem  uniformes da época. A louça da “Manufacture royale de Limoges” foi especialmente reeditado pelo Bernardaud, e os copos de cristais não são  padronizados como era de praxe.

Com pratos, o impressionante cardápio de uma refeição do Rei Sol

Com 44 pratos, o impressionante cardápio de uma refeição de 1757

Alain Ducasse quis, nesse lugar único, oferecer  uma comida francesa contemporânea, mas  inspirada do culinário da época dos reis, não somente um jantar mas uma verdadeira experiência histórica e gastronômica. Os convidados podem assim começar com quatro entradas (caldo de ervas, legumes ao natural, croquetes de rã, lagostinhas com caviar e cogumelos recheados), continuar três pratos principais (peixe pregado ao molho holandês, patê quente de carnes de caça, galinha com lagostinhas), dois pratos menores (tortas de trufas brancas e pretas, guisado de cogumelos selvagens), e acabar com três sobremesas (groselhas com agua de rosa, bolo Fontainebleau com morangos do mato, e o famoso bolo de chocolate Louis XIV).

Alain Ducasse no seu restaurante de Versalhes

Alain Ducasse no seu restaurante de Versalhes

O novo empreendimento do criativo chefe vai alem do Café e do restaurante. O Ore aproveita também uma galeria de recepção de 2.700 m2, um auditório de 150 lugares, salas de seminários, e uma cozinha com equipamentos da ultima geração. A diretora do Palácio de Versalhes, Catherine Pégard, acredita que,  com a chegada do Restaurante Ore, a arte de viver a francesa vai ganhar em Versalhes uma vitrina excepcional junta aos visitantes vindo do mundo inteiro. Obrigado ao Rei Sol e a Alain Ducasse.

Jean-Philippe Pérol

 

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Alegria, ironia e emoção na nova campanha do turismo #Made in France

Chá da tarde assim, só em Paris

Chá da tarde , só em Paris

Mesmo se os parisienses conseguiram superar as traumas dos dramas de novembro passado, mostrando que sua alegria de viver, e de receber os seus visitantes,  era a melhor resposta a dar ao ódio e a intolerância, o turismo na cidade luz ainda não voltou aos níveis anteriores. France web 2048x1363 vidaA recuperação é visível nos principais destinos do interior da França, mas ainda é lenta em Paris, especialmente nos mercados internacionais, seja tradicionais ,como o Japão ou a Itália,  ou seja emergentes, como o Brasil, a Rússia ou até a China.  Para tranquilizar os turistas sobre a segurança e o atendimento  e também reforçar a excepcional atratividade de Paris, o ministro das Relações exteriores e do turismo, junto com a prefeita de Paris, apresentou um plano de comunicação que será desenvolvido em 16 países do mundo, incluindo no Brasil.

Fast

Fast food, só em Paris

Lembrando que o turismo é uma prioridade nacional, um pilar da  economia gerando dois milhões de empregos, o ministro anunciou que valorização da “Arte de viver” a francesa, a sua liberdade e a sua diversidade enraizadas na cultura nacional, serão os focos da campanha.  A França quer lembrar que virou o primeiro destino do turismo internacional pela força da sua tradição de hospitalidade e pelos laços históricos ou culturais que ela sempre manteve pelo mundo. France web 2048x1363 normandiaCada visitante deve ser convencido que  as autoridades e os profissionais estão empenhadas a garantir seu conforto, sua segurança e a qualidade do seu atendimento. Sendo mais atingida, Paris será também priorizada na campanha por ser  o destino privilegiado dos turistas vindo de fora da Europa (85% dos pernoites dos brasileiros na França são parisienses) , e o portão de entrada para os outros destinos da França bem como de muitos roteiros europeus.

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Tráfego aéreo, só no Vale de Loire

Com mais de cem ações programadas pela Atout France, a campanha se apoia em visuais alegres e descontraídos mostrando como a arte de viver a francesa pode transformar os mais comuns dos clichês em momentos de emoções ou em experiências únicas. Em cartazes nos aeroportos franceses , em quadros nas embaixadas, ou em posts nas medias sociais , a campanha terá  toques de humor associando experiências inesperadas com os destinos promovidos: “Só em Paris”, “Só no Vale do Loire”, “Só em Versalhes”, “Só na Normandia” , e , claro,  “Só na França”. France web 2048x1363 galeriaPara conferir essas promessas feitas para os visitantes, o ministro declarou que serão convidados nas próximas semanas jornalistas, agentes de viagens, operadores, e blogueiros. Influenciadores vindo do mundo inteiro que ajudarão a desenhar  e a divulgar experiências diferentes  para viver  a alegria da arte de viver a francesa.

Arranha-Céu assim, só em Versalhes

Arranha-Céu, só em Versalhes

Montpellier, capital da França dos 40 destinos turísticos!

Montpellier, sede do Rendez vous en France 2016

Montpellier, sede do Rendez vous en France 2016

No próximo dia 5 de Abril, 740 expositores franceses e 900 profissionais e jornalistas de turismo vindo de 70 países, incluindo 38 brasileiros, vão se encontrar em Montpellier para participar da 11a edição do Salão Rendez-vous en France. 56791583961092591037010415rendezvousfrance0223Maior encontro turístico da França, ultimamente organizado pela Atout France em Toulouse, Clermont-Ferrand e Paris, o “Rendez vous” tem, desde as suas origens, dois objetivos principais: atualizar os contatos entre os grandes atores do turismo francês, e mostrar a diversidade da oferta das regiões francesas – mais especialmente os 80% do território nacional que recebem menos de 20% dos visitantes.

Galeria das Batalhas em Versalhes

Galeria das Batalhas em Versalhes, Rendez vous en France 2002

A vontade de promover destinos novos sempre caracterizou os eventos organizados pelo turismo francês. Nos anos 80, já com o apoio da Air France, a “Bienvenue France” colocava frente a frente, nos salões do Concorde Lafayette, operadores internacionais, hotéis parisienses e agentes receptivos. Eram então privilegiadas as excursões em ônibus circulando pela França inteira ou pela Europa, com os circuitos de Paris Vision, Cityrama ou Transocean. RVEF 2015A partir de 94, a vontade de mostrar a riqueza turística das regiões levou a criação de salões especializados. A então “Maison de la France” desenvolveu, ao lado do “Rendez vous en France”, o “Grand Sud” – reunindo Aquitânia, Midi Pyrénées, Languedoc, Provence e Córsega, o “Cap à l’Ouest” – juntando Britânia, Vale do Loire, Poitou e Normandia, e as “Routes du goût Grand Est” – contando com Borgonha, Champagne, Lorena, e Alsácia. Virou um evento excepcional – chegando em 2002 a encher  até o Palácio de Versalhes -, mas o seu gigantismo e seus dez dias de duração obrigaram então a pensar num outro esquema. Surgiu a ideia de um salão itinerante – inspirado do Pow How americano -, que vigorou a partir de 2006, alternando Paris e cidades candidatas de outras regiões francesas, mas sempre combinando encontros profissionais e roteiros de descobertas.

A praça do Capitole, em Toulouse Pyrénées

O Capitole, em Toulouse Pyrénées, Rendez vous en France 2013

Se o Rendez vous en France sempre foi uma grande ocasião de promover as regiões francesas, o encontro de Montpellier vai ter um destaque especial. Em primeiro lugar porque as regiões vão aparecer pela primeira vez com os novos agrupamentos definidos em janeiro desse ano, seja 17 regiões em vez de 26, sendo agora reunidas as duas Normandia, o Norte e a Picardia, a Alsácia, a Lorena e a Champagne, Midi Pyrénées e o Languedoc, a Auvergne e Rhône Alpes, e a Borgonha (ex ducado) com o seu antigo “franco condado”.  635-rdvefO encontro será também a ocasião de testar, junto aos profissionais convidados, o apelo das novas marcas mundiais que a Franca quer agora promover, marcas tradicionais como Provence, Bordeaux ou Champagne, mas também marcas mais recentes como Alpes-Mont-Blanc, Biarritz-Pays-Basque, Toulouse-Pyrénées ou Languedoc-Méditerranée. Um total de 40 destinos empolgados a oferecer o melhor atendimento aos visitantes vindo do mundo inteiro, e mais especialmente do Brasil!

Jean-Philippe Pérol

 

O Puy de Dome, inesquecível cenario do Rendez vous en France 2014

O Puy de Dome, inesquecível cenario do Rendez vous en France 2014

 

Em Versalhes, criatividade e tecnologia no tricentenário da morte do Louis XIV

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Comemorando dia 1 de setembro os 300 anos da morte do Louis XIV, o palácio de Versalhes mostrou muita originalidade, ao enriquecer ainda mais os roteiros dos numerosos visitantes – mais de oito milhões esse ano – do mais famoso conjunto arquitectural do século XVII, patrimônio mundial da humanidade.Duguay Trouin no Rio de Janeiro E se o “Rei Sol” tem algumas razões para não ser muito popular no Brasil – suas tropas saquearam duas vezes o Rio de Janeiro e ele tentou empurrar as fronteiras com a Guiana do Oiapoque para o Araguari -, seu deslumbrante palácio é um dos favoritos dos viajantes brasileiros, que representam 4% dos visitantes estrangeiros.

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Na riquíssima programação do Tricentenário, alguns eventos merecem ser destacados pela criatividade e a atualidade, mostrando que as homenagens às glorias do passado podem combinar com divertimento e vanguardismo tecnológico. Quarto do Louis XIV no Grand TrianonDuas exposições – o Grande Trianon de Louis XIV até Charles de Gaulle e “Le Roi est mort”–  vão mostrar peças originais, algumas completamente desconhecidas do grande público. Mas para melhor divulgar essa segunda exposição, o Palácio de Versalhes se associou à companhia telefônica Orange para lançar um “MOOC” (Massive Online Open Course), uma formação aberta a todos, com um conteúdo cultural inédito e sete sequências com vídeos, podcasts, quizz lúdicos e o foro de chat com os palestrantes. Com inscrições abertas desde o dia primeiro de setembro, o curso vai entrar no ar no dia 26 de outubro e quem conseguir chegar ao final, dia 4 de janeiro, ganhará um diploma de Versalhes!
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Um outro evento excepcional será o concerto “Les funérailles du Roi”, dias 2 e 3 de novembro. louisxivInspirados das cerimônias funerárias que começaram no dia 9 de setembro 1715, no Palácio de Versalhes, continuaram durante 40 dias na Basílica de Saint-Denis, e que se entenderem depois na Sainte Chapelle e na catedral Notre-Dame-de-Paris, o maestro Raphaël Pichon e sua orquestra “Ensemble Pygmalion” inventaram um espetáculo único. Na Capela Real do Palácio, serão interpretadas as músicas tocadas e cantadas nos funerais, primeiro na câmara mortuária, depois na procissão. E comemorando as últimas cerimônias em Notre-Dame,  a orquestra fechará o concerto com o “Dies Irae de Delalande”.

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Quem procurou na terça-feira passada o hashtag #LouisXIV foi surpreendido pela audácia e pela inovação do Palácio de Versalhes. Túmulo do Louis XIVPara recriar a tragédia nacional, que foi a morte do Louis XIV depois de um reinado de 72 anos, os organizadores do Tricentenário não só abriram o site Leroiestmort.com, mas também criaram uma conta Twitter @cversailles e o hashtag especial #leroiestmort, dando assim aos usuários de mídias sociais a possibilidade de seguir, minuto a minuto, o impacto da morte do Rei Sol e os acontecimentos da época através dos meios de comunicação do século XXI.  E o twit “Le Roi est mort, Vive le Roi”, poderia ter sido, nesse 1 de setembro 1715,  o mais visto da história.  

Jean-Philippe Pérol

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Pau de selfie e cultura: ameaça ou oportunidade?

OBAMA NO SELFIE

O pau de selfie, o indispensável acessório de alguns fãs da Facebook ou da Instagram que para dividir as suas emoções de viagens, acabou de ser proibido nas visitas do castelo de Versalhes. Lembrando a especificidade do lugar, a estreiteza de varias salas e a fragilidade dos objetos expostos, o diretor avisou que os guardas eram agora encarregado de fazer respeitar essa proibição. SELFIEO Louvre ainda não se pronunciou a esse respeito, mas os seus dirigentes ficaram cautelosos, talvez pensando nas reações negativas dos jovens e dos estrangeiros (especialmente americanos, chineses e brasileiros) que componham a maioria dos 9,3 milhões de visitantes. Lembraram que os paus de selfie não são proibidos mas que só podem ser utilizadas respeitando as obras expostas e a convivência com o público.

SELFIE NA FRENTE DA PIRAMIDA DO LOUVRE

O Centro Pompidou parece estar caminhando para proibição, justificando que ela se aplica também a bengalas e mochilas. Seguindo uma tendência quase global, a National Gallery de Londres acabou de anunciar essa mesma medida. O porta-voz do museu declarou que os pau de selfie representavam um perigo para as obras expostas bem como para os direitos autorais. “Autorizamos as fotos pessoais mas não as profissionais, especialmente com flash ou com tripé. E consideramos que os paus de selfie se assimilam aos tripés.” Explicações não muito convincentes, mas que foram avançadas na Espanha pelo Museu da Rainha Sofia e que o British Museum deve adotar em breve para justificar a mesma decisão.

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Vários museus americanos, o Moma e o Metropolitan em Nova Iorque, ou o Smithsonian em Washington, já se pronunciaram também contra esse polemico assessorio, bem como o Museu dos Uffizi em Firenze ou o Heritage em Amsterdam. Em Madri o Museu de Prado lembrou que não é permitido fazer qualquer foto das obras expostas, bem como entrar com qualquer acessório considerado perigoso – bengalas, guarda-chuvas ou outros.

France Selfie Stick

Proibido nos shows na Inglaterra ou nos estados de futebol no Brasil, o pau de selfie pode sem dúvidas ser uma fonte de polêmicas. Pode ser de má gosto ou pode ser ridículo. Como cada novidade, o seu uso pede cuidados especiais ou pelo menos bom senso em não invadir uma foto alheia ou atrapalhar outros turistas ao esticar o equipamento. IMG_2374Mas diretores de museus bem como estrategistas do turismo devem se lembrar que esses acessórios ajudam os viajantes a mostrar novos ângulos de cenários famosos ou a juntar grupos de amigos em uma só foto. Junto com os smartfones ou as medias sociais, eles fazem parte dessa grande revolução de liberdade e de alegria que o web carregou nas vidas dos cidadãos da aldeia global. Em vez de proibir os paus de selfie, é sem dúvidas melhor seguir o exemplo do Obama, reagir com audácia e criatividade vendo neles não uma ameaça mas  uma oportunidade para divulgar melhor museus ou eventos culturais .

Jean-Philippe Pérol