A história do transporte aéreo, uma guerra com poucos sobreviventes

A fusão com a Varig só atrasou o fim da Cruzeiro

Se o transporte aéreo cresceu de 5% por ano desde a Segunda Guerra Mundial, a história das grandes empresas do setor foi bem mais movimentada. Na América do Sul, olhar 50 anos para trás é sem dúvidas assustador. A VIASA venezuelana desapareceu em 1997, a AVIANCA sobreviveu, mas atravessou dois “Chapter 11” e as falências de várias subsidiárias, a Ecuatorián de Aviación colapsou em 2006, enquanto a Faucett e a Aeroperú desapareceram. No Chile, a LAN Chile se manteve mas a LADECO foi absorvida. A Aerolinas Argentinas também se manteve, protegida pelo seu estatuto público, mas a LAP paraguaia e a PLUNA uruguaia pararam de operar em 1994 para a primeira, em 2012 para a segunda.  O Brasil não escapou destas convulsões, e as 4 grandes companhias aéreas que sobrevoam os céus tupiniquins nos anos 1970 desapareceram, a Cruzeiro em 1993 , a Sadia/Transbrasil em 2001 , a VASP em 2005 e a VARIG em 2006.

A sede da PANAM na Park Avenue foi muito tempo o símbolo da sua potência

Se esse quadro parece desanimador, é importante ressaltar que as mesmas dificuldades foram enfrentadas pela companhias aéreas  históricas dos outros continentes. Assim nos Estados Unidos onde, desde 1960, 65  tiveram que buscar a proteção judicial do “chapter 11”, e 32 delas, incluindo os mais prestigiosos nomes do setor. A PAN AM, a grande pioneira que revolucionou o transporte aéro no final dos anos 1960, abriu a primeira volta ao mundo, iniciou os voos do B747, criou os sistemas de reserva eletrônicos, revolucionou as atividades comerciais. A sua sede arrogante na Park Avenue parecia o símbolo da sua supremacia mundial, até que a liberação do setor e a chegada dos low costs a levassem a sua falência em 1991.

O Concorde unilateral da Braniff voou de Paris para Dallas

A sua concorrente  TWA , com a qual dividia as principais rotas internacionais, seguiu o mesmo caminho. Muito tempo liderado pelo excêntrico Howard Hugues, a companhia era o símbolo de sucesso do seu país. Vítima dos mesmos problemas que a PANAM, desapareceu com as dificuldades  e teve que fusionar com a  American Airlines em 2001. Outra vítima famosa foi a Braniff que, depois de uma trajetória fulminante, marcada pelos seus aviões coloridos e a parceria num Concorde Paris Dallas com a Air France, desapareceu em 1982. A própria American Airlines, assim como as outras duas grandes transportadoras aéreas estadunidenses nascidas nos anos 1920, Delta Airlines  e United Airlines, só sobreviveram depois de ter passadas pela triste mas salvadora experiência do  « Chapter 11 ».

A queda da Swissair chocou o mundo da aviação mundial

Na Europa, a guerra do aero deixou também poucos sobreviventes entre as grandes empresas históricas do setor. A espetacular queda da Swissair em 2002 foi somente um acidente numa longa e saudosa lista onde constam a UTA francesa, a BCAL da Escócia, a Sabena belga, a Olympic grega, e ultimamente a Alitália, a SAS escandinava só escapando pela sorte de conseguir um « Chapter 11 » bem gerenciado. Talvez sem surpresa,  as empresas que se saíram melhor foram justamente as três maiores companhias europeias, enraizadas nas três maiores potências econômicas da região: França, Reino Unido e Alemanha.

A Air France se saiu reforçada, guardando a elegância

Enquanto a ascensão das companhias do Golfo e a força dos seus hubs pareciam  irresistíveis, e que os low costs enxugavam a maior parte das ligações intra-europeias, as três empresas escreverem exemplos de resiliência e de transformações vencedoras. A  Air France,  com o apoio firme dos sucessivos governos franceses, conseguiu não somente se sair das crises, mas ainda ser bem sucedida na complicada fusão com a KLM. A British Airways, perto da falência no início dos anos 2000, teve que reduzir suas ambições e sua rede, mas  sobreviveu brilhantemente. E a Lufthansa não foi poupada pelas crises, mas superou todas as dificuldades e ampliou sua cobertura através de aquisições seletivas. As três ganharam e sobreviverem, mas agora a guerra continua, e o Oriente Médio e a Asia serão talvez os próximos campo de batalha.

Esse artigo foi inspirado em um artigo original da revista profissional on-line francesa Tourmag

 

Air France, a esperança está na diferença

Ben Smith, o CEO na primeira linha para saida da crise

7,1 bilhões de Euros de prejuízo. Um numero que assusta mesmo no mundo do transporte aéreo atingindo pela crise do Covid, um choque sem precedente para Air France que, junto com sua coligada KLM, perdeu em 2020 59% do seu faturamento e 67% dos seus clientes. Mesmo com fortes reduções de despesas, e corte de 8.700 empregos,  o pesadelo do grupo franco-holandês pode ainda não ter chegada ao fim. O diretor financeiro do grupo avisou que o ano 2021 será complicado, que o primeiro trimestre é  difícil e que a retomada será lenta e progressiva a partir do segundo trimestre desse ano. Os reajustes de despesas continuarão com mais 6.000 cortes de empregos, os resultados só voltarão a ser positivos em 2023, e a crise  deveria ser completamente superada somente em 2024 …

Para seus 60 anos, a Air France ganhou um selo comemorativo

Mesmo se a queda da Pan American em 1991 ensinou que mesma as maiores companhias aéreas são mortais, é impossível imaginar que a “Compagnie Nationale Air France”  não consegue se sair por cima dessa crise. Fundada oficialmente em 1933 – mas tendo incorporado a Aeropostale do grupo Latecoere que tinha sido criada em 1917 -, ele atravessou com sucesso muitas crises econômicas, humanas, políticas e sociais. Para a França, foi durante muito tempo uma excepcional ferramenta de politica internacional e de apoio a industria nacional. A escolha dos seus dirigentes, de Pérol à Juniac, d’Attali à Spinetta ou de Blanc à Janaillac, foi sempre um privilégio da Presidência da República, e o apóio político e financeiro nunca faltou, seja depois da guerra, seja na primeira crise do petróleo em 1974, ou  mesmo quando, em 1994, a companhia precisou de  EUR 4 bilhões de hoje  para se reestruturar.

O Concorde fez história também no Rio de Janeiro

No Brasil, a Air France sempre foi uma companhia diferente. Pela história – gravada da ponta de Fernando de Noronha até as praias de Caravelas ou os campos de Pelotas -, pelo pioneirismo – do Concorde que pousou no Rio de Janeiro de 1976 até 1983, ou dos B747 em Manaus-, ou pelos eventos espetaculares – o Premio Molière nos teatros de Rio, São Paulo, Manaus, ou Belem. Air France devia também sua posição peculiar a importância das ligações entre o Brasil e a França – que foi até 2016 o primeiro destino de viagem dos brasileiros na Europa. Com alegrias, sucessos, e também terríveis tragédias, era percebida como a mais brasileira das companhias aéreas internacionais, e as pesquisas mostravam que nas cabeças e nos corações dos brasileiros, só tinha um concurrente: a VARIG.

A crise levou os velhos B747 bem como os revolucionários A380

A aventura da Air France vai mesmo continuar, o governo francês já injetou  EUR 7 bilhões desde o inicio da crise, e já sinalizou que ia fazer os investimentos necessários – mesmo se tivesse de resistir as vontades de rebaixamento da União Européia. Para todos aqueles que seguem a epopeia dessa grande companhia, a esperança é que continua sendo uma companhia aérea carregando uma visão diferente, não somente explorando aviões mas sendo sempre uma “compagnie nationale”. Uma companhia cujas rotas seguem e reforçam as ligações da França com os países amigos, cujas escolhas tecnológicas continuam pioneiras e seguras, cujo serviço seja a vitrina do art de vivre e da elegância a francesa, uma companhia falando francês, cuja presença nos quatro cantos do mundo, e mais especialmente no Brasil, seja enraizada na historia e na cultura comum.

Jean Philippe Pérol

 

Na grande crise de 1974, Gilbert Pérol da Air France e Antoine Veil da UTA desenhavam juntos as soluções para a retomada

Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue” do autor na revista profissional on line Mercado e Eventos

O Tropical de Manaus, saudades de um sonho que não pode acabar

Frente as águas negras do Rio, o Tropical de Manaus

Que tristeza de ler hoje, no querido  jornal manauara A Critica, que o Tropical Hotel de Manaus irá a leilão no dia 25 de julho, e que valor arrecadado será utilizado para o pagamento de dívidas trabalhistas em processos que tramitam no tribunal regional do trabalho. Mesmo esperada desde a suspensão das atividades do hotel em maio – quando a luz foi cortada por falta de pagamento-, essa noticia abalou todos os profissionais do turismo bem como os apaixonados pela Amazonas. Emblemático da nossa saudosa VARIG, o Tropical de Manaus marcou os anos dourados do turismo de Manaus, quando o sucesso da Zona Franca, os oito voos diários para São Paulo, e as ligações internacionais da própria VARIG, mas também da Braniff, da LAP e da Air France atraiam turistas do mundo inteiro no coração da Amazônia brasileira.

O Presidente Giscard num seringal do Mamuri em 1978

A tristeza leva a perguntar quais são as razões que levaram a esse desastre. Alem do desaparecimento da VARIG e das dificuldades da Tropical hotéis, o hotel da Ponta Negra fechou também pelo paradoxo da queda do turismo na Amazonia brasileira num momento da historia aonde o eco-turismo e o turismo verde atraiam cada vez mais viajantes. Enquanto Manaus recebeu nos anos 70 e 80 o Presidente da França, o Rei da Suécia ou o Chanceler da Alemanha, enquanto artistas, escritores, ricos e famosos do mundo inteiro se hospedavam nos quartos do Tropical, são hoje os lodges da Costa Rica, do Vietnã ou da Indonesia  que recebem os maiores fluxos de ecoturistas. E quando esses escolham mesmo de ficar na Amazônia, percebe se a concorrência das Amazônias peruana, colombiana, equatoriana, surinamense ou até francesa.

O charme e o luxo sustentável do Mirante do Gavião

O turismo em Manaus tem porem umas imensas oportunidades com a atualidade das preocupações internacionais para preservar a floresta amazônica, e com a procura de destinos turísticos respondendo as novas tendências do ecoturismo. Num setor de concorrência extrema, o sucesso virá pelos números projetos que já existem, tanto de alojamento – do EcoPark ao Mirante do Gavião, do Juma Lodge ao Hotel Amazônia, ou do Anavilhanas Lodge ao novo Casa Perpetua-, de lazeres  – do Museu da Borracha e do MUSA ao Festival de Ópera-, de cruzeiros – da Katerre ao Aria ou ao Belle Amazon-, ou de restaurantes – do Caxirí ao Banzeiro-. Eles já estão mostrando que o setor soube evoluir, e criar produtos e serviços oferecendo as experiencias que os viajantes procuram.

A Pousada Uacari, a excelência em termo de turismo sustentável

Para crescer mesmo, e deixar a gente sonhar numa reabertura de um grande hotel international na Praia da Ponta Negra, o turismo na Amazônia terá talvez que aproveitar três ideias. A primeira é que a expectativa internacional de proteção do meio ambiente nessa região é imensa, trazendo um dever de excelência nesse setor. O desenvolvimento do turismo será olhada de muito perto, e qualquer desrespeito das práticas exemplares em termo de sustentabilidade, qualquer aceitação de atividades ecologicamente incorretas, terão um enorme impacto em comunicação, e afugentarão os viajantes. A segunda é que o turismo de Manaus só pode ser exclusivo, os fluxos serão sempre pequenos porque o acesso é difícil e as experiencias intimistas. Com poucos visitantes, devem se privilegiar o luxo e o charme. E os produtos e serviços têm que ser de forte valor agregado para trazer ao estado e aos  habitantes os retornos econômicos indispensáveis.

O Teatro Amazonas foi decisivo para construir o mito de Manaus

A terceira ideia é que, marcas excepcionalmente conhecidas no mundo inteiro, Manaus e a Amazônia devem. para voltar a atrair os fluxos de viajantes que necessitam, apostar não somente na natureza, nas matas e nos rios, mas também nas suas Historias – a riqueza do patrimônio, começando pelo Teatro, ou a força do passado terrível do ciclo da borracha-, e nos seus povos – tradições culturais ou, mais ainda, vida autentica das suas comunidades ribeirinhas. Morreu o Hotel Tropical, mas os ingredientes de um novo ciclo do turismo em Manaus existem e podem deixar acreditar que o Fenix pode talvez pousar um dia na praia da Ponta Negra.

Jean Philippe Pérol

Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue”  do autor na revista profissional on line Mercados e Eventos 

Barco regional de alto padrão, o Belle Amazon navegue nos rios Amazonas, Tapajós e Rio Negro

Air France e o Brasil, uma longa história de amor, até quando?

A chegada do voo inaugural de Concorde no Rio

A Air France sempre foi no Brasil uma companhia aérea diferente. Me lembro duma pesquisa feito nos anos 70 que mostrava as imagens de dezoito grandes companhias internacionais operando no Brasil, então lideradas pela VARIG, a Pan Am, a TAP, a Iberia, a Lufthansa, a Alitalia e a BCAL. Todas elas eram avaliadas com uma série de critérios – da qualidade do serviço a bordo até a segurança-, e na avaliação geral a Air France só tinha um concurrente pela frente. Não era nenhuma companhia européia ou americana, era a própria VARIG. Os grandes eventos organizados pela empresa francesa – os  charmosos 2000 “muguets” distribuídos para o Primeiro de Maio, ou os baladíssimos “Prêmio Molière” de São Paulo, Rio e até Manaus- contribuíam a consolidar a imagem de uma empresa peculiar no coração dos brasileiros.

A Ponta da Air France em Fernão de Noronha

Essa ligação especial tem raízes na história da Air France no Brasil que começou em 1927 quando a então Aeropostale ligava Paris a Dakar e, depois de uma travessia do Atlantico em navios “aviso”, Natal a Rio de Janeiro. Os brasileiros viram os aviões da Air France sobrevoar Fernando de Noronha, pousar nas praias de Caravelas e  ter sua base carioca no Campo dos Afonsos. O pioneirismo da empresa voltou a empolgar o Brasil quando a companhia escolheu o Rio de Janeiro para inaugurar o primeiro voo comercial do Concorde no dia 21 de janeiro de 1976. Foi ainda a primeira companhia aérea que inaugurou no dia 31 de Março 1977 um voo internacional entre a Amazônia brasileira e a Europa, ligando Manaus a Paris duas vezes por semana. E, voltando para o Nordeste com sua parceira KLM no último 3 de Maio, fez agora de Fortaleza um novo hub de transporte aéreo internacional.

Jean-Marc Janaillac anunciou sua demissão dia 4 de Maio

Apoiada na excepcional posição da própria França – no Brasil, um dos dois primeiros destinos europeus -, e reforçada pela qualidade crescente dos seus serviços, esse lugar especial da Air France no coração dos brasileiros leve hoje a uma tristeza e uma preocupação frente aos recentes acontecimentos. As greves repetitivas lideradas por pilotos cujos salários podem ultrapassar 100.000 reais por mês, e o voto de 55% do pessoal contra o plano de reformas, levaram o novo Presidente, Jean Marc Janaillac, a pedir demissão, abrindo uma crise inédita e uma queda de mais de 10% das ações da empresa. Paradoxo da história, os funcionários da KLM, empresa comprada pela Air France em quase falência em 2004 mas que soube fazer as reformas necessárias, denunciaram a atitude irresponsável dos seus colegas.

Chegada em Fortaleza do primeiro voo Paris Fortaleza do grupo Air France

Já visto em muitas empresas aéreas, especialmente na América do Sul, o cenário de uma empresa do setor incapaz de aceitar as indispensáveis mudanças, e então desaparecendo, é muito conhecido. Do Brasil vimos assim sumir Cruzeiro do Sul, Transbrasil, VASP, VARIG, as vizinhas Pluna, LAP, LADECO, Ecuatorian, Fawcett ou VIASA, e as internacionais Pan Am, Braniff, SAS, BCAL, Swissair ou SABENA. O Ministro da fazenda da França, Bruno Lemaire, lembrou claramente que  a sobrevivência da empresa estava em questão e que o governo francês, dono de somente 14,3% do capital, não iria pagar os prejuízos e as dívidas da outrora companhia nacional. Mesmo recusados por todos e pouco prováveis, os piores cenários, a separação da KLM e um destino de tipo ALITALIA ou VARIG, foram imaginados por alguns analistas.

Um desafio: convencer os pilotos que Guiness de salários não permitem greves.

Em nome dos milhões de brasileiros que já voaram nas asas da Air France desde o Rio, São Paulo, Recife, Campinas, Belém, Brasília ou Fortaleza, em nome dos milhares de funcionários brasileiros que já trabalharam nos seus escritórios, nas suas escalas ou até a bordo, vamos torcer para que a crise atual seja superada e que nossa querida Air France volta com o pioneirismo, a criatividade, a seriedade, o bom atendimento e a fé no Brasil que ela sempre demonstrou. Sim, amamos a Air France, e queremos amar la para sempre!

Jean-Philippe Pérol

 

O Dreamliner agora nas rotas Brasil da Air France

 

Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue” do autor na revista profissional on line Mercados e Eventos

Parabens para o Turismo do Portugal!

Os cais da Ribeira e a ponte Dom Luis no Porto

Ganhando o título de melhor destino europeu nos World Travel Awards 2017 no último mês de Setembro na Rússia, o Portugal confirmou brilhantemente os seus sucessos dos últimos anos como estrela crescente do turismo europeu. Depois de levar 14 Oscars do turismo em 2015, e 24 em 2016, os profissionais portugueses conseguiram a façanha inédita de levar 37 prêmios, incluindo o melhor terminal de cruzeiros (Lisboa), a melhor ilha turística (Madeira), o melhor destino de praia (Algarve), o melhor orgão oficial de turismo (Turismo de Portugal), bem como varios destaques para a TAP, os hotéis Pestana, Quinta do Lago e Vila Joya. Os World Travel Awards recompensaram assim o Portugal pela sua nova imagem, sua segurança e seus preços competitivos, e o atendimento dado seus 21 milhões de turistas.

A Secretária Ana Godinho recebendo o WTA 2017

Se os World Travel Awards foram um justo reconhecimento dos sucessos do turismo português ao nível internacional, o Brasil é sem dúvidas um dos países onde a progressão foi a mais espetacular, tanto pela mudança radical na imagem que pelos resultados. Quem se lembra do mercado brasileiro dos anos 90 sabem que o Portugal nem aparecia no pódio dos principais destinos europeus. O Portugal só vinha em quinto lugar das preferências dos brasileiros, atrás da França, da Itália, da Espanha e até da Inglaterra. O Brasil era então uma exceção na América Latina como o único pais a não dar uma posição de destaque para sua ex potencia colonizadora, todos os “hermanos” escolhendo a Espanha como primeiro destino.

O Palácio da Pena em Sintra

A imagem do Portugal – então considerado antiquado, atrasado e depreciativo – era a primeira responsável por essa singular colocação, e impactava todos os profissionais lusitanos, as vezes com maiores injustiças. Lembro assim duma pesquisa feita pela Air France nos anos setenta sobre a imagem das companhias aéreas no Brasil. Destacava a força global da Varig e logo depois da Air France, única transportadora estrangeira a se aproximar da saudosa Viação Riograndense, mas classificava também as  empresas por cada fator de julgamento. Assim em termo de segurança, a TAP era considerada a menos seguras da 15 companhias internacionais operando no Brasil, enquanto era a única da lista a nunca ter sofrido um único acidente (a primeira colocada era uma empresa americana que tinha lamentada 5 acidentes naquele ano …).

Roof top bar em Lisboa

Mas hoje o quadro mudou completamente, a imagem do país passou a ser moderna, segura, acolhedora e descontraída. A TAP quase virou uma companhia nacional brasileira, com mais de 70 voos semanais saindo de 10 capitais. Destino na moda para jovens, ativos ou aposentados, o Portugal lidera agora os destinos europeus favoritos dos brasileiros. Desde 2016 passou na frente da França, líder histórico, crescendo de 13,7% mesmo com a crise e chegando então a 625.000 visitantes.  Os números de 2017  deverão mostrar novo recorde histórico e talvez ultrapassar os 700.000 visitantes, consolidando o primeiro lugar nas preferências dos viajantes. A tendência deveria continuar em 2018, os bookings das grandes centrais de reservas internacionais são promissores, e o jornal Estado de São Paulo já definiu no seu suplemento Viagem que o Portugal será o melhor destino de 2018, na frente da Rússia e do Canadá. Parabéns para o Turismo do Portugal!

Jean-Philippe Pérol

Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue” do autor na revista profissional on line Mercados e Eventos

25 anos na França, Joyeux Anniversaire, Mickey!

Mickey promovendo Paris junto com Disneylandia Paris

Mickey promovendo Paris junto com Disneyland Paris

Para festejar os 25 anos da Disneyland Paris, o Presidente da Republica foi pessoalmente em Marne-la-Vallée para soprar as velas. Foi a ocasião de lembrar que o parque , com seus hotéis e suas atrações, era a primeira atração turística da França, na frente do Louvre ou de Versalhes com 320 milhões de visitas registradas desde 1992. Francois Hollande fez questão de lembrar que a Disneyland Paris gerava 50.000 empregos diretos e indiretos, e tinha paga desde a abertura o impressionante valor de 6 bilhões de Euros de impostos. O Presidente salientou também que o parque tinha atraído não somente franceses e europeus -principalmente ingleses e espanhóis-, mas também visitantes vindo do mundo inteiro – americanos e até brasileiros.

Para quem participou da inauguração, em Abril de 1992, o sucesso parecia muito distante. Os franceses eram horrorizados pela ideia de sofrer uma afronta aos seus 2000 anos de cultura instalado tão perto da Sorbonne, e meu pai achou chocante de saber que o filho dele confiava e trabalhava no sucesso desse empreendimento. A própria Disney não acreditava muito na França, a sua comunicação insistia na absoluto ausência de know-how francês no projeto, não tinha nenhum marketing previsto para os parisienses, e até o nome do parque ficou em EuroDisney, borrando a “francidade” do projeto.

Convidados mirim no dia da inauguração da Eurodisney

Convidados mirim no dia da inauguração da Eurodisney

Mesmo tendo no Brasil um dos seus maiores mercados para Orlando, Disney não acreditava também no potencial do mercado brasileiro para o seu parque francês. A então Maison de la France ficou sozinha em realizar uma pesquisa, mobilizar a imprensa brasileira – que respondeu acima das expectativas, ou em realizar e distribuir cartazes para as agencias de viagem. Os famtrips organizados com operadoras especializadas – a Stella Barros e a Tia Augusta-, e com o apoio de um fretamento da Varig, tiveram as maiores dificuldades em conseguir convites para a cerimônia inaugural. E as poucas agencias que se arriscar na época a lançar pacotes para a Disney francesa tiveram condições tão rigorosas que inviabilizaram os seus negócios.

Disneylandia Paris comemorando seus 25 anos com muitas novidades

Disneyland Paris comemorando seus 25 anos com muitas novidades

Na comemoração dos 25 anos da Disneyland Paris, os comentários negativos e até os prejuízos dos dois últimos anos ficaram para trás. Lembrando que o Walt Disney era um apaixonado pela França, o parque anunciou uma programação excepcional para esse aniversario: nova versão da Star Tours “A aventura continua” com viagem intergaláctica e pilotagem na Hyperspace Mountain, tudo em 3D; nova Disney Stars on Parade com impressionantes carros alegóricos e fantasias inéditas; novo show do Mickey ” Joyeux Anniversaire Disneyland Paris”; espetáculo a Valsa das Princesas. E a noite, nas muralhas do Castelo da Bela adormecida, a Disney Illuminations vai ressuscitar as historias da Pequena Sereia,  da Bela e da Fera ou da Rainha das Neves.

A Minnie fazendo compras

A Minnie fazendo compras nas Galeries Lafayette

Acreditando na volta dos brasileiros -já foram 70.000 no ano passado, orgulhosa de ser parisiense, e dando o maior apoio as iniciativas da Atout France, da Air France e das operadoras especializadas, a Disneyland Paris vai agora levar essa programação para as agencias e para os viajantes brasileiros. Junto com seus parceiros, vai mostrar que Mickey, o Louvre, Minnie, Versalhes, Cinderela e os Castelos do Loire podem muito bem conviver durante uma viagem para França. Merci, Mickey, e parabéns pelos seus 25 anos na França!

Jean-Philippe Pérol

O pin da inauguração da EuroDisney

O pin da inauguração da EuroDisney

Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue” do autor na revista profissional on line Mercados e Eventos

Belém-Caiena, agora a vez da Azul?

AEROPOSTALE

A rota Belém Caiena que a Azul deve abrir no próximo mês de Agosto é talvez uma das mais antigas da aviação no Brasil. Foi inaugurada pela primeira vez no dia 16 de Junho de 1929, pela companhia francesa Aeropostale, pioneira na América Latina, que queria abrir um voo entre Natal e Caracas.AEROPOSTAL O avião era um Latecoere 26, com três tripulantes a bordo, que tinha pousado em Macapá e Cunaní. Depois de vários problemas mecânicos, só chegou em Caracas em outubro, e a rota não vigorou. A subsidiaria da Aeropostale iniciou porém varias voos dentro da própria Venezuela, e ela perdura até hoje como uma empresa estatal, Aeropostal, “Alas de Venezuela”.

Muito tempo esquecida, a ligação entre a Amazônia brasileira e a Amazônia francesa voltou a atualidade no final dos anos sessenta, B727 da Cruzeiroquando a construção da base de lançamento de foguetes de Kourou atraiu milhares de trabalhadores do Amapá e do Pará, gerando assim um fluxo de viagens que animou as companhias aéreas. Muito sazonal, e com poucos homens de negócios devido ao fraco intercâmbio econômico e turístico entre as duas regiões, a rota era porém frágil. RICOFoi assim que, em trinta anos, oito companhias se sucederam entre os aeroportos de Val-de-Cans e de Rochambeau (hoje Felix Eboué): a Cruzeiro do Sul, a TABA, a VARIG, a Penta, a TAF, a Suriname Airways e a Air Caraïbes. Duas outras, a Total e a Rico, se candidataram mas não chegaram a operar. A própria Air France explorou também esse voo no inicio dos anos oitenta.

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Esse ano, a briga entre as grandes companhias aéreas brasileiras trouxe novidades nessa região das Guianas. Enquanto a Gol revelou a abertura de um Belém Paramaribo no dia 25 de Agosto, a Azul jà tinha anunciado a abertura do Belém Caiena para o dia 20 do mesmo mês, se as autoridades franceses e europeias confirmavam as autorizações.O prefeito de Belem Zenaldo Coutinho e o governador da Martinica Serge Letchimy Abrindo o seu primeiro destino na America latina, com dois voos semanais nas segundas e quintas feira num ATR 72 de 70 passageiros,  Azul deve porém contar com vários fatores favoráveis. Com claro apoio dos governos do Pará e da Guiana francesa, com crescentes intercâmbios econômicos, com vários acordos de cooperação regional (inclusive a abertura de um escritório da Martinica em Belém), o voo deve também se beneficiar de novos fluxos turísticos. Para a França, os paraenses poderão não somente descobrir Caiena, mas continuar a viagem até o Caribe francês (via Air France) ou até Paris (via Air France ou Air Caraïbes). Uma moto brasileira na Guiana francesaPara o Brasil, além dos europeus atraídos pelo turismo ecológico e a Amazônia, o voo deve trazer de volta franceses da Guiana, da Martinica ou da Guadalupe, atraídos pelo Nordeste brasileiro. E dos dois lados do Oiapoque, a maior fronteira terrestre da Franca, os franco-guianenses estão sem dúvidas querendo  vestir a camisa Azul!

Jean-Philippe Pérol

Aeroporto Felix Eboué em Caiena

Aeroporto Felix Eboué em Caiena

Companhias aéreas: na Europa, na França e no Brasil, quanta saudade!

 

varig_777Enquanto viajantes e profissionais brasileiros ainda lembram com saudades a nossa querida Varig, a revista belga Pagtur publicou essa semana umas estatísticas que mostram que a Europa foi, nos últimos quinze anos, um verdadeiro buraco negro de transportadoras. Somando aquelas que pararam as atividades, as que quebraram mesmo, sejam empresas de cargas ou de passageiros, são 645 companhias aéreas cujos aviões sumiram dos céus europeus.

A lista dos países mais atingidos mostra que não se trata dum problema especifico de economias fracas ou emergentes. Abertura Swissair - Gianfranco.p65O pódio reúne Rússia, França e Reino Unido, e dois terços das companhias aéreas são de países da União Europeia. E, nos cinquenta países analisados, ficaram em segunda, terceira e quinta posição três das cinco maiores economias mundiais. A frieza dos números não traduz também os choques econômicos, sociais e humanos que algumas dessas falências trouxeram, especialmente em países menores. Na Suíça com o grupo Swissair, ou na Bélgica com a Sabena, a quebra dessas transportadoras emblemáticas foram verdadeiros dramas nacionais e com grandes repercussões internacionais.

O Brasil viu também muitas companhias desaparecer. Sem lembrar da Panair, nenhuma das grandes companhias existindo nos anos setenta sobreviveu as crises. varig-airline-eiffel-tower-small-50035A Cruzeiro do Sul, então fiel parceira da Air France, foi absorvida pela Varig, a Transbrasil e depois a VASP foram para falência. A própria Varig, que chegou a ser uma das maiores e das melhores companhias do mundo, acabou falindo em 2006 num processo judicial que ainda está se arrastando. Muitas companhias menores também sumiram, e só listando as bandeiras que já atuaram no Norte do Brasil, deu se para mencionar Paraenses, Taba, Penta, Votec, TAF, Total, Nordeste, Rico …

Para os viajantes e para os profissionais, essa fragilidade justificaria a obrigatoriedade de seguros cobrindo todas os serviços e as operações das companhias aéreas. Ao contrario das companhias de cruzeiros, ou das grandes operadoras internacionais com TUI ou Thomas Cook, a aviação só assegura os riscos ligados a suas operações diretas e não as reservas hoteleiras, aos alugueis de carros ou outros serviços reservados nos seus sites. DIA DOS NAMORADOS A PARTIR DE 599 USD No longo prazo, esse risco é porem compensado. As dificuldades do setor têm a mesma coisa que a sua fantástica democratização : a impressionante queda dos preços. Em 1973, uma ida e volta de São Paulo para Paris custava no mínimo 1275 USD (com a tarifa YE …). Hoje de manhã podia comprar a mesma viagem na Air France por 599 USD, seja  10 vezes menos em moeda constante. Pensando que no mesmo prazo o preço do combustível subiu quase 100 vezes, dá para entender melhor  as dificuldades do setor bem como o extraordinário esforço que as companhias aéreas estão fazendo hoje para dar asas aos nossos sonhos.

Esse artigo foi traduzido e adaptado de um artigo de Michel Ghesquière na revista on-line belga Pagtur

Países e numero de companhias fechadas na Europa desde 2000:  

Rússia 88, Reino Unido 76, França 31, Grécia 29, Alemanha 24, Espanha 24, Italia 23, Georgia 22, Austria 20, Suécia 20, Belgica 17, Arménia 16, Hongria 16, Ukrainia 16, Romenia 15, Bulgaria 14, Finlandia 14, Paises-Baixos 12, Polonia 12, Bosnia 10, Chipre 10, Irlanda 10, Suiça 10, Slovaquia 9, Croatia 8, Moldávia 8, Portugal 8, Serbia 8, Turquia 8, Norvègia 7, Albania 6, Dinamarqua 6, Islandia 6, Lituania 6, Tchèquia 5, Estonia 4, Macédonia 4, Slovénia 4 ,Azerbaijão 3, Letonia 3, Malta 3, Chipre Norte 2, Groenlândia 2, Ile de Man 2, Luxemburgo 2, Belarus 1 e Faroe 1.

TOTAL: 645

4458

Qual seria a melhor companhia aérea na classe econômica?

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As grandes companhias aéreas internacionais estão brigando há anos para subir nos pódios das melhores Primeira Classe (o World Airline Awards 2014 foi da Singapore Airlines) ou das melhores Business (o mesmo Awards 2014 foi da Qatar Airways), fazendo das “La Première” um eixo central de comunicação. Lembrando que 90% dos passageiros só usam a classe econômica,  a empresa de marketing  Skift.com publicou um inédito ranking nessa categoria. World Airlines Award 2014Claro que o World Airline Award não esquece de premiar também a melhor Classe econômica (em 2014 Asiana, Garuda e Turkish), mas a inovação da Skift foi de escolher fazê-lo não com votos aleatórios mas com critérios objetivos apoiados na experiência completa do viajante nos voos de longa distância.

A metodologia do Skift Airlines Ratings só leva em consideração as companhias aéreas com um grande números de voos e de destinos, incluindo voos intercontinentais. SKIFT-RATINGS-logoAlgumas companhias domésticas, ou de menor porte, não foram incluídas mesmo oferecendo serviços de qualidade. Onze critérios foram escolhidos, sendo que o primeiro, as facilidades de bagagens, só constam como referência. A pontuação começa com o website que devem ser não somente eficiente, mas fácil e agradável para o passageiro. A American Airlines, a Air France e a Lufthansa se saíram bem nesse critério.

O conforto das poltronas foi analisado com três fatores: o pitch, a distância entre as poltronas, a largura das poltronas, e o próprio conforto. economy_smart_seatEsse critério tendo uma importância chave nos voos de longa distância, ele pesou muito na pontuação. As notas são muito influenciadas pelo numero de cadeiras por fila (8, 9 ou 10), e as companhias que operam com o A380 têm uma indiscutível vantagem. As exigências de custo devem limitar os esforços para melhor o conforto, mas as companhias norte americanas não se saíram bem nesse critério.

O serviço de comidas e bebidas não foi julgado em função da qualidade gastronômica ou enológica dos cardápios, sempre muito discutível, mas da apresentação dos pratos, premiando os mais apetitosos, e da qualidade do serviço das tripulações. Nesse item, se destacaram as companhias do Oriente médio, e surpreendentemente a Qantas. Bandeja da Qatar AirwaysO divertimento a bordo, importante nos voos de longa distancia, deu nota máxima para American, Etihad, Emirates e Qatar Airways, tanto na qualidade dos equipamentos que na variedade dos programas apresentados. O critério “wi-fi” destacou os esforços das companhias tanto pela conectividade a bordo que pelos aplicativos.

O ultimo critério, a qualidade do design interno dos aviões, foi o único a ser muito subjetivo. Foram julgados os últimos lançamentos, e os aviões mas novos, de cada companhia, mesmo quando a frota inteira ainda não beneficiava desses novos padrões. Turkish, South African e Etihad tiraram as melhores notas.

Cabina da classe econômica da S.A.A.

Com esses critérios, o titulo de melhor companhia aérea na classe económica para os voos de longa distancia ficou empatado entre a Etihad and Qatar Airways, com 61 pontos sobre um total possível de 73, somente um ponto na frente de Turkish Airlines, Emirates Airlines, e All Nippon Airways (ANA). A vitória apertada mostrou a importância dos mínimos detalhes para fazer a diferença. Nas grandes regiões geográficas, foram premiadas a American para America do Norte, a Turkish na Europa, a South African na África. Na América Latina a Avianca levou o titulo, 7 pontos na frente da AeroMexico e 13 na frente da LAN/TAM….Saudades….

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Skift achou também necessário premiar a aliança com os melhores resultados regionais. O prêmio mundial da melhor Economy Class foi assim concedido para Star Alliance que teve quatro dos seus membros nos vencedores regionais, sendo curiosamente a United Airlines muito mal colocada em relação a seus parceiros.

Mesmo discutível e devendo ser aperfeiçoar no futuro, esse ranking da Skift tem o grande mérito de tentar ser objetivo e de focar a importância do serviço oferecido na classe econômicas. COMANDANTE ROLIM No Brasil tem-se que se torcer para ver a volta do serviço excepcional que as companhias internacionais nacionais chegaram a oferecer na grande época da Varig ou, mais recentemente, na auge da TAM e do tapete vermelho do saudoso Comandante Rolim.

O quadro completa da classificação da Skift Airlines Rating:

ranking

Jean-Philippe Pérol

Esse artigo foi inspirado de um artigo original de Serge Fabre no magazine on-line Pagtour.