
O filme “O dia mais longo” foi decisivo para popularizar o Dia D
Antes mesmo de começar a ser comemorado, a vitoriosa batalha do Dia D sempre foi um assunto de muitas polémicas, de aliados que reclamaram da demora, de militares que questionavam a necessidade de uma nova frente independente da batalha da Itália, ou da Resistência francesa que desconfiava da vontade de Roosevelt de submeter a França a uma ocupação militar americana. As comemorações sempre foram discretas até os anos 60, quando o fabuloso filme do realizador Darryl F. Zanuck , a força das associações de veteranos americanos, inglesas e francesas, bem como o apoio do governo francês (mesmo se o proprio de Gaulle se recusou a participar) levaram ao sucesso do vigésimo aniversario.

O famoso paraquedista de Sainte Mere l Eglise
A partir dos anos 70, o turismo de memória não parou de crescer em toda essa região da Normandia. São hoje mais de 5 milhões de turistas que visitam as lendárias praias de Omaha Beach (a mais famosa, sendo as outras Utah Beach, Gold Beach, Juno Beach e Sword Beach), o porto de Arromanches, a aldeia de Sainte Mère l’Église, o Memorial de Caen, ou um dos 94 lugares históricos onde se desenrolou a batalha. E mesmo se fazem questão de lembrar as dramáticas 30.000 mortes de civís nos bombardeios alemães ou americanos, os moradores estão hoje orgulhosos de lembrar essa pagina gloriosa aos visitantes vindo da França (50%), do Reino Unido (10%), dos Estados Unidos (8%) e até da Alemanha (5%).

“Homenagem aos heróis” quer combinar historia e emoção
Um novo projeto está agora reativando as polémicas. O Presidente da Normandia anunciou em janeiro desse ano o lançamento do espetáculo “Homenagem aos heróis”, com o objetivo de perenizar as comemorações e de atrair 600.000 visitantes a mais nos hotéis, restaurantes e museus da região. Com uma tecnologia inédita, um roteiro escrito por três produtores franceses e canadenses, um prestigioso comité científico e um comité de ética incluindo veteranos de guerra, o espetáculo deve ser pronto para as comemorações dos 80 anos do Dia D. Os investidores garantem que já asseguram os 50 milhões de euros de financiamento, e que dois municípios da área, Bayeux e Carentan, já ofereceram os 30 hectares necessários.

Macron e Trump nas comemoracões dos 75 anos do D Day
Mesmo sem ter os detalhes do projeto, as criticas foram imediata contra o que os opositores já estão chamando de D-Daylandia. Um comité de preservação do património local já mandou um abaixo assinado para o Presidente em nome da ética, da memória e do meio ambiente. Um advogado depositou um recurso alegando a proximidade do cemitérios militares, e a Associação dos veteranos da quarta divisão de infantaria americana mandou uma carta aberta se opondo, “em nome dos sacrifícios dos heróis caídos na batalha a qualquer decisão que tocasse essa terra sagrada”. Entendendo a emoção dos moradores, os responsáveis lembraram que o projeto, alem da sua importância para economia regional, é também uma perenização da memória.

O Memorial de Caen
Com um roteiro ainda para ser escrito, o projeto “Homenagem aos heróis” será um documentário vivo de uma hora de duração. As arquibancadas serão montadas em cima de trilhos, um longo travelling de 800 metros durante o qual serão apresentados dez quadros misturando imagens, documentários, artistas benévolos e profissionais. Aproveitando a experiencia bem sucedida do Memorial de Caen – que atrai 400.000 pessoas por ano a proximidade das praias do Dia D-, os organizadores querem atingir um público jovem e sem ligação direto com a segunda guerra, não somente para trazer um melhor conhecimento dessa batalha decisivo para a liberdade do mundo, mas também para transmitir as novas gerações a emoção dos dias terríveis vividos pelos combatentes e os moradores de junho a setembro 1944.
Jean Philippe Pérol

Apenas lançado, o projeto virou polémica