Boicotar a Copa?

O famoso estádio Al Janoub

12 anos depois da decisão da FIFA atribuindo o Mundial 2022, e a menos de dois meses do jogo de abertura, personalidades da cultura, do esporte e da politica estão  apoiando um movimento de boicote da Copa do Mundo no Qatar. Lançada na India, o ideia pegou força na Europa e na América do Norte, atraindo algumas importantes lideranças regionais e municipais, especialmente na Alemanha (Berlim), na Bélgica (Bruxelles) e na França (Lille, Lyon, Marselha, Bordeaux e Paris). Se é difícil antecipar até onde essa onda pode subir, é certo que ela já preocupa organizadores, patrocinadores, jogadores, autoridades e operadoras!

2 Dezembro 2010, a FIFA anunciando a escolha do Qatar

Logo que foi anunciada, a escolha do Qatar foi muito polémica. Mesmo sabendo que depois do Brasil em 2014 e da Russia em 2018, era logicamente a vez de um pais da Ásia, mesmo reconhecendo a popularidade do futebol no mundo árabe, mesmo com a qualidade do projeto, a decisão foi imediatamente criticada por vários motivos: um pais muito pequeno para um evento tão grande,  a ausência de tradição esportiva, um clima muito quente para atletas de alto nível, uma segurança complicada nessa região perturbada, e as rigorosas normas alimentares (proibição do alcool) ou comportamentais (restrições temidas para mulheres).

O estádio Lusail onde será jogada a final

O movimento para o boicote se apoia porem em primeiro lugar nas condições desumanas que teriam sido impostas aos imigrantes que construíram os estádios. A partir de fontes paquistaneses e indianas, o jornal The Guardian anunciou em fevereiro 2021 que um mínimo de 6.751 operários estrangeiros tinham morridos em consequências de maus tratamentos ou acidentes. Mesmo se o Qatar e depois a FIFA apresentaram números bem diferentes – 37 mortes nos últimos 11 anos, sendo 34 de doenças e 3 de acidentes-, e se a legislação trabalhista local melhorou no período, essa terrível denuncia foi, e ainda é, o primeiro incentivo para o boicote.

O Hamad Airport foi premiado em 2021 como o melhor do mundo

O outro grande argumento preocupante é um impacto ambiental do evento, devido a necessária refrigeração dos estádios mas também ao grande número de voos fretados. Muitos dos 1,2 milhão de visitantes devendo se hospedar fora do pais, são esperados 160 voos diários vindo dos países vizinhos. O Qatar já garantiu que o evento terá um balance carbone neutro, mas não conseguiu convencer os críticos, enfrentando uma oposição crescente dos ecologistas. Para o Presidente do comité de organização, o sucesso do evento será a melhor forma de convencer para os opositores, e contribuirá a rebater muitos argumentos as vezes discriminatórios.

O Hotel Souk e a Ilha do divertimento

Boicotar ou não? É surpreendente de levantar essa bandeira 12 anos depois da decisão da FIFA. Quais que foram os critérios da época, a escolha do Qatar levou a Copa para novos lugares e homenageou o crescimento do futebol no mundo árabe. E se os progressos podem ser julgados insuficientes, as condições trabalhistas, ambientais e societais são hoje melhores do que eram antes. Boicotar em nome da política, ato contrário aos ideais esportivos desde a Grécia antiga, significaria penalizar os atletas que estão se preparando há 4 anos, bem como mandar um recado de desconfiança para os organizadores e os patrocinadores dos futuros grandes eventos ou dos Jogos Olímpicos.

Al Barari, o novo conceito de balneário do deserto

Mas são sem dúvidas os atores do turismo que seriam os mais prejudicados com o eventual boicote. Os turistas, que estão esperando esta festa, muitas vezes com amigos ou familiares. As operadores e as agências de viagem internacionais, que já investiram há anos na compra das entradas, na consolidação de pacotes e na comercialização. As companhias aéras que já fechar as suas programações de voos regulares ou de voos fretados. Os profissionais do turismo Qatari que investiram em empreendimentos que devem fazer do pais um novo destino turístico, com parques temáticos, museus, e complexos hoteleiros espalhados nas praias e no deserto.

A FIFA pediu que os comportamentos respeitam tanto as tradições dos moradores que os direitos dos visitantes

Recusar o boicote não é porém negar os progressos que os grandes atores da Copa devem com certeza fazer nas questões que preocupam os viajantes, seja no bem estar dos trabalhadores, no respeito das metas ambientais, na luta contre as discriminações e a favor da diversidade, ou na transparência da informação. Esse recado deve ser mandado para o Qatar para a Copa de 2022, mas o principal destinatário deve ser a FIFA, para que as futuras Copas sejam atribuídas na base de critérios claros, menos mercantis, integrando os valores sem as quais nem os grandes eventos nem mesmo os destinos turísticos do século XXI não poderão mais existir.

Katara Towers, um dos prédios icônico da Copa

Jean-Philippe Pérol

Esse artigo foi inicialmente publicado no Blog “Points de vue” do autor na revista profissional on line Mercado e Eventos

Depois do Brasil e do Mundial Fifa 2014, lá vem a França e o Uefa Euro 2016.

 

 

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MARSEILLE VELODROME 2014

Eliminada pelo mesmo adversário que o Brasil na Copa do mundo, a França vai tentar com o UEFA EURO 2016 vencer um duplo desafioIDENTITE VISUELLE. Terá  não somente de chegar à final da segunda maior competição do futebol mundial que ela já ganhou duas vezes (1984 e 2000), mas também de mostrar os mesmos talentos organizacionais que o Brasil que realizou esse ano, segundo o jornal l’ Equipe, “a mais bem organizada Copa dos tempos modernos”… Tantos os brasileiros como os franceses vão gostar da temática desse grande evento: “Vamos festejar a arte do futebol”. A identidade visual, que vai acompanhar o logotipo, mostra de forma artística a festa dos torcedores em volta de um campo onde as traves parecem dois arcos de triunfos. Um piscar de olho para Paris e sua região onde serão realizados doze jogos, incluindo a abertura e a final.

Para esse grande “Rendez-vous na França” que acontecerá do dia 10 de junho ao dia 10 de julho de 2016, as dez cidades sede já estão se preparando: VILLE HOTEos estádios de Saint Denis, Lille, Nice, e agora Marselha são prontos, os de Lyon, Bordeaux, Saint Etienne, Lens, Paris e Toulouse devem ser inaugurados entre dezembro 2014 e novembro 2015. Para assegurar a hospedagem e os serviços necessários, a operadora Kuoni foi escolhida como agência oficial, devendo cuidar de mais de 250.000 pernoites.

COUPE DELAUNAYEntão chamado de Copa da Europa das Nações, o UEFA Euro teve sua primeira realização em 1960 com 17 países participantes, sendo 4 na fase final. Em 2016, pela décima quinta Copa, serão 54 países na fase de qualificação e 24 na fase final que brigarão pela Taça Delaunay, o troféu do torneio cuja replica de 12 metros de altura já foi apresentando em Paris no mês de junho.

Holland_-_France_Euro_2008_entrance_into_stadium

Para a França e o turismo francês, esse evento é uma grande oportunidade e uma imensa responsabilidade para os organizadores e para cada francês. Vamos poder mostrar para os 2,5 milhões de torcedores presentes e para os 150 milhões de telespectadores não somente a nossa capacidade de organizar um grande espetáculo, mas também as riquezas do nosso patrimônio histórico, cultural, gastronômico e esportivo. As lições do sucesso da organização do mundial no Brasil serão, sem dúvida, aproveitadas para esse “Rendez vous” . A ver o entusiasmo que os 4,5 milhões de fãs franceses e estrangeiros estão demonstrando nas páginas facebook UEFAEUROFR, vai ser mesmo  uma festa maravilhosa.

Jean Philippe Pérol

Para mais informações veja o site da UEFA http://bit.ly/EURO 2016