Enquanto vivemos no Brasil a febre da chegada próxima do Airbus 380, não da para não se lembrar que há quarenta anos atrás começava no Brasil uma outra aventura de avião pioneiro da tecnologia francesa: o Concorde. Posou no Rio de Janeiro pela primeira vez em maio de 1974, ainda com as cores da Aerospatiale, a construtora naquela época vanguardista que aproveitará a experiência adquirida para investir justamente no projeto Airbus. Os primeiros voos eram experimentais e levavam so 32 passageiros ja que a metade da cabina era ocupada por computadores e instrumentos de controle. Acho que foram cinco ou seis voos, com políticos, homens de negócios, autoridades e jornalistas brigando para ser parte dos “happy few” que foram os primeiros viajantes a ligar o Rio e Paris em menos de seis horas.
Nessa época jovem estagiário na Jet Tours, tive a oportunidade de integrar a equipe que recebia os convidados franceses, organizando estadias e passeios. Como recusava qualquer pagamento para ser parte de tamanho aventura, o diretor da Aerospatiale me agradou com um convite para um desses voos. Foi assim que no dia 31 de Maio eu sai as sete da manha do Rio de Janeiro no Concorde, para chegar em Paris as sete da noite, jantar na casa do meu pai (era o aniversario dele) e voltar logo depois num avião da Varig que saia as onze da noite.
As sete da manha, vinte e quatro horas cravadas depois de ter saído, estava de volta no Galeão, explicando a um agente da policia federal que não tinha nenhum erro nos carimbos no meu passaporte, que era possível ir e voltar de Paris no mesmo dia pela asas do Concorde, e que o futuro da aviação era mesmo o supersônico.
Sobre o futuro, eu estava errado. Claro que no vinte meses depois, dia 21 de janeiro de 1976, começaram os voos regular da Air France entre Rio e Paris, duas vezes por semana, em cinco horas e cinquenta com parada em Dacar. Mas se voar a Mach 2,01 (ver foto do lado) era uma experiência fabulosa, se o serviço a bordo era do mas alto padrão, o sucesso comercial era quase impossível pelo menos por duas razões: um preço altíssimo (20% acima da Primeira Classe), e um conforto muito duvidoso especialmente no voo Rio Paris. De noite era difícil dormir nas cadeiras estreitas, e a descida obrigatória em Dacar era complicada… Com 60% de ocupação no Paris Rio mas somente 40 no Rio Paris, sem poder chegar até São Paulo, o voo acabou parando em 1983. Concorde continuará voando ainda vinte anos para Nova Iorque, mas nunca superará a trauma do terrível acidente de 2000 e acabará sua carreira no dia 31 de Maio de 2003.
Da aventura do Concorde no Brasil sobrou a demonstração do pioneirismo da Air France, a afirmação do compromisso brasileiro com os projetos de futuro, e , para todos aqueles que tiveram a oportunidade de voar a bordo desse lindo pássaro, a satisfação de ter vivido uma experiência tecnológica que nem os próprios filhos nem provavelmente as gerações futuras poderão viver. O tempo do Concorde passou, mas foi talvez uma etapa imperdível para chegar ao futuro necessário, o do Airbus380…
Jean-Philippe Pérol
PS: Na América latina, o Concorde voou também para Caracas e México. Nesse última cidade, o voo inaugural contou com traslados de carruagens … saudade!
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O CONCORDE foi pra mim um sonho………..
Foi mesmo! Um dos poucos sonhos tecnológicos que vivemos e que nossos filhos não vão conhecer!
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Muito bom artigo, parabéns!
Merci. Sobre Concorde, é facil fazer um bom artigo já que o assunto continua sendo apaixonante mesmo 40 anos depois!
Prezados,
Porque havia esta parada em Dacca ?
Também nao entendi porque o voo nao ia até SP.
É verdade que o concorde demorou a ter autorização para pousar nos EUA por causa do barulho ?
abraços !
A parada em Dakar era necessaria porque o Concorde não tinha autonomia para chegar até o Rio direto. Não ia até Sao Paulo porque na época era so Congonhas (ou Viracopos). Sobre os EEUU os americanos queriam impedir o pouso do Concorde até que sejam capazes de produzir um concurrrente. Como não podiam dizer isso, inventar o problema do barulho, mas depois recuaram. O Concorde chegou a pousar em NYC, em WAS e tambem em Dallas.
A parada em Dakar era obrigatoria para abastecimento. o concorde não conseguia fazer o voo inteiro Rio-Paris com o tanque cheio. Quanto a não vir para SP, Guarulhos so iria ficar pronto em 85, e campinas não tinha pista longa o suficiente para comportar ele.
A minha querida França sempre em primeiro lugar. Eu tive o prazer de admirar o Concorde sobrevoando o meu apartamento, com sua imponência o bico abaixado como se estivesse a melhor e a potência incrível do seu motor. Na mesma semana pude ler em um jornal na Maison de France a seguinte manchete: “Plus rapide que le Solei”.
Obrigado! E verdade que quando ia para o oeste, Concorde chegava mais cedo que saia!
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Parabens Perol. Post nostalgico e, ao mesmo tempo, instigante!