Depois do sucesso da Copa, o Qatar aposta nas famílias

Depois do sucesso da Copa, o Qatar quer apostas nas famílias

Escolhida pelos ministros da Liga Árabe  como capital do turismo árabe 2023, Doha quer que o sucesso da Copa do Mundo seja somente um primeiro passo para que o Qatar  se torne um grande destino turístico.  Frente a seus bem sucedidos concorrentes regionais, Dubai, Emirados e Arábia Saudita, a Qatar Tourism quer agora aproveitar seus atrativos, infraestrutura, segurança e natureza para atrair novos públicos. Com um objetivo de 6 milhões de visitantes em 2030, o pequeno país quer agora atrair as famílias querendo viver em conjunto experiências inesquecíveis: das praias seguras e exclusivas e os parques de atrações, das imersões culturais até a descoberta do deserto.

No Souk Walid, o centro animado da cultura e da gastronomia locais

Souk Walid, o centro animado da cultura e da gastronomia locais

Na capital, o passado e o presente são apresentados no Museu Nacional do Qatar, com experiências audiovisuais interativas para todas as idades sobre a formação, a pré-história e a história do país. O Museu Olímpico e Esportivo 3-2-1 tem varias galerias com animações, desafios e áreas de jogos para crianças. As instalações e as ofertas para famílias são também presentes no Museu de Arte Islâmica e do seu parque, bem como no Mercado Waqif, coração cultural e social do Qatar, autêntico “souk” oriental onde os beduínos traziam outrora suas mercadorias e onde o visitante pode encontrar hoje peças de artesanatos locais ou experimentar a gastronomia local.

Quest Doha é o parque da historia, do presente e do futuro da cidade

Doha oferece quatro parques de atrações para as famílias. Quest Doha leva os visitantes numa viagem com três dimensões temporais: em Oryxville, a exploração do passado árabe, na Cidade da Imaginação,  a apresentação do presente,  e, em Gravity, um porto espacial do futuro. Quest Doha já registrou dois recordes no Guiness Book com sua montanha russa e sua Drop Tower, as mais altas do mundo. Para os mais jovens, o Doha Festival City mall abriga o primeiro Angry Birds World do mundo, e, para os mais velhos, Virtuocity, o primeiro e-gaming hub do Oriente Medio. E no Villaggio mall, o parque Gondolania é focado em passeios de barco em canais artificiais inspirados das tradições de Veneza.

A tranquilidade e a beleza das águas e das dunas do Mar Interior

As famílias só precisam de uma hora de carro para aproveitar as dunas e as praias do Khor Al Adaid, o espetacular mar interior do Qatar. Os programas combinam aventuras no deserto – brincar na areia, andar de camelo, ou entender o papel do falcão na caça tradicional-, esportes náuticos nas aguas calmas e cristalinas, ou passeios de caiaque nas florestas de mangrovas de Al Thakhira ou de Purple Island. No norte do país, perto do histórico forte de Al Zubarah, a fazenda de North Sedra é uma boa surpresa para as famílias com jovens crianças. É um espetacular destino de agroturismo com produtos e animais da região, um pequeno museu sobre a agricultura e o artesanato tradicionais, bem como um zoológico com vários orixes, os  grandes antílopes de chifres gigantes que viraram os animais icônicos do Qatar.
Esse artigo foi adaptado de um artigo original da revista francesa profissional on-line Mister Travel  

A nova campanha de Visit Qatar foca nas famílias

Boicotar a Copa?

O famoso estádio Al Janoub

12 anos depois da decisão da FIFA atribuindo o Mundial 2022, e a menos de dois meses do jogo de abertura, personalidades da cultura, do esporte e da politica estão  apoiando um movimento de boicote da Copa do Mundo no Qatar. Lançada na India, o ideia pegou força na Europa e na América do Norte, atraindo algumas importantes lideranças regionais e municipais, especialmente na Alemanha (Berlim), na Bélgica (Bruxelles) e na França (Lille, Lyon, Marselha, Bordeaux e Paris). Se é difícil antecipar até onde essa onda pode subir, é certo que ela já preocupa organizadores, patrocinadores, jogadores, autoridades e operadoras!

2 Dezembro 2010, a FIFA anunciando a escolha do Qatar

Logo que foi anunciada, a escolha do Qatar foi muito polémica. Mesmo sabendo que depois do Brasil em 2014 e da Russia em 2018, era logicamente a vez de um pais da Ásia, mesmo reconhecendo a popularidade do futebol no mundo árabe, mesmo com a qualidade do projeto, a decisão foi imediatamente criticada por vários motivos: um pais muito pequeno para um evento tão grande,  a ausência de tradição esportiva, um clima muito quente para atletas de alto nível, uma segurança complicada nessa região perturbada, e as rigorosas normas alimentares (proibição do alcool) ou comportamentais (restrições temidas para mulheres).

O estádio Lusail onde será jogada a final

O movimento para o boicote se apoia porem em primeiro lugar nas condições desumanas que teriam sido impostas aos imigrantes que construíram os estádios. A partir de fontes paquistaneses e indianas, o jornal The Guardian anunciou em fevereiro 2021 que um mínimo de 6.751 operários estrangeiros tinham morridos em consequências de maus tratamentos ou acidentes. Mesmo se o Qatar e depois a FIFA apresentaram números bem diferentes – 37 mortes nos últimos 11 anos, sendo 34 de doenças e 3 de acidentes-, e se a legislação trabalhista local melhorou no período, essa terrível denuncia foi, e ainda é, o primeiro incentivo para o boicote.

O Hamad Airport foi premiado em 2021 como o melhor do mundo

O outro grande argumento preocupante é um impacto ambiental do evento, devido a necessária refrigeração dos estádios mas também ao grande número de voos fretados. Muitos dos 1,2 milhão de visitantes devendo se hospedar fora do pais, são esperados 160 voos diários vindo dos países vizinhos. O Qatar já garantiu que o evento terá um balance carbone neutro, mas não conseguiu convencer os críticos, enfrentando uma oposição crescente dos ecologistas. Para o Presidente do comité de organização, o sucesso do evento será a melhor forma de convencer para os opositores, e contribuirá a rebater muitos argumentos as vezes discriminatórios.

O Hotel Souk e a Ilha do divertimento

Boicotar ou não? É surpreendente de levantar essa bandeira 12 anos depois da decisão da FIFA. Quais que foram os critérios da época, a escolha do Qatar levou a Copa para novos lugares e homenageou o crescimento do futebol no mundo árabe. E se os progressos podem ser julgados insuficientes, as condições trabalhistas, ambientais e societais são hoje melhores do que eram antes. Boicotar em nome da política, ato contrário aos ideais esportivos desde a Grécia antiga, significaria penalizar os atletas que estão se preparando há 4 anos, bem como mandar um recado de desconfiança para os organizadores e os patrocinadores dos futuros grandes eventos ou dos Jogos Olímpicos.

Al Barari, o novo conceito de balneário do deserto

Mas são sem dúvidas os atores do turismo que seriam os mais prejudicados com o eventual boicote. Os turistas, que estão esperando esta festa, muitas vezes com amigos ou familiares. As operadores e as agências de viagem internacionais, que já investiram há anos na compra das entradas, na consolidação de pacotes e na comercialização. As companhias aéras que já fechar as suas programações de voos regulares ou de voos fretados. Os profissionais do turismo Qatari que investiram em empreendimentos que devem fazer do pais um novo destino turístico, com parques temáticos, museus, e complexos hoteleiros espalhados nas praias e no deserto.

A FIFA pediu que os comportamentos respeitam tanto as tradições dos moradores que os direitos dos visitantes

Recusar o boicote não é porém negar os progressos que os grandes atores da Copa devem com certeza fazer nas questões que preocupam os viajantes, seja no bem estar dos trabalhadores, no respeito das metas ambientais, na luta contre as discriminações e a favor da diversidade, ou na transparência da informação. Esse recado deve ser mandado para o Qatar para a Copa de 2022, mas o principal destinatário deve ser a FIFA, para que as futuras Copas sejam atribuídas na base de critérios claros, menos mercantis, integrando os valores sem as quais nem os grandes eventos nem mesmo os destinos turísticos do século XXI não poderão mais existir.

Katara Towers, um dos prédios icônico da Copa

Jean-Philippe Pérol

Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue” do autor na revista profissional on line Mercado e Eventos

O turismo e o boicote dos Jogos Olímpicos

The flags of China and the Olympics are seen being raised before the handover ceremony in Athens

Na entrega da chama em Olimpia, as bandeiras da China e do C.O.I.

As tentativas de boicote não afetavam muito os Jogos Olímpicos da Grécia antiga. De 776 a.C. até 393 d.C, foram somente três tentativas, duas por motivos políticos e uma por motivo de corrupção, cada uma referente a exclusão de uma cidade, e todas fracassadas. Os espartanos  em 420 a.C., os acadianos em 364 a.C. e os atenienses em 332 a.C. acabaram participando, seja por medo de um conflito armado, seja para não ofender os deuses ou seja para seguir a vontade popular para qual esse trégua devia ser, a cada 4 anos, um momento sagrado de comunhão do mundo helénico.

Os Jogos de Moscou sofreram o maior boicote da historia olímpica

Os Jogos modernos foram ao contrario marcadas por muitas polémicas políticas.  Em varias ocasiões países insatisfeitos cancelaram sua participação (Turquia em 1896, Taiwan em 1952, China em 1958  ou Coreia do Norte em 1988), países foram excluídos (os vencidos das guerras mundiais em 1920 e 1948, a Africa do Sul em 1964), e três olimpíadas foram marcadas por boicotes maciços: Montreal 1976 (países africanos protestando contra a apartheid), Moscou 1980 (Estados Unidos e aliados protestando contre a invasão do Afeganistão) e Los Angeles 1984 (países comunistas retalhando 1980).

A ceremônia de abertura é sempre um grande momento dos J.O.

Enquanto a pandemia já vai impedir aos espectadores, tanto estrangeiros que chineses, o acesso aos estádios e aos centros de competição, os profissionais do turismo só podem lamentar esse novo golpe para o setor, as reservas perdidas e o clima de retomada mais uma vez adiado. Alem do impacto sobre esses Jogos de Inverno, o boicote só vai ajudar a aumentar as incertezas referentes a outros grandes eventos esportivas que exigem pesados investimentos dos hoteleiros e das operadoras, bem como decisões muito antecipadas dos viajantes.

Os Jogos de 2024 já mobilizam os parisienses

Torcer para o sucesso dos Jogos de Inverno 2022 não é um ato político, é uma homenagem aos atletas olímpicos e paraolímpicos que trabalham há quatro anos para isso, símbolo da resiliência de toda a humanidade frente a pandemia. Para o turismo, não se trata somente de torcer para o sonho olímpico de Pequim, mas de contribuir, fora da política, a um clima de segurança, de estabilidade e de tolerância que vai acelerar a retomada e ajudar  todos os profissionais que trabalham para os grandes eventos que estão chegando – Copa do Mundo no Qatar 2022 ou Jogos de Paris 2024 -, e de muitos outros para vir.

Jean Philippe Pérol

Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue” do autor na revista profissional on line Mercado e Eventos