De Marselha até a Córsega, as raízes gregas da França!

O porto de Cargese

Enquanto a Grécia enfrenta umas das crises mais graves da sua longa historia, é sem dúvidas a hora de se lembrar de todo o extraordinário acervo cultural que esse pais trouxe para o mundo, e mais especialmente para os países latinos, incluindo o Brasil e a França. NAVIO FOCEANONa França, a Grécia, seus deuses, seus heróis e seus filósofos fazem parte da língua, da forma de pensar, e da Historia. O próprio vinho, um dos maiores orgulhos da Franca, teria sido trazido na região de Marselha por comerciantes gregos. E ainda hoje existem várias cidades francesas onde o viajante pode encontrar as marcas dessas ligações entre os dois países. Marselha, Avignon, Agde, Antibes, Aléria ou Nice foram assim fundadas por navegadores vindo de Foceia, cidade grega -hoje Eskifoça, na costa ocidental da Turquia, e Nice se orgulha de seu primeiro nome – Nikaia, em homenagem a Nikê, a deusa da Vitoria.

Tour_penchée_Jardin_des_Vestiges Robert Valette

 A influencia dessas raízes gregas é mais forte em Marselha, cujos habitantes são ainda chamados de “phocéens”. A mitologia da cidade conta que tudo começou em 600 antes do Cristo, com o casamento de Protis, comandante da frota de Foceia, e da Gyptis, filha do rei gaulês da região que deu para os gregos uma área de cinquenta hectares na baia de Lacydon onde ficou hoje o “Vieux Port”. As ruínas das muralhas da cidade, do reservatório, do cemitério e do porto do período heleno podem ser visitadas no “Jardim dos vestígios”, atrás do Museu de Historia. MUCEM de MarselhaMas é na sua cultura que Marselha mostra a maior influencia da Grécia . Cidade marcada pela sua rebeldia e seu espírito de liberdade, ela é também a mais aberta para o Mar Mediterrâneo,  com o seu impressionante Museu das Culturas Mediterrâneas inaugurado em 2013.

Cargese

Menos conhecida e mais recente, a influencia grega é mais visível ainda na historia da pequena cidade de Cargese, na Córsega. A curiosa presencia de duas igrejas, uma de rito latino e uma de rito ortodoxo, dá ao turista a primeira dica sobre a presencia dos gregos, DSCN0644 - copiepresencia confirmada pelos numerosos sobrenomes característicos do local, todos gregos afrancesados (Stephanopoulos, Capodimachos, Papadakos, Zanetakos ou Xingas virando Stefanopoli, Capodimacci, Papadacci, Zanettacci, ou Exiga). Essas famílias descendem de 730 revoltados das montanhas do Peloponeso, vindo do porto de Vitylo, perto de Esparta, que fugiram da repressão turca em 1673.  Com a ajuda de Génova, que na época dominava a Córsega, conseguiram se estabelecer nessa região. Fundaram uma primeiro colónia em 1676 em Paomia, transferida para a cidade atualLa-chapelle-des-Grecs-a-Ajaccio de Cargese em 1773. Tradições religiosas, ligações com a cidade de Vitylo, e uma grande sensibilidade para as lutas pela liberdade ainda caracterizam os moradores. A 50 quilômetros da capital Ajaccio, onde foi também construída uma igreja grega, Cargese oferece para os visitantes não somente sua historia peculiar mas suas paisagens de barrancos, suas praias de areias brancas e suas águas turquesas que lembram as costas gregas de onde saíram os seus fundadores.

Jean-Philippe Pérol

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O autor desse artigo é bisneto de Charles Exiga, grego de Cargese, oficial do exercito francês que serviu na Argélia e depois na Tunísia. 

4 pensamentos sobre “De Marselha até a Córsega, as raízes gregas da França!

  1. Pingback: De Napoleão a Paoli, a Córsega turística juntando seus dois patrimônios históricos | "Le Blog" do Pérol

  2. Artigo excelente, Pérol! Adoramos jantar com você e Caroline anteontem. Abraços meus e do Mauro, J. Juliana A. Saad (MMJX Comunicação) Lifestyle & Travel Journalist – São Paulo / Brasil jusaad@uol.com.br I + 55 (11) 98181-0853 I Instagram @jusaad1

    > Juliana A. Saad (MMJX Comunicação) Lifestyle & Travel Journalist – São Paulo / Brasil jusaad@uol.com.br I + 55 (11) 98181-0853 I Instagram @jusaad1 > >

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