
O Presidente francês inaugurando a nova Samaritaine dia 23 de Junho
Realizada dia 23 de junho na presencia do Presidente Macron, a reabertura da La Samaritaine era muito esperada pelo parisienses, não somente por se tratar da reabilitação do prédio histórico da outrora mais popular loja de departamento da cidade, mas também por integrar um projeto iniciado há 20 anos pela LVMH, empresa bandeira do luxo a francesa dirigida pelo empresario bilionário Bernard Arnault. A obra espetacular inclui lojas, escritórios, apartamentos e um emblemático hotel Cheval Blanc que abrirá dia 7 de Setembro. Frente ao Pont Neuf, este palace de 72 quartos vai esbanjar luxo com 4 bars e restaurantes, um roof top com uma vista excepcional, um SPA Dior único no mundo, uma imensa piscina e uma academia vanguardista.

Essa foto é até hoje a única do ainda misterioso Cheval Blanc
Uma das curiosidades deste novo templo do luxo vai ser o seu nome. A imponência do local contrasta com a humildade da sábia samaritana que teria, segundo o Evangelho de São João, oferecido água ao Cristo na beira do poço de Jacó. O responsável desta estranheza é o Rei Henri IV que ordenou em 1602 a construção de uma bomba hidráulica, maquina sofisticada erguida do lado do segundo pilar do Pont Neuf para levar água do rio Sena até os jardins dos palácios do Louvre e dos Tuileries. Para fazer esquecer aos católicos parisienses seu passado de rebelde protestante, o Rei tinha multiplicado as obras, a praça des Vosges, a galeria da beira do Rio, e a própria ponte, e queria oferecer a população essa melhoria importante na distribuição da água.

A Samaritaine, bomba hidráulica acolada ao Pont Neuf
Muito moderna pelo época, a imensa construção incluía um maquinário de bronze e um prédio de alvenaria erguido em cima de palafitas onde era hospedado o engenheiro responsável do bom funcionamento da bomba. Na torre que coroava o casarão, simbolizando a distribuição da água, ficavam duas esculturas de bronze, uma do Cristo e uma outra da Samaritana que deu rapidamente seu nome para o conjunto. Durante quase dois séculos, a bomba hidráulica cumpriu o seu papel, e foi varias vezes reabilitada. Começou a decair no reinado do Luis XVI, e foi depenada durante a Revolução quando maquinário e esculturas foram fundidos pelo Exército. Era o fim da Samaritana que o Napoleão mandou desmontar em 1813.

A arquitetura art nouveau da faixada leste
Mas o nome ficou, e foi utilizado anos depois pelo camelô Ernest Cognacq, que vendia tecidos na frente da ponte em baixo de um grande guarda-sol vermelho. Quando abriu em 1868 sua primeira loja no mesmo local, escolheu de chamar-la La Samaritaine para lembrar a famosa bomba hidráulica. Com a ajuda da sua esposa, ex vendedora do Bon Marché, Cognacq revolucionou o comercio parisiense. Preços baixos e fixos, acesso livre aos produtos, credito para os consumidores Transformaram o pequeno ponto de vendas na maior loja de departamentos de Paris. O sucesso leva a instalar anexos até a Rue de Rivoli e, nos anos 1960, a publicidade do grupo avisa com orgulho: « On trouve tout à La Samaritaine. »

La Samaritaine, o nome orgulhosamente posto na faixada da Rue de Rivoli
Mas a partir dos anos 70, La Samaritaine começou a decair, fechando boa parte das suas atividades, renunciando ao luxo, ao material de construção e aos animais de estimação para se concentrar sem sucesso na moda e na decoração. Ameaçada de falência ela é comprada em 2001 pelo grupo LVMH que decide em 2005 de aproveitar a sua exclusiva localização e seu excepcional acervo arquitetural para lançar um icônico projeto de renovação. La Samaritaine, nome da pobre e excluída pagã do Novo Testamento, começou nessa data sua caminhada para virar um dos mais audaciosos templos do luxo mundial.
Jean- Philippe Pérol

La Samaritaine e a estátua do Rei Henri IV
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