Se perguntar a um francês, inclusive a um profissional do turismo, qual é a segunda cidade turística da França depois de Paris, ele vai certamente falar de Nice, de Bordeaux, de Lyon ou Marselha. Poucos vão se lembrar duma pequena cidade de 16.000 habitantes, mas que tem 181 hotéis e que recebe cada ano 6 milhões de viajantes : Lourdes.
O milagre – e os milagres- começou em 1858 quando Bernadette Soubirous, uma jovem pastora, relatou a primeira de 18 aparições duma bela dama de branco na gruta de Massabielle. Não demorou muito para multidões começar a querer visitar o local onde foi construída uma primeira capela, e em 1866 chegava na cidade o primeiro trem de peregrinos. O crescimento rápido dos fluxos de romeiros, franceses mas também irlandeses, espanhóis, italianos, belgas, ou alemães, levou a cidade a construir em 1871 uma primeira basílica (a Imaculada Conceiçao) e depois, em 1889, uma segunda, maior, Nossa Senhora do Rosário.
Com a noticia de numerosos milagres (até hoje 69 foram comprovados), as multidões cresciam e precisavam duma igreja ainda maior. Foi então inaugurada em 1958 a famosa basílica subterrânea, com capacidade para 25.000 pessoas, maravilha de arquitetura em forma de nave invertida, com seus famosos 52 ‘gemmaux’ .
O século 21 não desmentiu a força desse turismo de fé. O recorde de frequentação foi quebrado em 2008, nas comemorações dos 150 anos, com 8 milhões de visitantes. Aos romeiros tradicionais se juntaram novos visitantes, católicos vindo da Europa ex-oriental (poloneses, húngaros, slovacos), da África e da América Latina, incluindo de 10 a 15000 brasileiros .
Alem da confiança que o carisma do Papa Francisco repassou para os católicos na América Latina, tem varias boas razoes para pensar que o turismo religioso do Brasil para França vai ganhar um novo impulso. A espiritualidade tem agora um publico cada vez mais importante. Alem dos romeiros tradicionais, muitos viajantes, sem ser católicos praticantes, são atraídos pelo ambiente peculiar de meditação e de fraternidade desses lugares ‘onde sopra o espírito’. Em Lourdes, a força comunicativa da procissão dos círios (todo dia as 9 horas da noite) comove crentes e ateus. A beleza do local, as paisagens de montanhas cercando a cidade, o patrimônio arquitetural, o golfe, as 200 lojas e os cem restaurantes ajudam a completar uma estada marcante, em geral de três dias, que pode muito bem combinar com Toulouse.
A Franca tem muitos outros destinos que, alem de Lourdes, podem dar uma dimensão espiritual a uma viagem. Lisieux na Normandia, ou a Capela Milagrosa em Paris, já são bem conhecidos dos brasileiros. A Via Crucis de Rocamadour, as catedrais de Vezelay na Borgonha ou Nossa Senhora de Chartres , e ate o cemiterio do Pere Lachaise em Paris (onde fica o túmulo do Allan Kardec) pegam também as vezes um sotaque tupiniquim. Juntos com outros grandes destinos de espiritualidade, católicos ou não, todos estão trabalhando para desenvolver esse turismo que virou hoje uma das prioridades da Atout France. Tendo em visto o excepcional evento que sera em 2015 o final das obras de renovação do Mont Saint Michel (A `Maravilha do Ocidente` que recebeu 1,2 milhoes de visitantes em 2013), 2014 deve ser o bom momento para as operadoras e os agentes multiplicar nos seus roteiros na Franca as emoções do turismo religioso.
Jean-Philippe Pérol
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