O mito do Teatro Amazonas – ou da “Ópera de Manaus”-, assim chamado na Europa ou nos Estados Unidos-, exerce um fascínio que parece não ter lógica. Carlos Fermín Fitzcarrald, o Fitzcarraldo, nunca poderia ter assistido a um espetáculo no Teatro que ainda não estava inaugurado quando ele passou em Manaus. Caruso nunca cantou no Teatro Amazonas, veio para o Brasil mas não saiu do Rio Janeiro. Sarah Bernard, a famosa atriz francesa, nunca viajou para Manaus e não poderia ter gritado para seu motorista a gloriosa frase “Chauffeur, à la forêt vierge!”. E no Amazonas da época da borracha, é provável que as tropas francesas que se apresentavam no Teatro fossem mais parecidas como as Folies Bergères que como os Balês do Palais Garnier. A ironia da História é que os dois cantores mais conhecidos que se apresentaram em Manaus foram talvez Mireille Mathieu em 1977 e Sacha Distel em 1978 , ambos levados pela Air France para eventos excepcionais do então tão concorrido Prêmio Molière.

Vista geral do teatro com seu domo coberto de telas da Alsácia
Além do mito, o Teatro Amazonas atrai também por sua própria história. A partir da louca ideia lançada em 1881 de construir um teatro lírico em uma cidade com então 20.000 habitantes, foram 17 anos para a construção com arquiteto e material vindo da Itália e da França, empurrada pela vontade do governador, Eduardo Ribeiro, até sua inauguração em dezembro de 1896. Transformado em entreposto de borracha na época da decadência, o Teatro começou a renascer nos anos 70 com a primeira renovação, e o voltou a brilhar nos últimos vinte anos com uma rica programação cultural. Criado em 1997, o Festival Amazonas de Ópera reatou com a tradição lírica da “Ópera de Manaus”.
Mas o mito do Teatro vem também do fascínio pela selva amazônica, da folia da expedição de Aguirre, da busca desesperada pelo Casiquiari, dos sonhos de Jules Verne, do drama dos seringueiros ou da louca aventura de Galvez. E o visitante sentado nas poltronas de veludo vermelho tira parte da sua emoção ao juntar a sofisticação do espetáculo com as emoções da descoberta das águas, das matas e das tradições dos ribeirinhos do Amazonas e do Rio Negro. Assim para o Festival 2016, a Secretaria da Cultura, liderada pelo incansável e criativo Robério Braga, programa duas operas, Médée de Cherubini, e Adriana Lecouvreur de Cilea .
Combinada com o encontro das águas, o espetáculo do botos cor de rosa, o emocionante Museu do Seringal ou a casa de farinha duma comunidade cabocla, a estada do visitante terá talvez como outro momento emocionante as músicas e danças dos índios Dessana. Dando palestra no mundo inteiro, incluindo no famoso Musée des Arts Premiers de Paris, o Cacique Raimundo e sua família, recem-chegados do alto Rio Negro, conseguem manter em sua Oca as tradições culturais que também são as raízes dos mitos da Amazônia.
Jean-Philippe Pérol
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Bravo pela matéria, tudo é fascínio, me orgulho de poder ter contribuído também um pouco com a história da ópera em nosso Estado, por que depois de 100 anos, já no segundo festival em 1998 fiz minha primeira participação com a ópera Alma de Santoro, poder ter estado quando tudo começou em 1997, foram muitos anos desde 1981 quando comecei a fazer parte do Coral do Teatro Amazonas e que depois veio a ser chamado hoje de Coral do Amazonas, no qual tenho orgulho muito grande, porque foi através do Coral que tudo começou.
Obrigado Josenir, e pode ser orgulhoso mesmo desse Festival que fascina gente no mundo inteiro!
Que ótimo texto!
Juliana A. Saad • Travel & Lifestyle Editor /Journalist – São Paulo / Brasil | +55 (11) 98181-0853 | jusaad@me.com | Instagram: @jusaad1 | iPhone mail Soon: http://www.thetravelifestyle.com
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É tão fascinante que ajuda a escrever! Merci