
O Airbus A380 da Air France

Check in do primeiro voo da Air France JFK CDG
Logo na construção, o novo avião encontrou seus primeiros problemas. Para respeitar as regras de tamanho dos aeroportos, as dimensões máxima tinha que ser de 80 metros, impondo um duplo deck e acessos específicos, mas exigindo taxiways mais largas, que certos aeroportos (inclusive São Paulo) relutaram para construir. O peso do A380 necessitou quatro motores, impactando o consumo e o custo operacional. O recorde de cabos elétricos (mais de 500 quilômetros) trouxe quebra-cabeças para os engenheiros, complicados pela falta de coordenação entre os dois sítios industriais de Toulouse e Hamburgo. Mas superando desafios e lentidões, o primeiro voo foi realizado com sucesso em abril 2005, e em outubro 2007 a Singapore Airlines inaugurou o gigante na rota Singapura Sidnei. A Air France recebeu um ano depois o vigésimo avião produzido pela Airbus.

Enders anunciando o fim do A380 e sua própria saída da Airbus
Mesmo resolvendo seus problemas técnicos, o A380 não consegui convencer os potenciais compradores e o objetivo de 30 vendas por ano nunca foi atingido. O total de encomendas ficou parado em menos de 300, com mais da metade vindo das companhias do Golfo (Etihad, Qatar, e o grande cliente de referencia, Emirates, que possui 109 aparelhos). A China, hoje primeiro mercado mundial para os construtores, não adotou o avião, com a exceção da China Southern, parceira Skyteam, que comprou cinco A380 mas alegou desde 2014 que eles traziam um prejuízo para empresa. Já esperada há alguns meses, a decisão de encerramento da produção anunciada ontem pelo Thomas Enders, o presidente alemão do grupo Airbus, não foi uma surpresa.

Emirates, dona de 40 da frota mundial de A380
Nas múltiplas razões que serão encontradas para o fracasso do A380, a aposta em aviões de grande capacidade interligando hubs internacionais foi talvez a mais importante. A congestão dos maiores aeroportos mundiais, a multiplicação de aeroportos menores, e a preferência dos passageiros por voos sem conexão em aviões de menor porte, são fatores que relativizavam a prioridade dada aos hubs pela companhias aéreas. Como no caso do Concorde, a falta de competitividade em termo de consumo de querosene também contribui ao final infeliz desse grande projeto. Mas, como no caso do Concorde, o fracasso comercial não deve esconder as proezas técnicas e as conquistas tecnológicas. O “savoir-faire” adquirido pela Airbus nesses 23 anos inspirou e possibilitou os projetos do A350, do A400M ou do A330n, bem como outros projetos para vir. Assim como o sonho do Concorde, o sonho do A380 entrou na Historia e ainda não acabou.
Jean-Philippe Pérol

Concorde da Air France, os aviões pararam e o sonho perdurou