Malaysia airlines, Germanwings, toda segurança deve ser revista?

GERMANWINGS

A queda do voô da Germanwings e a morte dos 149 passageiros foi um choque terrível para todos os viajantes. Os últimos instantes revelados pelas gravações,a loucura do co-piloto, o desespero do piloto e os gritos dos passageiros, a incapacidade da Germanwings a perceber a patologia e a tendência ao suicídio do seu funcionário, ou o silencio dos médicos frente a tamanho risco , todas as ultimas revelações deixaram milhões de pessoas abismadas frente a falhas de segurança que as autoridades aeronáuticas e as companhias aéreas – nesse caso uma das mais prestigiosas- foram incapazes de prevenir. Claro que medidas já estão sendo estudadas, a primeira dela – a permanência obrigatória de duas pessoas no cockpit – jà sendo sugerida pela comissão europeia e aplicada por algumas empresas, incluindo a Air France e a KLM.

VÔO DA MALAYSIA AIRLINES

Vai porem precisar de muito mais para reestabelecer a confiança. Alem do crash do vôo 9525 de Barcelona para Dusseldorf, ninguém consegue até hoje entender como o vôo da Malaysia Airlines 370 – e seus 239 tripulantes e passageiros – desapareceu completamente há mais de um ano numa área vigiada pelas mais importantes forças armadas do planeta, com investimentos bilionários em radares ultra-sofisticados, em drones ou em satélites espiões. MH-17-FLight-PathNão foi também fornecida nenhuma explicação dos especialistas holandeses sobre a responsabilidade do derrubamento do vôo MH 17 e das 289 vítimas, nem sobre a ausência de qualquer proibição de sobrevoar uma área onde aviões de guerra e mísseis se enfrentavam há meses. Ainda misteriosos, esses dois dramas só provocaram nessa data estudos sobre as possibilidades de mudar as caixas negras prolongando as baterias, de exigir a emissão permanente de dados sobre a posição dos aviões ou até sobre os seus dados de vôo, ou até de permitir aos controladores de tomar os comandos a distância.

A falta de transparência, os poucos resultados, e as imensas falhas reveladas nesses três dramas levem porem a uma pergunta. Desde o 11 de Setembro, imensos investimentos foram realizados para melhorar a segurança dentro dos aeroportos, empresas especializadas forneceram centenas de milhares de funcionários, fabricantes venderam milhares de maquinas ou de scanners.SCANNER AEROPORTOS Centenas de milhões de viajantes fizeram bilhões de horas de fila para tirar cintos e sapatos,  e pagaram outros bilhões de taxas para contribuir a um mundo mais seguro. Como pode ser que as mesmas autoridades que imporem caríssimas máquinas de Raios x (talvez perigosas para a saúde dos passageiros e dos funcionários) nos aeroportos, foram incapazes de exigir que o copiloto do avião duma grande companhia aérea voasse com seus testes psicológicos e seus exames de saúde em dia? Como pode ser que radares de altíssima precisão não conseguem definir aonde sumiu um avião de passageiros? Como pode deixar uma área de guerra ser sobrevoada por vôos comerciais? Com tanto esforços pagos tão caro no solo, como podem existir falhas tão importantes no ar? As centenas de famílias dos desaparecidos e os 3 bilhões de passageiros anuais estão esperando as respostas.

Jean-Philippe Pérol

 

 

Air France: frente aos desafios, a força da palavra France

 

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Numa época não muito distante, as grandes companhias aéreas só dependiam de grandes destinos, de grandes mercados e da notoriedade herdada desde a era dos seus pioneiros. Foi na Europa principalmente o caso da Air France, da Lufthansa e da British Airways que dominaram o crescimento da aviação até os últimos anos. 0Os tempos estão mudando, e hoje os três grupos são duplamente ameaçados, dum lado pelo sucesso da companhias low-cost que esta prejudicando seus voos intra-europeus, e do outro lado pelo poderoso crescimento das companhias do Oriente Médio que competem com as suas ofertas para a Ásia e até parte da África..

Na Europa as companhias low-cost, lideradas pela Ryan Air e Easy Jet, jà abocanharam em 2013 mais de 32% do mercado. Nas distancias de menos de três horas, lá onde os trens bala (o TGV francês ou seus concorrentes alemão ou espanhol) também ameaçam os voos tradicionais, a única chance para  Lufthansa ou Air France é de desenvolver as suas próprias filiais low cost. Já estão investindo na Transavia ou na GermanWings , assumindo o risco de enfrentar os poderosos sindicatos de pilotos.OLYMPUS DIGITAL CAMERA E são cientes que os seus futuros nos voos de curto e médio alcance dependem desse sucesso. Para 2015, Lufthansa está até preparando uma experiência « low cost » com sete Airbus densificados para o Oriente Médio, o Caribe e a América do Norte, mesmo sabendo que esse modelo econômico nunca foi bem sucedido em longas distancias.

Burj-Dubai-by-numbers

Mas é provavelmente frente ao Qatar, aos Emirados ou a Turquia que acontecerá a grande briga para o futuro das três maiores companhias europeias. Cada semana a Qatar Airways, a Emirates ou a Etihad são noticias de grandes jornais ou de revistas internacionais. Elas compram aparelhos novos, abram rotas cada vez mais distantes – inclusive no Brasil-, e ganham prêmios pela qualidade excepcional dos seus serviços de bordo. A concorrência é em parte desleal: essas companhias tem dinheiro a custo zero para comprar aviões novos, seu combustível tem preços baixíssimos, e os aeroportos do Golfo tem tarifas muito especiais. Podem parecer companhias piratas, mas não se pode também negar que elas tem verdadeiros vantagens, não somente em termo de produtos, mas também pela eficiência dos seus hubs, especialmente entre a Europa e a Asia.

O paradoxo é que a Air France ou a Lufthansa foram as primeiras a inventar hubs muito sofisticados, apostando numa dinâmica de conexões e não mais (ou não somente) numa lógica de mercados. L1030981Era arriscado porque se a Franca, a Alemanha ou a Inglaterra  são justamente alguns dos poucos países que podem se vangloriar de ser no mesmo tempo grandes destinos internacionais e mercados emissores de primeira linha, a lógica do hub é aberta a todos.

Para alimentar esses hubs de Doha, Dubai, Abu Dhabi ou até Istambul, as companhias do Oriente Médio não somente multiplicam os voos mas também  investem em companhias europeias. Etihad já é o maior acionista da Air Berlin e da Alitalia, certamente com a intenção de consolidar sua plataforma de Abu Dhabi.Airbus_A380-861_Emirates_A6-EDX_Expo_2020_Dubai_sticks_(8504819706) Grandes clientes da Airbus, investidores nos grandes hotéis de Londres ou Paris, desenvolvendo suas atividades no catering com Dnata ou Air Chefs, todas essas companhias vão continuar a se desenvolver entre a Europa e a Ásia, sonhando talvez repetir o cenário Qantas (a companhia australiana abandonou seus voos para Europa e só alimenta agora o hub de Dubai…).

Air France, British e Lufthansa estão assim frente ao enorme desafio, um luta pela sobrevivência que preocupa seus dirigentes e que deixam alguns observadores convencidos que algumas alianças ou fusões ainda podem aparecer seguindo os acontecimentos vistos nos Estados Unidos.

images (1)Mas os viajantes preferem os voos diretos. E pelo menos para a Air France, existem trunfos suficientes para enfrentar a dura concorrência tanto das low costs que das companhias do Golfo. Não se trata somente da qualidade do serviço ou da notoriedade, mas da vantagem de ter um nome integrando a palavra França, de ter sua base no aeroporto de Paris, ou de se apoiar no quinto mercado emissor e no primeiro destino turístico do mundo. A ultima campanha “France is in the air” parece confirmar que esse caminho esta sendo seguido!

Jean Philippe Pérol

Esse artigo é uma tradução e uma adaptação dum artigo original do Serge Fabre publicado na revista profissional on line PAGTOUR. Para acesso direto ao artigo original em francês, por favor clicar aqui.