Na entrega da chama em Olimpia, as bandeiras da China e do C.O.I.
As tentativas de boicote não afetavam muito os Jogos Olímpicos da Grécia antiga. De 776 a.C. até 393 d.C, foram somente três tentativas, duas por motivos políticos e uma por motivo de corrupção, cada uma referente a exclusão de uma cidade, e todas fracassadas. Os espartanos em 420 a.C., os acadianos em 364 a.C. e os atenienses em 332 a.C. acabaram participando, seja por medo de um conflito armado, seja para não ofender os deuses ou seja para seguir a vontade popular para qual esse trégua devia ser, a cada 4 anos, um momento sagrado de comunhão do mundo helénico.
Os Jogos de Moscou sofreram o maior boicote da historia olímpica
Os Jogos modernos foram ao contrario marcadas por muitas polémicas políticas. Em varias ocasiões países insatisfeitos cancelaram sua participação (Turquia em 1896, Taiwan em 1952, China em 1958 ou Coreia do Norte em 1988), países foram excluídos (os vencidos das guerras mundiais em 1920 e 1948, a Africa do Sul em 1964), e três olimpíadas foram marcadas por boicotes maciços: Montreal 1976 (países africanos protestando contra a apartheid), Moscou 1980 (Estados Unidos e aliados protestando contre a invasão do Afeganistão) e Los Angeles 1984 (países comunistas retalhando 1980).
A ceremônia de abertura é sempre um grande momento dos J.O.
Enquanto a pandemia já vai impedir aos espectadores, tanto estrangeiros que chineses, o acesso aos estádios e aos centros de competição, os profissionais do turismo só podem lamentar esse novo golpe para o setor, as reservas perdidas e o clima de retomada mais uma vez adiado. Alem do impacto sobre esses Jogos de Inverno, o boicote só vai ajudar a aumentar as incertezas referentes a outros grandes eventos esportivas que exigem pesados investimentos dos hoteleiros e das operadoras, bem como decisões muito antecipadas dos viajantes.
Torcer para o sucesso dos Jogos de Inverno 2022 não é um ato político, é uma homenagem aos atletas olímpicos e paraolímpicos que trabalham há quatro anos para isso, símbolo da resiliência de toda a humanidade frente a pandemia. Para o turismo, não se trata somente de torcer para o sonho olímpico de Pequim, mas de contribuir, fora da política, a um clima de segurança, de estabilidade e de tolerância que vai acelerar a retomada e ajudar todos os profissionais que trabalham para os grandes eventos que estão chegando – Copa do Mundo no Qatar 2022 ou Jogos de Paris 2024 -, e de muitos outros para vir.
Enquanto a WTTC alerta para a possibilidade de chegar a 75 milhões de desempregados no turismo mundial, e que os profissionais brasileiros enfrentem a pior crise econômica e social vivida pelo setor desde a Segunda Guerra, deve ser lembrado que a extraordinária resiliência do turismo levará em breve a uma retomada que pode ser tão surpreendente que a paralização que estamos vivendo. Se é unfelizmente difícil de prever quando os turistas vão recomeçar a viajar, e quais mudanças nos comportamentos vão com certeza aparecer, já pode ser observados as primeiras tendências no mercado chinês. Na China, primeiro pais atingindo pelo virus, as grandes operadoras de turismo já estão assinalando as primeiras reservas de viagens nacionais e internacionais, mostrando os passos do caminho da retomada.
Com a crise, Ctrip, agora Trip.com somente adiou as suas ambições
Qunar e Ctrip, duas das maiores agencias online chinesas, ficaram dois meses completamente paradas mas recomeçaram a aceitar reservas a semana passada, seja menos de quatro meses depois do inicio da crise em Wuhan. Na Qunar os clientes já podem escolher entre mil pacotes para todas as cidades ou regiões da China onde não existem restrições de viagens e onde os governos locais estão incentivando a reabertura , como Shanghai, o Xinjiang e o Sichuan. A Ctrip tem um aplicativo que recomeçou a aceitar reservas, oferecendo passagens e pacotes para 1449 destinos turísticos chineses, seja 40% do total. Para esses dois lideres, e para outras grandes operadoras, parece assim muito claro que a retomada vai privilegiar numa primeira fase o turismo domestico.
O Festival de Songkran na Tailândia
Os profissionais chineses esperam também uma retomada das viagens internacionais antes do final de Abril para os países que estarão prontos a reabrir suas fronteiras. Poderia ser o caso da Tailândia, onde o presidente da « Tourism Authority of Thailand » (TAT), está atuando junto com o governo, as autoridades sanitárias e os profissionais para ficar pronto antes do 13 de Abril, dia do ano novo budista. Muitos especialistas são mais cautelosos, os obstáculos sendo não somente melhorar as normas e os controles sanitários, mas também conseguir ganhar a confiança dos turistas que são agora atentíssimos a estas questões, e temem participam de grandes agrupamentos. A Tailândia pode porem ser otimista, os destinos de proximidade devendo ser os primeiros a beneficiar da retomada das reservas de viagens internacionais.
O bleisure pode ser um dos primeiros segmentos a aproveitar a retomada
Se é impossível fazer previsão de datas, o exemplo chinês mostra que essa crise, como muitas outras antes, poderá começar a ser superada em quatro meses, e que a retomada deve ser concentrada em primeiro lugar no turismo nacional e nos destinos internacionais de proximidades. Alguns segmentos poderiam também recuperar mais rapidamente que os outros. A legitima vontade dos governos de priorizar a economia deve provavelmente favorecer as viagens de negócios, incluindo para as feiras internacionais que terão sido adiadas ou mantidas, as viagens individuais ou as viagens de “bleisure” combinando negócios com estadias de lazeres para esquecer os dias de confinamento.
Cruzeiros em navios menores pode ser uma das novas tendências
Assim como os responsáveis do turismo da Tailândia, os especialistas vão seguir com muita atenção a volta dos turistas chineses e as novas tendencias desenhadas pela crise do coronavirus, com mais preocupações referentes a saude, aos seguros de viagem, a qualidade dos equipamentos sanitários ou a higiene dos destinos. A crise poderia também levar a reavaliar as agremiações gigantes que mostraram fragilidade. O tempo poderia ser do “small is beautiful”, seja na escolha de cidades menores, de navios pequenos ou de eventos de tamanho mais humanos. O turismo vai com certeza se reerguer mais rapidamente que esperado, mas a retomada vai com certeza seguir novas rotas que devem ser antecipadas.
Esse artigo foi inspirado de um artigo original de Serge Fabrena revista francesa profissional on-line La Quotidienne
Verdadeiro choque para os profissionais do mundo inteiro, o cancelamento do salão Internacional do Turismo de Berlim virou o símbolo da crise que a economia turística está atravessando. A recessão já atingiu os grandes mercados da Asia, quatro dos quais – a China, a Coreia, o Japão e Taiwan- sendo listados no top ten dos países emissores publicado pela Mastercard. A progressão do virus na Europa, e especialmente na Itália, está agora atingindo em cheio os maiores mercados receptivos do mundo, e as praças desertas de Veneza ou o fechamento do Louvre ilustram o impacto do coronavirus. Para as empresas do setor, as ameaças sobre as receitas do setor (somente na França as perdas são estimadas a um bilhão de euros por mês), e mais ainda sobre milhões de empregos, mostram de forma espetacular os riscos do “underturismo”.
Veneza abandonada pelos turistas
É verdade que até a explosão da epidemia na Italia, as preocupações públicas giravam mais em torno do problemas que o turismo de massa estava trazendo, o overturismo era o a ameaça-mor. Em Barcelona, Amsterdão, Roma, Veneza ou Paris, os responsáveis procuravam, as vezes com sucesso, soluções criativas para conciliar visitantes, moradores e profissionais do setor, e permitir aos grandes destinos turísticos internacionais de escolher os “melhores” turistas em função das suas despesas, das suas sazonalidades, dos destinos associados ou das atividades procuradas. Os problemas perduram, e moradores e profissionais exigem com razão soluções duradouras e sustentáveis. A brutal queda das reservas lembram agora as autoridades, aos empresários e a todos os funcionários do setor, que o turismo do século XXI pode também ser ameaçado pelo sumiço dos viajantes, e que o “underturismo” é tão preocupante que o overturismo.
As companhias aéreas sofrem com os cancelamentos de viagens
Os esforços dos médicos, as medidas dos governos, e a chegada da primavera no hemisfério norte, vão com certeza conseguir vencer a crise do coronavirus. A resiliência extraordinária do turismo vai com certeza trazer de volta em alguns meses os fluxos a seus níveis anteriores, e até ajudar a recuperar perdas. Mas, com a mesma certeza, é possível antecipar que todos os atores que foram castigados com a queda dos fluxos turísticos -companhias aéreas, hotels, museus, espetáculos, parques ou comercio – vão integrar as suas visões do futuro do setor umas importantes lições. Sem discutir a necessidade de trazer soluções para o overturismo, a economia dos destinos, o sucesso dos empresários, os empregos e a vida dos moradores, vão pressionar para que este novo turismo, focado em experiencias sustentáveis e respeitosas dos moradores, descarta tambem de vez o risco de “underturismo”.
Na praça Tien An Men, um casal de turistas em vez da costumeira multidão
Desde a explosão do turismo de massa, as crises são parte da realidade do nosso setor. Foram crises politicas, seja com guerras ou com atos de terrorismo, que atingiram o Oriente Medio mas também a Inglaterra, a França, os Estados Unidos, ou a Espanha. Foram desastres naturais, furacões no Caribe, tsunamis na Indonesia e na Tailândia, vulcões na Argentina ou na Islândia. Foram doenças contagiosas como o SARS e a gripa aviária que castigaram a Asia, ou a Ebola na África ocidental. Foram desastres industriais como Tchernobyl na então União Soviética e Fukushima no Japão, ou desastres aéreos cujos traumas vão muito além dos amigos e dos familiares das vítimas. Cada crise impactou as economias das regiões atingidas (e as vezes a economia global), mas o turismo sempre foi fortemente atingido.
Macau sem seus lendários cassinos
Desde o 12 de Dezembro, inicio da crise, e enquanto o balance humano já se aproxima dos 600 mortos, o setor vê as más noticias se acumular. Só hoje, abrindo os jornais, se lê no le Point que a Air France KLM está suspendendo todos os seus voos para China até o 15 de Março, no New York Times que os cassinos de Macau estão todos fechados, no El Pais que o coronavirus obriga a cancelar dezenas de eventos esportivos e perturba os Jogos de Tóquio, e no O Globo que quase 2 mil pessoas estão sob quarentena no navio cruzeiro World Dream atracado em Hong Kong. Alguns especialistas já estimam que a epidemia poderá custar de 1 à 1,5% de crescimento ao PIB mundial, e setor de viagens e turismo deve sofrer um impacto negativo global estimado em 100 bilhões de USD ou mais.
Navio de cruzeiro em quarentena no porto de Hong Kong
O tamanho da crise se deve em primeiro lugar ao fato que ela atinge um pais que é o maior mercado mundial de turismo, com 150 milhões de viajantes gastando quase 300 bilhões de USD nas suas viagens internacionais, representando 20% das despesas mundiais. Na própria China são recebidos 60 milhões de visitantes internacionais , e mais de 4 bilhões de viagens domésticos são realizados pelos proprios chineses. As medidas excepcionais tomadas pelo governo chinês – suspensão desde janeiro de todas as viagens organizadas- , pelos grandes países emissores – os Estados Unidos, a Grão Bretanha e a França “desaconselhando” de entrar na China-, ou pelas principais empresas de transporte aero ou marítimo – British Airways, Lufthansa, Air France, American Airlines, Delta, United, cruzeiros Costa ou MSC-, explicam também a gravidade da crise que atinge outros países da Asia e ameaça até o Jogos de Tóquio.
A sombra da crise pesa nos Jogos de Tóquio
Mas tão grave que seja a crise, as lições do passado mostram que o turismo tem uma resiliência extraordinária. Se comparar com outras crises dramáticas das ultimas décadas, podemos encontrar motivos de otimismo. O primeiro é que os mercados não levam mais que quatro a seis meses para voltar a seus níveis anteriores, a tendencia sendo mesmo de diminuição desse prazo. O segundo motivo é que pouquíssimas crises chegaram a provocaram uma queda anual do crescimento, e que, quando foi, uma forte recuperação aconteceu logo o ano seguinte. As previsões da OMT para o final dessa década, 1,8 milhão de turistas internacionais, não deveriam então ser modificadas. Para o Brasil, muito distante do foco da epidemia ,e que parece por enquanto poupado pela doença e pela mídia internacional, podemos continuar a esperar que a retomada econômica e a estabilidade monetária levam a um novo crescimento do turismo tanto emissor que receptivo
Jean Philippe Pérol
Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue” do autor na revista profissional on line Mercado e Eventos
Com o turismo sendo um dos setores mais impactados, as violências que estão acontecendo em Hong Kong têm raízes profundas nas preocupações dos moradores frente o recuo permanente das liberdades enquanto se aproxima o final programado para 2047 do atual acordo “um pais dois sistemas” firmado em 1997 entre a China e o Reino Unido. Mas a permanência dos protestos depois do recuo do governo se devem sem dúvida, às dificuldades da população com o custo de vida, a alta impressionante dos preços imobiliários que triplicaram em dez anos empurrando os aluguéis, e da evolução extremamente desigual dos salários que leva a um recorde mundial de diferencias sociais.
Hong Kong renovando a sua imagem turística
Enquanto o turismo representa 5% da economia da cidade – com 65 milhões de visitantes em 2018, as reservas começaram a cair em junho em quase todos os mercados. A maior parte dos governos tanto na Ásia quanto na Europa ou na Ámerica do Norte já emitiu aviso de prudência ou até desaconselhando viagens para Hong Kong. A queda já foi de 4,8% em julho, nos países vizinhos (menos 20,1% na Coreia do Sul) e nos países distantes (menos 11,8% na Austrália) mas também junto aos chineses do continente e de Taiwan que representam, respectivamente, 67% e 3% do total dos turistas chegando na cidade. Com as reservas de hotel caindo desde junho de até 30%, é provável que o impacto vai prejudicar com mais forca ainda a economia da cidade.
O CEO da Cathay Pacific, Rupert Hogg, saindo no meio da crise
O transporte aéreo é também atingido. Em julho foram os protestos no aeroporto que levaram ao bloqueio dos voos durante dois dias, em agosto uma greve geral que provocou o cancelamento de mais de 200 voos. A companhia de bandeira da cidade, Cathay Pacific não divulgou números, mas advertiu que seus resultados serão impactados. As consequências foram mais graves ainda sobre a gestão da empresa. O CEO da Cathay Pacific bem como o seu diretor comercial tiveram que pedir demissão e vários funcionários implicados nos protestos foram demitidos ao pedido do governo chinês que ameaçava suspender os direitos aéreos da empresa, e sob pressão das mídias chinesas que espalharam o hashtag #BoycottCathayPacific nas redes sociais.
Shenzen aproveitando a crise para se posicionar?
Essa agitação na terceira praça financeira mundial -Hong Kong só perde de Nova Iorque e Londres- preocupa o setor. Os bancos HSBC, Standard Chartered e East Asia publicaram anúncios no jornais locais chamando para uma saída pacífica do conflito. Temem que as vantagens fiscais, as leis compreensivas e a discrição dos serviços financeiros não sejam mais suficientes para atrair os investidores tanto internacionais quanto chineses. A 27 quilômetros da fronteira com a China, a cidade de Shenzen já está se posicionando, com seus 12 milhões de habitantes, a sua economia apoiada no terceiro porto mundial (depois de Xangai e Cingapura), a sua zona econômica especial mais dinâmica do continente e o seu crescimento duas vezes maior que Hong Kong em 2018.
Macau, concorrente português da inglesa Hong Kong
Mas discreta e querendo ser uma vitrina bem sucedida do lema “um país dois sistemas”, a antiga colônia portuguesa de Macau quer mostrar a relação com a China não prejudicou as suas liberdades locais. Talvez por ser mais conservadora, ou pela herança lusitana, ela também lembra agora discretamente que é um grande destino turístico, paraíso dos cassinos único no país, recebendo mais de 35 milhões de visitantes por ano. Será que, até no turismo, Pequim ainda precisa de Hong Kong?
Esse artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original de Serge Fabre na revista on-line La Quotidienne
Mexendo a cada lance com centenas de bilhões de USD, a guerra comercial que o Trump declarou para resto do mundo, e mais especialmente para China, está preocupando os profissionais do turismo dos Estados Unidos. A US Travel Association lembra que o setor teve nos últimos anos um forte crescimento, mas uma desaceleração começou em 2017 com a queda do turismo proveniente da América Latina e do Oriente Medio. As entradas aumentaram ainda de 0,7% em 2017 e os 77 milhões de visitantes internacionais gastaram um recorde de USD 251,4 bilhões, mas com somente 2% de alta em relação a 2016, longe da media de 8,9% dos anos Obama. A chave da expansão do turismo americano está agora no mercado chinês, responsável hoje por 3 milhões de entradas e mais de USD 35 bilhões de receitas, e com perspectivas de quase 5 milhões de entradas e de mais de USD 50 bilhões de receitas projetadas para 2023.
Entre os EEUU e a China, um confronto global pode impactar todos os setores
Mesmo se o NTTO (National Trade and Tourism Office) está esse ano com alguns problemas para publicar estatísticas confiáveis, varias pesquisas mostram tendência negativa em 2018. Um USD muito forte, a fraqueza da economia de vários países da América Latina -incluindo o México e o Brasil, bem como a desastrosa imagem do Presidente americano, seriam responsáveis de uma queda de quase 4% do numero de turistas e de USD 4,6 bilhões das receitas, bem como da perda de 40.000 empregos. E a guerra comercial sino-americana poderia piorar essas projeções. Desde março, o turismo chinês para os EEUU está em queda de 8,9%, e as reservas de grupos estão 34,4% abaixo dos números de 2017. Considerando os gastos elevados desses turistas ( uma media de USD 7000 por pessoa enquanto as outras nacionalidades não passam de USD 4400), uma pesquisa da Forwardkeys estima em USD 500 milhões o impacto da primeira batalha..
A guerra comercial vai prejudicar as metas de 5 milhões de turistas chineses em 2023
As novas taxas impostas essa semana sobre USD 200 bilhões de produtos chineses, e as retaliações de Pequim, vão ampliar a guerra comercial, e o impacto sobre o turismo pode ainda aumentar. Se é em principio descartado umas restrições explicitas sobre as viagens para os Estados Unidos, as autoridades chineses têm varias maneiras de provocar uma queda significava. Podem por exemplo ampliar os avisos negativos para os viajantes, assim que já fizeram em julho chamando atenção sobre a violência, a falta de segurança e até a sinofobia ameaçando os turistas chineses nas grandes cidades americanas. As mídias chineses podem até liberar a fibra nacionalista de uma população que ficou chocada pelas medidas de Trump e que pode muito bem desviar as suas preferências para outros destinos do Pacifico, da Ásia, da Europa ou da América Latina. A guerra somente está começando, mas os primeiros acontecimentos não são favoráveis para os profissionais do turismo dos Estados Unidos.
Esse artigo foi inspirado de um artigo de Serge Fabre na revista profissional on-line La Quotidienne
A França mais uma vez líder do turismo mundial em 2017
Mesmo publicadas com um pouco de atraso, as estatísticas 2017 do turismo francês são importantes para analisar a evolução do primeiro destino mundial. Com 86,9 milhões de entradas, a França continuou na liderança em entradas de turistas, na frente da Espanha (81,8 milhões, em expansão de 8,6% no conturbado mundo mediterrâneo) que passou na frente dos Estados Unidos (73,0 milhões, pagando talvez com uma queda de 3,8% a rigidez migratória do Trump). Com um crescimento de 5,1% foi não somente borrada a queda provocada pelos terríveis atentados de novembro 2015 e julho 2016, mas também ultrapassado o recorde anterior de 2015. Anunciando com muito orgulho esse resultado, o ministro das relações exteriores e do turismo confirmou que a França deveria atingir em 2020 a meta de 100 milhões de entradas e consolidar sua liderança.
Com alta de 47%, o turismo russo foi o que mais cresceu
Se esse bom resultado era esperado, os profissionais ficaram surpresos pelo desempenho dos mercados internacionais. Os esperados turistas asiáticos ainda não recuperaram os níveis de 2015, a China crescendo pouco (4,9%), a Índia ainda caindo (-5,6%), e somente o Japão tendo um crescimento forte (17,8%). Os americanos (5,6%) e mais ainda os brasileiros (17,9%) voltaram com toda força, mas foi da Europa que foram registrados os maiores fluxos com destaque para Rússia (43,4%), Espanha (17,3%), Bélgica (9,6%). Primeiro mercado europeu, o Reino Unido não pareceu sofrer do Brexit se consolidou na frente da Alemanha, chegando a 12,7 milhões de entradas e 6% de crescimento, uns números decisivos para oferecer a França o seu novo recorde de 2017.
EEUU lideram disparados o ranking das receitas do turismo internacional
O ranking do turismo mundial é porem bem diferente quando as receitas internacionais são o primeiro critério de classificação. A liderança disparada pertence nesse caso aos Estados Unidos com 190 bilhões de Euros, seguindo da Espanha com 60,3 bilhões. Mesmo tendo revisado os seus números e “re-encontrado” 10 bilhões de euros de receitas suplementares, a França fica somente em terceiro lugar com 54 bilhões de euros, uma posição ainda ameaçada pela China e pela Tailândia que poderiam subir no pódio já em 2018. Com a OMT projetando há 20 anos a chegada de 130 milhões de turistas na China em 2020, com os Estados Unidos e a Espanha num trend de forte crescimento, é certo que o título de pais mais visitado do mundo trocará de titular, e que ambas lideranças em receitas e em entradas de turistas internacionais serão então perdidas.
Na hora da sustentabilidade e da valorização do impacto econômico e social do turismo, os profissionais estranham a insistência dos políticos em se vangloriar de resultados quantitativos discutíveis. A França já se posiciona como um grande líder mundial do “melhor turismo” em vez do “mais turismo”, respondendo as expectativas tanto dos seus turistas que dos seus moradores. Numa concorrência mundializada, três fatores diferenciantes contribuem a uma nova liderança: a imagem de um acervo cultural mundialmente reconhecido, um bem viver autêntico e protegido, uma oferta temática completa, especialmente nos segmentos com mais valor agregado (luxo, gastronomia, bem estar, enologia, esqui, congressos ou grandes eventos.
Nos vilarejos da Provence, as mesas esperam turistas e moradores
Se o seu primeiro lugar em números de chegadas de turistas não vigorará alem dessa década, a França pode guardar sua liderança como destino de “melhor turismo” frente as novas tendências que estão se desenhando hoje. Pode continuar liderando pelo seu forte conteúdo cultural, seu patrimônio , seus museus, sua arquitetura, mas também pela alternativa que ele oferece ao modelo do concorrente norte americano. Pode liderar pela especificidade do seu arte de viver, o seu estilo de vida autentico compartilhado entre os viajantes internacionais, os turistas locais (mais de dois terços do turismo francês é domestico) e os moradores. Pode liderar pelas suas normas sempre rígidas, protegendo o consumidor em termos de sustentabilidade, de uso do espaço público, de alimentação ou de ética social.
O Mont Saint Michel, patrimônio e fé no monumento mais visitado fora de Paris
A França vai também guardar a sua liderança pela riqueza da sua oferta turística. Com uns 40 destinos internacionais, consegue oferecer uma excepcional diversidade que inclui produtos e serviços de excelência em quase todos os segmentos. A Pirámida do Louvre, o Palácio dos Festivais de Cannes, as pistas de Courchevel, o Mont Saint Michel, os bangalós de Bora Bora, os Hospices de Beaune, os vinhedos de Bordeaux, o bar do Lutetia, o Versailles do Ducasse, as adegas de Reims, os “bouchons”de Lyon, a vida de Saint Tropez, o castelo de Chenonceaux, o porto de Honfleur, o Hotel du Palais em Biarritz, ou as simples ruas e praças de Paris, Saint Paul de Vence, Saint Emilion ou Cap Ferret, são esses lugares de excelência, mais que números discutíveis, que ajudarão a França a liderar o turismo mundial.
Jean-Philippe Pérol
O porto de Honfleur, seduzindo os turistas pela sua luz e sua História
Os chineses já representam 30% do turismo da Tailândia
As primeiras estimativas do turismo chinês para 2017 chegam a 130 millions de viajantes, com despesas globais de 285 bilhões de USD, mantendo a China como primeiro mercado mundial. As expectativas são hoje de 200 milhões de turistas chineses para 2020, turistas cobiçados por todos os grandes destinos. Mas a Europa terá talvez que esperar um pouco, a maioria deles escolhendo a Ásia, mais próxima e mais acessível. Assim a metade desses turistas não viajaram alem de Hong Kong (47 milhões), Macau (20 milhões) ou Taiwan, (3 milhões), e no Top 10 dos seus destinos preferidos, todos são asiáticos com exceção dos Estados Unidos e da França. No Top 20, também dominado pelos países vizinhos, só deveriam entrar ainda a Rússia, as Ilhas Maldivas, a Alemanha e a Suíça.
Oito países asiáticos no Top 10 dos viajantes chineses
Mesmo alem da grande China, essas viagens internacionais são concentradas em poucos destinos, cinco deles somando mais de 50% dos viajantes. Tailândia é hoje o destino que recebe mais turistas chineses, mais de 10 milhões. Representando quase um terço dos visitantes, eles empurraram o Reinado no Top 10 do turismo mundial e mais ainda no pódio nos países com as maiores receitas de turismo internacional, passando até a França. No Japão , os 7 milhões de visitantes vindo da China ajudaram o pais a virar em cinco anos um grande destino turístico. Tradicionalmente muita apreciada pela sua cultura, a Coreia do Sul sofreu das ameaças de guerra com seu vizinho do Norte, e, se atraiu 4,2 milhões de chineses em 2017, deve ser esse ano passada pelo dinamismo do turismo vietnamita que cresceu 48,6%.
Turistas Chineses na Baia de Ha Long (Viet Nam)
Os vizinhos da China estão também tentando seduzir os seus turistas, investindo e antecipando as novas tendências: roteiros personalizados, serviços de melhor qualidade, menos shopping e mais experiências e intercâmbios. A Indonésia quer investir em dez “novas ilhas de Bali”. Os países da ASEAN vão investir mais de USD 100 bilhões para construir em aeroportos, ligações ferroviárias, hotéis e parques temáticos adaptados aos clientes chineses. Nos principais sítios turísticos do Japão, as lojas oferecem mais serviços em chinês, guias de compras em chinês estão sendo distribuídos, e milhares de comerciantes estão aderindo aos sistemas de pagamentos chineses Alipay e Wechat, aplicações multifunções que estão se espalhando em 30 países da região.
VisitBrasil marcando presencia na China
Para o Brasil, esses resultados impressionantes do primeiro parceiro dos BRICS deve levar a duas observações. A primeira é a fraqueza do fluxo de chineses para o Brasil, menos de 60.000. Um número difícil de comparar com os resultados dos países asiáticos ou dos grandes destinos europeus ou norte americanos, mas que fica complicado de entender quando se pensa no milhão de turistas chineses visitando a distante África do Sul. Para atingir a meta do plano Brasil Turismo, 12 milhões de visitantes até 2022, a China será com certeza a chave do sucesso. A segunda observação é o imensa potencial de viagens que os países vizinhos oferecem para um mercado emissor amadurecendo. Enquanto na China e no mundo inteiro 80% das viagens internacionais são concentrados em países limítrofes, no Brasil essa proporção é somente de 50%. Colômbia, Peru, Chile, Argentina ou Uruguai têm talvez ideias a buscar nos vizinhos da China …
Jean-Philippe Pérol
O turismo brasileiro para Colômbia dobrou em 5 anos
O centro histórico de Macau, primeiro destino turístico da Ásia
Não é nem na Europa nem nas Américas que o turismo está bombando, mas na Ásia. Publicando o ranking das 10 cidades do mundo que conhecem o mais importante crescimento esse ano, o World Travel and Tourism Council destacou 10 cidades da Ásia como tendo o mais forte crescimento do seu turismo domestico e internacional. Fundada em 1990 pela American Express, muito tempo dirigida pelo francês Jean-Claude Baumgarten, o WTTC sempre se dedicou a mostrar o peso do turismo na economia global e a sinalizar grandes tendências. Tendo sido apoiada por grandes nomes da política internacional, de Kissinger a Blair, hoje sendo presidida pela mexicana Gloria Guevara, esse Conselho publicou agora uma impressionante pesquisa sobre o impacto do turismo nas cidades asiáticas,
A famosa passarela de vidro de Chonq Qing
As dez cidades do mundo com os maiores crescimento turístico são todas asiáticas, todas elas dependem em primeiro lugar dos turistas chineses, e as cinco primeiras do ranking são localizadas na China, mostrando o peso desse mercado tanto em tamanho atual que em potencial futuro. Classificados pela taxa de crescimento da sua economia turística, (a WTTC rompeu com as classificações tradicionais em números de turistas, privilegiando o impacto económico), as cidades são as seguintes:
6. Manille (Filipinas) – 10,9 %
7. Nova Delhi (Índia) – 10,8 %
8. Shenzhen (China) – 10,7 %
9. Kuala Lumpur (Malásia) – 10,1 %
10. Jakarta (Indonésia) – 10 %
Centro urbano de Chong Qing a noite
Com cerca de 30 milhões de habitantes, Chong Qing é a maior aglomeração urbana da China. Localizado num planalto cercado de montanhas e de paisagens espetaculares, ela é atravessada pelo rio Jialing e pelo Yang Tsé (chamado também de Rio Azul), maior rio da Ásia. A cidade é assim o ponto de partida de cruzeiros fluviais até a famosa represa das Três Gargantas, a maior do mundo, e depois até Wu Han e Xangai. Mas as duas atrações mais famosas da região são a sua passarela de vidro que domina um barranco de 1010 metros de altura, e suas esculturas budistas inscritas ao património mundial pela UNESCO. Se os visitantes são por enquanto quase todos chineses, Chong Qing começa a contar com turistas internacionais, – japoneses, americanos ou europeus-, que já estão contribuindo em mais de 5% para economia local.
A opera de Cantão
Cantão (Guangzhou em chinês) é conhecida pela sua Feira de Importação e Exportação da China, a mais antiga e mais famosa do pais, que atrai cada ano mais de 200.000 visitantes estrangeiros. Alem dos negócios, a cidade é procurada pelos turistas pelas suas opções de compras., oferecendo a preços muito atrativos todos os produtos fabricados na China, roupas, relógios, eletrônicos e brinquedos, bem como chás ou ervas tradicionais. Com a maior concentração de restaurantes da China, Cantão é também famosa pelo seu culinário, um dos mais autênticos do pais com sua sopa won ton, seus dim-sum ou seu porco agridoce. Mesmo com uma arquitetura moderna impressionante, Cantão oferece a seus visitantes uns monumentos testemunhos do seu rico passado como o Templo dos seis árvores banyans, a Mesquita Huaisheng, ou seus vilarejos da dinastia dos Song .
A pesquisa da WTTC mostra também que Macau é a cidade mais turística da Ásia, com 27,3% da sua economia dependendo do turismo. E com 16 milhões de turistas internacionais, é a sexta cidade mais visitada do mundo. Tendo como único atrativo alem do jogo a sua rica herança da colonização portuguesa, pode ser talvez uma fonte de esperança para muitas cidades brasileiras …
Esse artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original de Serge Fabre na revista profissional online LaQuotidienne
; Reunião do WTTC no Brasil em 2009 com o Jean Claude Baumgarten e a Jeanine Pires
Com mais de 1,2 bilhão de turistas internacionais, o turismo de massa preocupa cada vez mais os moradores dos grandes destinos. Vendo os transtornos trazidos pela surpopulação, autoridades, jornalistas e influenciadores concordam em por a culpa dos transtornos nos próprios viajantes. A estigmatização do turista é uma velha e arrogante tradição aristocrática do século XIX quando alguns “happy few”, já na época, não aguentavam dividir os monumentos de Atenas e Roma, os beira mares de Nice e Biarritz, ou os artesanatos de Istambul, com os primeiros seguidores de Thomas Cook. Mas, mesmo se rejeitado até pelos seus pares, deve se reconhecer que o turista nem sempre respeita os moradores, os costumes do local, ou até regras básicas de convivência social ou de proteção do meio ambiente. Virou assim urgente de encontrar soluções para lutar contra a irresponsabilidade e os excessos, sem prejudicar as atividades econômicas nem atrapalhar a convivialidade e a liberdade de viver que os turistas procuram.
Os conselhos da China a seus turistas antes deles viajar
Preocupando os destinos turísticos, o bom comportamento dos viajantes é também uma preocupação de alguns países emissores que temem que atitudes inadequadas prejudicam a sua imagem. Líder mundial com mais de 110 milhões de turistas, quase todos primeiro-viajantes, a China publicou em 2013 um “Guia do turismo civilizado” com conselhos a seguir, incluindo 64 paginas de recomendações (as vezes surpreendentes) como por exemplo não fazer barulho quando bebe, não limpar o nariz com os dedos, não subir em pé nos toaletes, não levar os coletes salva vidas dos aviões ou não importunar os moradores. Alguns conselhos eram específicos para certos destinos: não estalar os dedos para chamar o garçom na Alemanha, não oferecer flores amarelas na França, não falar da realeza na Tailândia ou não tocar as pessoas com a mão esquerda na Índia. O mau comportamento podendo levar a entrar numa lista negra de pessoas proibidas de viajar, é provável que essa recomendações, por esdrúxulas que sejam, foram seguidas, e devem ter contribuídas a evitar abusos.
O juramento islandês
Destino de sucesso que viu suas chegadas de turistas quintuplicar, mas preocupada com o impacto sobre o meio ambiente e a vida social, a Islândia lançou em julho desse ano um juramento de bom comportamento que os candidatos a turista são incentivado a fazer. “The Icelandic Pledge”, que pode ser encontrado e assinado on-line no site, é um compromisso moral do visitante com 8 clausulas de respeito ao meio ambiente e as regras de segurança: ser um turista eco-responsável, respeitar as regras de transito e de estacionamento, deixar os lugares limpos, não sair dos caminhos autorizados e cuidar com a meteorologia. Mesmo não sendo obrigatório, o juramento já foi assinado por 30.000 pessoas. Para a ministra do turismo da Islândia, “os turistas querem mesmo ser responsáveis, mas nem sabem sempre o que isso significa em termos de comportamento”. O sucesso da campanha foi de lembrar, de maneira cordial e humorística, algumas regras básicas, e de mostrar que esse respeito era uma forma de integrar a cultura local e de ajudar o relacionamento com os moradores,
Jean-Philippe Pérol
Esse artigo foi inspirado de um artigo de Josette Sicsic na revista profissional online Tourmag