Se foram abertas ao turismo somente nos anos setenta, as Maldivas são consideradas hoje um paraíso turístico, , que atraiam pelas suas aguas turquesas, seus 26 atois de coral esticados de Ihavandhippolhu ao norte até Addu ao sul, seus hotéis de palafitas construídos em ilhas exclusivas, e seus sonhos de tranquilidade. Pequeno pais de 600.000 habitantes espalhados em 1100 ilhas (mas somente 20% tem populações permanentes), compete com Tahiti ou as Seychelles com grande destino de namoro e de lua de mel. E se o turismo já represente 40% do PIB, 60% das receitas internacionais e 90% do orçamento nacional, o governo tem numerosos projetos de desenvolvimento, a maioria focada em estabelecimentos de luxo respeitosos do meio ambiente, e planeja passar nos próximos 10 anos dos 1,5 milhões de visitantes a mais de 7,5 milhões.

O Raffles Meradhoo, uma das joias hoteleiras das Maldivas
Principal – e quase única- riqueza das Maldivas, o turismo é porem visto com um certo receio pelos moradores. Saindo de uma longa ditadura, o pais viveu o paradoxo de eleições democráticas que favorecerem os religiosos e levaram o congresso a incorporar em abril de 2014 a lei islâmica a constituição. Fora das ilhas-hoteis onde reina uma incontestável tolerância, o álcool é proibido, os corpos têm que ser cobertos, as mulheres devem usar véus, os comportamentos “indecentes” são punidos com chicotes, a homosexualidade é um crime, e a pena de morte pode ser aplicada a partir de 7 anos de idade. Por revoltante que seja, e mesmo se algumas personalidades chegaram a pedir um boicote do destino, a sharia não impediu o turismo de continuar a crescer, os turistas aproveitando a liberdade de áreas reservadas e tendo muito pouco contatos com os moradores.

A imponente mesquita do Rei Salmane em Malé
A eleição, em novembro 2018, de um presidente moderado que já declarou querer abolir as leis repressivas, restabelecer os direitos humanos e liberalizar a sociedade, foi um passo importante para tranquilizar profissionais e turistas, mas a pressão dos islamistas continua. Nas mesquitas recente construídas pela Arabia Saudita, os imãs wahabistas pedem a permanência das leis de Deus, e em Hulhumale, nos arredores da capital Malé, islamistas radicais apunhalaram dois chineses e um australiano. A reivindicação do atentado pelo Estado Islâmico, chamando os maldivenses a se levantar contre um governo “infiel”, preocupou as autoridades que sabem que 160 combatentes jihadistas ainda devem retornar do Iraq e da Síria e que outras ataques podem acontecer.
Um incidente mostrou essa semana que os conflitos entre turismo e tradições não são limitadas a alguns extremistas. A cidadã britânica Cecilia Jastrzembska, famosa influenciadora de televisão, foi brutalmente levada para uma delegacia onde ficou presa por ter andado de bikini numa estrada enquanto voltava da praia. A policia alegou que teria passado na frente de uma mesquita e de uma escola, e que o porte de bikini era proibido nessa área. Se foi liberada depois de duas horas, se o superintendente de policia das Maldivas reconheceu o erro, e se o presidente do Congresso pediu desculpe e convidou Cecilia a voltar, o video espalhado pelas mídias sociais mostrou que o pais ainda tinha muito trabalhar pela frente para harmonizar suas ambições turísticas e suas tradições.
Esse artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original de Serge Fabre na revista francesa profissional on-line La Quotidienne