Ícone do site "Le Blog" do Pérol

Normandia, recebendo turistas brasileiros há mais de 500 anos ….

Faixadas das casas antigas de <a href="http://www.rouentourisme.com/Default.aspx?tabid=3423&amp;language=pt-PT">Rouen</a>, na Praça do Vieux Marché

Se turismo fosse só Historia, o primeiro destino dos turistas brasileiros no mundo não seria Miami, Orlando ou Nova Iorque. Seria Rouen! Foi em 1504 que desembarcou na capital da Normandia o carijó Içámirim, levado pelo capitão normando Binot de Gonneville que precisava formar um interprete. Esse primeiro turista brasileiro gostou tanto da França que ficou e casou com a filha do benfeitor, virou o Príncipe Essomericq, teve 14 filhos e uma prolífica descendência. O turismo verde amarelo não parou ai, vieram depois os primeiros grupos organizados. Em Outubro 1550, na frente do Rei Henri II e de toda a corte, 50 índios brasileiros e centenas de marinheiros franceses fizeram uma reconstituição da vida e das lutas nas terras dos Papagaios. Para essa primeira festa brasileira na Europa, não faltou carruagens, reconstituições de malocas, redes penduradas, decorações vegetais, animais exóticos como macacos soínhos ou araras, e foliões quase nus. Falando em língua tupi, normandos e tupinambás mostraram cenas de pesca e caça, negociações de pau-brasil, e até uma batalha naval entre os portugueses e os franceses, aliados dos índios. A festa agradou tanto a realeza que, em 1562, o novo Rei Charles IX mandou repetir o evento, essa vez acompanhado do grande escritor Montaigne.

Hoje, a Normandia continua atraindo os viajantes brasileiros que não perdem Giverny e os jardins de Monet, Deauville e suas famosas tábuas – “Les Planches”-, o Mont Saint Michel e a sua nova passarela, Lisieux e as relíquias de Santa Teresa, sempre incluídos nos seus roteiros. As cidades normandas, de onde saíram os aventureiros que percorriam as costas brasileiras, continuam porem atraindo os visitantes tupiniquins. Foi de Honfleur que zarparam Gonneville e Bois Lecomte. Foi também deste tão pequeno e tão pitoresco porto que se organizou o comercio do pau-brasil, zombando das autoridades portuguesas. Hoje dividido entre veleiros e barcos de pesca, o porto atraiu pela beleza do seu conjunto de casas antigas, o seu “Vieux Bassin”, e as imagens que deixaram pintores como Monet, Courbet ou Boudin.  Os cariocas se emocionam em Le Havre, o porto da onde Villegagnon levou para o Rio de Janeiro seu sonho fracassado duma França Antártica. Festejando esse ano seus 500 anos, Le Havre se orgulhou de inaugurar um centro cultural excepcional, o Vulcão, uma obra cujo arquiteto foi o próprio Niemayer, assinando assim as ligações com o Brasil!

Na cidade onde pisou o primeiro turista brasileiro na Franca, Rouen, os visitantes buscam os passos da Joana d’Arc, que foi queimada viva pelos ingleses na praça do Velho Mercado, frente a catedral que Monet imortalizará . Inaugurado em fevereiro desse ano, o Historial lembra a extraordinária historia da Donzela de Orleans. No mesmo edifício do arcebispado onde ela foi condenada em 1431 – e reabilitada em 1456-, os visitantes podem descobrir a sua epopeia e sua lenda. Os brasileiros poderão assim  seguir os passos  da santa guerreira  que foi adotada como a Obá do candomblé baiano. Nesse grande porto sobre o Rio Sena, mais uma ligação entre a Normandia e o Brasil?

Jean-Philippe Pérol

Sair da versão mobile