Turismo culinário combinando tradição, criatividade e autenticidade


Segundo o último relatório da World Food Travel Association, é essencial agir para preservar e desenvolver a autenticidade culinária de um território, realçando uma gastronomia local que seja não somente o fruto da história e da herança cultural, mas também o resultado da criatividade das suas comunidades. Para que o visitante, quando saborear os pratos locais, entenda melhor o destino que escolheu visitar, é necessário investir na educação e o envolvimento dos moradores, no interesse dos jovens pela culinária regional,  e na elaboração de um plano de longo prazo associando todos os atores. Essa combinação abre novas perspectivas para que os atores do turismo aproveitem plenamente a riqueza de um patrimônio culinário autêntico, um caminho que países como o Vietnã ou o Peru seguiram recentemente.

Fonte : Youtube 

Neste outono, os irlandeses estão festejando sua gastronomia com a campanha “Taste the Island”, onde  Fáilte Ireland convida a dividir os tesouros culinários da ilha. Quem quiser participar da campanha deve assinar um compromisso destacando a prioridade para os suprimentos locais, a valorização dos produtos da região, bem como a organização de pelos menos um evento consagrado a cultura gastronômica, as comunidades e os lugares turísticos da proximidade. As entreprises participantes são convidados a uma capacitação e recebem uma “caixa de ferramentas” com conselhos personalizados para propor experiências combinando com suas atividades. Este projeto de três anos tem como objetivo de criar uma rede de embaixadores, promover a história culinária da Irlanda e atrair visitantes fora da alta temporada. 

O Centro Culinário basco em São Sebastião

A educação dos jovens é um dos caminhos mais importantes para construir uma identidade culinária. Num relatório publicado em 2019, a Organização Mundial do Turismo e o Centro culinário basco de São Sebastião recomendaram que a gastronomia esteja incluída nos cursos escolares. No Japão, terra de gastronomia, várias cidade seguem esse caminho. Taki tem uma escola profissional com um restaurante aberto ao público que serve mais de 200 refeições por dia. Nigata se autodefine como um centro de criação de cultura culinária, e trabalha com os jovens logo no primário. Seu “Agri Park” oferece atividades agrícolas e aulas focadas em alimentação e cultura biológica. E como não falar do Brasil, onde dezenas de restaurantes são administrados pelo SENAC, com os serviços dos jovens alunos elogiados até no Trip Advisor?

chefs_tourisme_culinaire

Os jovens chefs rebeldes das Flandres

Na Bélgica, uma associação de 53 jovens chefs oferece duas vezes por ano uma iniciação à cozinha flamenga a jovens de 18 a 34 anos . A campanha, gerenciada pela Visit Flanders, tem a ambição de oferecer à oferecer aos jovens consumidores o acesso a pratos de alta gastronomia com preços acessíveis. Esses chefs, embaixadores dos seus destinos, são conhecidos pela assinatura « Flanders Kitchen Rebels ». Essas iniciativas, muitas vezes apoiadas em novas técnicas ou tecnologias, necessitam novas formações. LABe, um  laboratório de inovação aberta na encruzilhada da gastronomia e da transformação digital, foi criado na Espanha. Além de uma incubadora de ideias, o projeto integrou um restaurante com ingredientes fornecidos pelos produtores locais, um local de experimentação e de validação para os chefs e as start-ups.

O selo de qualidade Savor Japan

Segundo a OMT, a pesquisa, o inventario e a análises dos atores do turismo culinário são as fases-chaves para criar construir a cultura gastronômica de um destino. Um exemplo bem sucedido é o Taste the Atlantic – A Seafood Journey, lançado pelo Fáilte Ireland na rota turística  Wild Atlantic Way.  Vinte e oito restaurantes foram apresentados a 21 produtores para oferecer aos visitantes peixes, carnes, frutas ou legumes do dia vindo dos arredores. No Quebec, além dos selos de origem dos vinhos e das cidras “de gelo”, foi criada uma rede chamada Arrivage, para colocar em contato direto os restaurantes e os produtores. No Japão, um selo de qualidade garantindo a autenticidade culinária foi criado pelo governo. O Savor Japan – Explore Regional Flavors  é dado às regiões ou entidades valorizando especificamente os produtos locais.

A comida autêntica do SENAC, quinto restaurante de SLZ segundo Trip Advisor

Os moradores têm um lugar de destaque na estratégia culinária de um destino. São anfitriões, visitantes, e embaixadores que podem e devem se apropriar da história, e promovê-la. No Canadá, uma nova estratégia turística prestigia os produtores e os restaurantes locais. O turismo culinário, seja nas fazendas, na beira mar ou nas cidades, beneficia com incentivos para os investimentos, especialmente quando se trata de circuitos gastronômicos,  de experiências culinárias nativas ou de especialidades locais, de festivais alimentícios, e de mercados livres . Essas iniciativas criam o contexto favorável para que surjam autenticidades culinárias que poderão misturar tradição e criatividade antes de se espalhar nas comunidades, nos jovens e nos visitantes.

Esse artigo foi traduzido e adaptado de um artigo original de Kate Germain na revista profissional on-line Reseau de veille en tourisme, Chaire de tourisme Transat 

Deixe uma resposta