Na COP21 e frente as mudanças climáticas, o turismo vilão, vítima ou solução?

A geleira "Mer de Glace" perto de Chamonix

A geleira “Mer de Glace” perto de Chamonix

Abrindo dia 30 de Novembro, a Conferência mundial sobre as mudanças climáticas virou logo um sucesso para o turismo parisiense. Enquanto Paris ainda atravessava, segundo as palavras do CEO da Accor, o vácuo dos pós-atentados, a chegada de 147 chefes de Estado e de 196 delegações encheu os hotéis e animou os profissionais.COP21 FOTO inauguração Com uma segurança reforçada, lojas, bares e restaurantes voltaram a oferecer aos moradores e aos visitantes esse arte de viver bem parisiense,  misturando prazeres, alegria e liberdade. Mas para o turismo, a COP21 não vai ser somente um evento único reunindo mas de 40.000 participantes e de 3.000 jornalistas, mas  o ponto de partida de numerosas decisões impactando uma industria que mexe com 1,1 bilhão de viajantes, 2.400 bilhões de USD de faturamento e 105 milhões de colaboradores em todos os países do planeta. E se o turismo aparece pouco na agenda das reuniões, ele vai com certeza ser muito presente seja como vilão, vitima ou solução para os cenários de mudanças climáticas que serão levantados.

A Torre Eiffel com Amor!Responsável hoje por 5% das emissões de Gases de Efeito Estufa, o turismo vai aumentar a  sua pressão sobre o aquecimento global. Com turistas provenientes de mercados mais distantes – especialmente os BRICS -, com novos consumidores das gerações X e Y extremamente pegados a viagens internacionais, o setor vai conhecer um crescimento anual de 4 a 5% e espera 1,5 bilhão de chegadas para 2030.  O seu  dinamismo econômico e social seduz os investidores e os responsáveis políticos em todos os países, todos querendo atrair novos turistas para criar empregos, gerar receitas internacionais, financiar infraestruturas e desenvolver equipamentos culturais. Muito denunciado como poluidor, o turismo produz porém duas vezes menos “GEE” que a média das industrias, e dois terços do seu impacto carbono provém do transporte aéreo. Nesse setor os esforços das construtoras, procurando materiais leves e pesquisando em motores híbridos, vão certamente melhorar ainda os resultados já atingidos (hoje 1% de economia por ano). As grandes companhias aéreas, inclusive a Air France, estão investindo em programas  para limitar as emissões nocivas. Nos outros setores do turismo, e especialmente na hotelaria, os esforços foram concentrados mais especificamente sobre os investimentos em torno da agua e da energia, bem como nas informações para mudar o comportamento do turista.

Piscina e acesso a praia dos bungalows

O turismo vai fazer muito mais, porque é hoje um dos setores mais consciente dos problemas gerados pelas mudanças climáticas, e um dos mais atingidos. É vitima a longo prazo, porque o futuro das estações de esqui pode ser ameaçado pela falta de neve, porque o excesso de calor pode prejudicar as regiões vinícolas, ou porque algumas paradisíacas ilhas do Pacifico podem perder as suas praias frente a subida dos oceanos. É vítima a curto prazo porque as perturbações climáticas – erupções vulcânicas, inundações, terremotos, tsunamis ou furacões – já mostraram nos últimos anos seus impactos devastadores, tanto para as populações locais quanto para os turistas e para toda a economia turística.

Vinhedos no Beaujolais

Devendo prever um fundo de investimento maciço de 100 bilhões de USD, principalmente em favor dos países do Sul, a COP21 pode oferecer ao turismo oportunidades de poder continuar o seu crescimento, melhorando a sua oferta para os consumidores e reduzindo os riscos aleatórios dos profissionais. Artesanato Waimiri AtroariAs novas tendências dos produtos turísticos – procura de destinos diferenciados, respeito as tradições e culturas dos moradores, à gastronomia e aos produtos locais, recusa de qualquer forma de poluição ou respeito pelas energias renováveis- encaixam-se perfeitamente com os objetivos desse fundo. Discreto mas muito presente, o turismo poderia assim  virar um dos grandes favorecidos da conferencia, vendo o reconhecimento dos seus esforços pela sustentabilidade e levando possibilidades de novos investimentos. Especialmente nos países do Sul -inclusive no Brasil-, esses poderiam beneficiar tanto os profissionais até então muito prejudicados com as mudanças climáticas, quanto os viajantes que querem continuar com os seus sonhos de descobertas e de intercâmbios nos quatro cantos do mundo. Então, obrigado Cop21?

Jean-Philippe Pérol

Paris visto do topo da Torre Montparnasse

Paris visto do topo da Torre Montparnasse

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