Mais ameaças para Sereníssima?

Navio de cruzeiro no Grande Canal

Navio de cruzeiro no Grande Canal

Se o gigantismo dos navios de cruzeiro é uma das grandes ameaças ao patrimônio de Veneza, o êxodo da sua população é um outro problema  cuja origem é justamente o impacto do turismo sobre a qualidade de vida. Enquanto Veneza tinha nos anos 50 175.000 habitantes, o centro histórico só tem hoje 55.000 habitantes, e continua se esvaziando no ritmo de 1000 pessoas por ano. Hoje o risco é de se transformar num cidade sem moradores, uma Venicelândia onde desapareceria  o peculiar modo de vida que a Sereníssima Republica inventou ao longo dos 1230 anos da sua Historia, da mítica fundação no século VI até a perda da sua independência decretado pelo Napoleão em 1797.

O protesto dos moradores contre os esvaziamento da cidade

O protesto dos moradores contra o Venexodus, o esvaziamento da cidade

A complexidade e o lado anacrônico da vida na cidade explicam em parte o esvaziamento do centro, mas os moradores denunciam em primeiro lugar os 28 milhões de turistas. Eles sustentam a economia da cidade e geram 40.000 empregos, porem lotam os transportes públicos, empurram para cima os preços imobiliários, matam os comércios de proximidade,  bloqueiam o transito, mesmo pedestre, em todos os espaços de vida – até 150.000 pessoas por dia na Praça San Marco. Iniciados em 2009, os protestos se multiplicaram, sendo o último no dia 12 de Novembro quando os manifestantes, carregando malas para simbolizar o êxodo, penduraram o hashtag #Venexodus na Ponte do Rialto.

Turistas na Praça San Marco

Turistas na Praça San Marco

Se todos concordam que a racionalização dos fluxos turísticos é imprescindível para salvar Veneza, as soluções ainda não fazem a unanimidade. O prefeito já deixou claro que limitar o turismo teria um impacto direto sobre a economia e os empregos. Uma das ideias seria de cobrar uma taxa para entrar na cidade, só seriam isentos moradores e pessoas com hospedagem, mas essa cobrança ainda é chocante na democrática Itália. O prefeito está por enquanto trabalhando com a ideia de uma taxa sobre os transportes públicos, bem com um sistema de pre-reserva para poder chegar nos principais monumentos ou passar nas pontes. E contratou vigilantes, os guardiões de San Marco, para  evitar os abusos.

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O mercado municipal do Rialto

Recusando que Veneza acaba virando uma nova Pompei, muitos moradores querem medidas mais radicais, como incentivos fiscais para ajudar os venezianos a comprar ou alugar apartamentos, ou sobretaxas para os proprietários hospedando turistas. Uma associação sugeriu que o acesso a Praça San Marco será limitado a 60.000 pessoas por dia, com pagamento de uma taxa. Famoso por ter sempre priorizado o turismo sem limite, o prefeito aceitou de negociar propostas para reequilibrar a economia da cidade e o bem estar dos seus eleitores. Talvez se lembrou que os turistas visitam Veneza não somente pela beleza única do seu patrimônio, mas também pelo seu estilo de vida e pela sua alma, um turismo sustentável que só pode perdurar com a permanência dos seus habitantes.

Jean-Philippe Pérol

O Café San Paolo

O Café San Polo em Veneza

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